[sempre de acordo com a antiga ortografia]

segunda-feira, 30 de setembro de 2013



Sintra
Marco Almeida,

Saudação





Não deixa de ser surpreendente que, com uma máquina incomparavelmente menor em relação ao peso pesado que é a do Partido Socialista, Marco Almeida tivesse conseguido ficar apenas a mil e alguns votos de Basílio Horta...

Não ganhou por uma unha negra e, feito não menos significativo, como se ainda fosse necessário demonstrar ao PSD o crasso erro da sua decisão quanto à opção por Pedro Pinto, Marco Almeida esfrangalhou completamente aquela candidatura.

Com um amigo abraço vão os meus parabéns e votos de que Sintra saiba como continuar a beneficiar da experiência, do saber e das qualidades pessoais de Marco Almeida.


 




Sintra
 
Domingos Linhares Quintas,
Presidente da Assembleia Municipal de Sintra

Saudação


Que me perdoem os meus outros amigos que são militantes do Partido Socialista mas a verdade é que, a nenhum, como ao Dr. Domingos Quintas, eu teria tanto prazer em saudar quando acaba de ser eleito para Presidente da Assembleia Municipal de Sintra.

Melhor do que ninguém, sabe ele qual o cargo que eu penso poderia t
er-se candidatado, outras fossem as premissas das estruturas locais partidárias. Enfim, outra história. Aliás, isto a que me refiro, tenho-o dito escrito várias vezes, tantas quantas considero vir a propósito.

Honrará o cargo, com o zelo e a extrema competência a que nos habituou no exercício das funções a que tem sido chamado. Muito apraz deixar aqui um sentido e forte abraço de parabéns com os votos de que tudo lhe corra de feição.

Sintra,

Eduardo Casinhas,
Presidente da União das Freguesias de Sintra

Saudação




Ao meu amigo Eduardo Duarte Casinhas, primeiramente, a expressão do regozijo pela sua victória e, em segundo lugar, perante a escala da barca que lhe cabe presidir, a confirmação da minha disponibilidade para assumir alguma tarefa que considere adequada aos meus préstimos. Os mais sinceros parabéns, um grande e sintrense abraço


Esclarecendo...


 "Hoje: "(...) através de uma classe política desqualificada que continua a perpetuar-se através das manigâncias que a Lei Eleitoral vigente vai permitindo." 20.Agosto de 2013: "Já o tenho expressado e, inequivocamente, confirmo o meu frontal desacordo com a legislação vigente que impede qualquer autarca, depois de eleito durante tês mandatos sucessivos, de se candidatar novamente" (João Cachado). Nem vou debater mais nada. Um abraço"

[Fernando Castelo, num comentário ao texto que subscrevi subordinado ao título "Sintra, saudações & expectativa"
 
1. Não há qualquer desfasamento. A verdade é que se trata de realidades diferentes. Primeiramente, atentemos no caso o da Lei de limitação de mandatos, a propósito da qual o meu amigo Fernando Castelo, na sua segunda citação, descontextualizou um excerto do meu texto subordinado ao título “A Lei da desconfiança”, datado de 20.08.2013 [blogue sintradoavesso]

Neste caso, tenho-o afirmado e reiterado, o legislador parte do lamentável princípio de que, a partir do fim do terceiro mandato, o autarca deixa de ser pessoa confiável e, em muitas circunstâncias, impede que pessoas honestas e competentes possam continuar a trabalhar ao serviço de comunidades que contra elas nada têm, com quem até gostariam de continuar a contar.

Trata-se de uma das leis menos bem concebidas pelo Parlamento português que, a propósito de pertinentes detalhes, suscitou um dos mais caricatos casos de necessidade de interpretação dos jurisconsultos nacionais, envolvendo os tribunais de todas as instâncias até que, no Constitucional, venceu a única leitura legitima e juridicamente sustentável.
Meses e meses de 'suspense' sem que nada de substantivo se tivesse lucrado.

2. Em segundo lugar, a Lei Eleitoral, no enquadramento da qual se inscreve a primeira citação de Fernando Castelo, retirada do texto que, já hoje, subscrevi no mural do fb, "Sintra, saudações & expectativa". A Lei Eleitoral conta-se entre os dispositivos legislativos cuja vigência - estou em crer, em função dos resultados tão favoráveis aos seus objectivos - os líderes dos partidos políticos «do arco do poder» mais devem estimar.

Pois, então, não é ela que lhes permite o cozinhado das listas de candidatos a deputados que, uma vez democraticamente eleitos, gera a casta de iluminados que, do Parlamento, saltam para as empresas, dão uma voltinha a vários cargos governativos, passam pela banca, etc?

Concomitantemente, aliás, também é nesse quadro que alguns desses cidadãos, gerados e criados NO CONTEXTO DE ELEIÇÕES LEGISLATIVAS, coitados, com sacrifícios enormes e incomodidades de toda a ordem, até se prestam, em nome do seu partido, ao inestimável serviço do protagonismo de candidaturas autárquicas, capitalizando os dividendos da pública e nacional notoriedade que foram adquirindo ao longo do tempo…

Finalmente, muito a sério, enquanto, entre outros instrumentos desejáveis de uma nova Lei Eleitoral, os eleitores não dispuserem, por exemplo, da possibilidade de votar em círculos uninominais, vai-se perpetuando no poder a desqualificada classe política e, também por esta via, engrossando as fileiras do monstruoso exército dos desmotivados, que optam pela abstenção.

Equivalem a quase metade do eleitorado, gritante evidência das patologias que afectam a vida democrática em Portugal, não deixando insensível qualquer observador. São aos milhões, como ontem se verificou. De facto, como se, mais uma vez, ainda fosse preciso demonstrar, a perpetuação da degradada classe política no poder é directamente proporcional à tão preocupante percentagem da abstenção.

Como é nas mãos da mesmíssima classe política, dos tais partidos do arco do poder e da alternância, que está a possibilidade de alterar o 'statu quo' em apreço, muito dificilmente prevejo quando poderá ocorrer qualquer mudança e, em caso afirmativo, que «novidades de esperança» poderá ser portadora.


Sintra,
Saudações & expectativa


 Saudar a CDU e o PCP, em particular, é o que mais me apraz nesta noite eleitoral. Absolutamente notáveis os resultados obtidos, com uma série de merecidíssimas reconquistas, dentre as quais se destacam os casos de Loures e de Évora. Como, mais próximo, está o meu amigo
Pedro Ventura, é a ele a quem endereço o abraço caloroso desta hora memorável.

