[sempre de acordo com a antiga ortografia]

sábado, 26 de abril de 2014



26 de Abril,
dia de São Marcos,
primeiras memórias de Veneza,
as matinas, os Papas



Hoje, dia de São Marcos, a conotação de Veneza, impõe-se-me, grudada à longínqua memória do dia 3 de Outubro de 1967. Estava com os meus pais naquele que, por acaso, era o dia das suas bodas de prata. Por acaso, repito. Longe de se tratar de viagem de turismo e, muito menos, para celebrar qualquer efeméride matrimonial, a verdade é que o pai estava num congresso internacional e eu, que já me expressava bastante bem em Alemão, uma das línguas de trabalho, acompanhava-o, como intérprete.

Viagens, lazer e negócios eram realidades que muito se conjugavam na minha família. De acordo com as nossas capacidades, tanto eu como os meus quatro irmãos e irmãs, éramos «convidados», ao longo do ano, para algumas viagens cujos aliciante e vantagens se diluíam, por vezes, em muitas horas de trabalho a sério…

A cada um de nós, competia aproveitar ao máximo os tempos livres, de acordo com os nossos interesses, fossem eles quais fossem. No meu caso, já na altura, era a música que mais me mobilizava e, como tal, estava a tento a todas as oportunidades.

De facto, porque o meu pai era um grande melómano e, de Música e História da Música – diplomado que era em Ciências Musicais e com o curso superior de violino – como soe dizer-se, sabia mais a dormir do que alguma vez saberei acordado, eu tinha o melhor conselheiro possível para todas as conversas adventícias e laterais às dos negócios, que estavam no cerne das tais viagens.

Lembro-me perfeitamente de que, nesse ano, me falou especialmente de Gian Francesco Malipiero , o grande compositor natural da região de Veneza, que comigo partilha o dia de aniversário, acerca de quem já aqui escrevi algumas páginas de introdução à obra, precisamente, recordando as conversas com o meu pai naquele Outono de 1967. Mas, para outra coisa me alertou ele. Que, de modo algum, deveria eu perder o canto das matinas na Catedral de São Marcos!

Claro que não perdi. Não podia ter tido melhor sugestão. Absolutamente impressionante e inesquecível, aquela salmodiada e orientalizante polifonia, às seis e meia da manhã venaziana. Pois bem, é essa vellha memória, já quase semissecular, que agora me ocorre. Hoje, véspera do dia em que será canonizado João XXIII. O nosso amado Papa João, anteriormente, Cardeal Patriarca de Veneza e que, nesse contexto, escolheria o leão de São Marcos para integrar o seu brasão de armas.

O leão de São Marcos, neste dia de São Marcos. Veneza e a grande música, elos de uma cadeia interminável que ainda me levam ao Concílio Ecuménico Vaticano II, no âmbito do qual o jovem teólogo Jopeh Ratzinger teve intervenções extremamente progressistas que, aliás, contradizem totalmente o labelo de reaccionário com que, já na pele SS o Papa Bento XVI, muitos anos mais tarde, seria mimoseado por uma comunicação social mal informada. Afinal, o Papa Emérito que, amanhã, com SS Francisco, concelebrará a canonização do seu antecessor…

A espantosa História musical da Catedral de São Marcos de Veneza regista como Mestres da sua Capela Coral, entre outros, compositores tão célebres como Andrea Gabrieli, o seu sobrinho Giovanni Gabrieli, Claudio Monteverdi, Baldassare Galuppi ou Adrian Willaert.

Precisamente de Galuppi (1706 † 1785), que teve a alcunha de Buranello, por ser natural da ilha veneziana de Burano, venho propor-vos a primeira parte de um esplendoroso em Dó Maior, para Coro, solistas e contínuo, numa interpretação do Coro e Consort Ghislieri, sob a direcção de Giulio Prandi.

Boa audição!

http://youtu.be/jNGJqwxBOhM
 

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