Depois, também mu
ito especial, o caso do Porto. Que grande lição dá aos partidos «do arco do poder» o movimento que apoiou o vencedor Rui Moreira! Uma das mais interessantes e, a todos os títulos, notável «capital europeia», passa a ser gerida por um cidadão que não é apoiado pelos velhos e desgastados partidos, através de uma classe política desqualificada que continua a perpetuar-se através das manigâncias que a Lei Eleitoral vigente vai permitindo.

Em Sintra, já aconteceu algo que muito interessava. Foi liminarmente arrumada a desastrosa candidatura de Pedro Pinto. Se alguma dúvida subsistia quanto à capacidade do candidato, a entrevista que concedeu ao 'Jornal de Sintra' da edição do passado dia 27, evidenciava os perigos de qualquer remota hipótese de eleição faziam temer. Era o representante máximo, o pivô de um universo de muita ideia atabalhoada, que bem demonstra o crasso erro do PSD ao avançar com tamanho disparate.

Neste momento, seja qual for o resultado que se vier a apurar, Marco Almeida também já fez história nesta consulta eleitoral. Independente? Dissidente? Provavelmente, outro, muito mais simples, é o enquadramento que os estudiosos do «movimento dos independentes» hão-de especificar.

Contudo, para já, acaba de dar uma lição a Pedro Pinto e ao PSD que há-de perdurar por muitos anos. E, qual frágil David, bate-se, «taco-a-taco», com com Basílio Horta, cuja atitude de Golias apenas encontra lastro de justificação na pesada máquina partidária com que o PS o propõe às hostes do eleitorado.
 
 
 

António Arnaut

[facebook, 27.09.2013}

Tenho, com António Arnaut, uma afinidade e coincidência de posições, que se jogam no domínio de cumplicidades conjugadas nos enquadramentos sugeridos pelo sugestivo «cenário». É um grande senhor, de irrepreensível dignidade, uma comovente referência da minha vida.



CONTRA A ABSTENÇÃO! 


[facebook, 27.09.2013]


Como sempre, também no próximo domingo, a abstenção será o inimigo número um da Democracia. E, a exemplo do que tem acontecido nas últimas consultas eleitorais, quer autárquicas quer legislativas, contar-se-á na ordem dos milhões os eleitores que se vão abster.

Nada é feito no sentido de obviar tal descalabro e, como bem sabemos, muito pelo contrário, todo um sistemático tra
balho de altíssima desmotivação tem sido levado a cabo, ao longo de décadas, por parte de uma classe política que, salvo honrosas excepções, é impreparada, incompetente, oportunista e se perpetua no poder através de tudo quanto é manigância, acoitada aos partidos do designado «arco da governação».

Porém, todos os desmotivados, os que não concordando com nenhuma das propostas presentes ao eleitorado e que já terão decidido não pôr os pés nas assembleias de voto, ao fim e ao cabo, se assim fizerem, cometerão um dos actos mais gratuitos das suas vidas. A sua abstenção, que nada resolve, é um sinal de relaxo, cuja percentagem local e nacional se há-de apurar, mas jamais esclarecendo que específica mensagem remeteram à comunidade os cidadãos que decidiram não ir às urnas.

No entanto, sem qualquer margem para equívoco, a verdade é que as comunidades locais, o país em geral, os partidos políticos, bem como os órgãos de soberania devem poder perceber, o mais aproximadamente possível, qual o teor de tais mensagens e, grosso modo, nomeadamente, onde estão, quem e quantos são os cidadãos que não se identificam com nenhuma das candidaturas que se apresentaram ao eleitorado.

A única maneira convencional e elucidativa de concluir que o cidadão eleitor não se enquadra em nenhuma das candidaturas é o VOTO EM BRANCO. Mas, para que assim aconteça, para que a comunidade possa interpretar essa mensagem, preciso é que o cidadão não se abstenha. Ele tem que dar o passo contrário ao relaxo, ao acomodamento inconsequente e tão lesivo da vida democrática.

Pois bem, neste contexto, e, CONTRA A ABSTENÇÃO, esta alternativa civilizada e eficaz – afinal, a única actuação que ainda permitirá suprir elementos de análise propiciando a plena compreensão das suas sensibilidade, convicção e opção – passa por não se demitir do exercício de um direito inalienável, portanto, impondo-se-lhe comparecer e, em consonância com a conclusão a que chegou,

VOTAR EM BRANCO!
 
 

sexta-feira, 27 de setembro de 2013



SINTRA, ABSTENÇÕES


[Transcrição do artigo publicado na edição de hoje do 'Jornal de Sintra'.]

A Democracia é um regime de enorme exigência de exercício da cidadania que, entre outras atitudes, por parte dos eleitores, se traduz no constante escrutínio da actividade dos eleitos. Daí que, reduzir a vida democrática e o inerente exercício da cidadania às periódicas consultas eleitorais – como acontece entre nós, aliás, cada vez menos participadas… – não pode deixar de resultar num processo de empobrecimento cívico, nos termos do qual é a própria Democracia que se compromete, através dos mecanismos propícios à sua subversão.

Naturalmente, os baixos índices socioeconómicos, fenómenos endémicos e geracionais como o analfabetismo e a iliteracia, infelizmente ainda tão presentes na comunidade nacional, bem como os ínfimos consumos culturais, a incapacidade da leitura e interpretação dos acontecimentos, fragilizam o cidadão, impedem-no de ser agente e actor da mudança que, de qualquer modo, está a acontecer à sua volta, para a qual não dispõe dos «argumentos» e instrumentos que qualquer europeu deverá dominar.

Este é o quadro de referência propício à proliferação de toda a casta de habilidosos, tão comuns na desqualificada classe política que, «no arco do poder», e, em alternância, tem assumido a governação do país, em todas as instâncias. Neste contexto, como não entender o desinteresse dos cidadãos?

Quem pode manifestar surpresa perante os assustadores e preocupantes números da abstenção que, em todo o país, sem grandes diferenças de região para região, se têm verificado nos anteriores actos eleitorais? Apenas a título de referência e, para que não nos afastemos da crua e dura realidade, lembremos que, nas últimas consultas eleitorais autárquicas em Sintra, quer em 2005 quer há quatro anos, a abstenção rondou os 45%!

Dir-me-ão que a abstenção é um fenómeno geral, não especificamente português. Não deixando de ser verdade, no entanto, a abstenção não é atitude que, entre nós, esteja circunscrita aos actos eleitorais. Assim não é porque, em geral, devido a uma série de factores muito pertinentes, alguns dos quais supra referidos, os cidadãos portugueses, se pautam pela ausência do exercício da cidadania.

Por outras palavras e, em conclusão, pura e simplesmente, demitem-se, não participam, ou seja, são abstencionistas sistemáticos. Daí que, cada vez mais, com natural apreensão, analistas e comentadores, venham perspectivando a hipótese de uma grande abstenção, a nível nacional, no próximo dia 29.

Porque, efectivamente, uma expressiva percentagem de cidadãos está cada vez mais habituada a um refúgio na ausência ou, se quiserem, acostumada às mais diversas faltas de comparência. Eleições? Não ir, não ligar, também por flagrante desmotivação, para a qual tanto têm contribuído os decisores políticos oportunamente eleitos, eis a informal generalização do estar a marimbar-se para as eleições ou, cotejando a infelicíssima expressão de «um conhecido político», a consumada prova de que se lixam para as eleições…

A abstenção, acto perfeitamente negligente e gratuito, em nada, absolutamente nada, contribui para qualquer evolução na comunidade local ou nacional. Natural e logicamente, fornece sinais cuja interpretação compete a especialistas que, invariavelmente, não chegam a conclusões, limitando-se a aventar hipóteses de enquadramento, de acordo com consabidas e desgastadas grelhas de análise.

Outra abstenção…

Ainda a talhe de foice, uma outra forma de abstenção que coincide com um comportamento de demissão extremamente lesivo dos grandes objectivos da Democracia. Refiro-me aos cidadãos eleitos que, investidos do poder delegado através do voto dos eleitores, se demitem, se abstêm do exercício da autoridade democrática que lhes foi confiada, para a resolução de questões em que, doa a quem doer, está em causa o bem comum e, portanto, os superiores interesses da comunidade.

E, ao aludir a esta perspectiva do exercício da autoridade democrática, naturalmente, estou a pensar em problemas tão comezinhos como essa coisa civilizada que é fazer cumprir as disposições legais vigentes, sem qualquer margem para a intervenção de um factor tão pernicioso para o saudável exercício do civismo e da cidadania, ou seja, daquilo que não passando de militante cultura de desleixo, tão erradamente, se confunde com uma famigerada forma de tolerância.

Quando a Literatura intervém

Final e naturalmente, a propósito de abstenções, logo ocorre Ensaio sobre a Lucidez, a obra de José Saramago cuja primeira edição data de 2004. É o que é, fundamentalmente, um artefacto de Literatura, algo que o autor reivindicava, com a maior veemência, quando confrontado com a polémica que suscitara o protagonismo do voto branco. Gostaria de lembrar algumas das palavras do autor durante a apresentação do livro, no Centro de Congressos de Lisboa, perante milhares de pessoas, com um debate moderado por José Manuel Mendes, e que contou a presença de José Barata Moura, Mário Soares e Marcelo Rebelo de Sousa.

Estou contra o sistema que nos governa e consegui encontrar o instrumento por excelência de contestação: o voto em branco.(…) O voto em branco é uma arma democrática que possuímos para impedir os políticos de continuarem a brincar connosco. (…) O “Ensaio sobre a Lucidez“ toca um assunto que não é tabu, mas tem que ver com o exercício cívico de voto e suas consequências. Como acontece com tudo o que está à vista, acabamos por não ver" essas consequências.

Em véspera de acto eleitoral, ler ou reler aquela obra de Saramago ou as exemplares páginas de Júlio Dinis em A Morgadinha dos Canaviais, que tão presente tem a questão das eleições, eis o convite que me apraz propor a todos quantos possam aceder a tal patamar de convívio com a arte literária. Aproveitar a circunstância para o enriquecimento cultural, eis um inegável exercício de lucidez.

[JoãoCachado escreve de acordo com a antiga ortografia]

quinta-feira, 26 de setembro de 2013




Momento musical pontifício


Na sua última e tão recente entrevista à 'Civita Cattolica' que ontem, aqui mesmo no fb, tive oportunidade de citar, SS o Papa Francisco confessa uma especial preferência, entre outras obras, pela Paixão segundo São Mateus, BWV 244, de JS Bach, em particular pelo segmento Erbarme Dich, que passo a propor-vos numa interpretação extremamente convincente de Andeas Scholl
 
(Coro e Orquestra do Collegium Vocale Gent sob a direcção de Philippe Herreweghe).

Boa audição!


http://youtu.be/YszmEsvI6h8
 
 


Paulo Parracho,
candidato em campanha



O trabalho que está por fazer no Centro Histórico de Sintra, que o meu amigo Paulo Parracho tão bem conhece - nomeadamente ao nível das infraestruturas de abastecimento de águas e saneamento básico - é de causar pes
adelos ao mais sereno dos autarcas... Mas, como os problemas em presença, ultrapassam muito estes aspectos, só podemos desejar o maior sucesso a quem tiver de os concretizar.

No que respeita o problema do estacionamento, a área do Rio do Porto, não passa de pequena bolsa supletiva da estratégia de resolução do problema de parqueamento das viaturas de quem pretende aceder ao Centro Histórico, que não pode deixar de contemplar a instalação dos três parques periféricos, em articulação integrada com transportes específicos, cuja necessidade há tanto tempo está devidamente diagnosticada.

Neste domínio, esperemos que, por exemplo, os agentes económicos locais, com as suas vistas muito curtas, não continuem a sabotar as melhores intenções. Não esqueço o escândalo que senti, perante um artigo do Jornal da Região (Sintra) - cujo director é, precisamente, Paulo Parracho - através do qual os senhores comerciantes da zona reivindicavam o estacionamento de viaturas automóveis no nosso Terreiro do Paço, ou seja, o Largo Rainha D. Amélia, adjacente ao Palácio Nacional de Sintra...

Quem não contar com «ingredientes» que tais, está desgraçado. Por outro lado, nada será possível concretizar sem o efectivo exercício da autoridade democrática que o voto do povo sanciona. Ir para a frente com um projecto deste calibre colide com interesses particulares, toda a gente o sabe. Mas quem não quiser assumir tais ralações, pura e simplesmente, não deverá meter-se numa barca com estas características.

Sei que, neste contexto, Paulo Parracho tem uma disposição inquebrantável e, por isso, já está de parabéns.



[Apesar da chuva, a manhã foi passada em contacto com comerciantes e moradores do Centro Histórico de Sintra. Trânsito caótico, falta de estacionamento e a necessidade de uma desratização foram algumas das questões mais levantadas. (Paulo Parracho)]
 
 
 
 
 


Abstenção


[facebook, 25.09.2013]



Perante a previsível grande abstenção ao acto eleitoral do próximo domingo, talvez seja interessante lembrar que José Saramago propunha uma outra atitude a todos os cidadãos desmotivados com o quadro resultante da deficiente vivência democrática.

Embora não esteja animado de qualquer proselitismo militante afim da opinião de Saramago, gostaria de recordar algumas das palavras do escri
tor, durante a apresentação do livro Ensaio sobre a Lucidez, em Março de 2004, no Centro de Congressos de Lisboa, perante milhares de pessoas, no contexto de um debate moderado por José Manuel Mendes, e que contou com a presença de José Barata Moura, Mário Soares e Marcelo Rebelo de Sousa.

Apenas linhas muito sumárias:

Estou contra o sistema que nos governa e consegui encontrar o instrumento por excelência de contestação: o voto em branco. (…) O voto em branco é uma arma democrática que possuímos para impedir os políticos de continuarem a brincar connosco. (…) O “Ensaio sobre a Lucidez“ toca um assunto que não é tabu, mas tem que ver com o exercício cívico de voto e suas consequências. Como acontece com tudo o que está à vista, acabamos por não ver essas consequências.”

Francisco,
o melómano


[facebook, 25.09.2013]

Na recente entrevista concedida à Civita Cattolica o Papa Francisco, depois de surpreender o entrevistador com uma referência muito pertinente à ópera Turandot de Puccini, afirma:

"(...) Na música gosto muito de Mozart, obviamente. Aquele Et Incarnatus est da sua Missa em Dó é insuperável: leva-te a Deus! Gosto muito de Mozart executado por Clara Haskil. Mozart preenche-me: não posso pensá-lo, devo ouvi-lo. Gosto de ouvir Beethoven, mas prometeicamente. E o intérprete mais prometeico para mim é Furtwängler. E depois as Paixões de Bach. O trecho de Bach de que gosto muito é o Erbarme Dich, o pranto de Pedro da Paixão segundo São Mateus. Sublime. Depois, num outro nível, não tão íntimo, gosto de Wagner. Gosto de ouvi-lo, mas não sempre. A Tetralogia do Anel executada por Furtwängler no Scala nos anos 50 é, para mim, a melhor. Mas também o Parsifal executado em 1962 por Knappertsbusch. (...)"

É fantástico como, nas suas, fui encontrar coincidências flagrantes com as minhas preferências de interpretações, casos da Haskil, de Furtwängler no Ring e de Knappertsbusch no Parsifal. Percebe-se até que ponto é informada e sofisticada a sua melomania.

Aqui fica a referência inequívoca à minha fonte de informação:

 



Francisco e Amadé, «o divino»
 
[facebook, 24.09.2013]

"O Papa Francisco também gostará de Mozart como Bento XVI?..."
(José José Manuel Anes, facebook, 23.09.2013)

 
A esta pergunta de ontem do MQI posso responder afirmativa e inequivocamente. O Papa Francisco tem Mozart como preferido, ainda que, em certas circunstâncias, também ouça Wagner. Mas, quanto a WAM, portanto, o que neste momento mais interessa, Francisco indica mesmo um especial momento, ou seja, 'Et incarnatus est' do 'Credo' da "Missa em Dó menor KV. 427", em que, segundo a sua opinião, Amadé alcança a dimensão do divino.

Pois bem, a acreditar na relação de «intimidade» de Francisco com a divindade, quem somos nós para duvidar de tão douta opinião? O melhor é que, de imediato, passemos a escutar o excerto da peça em questão. Para o efeito, escolhi uma interpretação sob a direcção de Sir John Elliot Gardiner, à frente da Royal Stockholm Philharmonic Orchestra e dos coros Eric Ericson Chamber Choir e The Monteverdi Choir. A solista é Miah Persson.


 
O registo foi colhido na Stockholms Konserthus, em Stockholm, no dia de Nossa Senhora da Conceição, 8 de Dezembro de 2008.


Boa audição!


http://youtu.be/3JuMyBtszG0


domingo, 22 de setembro de 2013



[transcrição do artigo publicado na edição do ‘Jornal de Sintra’ de 20.09.2013]

 
A Grande Junta

Alguns leitores lembrarão que, nestas mesmas páginas do Jornal de Sintra, há tantos como onze anos, iniciei uma reflexão acerca da dimensão e da governabilidade do concelho que, posterior e periodicamente, tenho alimentado com novos elementos, à luz dos parâmetros que, para todos os efeitos, considero manterem-se inalteráveis e, por isso, justificando a pertinência das propostas pelas quais me tenho batido.

Muito sumariamente, considero que o actual concelho deveria dar origem, pelo menos, a duas mas, preferencialmente, a três novas unidades municipais, cada uma das quais agrupando freguesias cujos conjuntos seriam determinados pelas mais evidentes afinidades de ordem sociocultural, económica, geográfica e ecológica, entre outras.

Na minha perspectiva, a comprometida governabilidade deste tão compósito território exigiria a viabilização de novos concelhos mas nunca solução semelhante à que resultou na redução e, portanto, consequente, inevitável e necessariamente controversa união de freguesias.

De qualquer modo, já é neste contexto que se está a concretizar o actual processo que conduzirá à consulta eleitoral autárquica, nos termos do qual os munícipes eleitores decidirão a quem entregar a gestão da Câmara Municipal e das Juntas de Freguesia.

Não deixa de ser curioso que, na sua coerência de arrumação articulada e integrada, a minha proposta sempre tivesse mantido o princípio de que as três freguesias da sede do concelho, Santa Maria e São Miguel, São Martinho e São Pedro, deveriam submeter-se à gestão de uma entidade comum que pudesse potenciar todos os elementos resultantes das interdependências suscitadas por tríade tão especial, aproveitando as sinergias assim suscitadas.

Não sendo esta a solução que eu propunha, muito menos quaisquer iniciativas que possam contribuir para a diluição da identidade de cada uma das freguesias que integram a União, a verdade é que no quadro da que vai vigorar coincidem alguns dos objectivos, de coordenação, de análise sistémica e de intervenção articulada que presidiam ao modelo que perspectivei.

As designadas jóias da coroa estão quase todas sediadas nesta que será uma enorme freguesia onde, há demasiado tempo, continuam por resolver grandes problemas que, tão evidentemente, comprometem a qualidade de vida dos cidadãos residentes bem como a visita e estada de forasteiros.

Pendentes mas inadiáveis

Permita-se-me, mais uma vez, lembrar alguns dos mais pertinentes, cuja concretização pressupõe íntima articulação de medidas entre a Câmara Municipal e a Junta, problemas centrais, cuja resolução já foi equacionada:

1.Impedimento de acesso de veículos particulares ao centro histórico, recorrendo ao encerramento de vias, exceptuando os dos residentes, comerciantes e veículos prioritários, decisão que, muito naturalmente, se conjuga com um inequívoco e exigente regime de horários de cargas e descargas;

2.urgentíssima necessidade de instalação de parques periféricos de estacionamento em articulação com transportes públicos, de todos os tipos, para os diferentes destinos quer turísticos quer de serviços; 3.repensar as soluções para os fluxos de trânsito entre os bairros da Portela e da Estefânea, bem como circulação de peões, altamente comprometida pela remoção da ponte metálica sobre a linha férrea junto à Garagem Sintra;

3.requalificação geral da Avenida Heliodoro Salgado, nomeadamente da vergonhosa zona pedonal, com reposição dos carris do eléctrico, permitindo continuação da linha, entre o actual terminus, a estação da CP de Sintra e a Vila, tal como aconteceu num passado não muito longínquo;

4.requalificação do parque de estacionamento adjacente ao edifício do Departamento do Urbanismo e instalação do projectado parque subterrâneo e aproveitamento de todas as pequenas bolsas de parqueamento disponível;

5.requalificação do recinto da Feira de São Pedro, reabilitação das zonas circundantes do mercado municipal da Estefânea e do que funciona informalmente adjacente ao estádio do Sintrense, que «civilizem» as actividades desenvolvidas e a atitude dos cidadãos;

6.obras de saneamento básico da zona do centro histórico, recuperação e manutenção de fontes e fontanários;

7. recuperação e reafectação dos edifícios do Hotel Netto, Gandarinha, ruínas das Escadinhas da Misericórdia e da zona do Rio do Porto bem como a recuperação do percurso romântico do Passeio dos Castanhais, entre a Quinta dos Alfinetes e o centro histórico, este último como paradigma de atitudes congéneres a concretizar em tantos lugares congéneres e emblemáticos;

8.intervenção afim do escrupuloso cumprimento das disposições vigentes relativas à recuperação de edifícios, limpeza de fachadas, requalificação de pavimentos e passeios;

9.condicionaento do acesso de veículos particulares aos pontos altos da Serra e, em articulação com a Parques de Sintra Monte da Lua, operacionalizar os circuitos pedonais, recorrer aos hipomóveis de grande capacidade (galeras e similares) e concretizar os projectos de instalação de um funicular de acesso à Pena, a partir do Rio do Porto, e de outro para Santa Eufémia com origem em Ramalhão/São Pedro.

Nota final

Felizmente deixou de haver dinheiro para lobos grandes, para as designadas obras de regime, a exemplo do lamentável mastodonte do Tribunal que o Arq. Leon Krier, consultor e perito da UNESCO, considerou como de guerra a Sintra… Também é escusado virem com cantos de sereia, como o de uma hipotética Feira Popular, que tresanda à famigerada Sintralândia de má memória e com promessas de outros gigantes que jamais serão para cumprir.

Em tempo de vacas magras e da máxima contenção de gastos, urge concretizar as iniciativas constantes da lista supra e outras igualmente inquestionáveis, algumas das quais envolvem grandes trabalhos, grandes empenhos, o tempo necessário de concretização, de acordo com a escala adequada às necessidades em presença, sem arrivismos bacocos de novo riquismo bem falante, sem precipitações, com a qualidade que Sintra merece, operacionalizando equipas permanentes de manutenção e nunca se demitindo do exercendo a autoridade que os eleitores conferem aos eleitos.  

[João Cachado escreve de acordo com a antiga ortografia]


Paolo Pinamonti
um auspicioso regresso


 Já se sabe que, numa primeira fase de trabalho, Pinamonti assegurará as funções de Consultor de Programação. Em relação ao futuro do Teatro Nacional de São Carlos nenhuma outra solução me poderia ter mais satisfeito.
 
Nem me vou reportar aos seus tempos no 'La Fenice' de Veneza e, tão somente, recordar o notabilíssimo trabalho que Paolo Pinamonti desenvolveu, entre 2001 e 2007 no TNSC e as sucessivas iniciativas que tem protagonizado, por exemplo, como Director Artístico do Festival Mozart da Coruña, do Teatro da Zarzuela de Madrid, sempre com nome êxito, para ter a certeza de que, novamente, nas suas mãos, o São Carlos vai renascer.

De facto, só a impreparação, o desconhecimento, a falta de nível de Isabel Pires de Lima, então Ministra da Cultura, pôde justificar a dispensa de funções de alguém com o gabarito d Pinamonti. A propósito, alguém se lembra de outros disparates que essa senhora cometeu? Era muito hábil no despedimento de gente com nível. Mais exemplos? António Lagarto, Director do Teatro Nacional D. Maria II, de Dalila Rodrigues de Directora do Museu Nacional de Arte Antiga. Por outro lado, revelou a maior inépcia não tendo conseguido o financiamento para a continuidade da famosa 'Festa da Música' do Centro Cultural de Belém.

Hoje em dia, quem e lembra dessa incompetente? Em contraste, de Pinamonti, não há quem não se congratule pelo seu regresso...



Patricia Kopatchinskaja


[facebook, 19.09.2013]


Descobri-a em Salzburg, há já não sei quantos anos, muito miúda. Uma das razões que me mantêm, ano após ano, fidelíssimo à Mozartwoche é a contínua possibilidade de ali aceder, sempre em primeira mão, aos jovens va
lores que não param de despontar. Kopatchinskaja, que já tem estado em Lisboa, é uma impressionante virtuose que «marca» qualquer melómano para o resto da vida. Nela se percebe até que expoente o violino pôde passar a fazer parte da vida.

Eis uma gravação em que Patricia Kopatchinskaja, Sol Gabetta e Henri Sigfridsson interpretam o Trio Op. 70 No. 1 de Beethoven, no Festival de Schwetzingen, em 2009.

Boa audição!


http://youtu.be/Q7XqmUdOecI






Franz Nistl
 
[facebook em 19.09.2013] 


Importantíssimo colaborador da Fundação do Mozarteum de Salzburg.
Todos os que «somos da casa» lhe devemos imenso. É ele quem afina
os pianos. Não há melómano salisburguense que o não conheça e estime.
Dele depende a saúde dos fabulosos instrumentos onde, constantemente,
tocam os melhores pianistas do mundo. Um grande artista o Franz Nistl!
 
 
Wir gratulierem unserem langjährigen Klavierstimmer, Klaviermachermeister
Franz Nistl zum 60er! Hoch soll er leben!
 
 

terça-feira, 17 de setembro de 2013



Paul McCreesh,
a man for all seasons...




A experiência de McCreesh na designada Música Antiga, nomeadamente com o seu agrupamento Gabrieli Consort and Players, é apenas uma das muitas vertentes da actividade extremamente diversificada, com a música de todos os tempos e, afinal, coincidente com o repertório no qual uma orquestra com as características da Gulbenkian se tem imposto ao longo de cinquenta anos de existência, orquestra esta da qual é o seu actual Maestro Titular.

A entrevista ao FT, me parece, é bem sintomática dessa diversidade. Pessoalmente, tenho assistido a eventos em que McCreesh é solicitado para a direcção de programas de música clássica, romântica e contemporânea, com várias orquestras, sempre com assinalável sucesso, revelando um muito exigente trabalho de preparação nos ensaios, momentos em que, aí sim, se define e verifica o gabarito do director de orquestra.

Aliás, os mais recentes e grandes êxitos da direcção de McCreesh, tais como em "Grande Messe des Morts de Berlioz, "The Creation", de Haydn, "Eliah" de Mendelssohn, "War Requiem" de Britten, por exemplo, não coincidem com o referido período da História da Música, o da 'Música Antiga', para o qual, de modo algum, o FT remete o maestro, como se aquele fosse o seu reduto de inevitável confinamento.

Parece-me que foi muito acertada a opção da Fundação Gulbenkian ao convidar McCreesh e estou em crer que vai mesmo notar-se a diferença de rendimento da Orquestra com o seu Maestro Titular. Lá estaremos todos,atentíssimos a todos os detalhes, no sentido de confirmar ou desmentir esta opinião encomiástica que partilho já há bastante tempo.

Passo a transcrever a nota curricular sumária que a Gulbenkian distribui acerca de McCreesh, através da qual também não se confirma - ainda que houvesse um tendencioso propósito de veicular informação inquinada... - a tal «especialização», como pecado original de McCreesh, pretensamente impeditiva da sua abordagem à música de todos os tempos. 

  
 
 Eis o texto:

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Como maestro convidado, Paul McCreesh trabalha regularmente com orquestras e coros em todo o mundo na interpretação de um vasto repertório. Projetos recentes incluem as Orquestras do Gewandhaus de Leipzig e do Festival de Budapeste, a Orquestra
Palácio Nacional de Mafra, Portugal

Espanha, a Orquestra Nacional da Dinamarca, a Filarmónica de Bergen, a St. Paul Chamber Orchestra e, num futuro próximo, a Orquestra Filarmónica de Hong-Kong e a Orquestra Sinfónica de Sydney.

O repertório orquestral de Paul McCreesh estende-se do período clássico – refletindo a sua experiência em Música Antiga – até às grandes obras sinfónicas dos séculos XIX e XX. A sua experiência como maestro coral tem sido aclamada e reflete-se nas suas interpretações de muitas das principais oratórias. Paul McCreesh estabeleceu também uma grande reputação no domínio da ópera e dirigiu produções no Teatro Real de Madrid, na Ópera Real da Dinamarca, na Komische Oper em Berlim e na Ópera da Flandres, entre outros teatros. Mais recentemente dirigiu uma produção semi-encenada de As Bodas de Fígaro no Festival de Verbier.

O extenso catálogo de gravações premiadas de Paul McCreesh, para a Deutsche Grammophon, inclui A Spotless Rose (2009), que foi nomeada para um Grammy em 2010, e A Criação de J. Haydn (2008), que recebeu o Prémio Gramophone para a Melhor Gravação Coral. Grava atualmente para a sua própria editora, a Winged Lion, fundada em 2011 em colaboração com o Gabrieli Consort & Players. O primeiro projeto desta editora foi a gravação da Grande Messe des Morts de Berlioz, a qual foi galardoada com um prémio da BBC. Seguiu-se Elias de Mendelssohn, lançada em Setembro de 2012. Futuras gravações incluem As Estações de J. Haydn e o War Requiem de Britten.

Paul McCreesh tem uma paixão especial pelo trabalho com jovens músicos e a divulgação da música clássica. Trabalha regularmente com orquestras e coros juvenis e desenvolve uma grande atividade na realização de projetos educativos. 29 Julho 2013
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segunda-feira, 16 de setembro de 2013



Maria Callas


No aniversário da morte de Maria Callas (Nova Iorque, 2 de dezembro de 1923 — Paris, 16 de setembro de 1977), recordemos a sua passagem por Lisboa onde, no Teatro Nacional de São Carlos, no dia 27 de Março de 1958, veio fazer uma inesquecível Violetta Valéry.

Como poderão verificar através dos avisos que surgem durante o visionamento que vos proponho, trata-se de uma gravação amad
ora, raríssima, único testemunho audiovisual da Callas interpretando este papel. Como sabem, felizmente, há muitos registos áudio mas, tanto quanto julgo poder confirmar, filme, só este.

A propósito, cumpre lembrar que a RDP produziu uma remasterização digital em 2000, muito cuidada, cuja audição aconselho vivamente. Tenha-se em consideração que, desde a década de 80, o lendário registo de La Traviata com Callas e Kraus realizado em Lisboa é considerado gravação de referência.

Recordemos o elenco: Violetta, Maria Callas; Alfredo, Alfredo Kraus; Germont, Mario Sereni; Annina, Maria Cristina de Castro; Gastone, Piero de Palma; Douphol, Álvaro Malta; d'Obigny, Vito Susca; Grenvil, Alessandro Maddalena; Commissionario, Manuel Leitão. Coro do Teatro Nacional de São Carlos. Orquestra Sinfónica Nacional sob a direcção de Franco Ghione.

No filme biográfico sobre a Senhora Marquesa de Cadaval, do qual sou um dos autores, a própria Dona Olga Cadaval dá testemunho da sua interferência para concretização da deslocação da Callas a Lisboa, episódio muito sintomático dos tempos que se viviam. Espero que, muito brevemente, possam assistir à exibição dessa biografia, através da RTP, acedendo também a cenas memoráveis da estada da diva na capital.

Ainda uma nota final a demonstrar o altíssimo nível dos elencos que subiam ao palco de São Carlos, referindo que, em temporadas anteriores ao evento em apreço, o papel de Viloletta tinha sido vivido «só» por Maria Caniglia, Renata Tebaldi e Virginia Zeani!...

Bom visionamento!

http://youtu.be/lSmItkgh94Q
 
 
 

domingo, 15 de setembro de 2013



Bocage


Nasceu em 15 de Setembro de 1765 (m. 1805) o autor da peça que passo a partilhar convosco, interessante fábula sobre o poder que, hoje em dia e sempre, me parece muito a propósito

Com o objectivo de se poderem situar em relação à obra geral do poeta (na minha edição, seis volumes*), cumpre esclarecer que este texto é um dos Apólogos ou Fábulas Morais, pertence à Segunda série de fábulas or
iginais, inserindo-se nas Quinze Últimas Fábulas.


 O Leão e o Porco


O rei dos animais, o rugidor leão,
Com o porco engraçou, não sei por que razão.
Quis empregá-lo bem para tirar-lhe a sorna
(A quem torpe nasceu nenhum enfeite adorna):
Deu-lhe alta dignidade, e rendas competentes,
Poder de despachar os brutos pretendentes,
De reprimir os maus, fazer aos bons justiça,
E assim cuidou vencer-lhe a natural preguiça;
Mas em vão, porque o porco é bom só para assar,
E a sua ocupação dormir, comer, fossar.
Notando-lhe a ignorância, o desmazelo, a incúria,
Soltavam contra ele injúria sobre injúria
Os outros animais, dizendo-lhe com ira:
«Ora o que o berço dá, somente a cova o tira!»
E ele, apenas grunhindo a vilipêndios tais,
Ficava muito enxuto. Atenção nisto, ó pais!
Dos filhos para o génio olhai com madureza;
Não há poder algum que mude a natureza:
Um porco há-de ser porco, inda que o rei dos bichos
O faça cortesão pelos seus vãos caprichos.

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*[Eis as coordenadas da edição a que me refiro: Bocage, Opera Omnia, Vol. IV, Dir. Hernâni Cidade, Prep. texto e Notas de António Salgado Júnior, Livraria Bertrand, SARL ed., Lisboa, 1969]
 
 


[transcrição do artigo publicado na edição de 13.09.2013 do 'Jornal de Sintra'. Por se tratar de um texto algo longo, foi dividido em duas partes. Hoje, conclusão]

 
Pinceladas de Setembro
(II Parte, conclusão)
-Exames aos professores e a outros profissionais

Perante o objectivo do Governo, de promover uma campanha de exames –no sentido de avaliar a competência de quem pretende ingressar na profi
ssão docente bem como a dos já contratados pelo Estado para o exercício das mesmas funções, portanto, sem qualquer vínculo – atrevo-me a sugerir que idênticas medidas sejam equacionadas em relação a todos os candidatos a cargos executivos de topo, no Governo, nas autarquias e grandes empresas públicas.

Para o efeito, um Grande Júri designado ad hoc verificaria, com especial acuidade, se os indivíduos estariam à altura de tais desígnios. Por exemplo, por aquele crivo passariam os «piquenos» incubados nas juventudes partidárias do Partido Socialista e do Partido Social Democrata, habilitados pelas «universidades» de Castelo de Vide e quejandas, jovens muito dotados e polivalentes, que aspiram à farta gamela onde irão saltitar entre os mais cobiçados pedaços do lauto banquete dos altos cargos…

Se tal alvitre vingasse, da bateria de testes e entrevistas a concretizar, além das matérias afins aos quesitos mais pertinentes do lugar a preencher, o candidato também teria de se submeter à componente avaliativa da designada cultura geral, absolutamente decisiva e eliminatória, abrangendo Literatura, Música, Artes Plásticas, Filosofia, Política, História, Cinema, Teatro, etc, para cabal e efectiva demonstração do conhecimento das obras que constassem de uma lista representativa dos mais significativos momentos culturais da História da Humanidade.

Querem apostar que, finalmente, poderíamos começar a sossegar?

-Manuais escolares

Numa altura em que as famílias enfrentam tantas dificuldades decorrentes de orçamentos cada vez mais reduzidos – enquanto, paradoxalmente, o Governo afirma estar o país a caminho da saída da crise… – o início do novo ano lectivo, com a necessidade de investimento em manuais escolares, é algo que não pode deixar de preocupar qualquer cidadão, directa ou indirectamente envolvido naquela situação.

No meu caso, tratando-se de preocupação de muitos anos, também o foi enquanto Técnico do Ministério da Educação, onde tive oportunidade de me bater pela concretização de medidas e de atitudes que deparavam com o obstáculo do lóbi dos editores e livreiros os quais sabiam fazer sentir aos pequenos David, como eu, como poderosos eram aqueles Golias…

Há mais de trinta anos, e sempre que oportuno, juntamente com outros colegas, propusemos a concretização de soluções de acesso aos manuais, cujo sucesso certo e seguro, conhecíamos de outras paragens, de outros sistemas educativos, concretizadas em países bem mais ricos do que o nosso, onde proliferam os bancos de livros, as trocas, as cedências e os empréstimos das escolas aos seus alunos, etc.

Também aqui mesmo, nesta tribuna do Jornal de Sintra, ao longo dos últimos anos, várias foram as oportunidades em que trouxe o assunto à baila, na esperança de que água mole… Não admira que, actualmente, tanto me regozije pelos incontáveis casos que os meios de comunicação social vão divulgando, de soluções com que sonhei, que aliviam as famílias de despesas, perfeitamente escusadas, não raro, atingindo as centenas de euros. E, felizmente, também em Sintra, vários são os casos de êxito.

De todo em todo, dentre as soluções que conheço e tenho publicitado, a que mais advogo passa pelo empréstimo promovido pela própria escola. Trata-se de mais um acto de carácter implicitamente pedagógico, nos termos de um contrato que até pode ser reduzido a escrito, em que o aluno se assume como fiel depositário do livro, durante todo o ano lectivo, obrigando-se à devolução, naturalmente, em bom estado de conservação.

Nestas condições, o manual passa a revestir a condição de bem patrimonial da comunidade, que a escola cede e controla de acordo com as necessidades. Assim sucedendo, são os próprios cidadãos que, indo ao encontro do princípio constitucional, zelam no sentido de que o ensino seja tendencialmente gratuito, num domínio em que a cidadania activa consegue obter resultados tão nobres e eficazes.

[João Cachado escreve de acordo com a antiga ortografia]

sábado, 14 de setembro de 2013



transcrição parcial de artigo publicado na edição de 13.09.2013 do 'Jornal de Sintra'. Por se tratar de um texto algo longo, está dividido em duas partes.]


 Pinceladas de Setembro


Eis quatro apontamentos arrancados a uma rentrée nada escassa em motivos de interesse.

Ofensa irreparável

“(…) Já alguém perguntou aos 900 mil desempregados de que lhes valeu a Constituição? (…)”           
Pedro Passos Coelho, 1 de Setembro de 2013

Parece impossível mas, apesar do escândalo, é verdade que o governante disse mesmo a frase citada em epígrafe. Recordando a polémica licenciatura de Miguel Relvas, seu ex-braço direito, quase apetece investigar acerca dos estudos que terá feito este senhor para se permitir bolsar disparate tão rotundo que nem Salazar nem qualquer político do actual regime, alguma vez sequer se atreveram a sonhar.

Foi com esta pérola da ignorância que o Primeiro Ministro de Portugal iniciou a sua prestação pública neste mês de Setembro. Passados quase quinze dias, e ainda mal recomposto do despautério, continua pairando a dúvida de como a tanto se atreveu. Perante a enormidade do desprezo pela Constituição, também se põe em causa que o Chefe do Governo tenha recebido o mesmo legado que nós, europeus orgulhosos da herança civilizacional de que beneficiamos.

Naturalmente, não pode deixar de se ter em consideração a inglesa Magna Charta Libertatum, outorgada pelo Rei John 'Lackland' em 1215, há quase oitocentos anos, bem como o paradigma de Constituição, filha da Revolução Francesa, do qual são herdeiras as nossas, desde o século dezanove até à de 1976, controlando o exercício do poder e mitigando qualquer veleidade de menos respeito pelos direitos do povo em geral e, portanto, também dos trabalhadores.

A verdade é que faltava este humilhante discurso de ofensa ao povo para, finalmente, se desfazer qualquer dúvida quanto às falhas de lastro académico e de preparação cultural deste homem que, tendo assumiu as funções em que está investido, certo é que na sequência de eleições livres, o fez no quadro de uma Democracia cujos mecanismos permanecem subvertidos e comprometidos por Lei Eleitoral que propicia e fomenta a manutenção no poder de uma classe política cujas degradação e inerente desqualificação bem representadas estão no próprio Passos Coelho.

As doutas decisões do Tribunal Constitucional

Em duas oportunidades, num curto período de tempo, os Juízes do Tribunal Constitucional pronunciaram-se quanto à constitucionalidade de dispositivos legais controversos. Num primeiro momento, a propósito de uma questão laboral no contexto da Administração Pública, toda a oposição rejubilou com a decisão dos membros do órgão judicial que, com o seu douto veredicto, impediram, e muito bem, qualquer objectivo que o actual Governo pudesse perspectivar quanto ao despedimento de Trabalhadores do Estado.

Poucos dias depois, outro Acórdão, este opondo-se a uma interpretação restritiva da Lei de limitação de mandatos dos eleitos das autarquias. Pois, desta vez, a oposição dividiu-se. A que é representada pelo PCP que, tal como o PSD, era parte interessada nesta leitura em que radicou a decisão do TC, reagiu em sentido contrário do Bloco de Esquerda, para o qual a decisão em apreço, dos mesmíssimos juízes, já é tudo menos douta. Enfim, mais do mesmo…

(Continua. Amanhã serão publicados os outros dois textos)




 

 


Clara Wieck Schumann


 Depois de Natália Correia, a memória do aniversário de outra grande artista. Também a 13 de Setembro, mas de 1819, nascimento de Clara Schumann (m. 1896) cuja grande paixão, o piano, é instrumento e lugar geométrico de
encontro dos homens da sua vida, o pai, o marido, o grande amigo (Johannes Brahms).

Pianista e compositora, é ao piano que dedica o melhor do labor em todos os domínios. Dela até nós chegou a fama de grande intérprete, de professora inexcedível e de criadora inspiradíssima, lembrança compósita de sinais que compuseram esta figura de proa do movimento romântico musical.

Eis uma série de peças para piano de sua autoria, música de superior qualidade que bem justificaria presença muito mais frequente nos programas dos recitais. A interpretação é de Jozef De Beenhouwer.

Boa audição!


http://youtu.be/9QJnb1EXnEg
 


Natália Correia
 
[facebook, 13 de Setembro de 2013]

No dia do seu aniversário, recorro a uma partilha do blogue 'Mulheres de Amar Pra Sempre". Através do interessante trabalho desta página, entre outros, poderão aceder a dois dos seus poemas - 'Autogénese' e 'Defesa do poeta' - recitados pela própria, naquele seu modo tão entranhadamente telúrico.

 
E, ainda, a transcrição daquela célebre peça, eminentemente repentista, com que, em pleno Parlamento, brindou o deputado Morgado do CDS a propósito de uma ridícula intervenção em que este considerava que o acto sexual só servia para a procriação... Também é a memória de um tempo em que os eleitos podiam ser da estirpe de uma Natália. Na verdade, outros tempos!...

E, se puderem, hoje e sempre, homenageiem Natália Correia. Leiam-na. Sempre colherão proveito!