[sempre de acordo com a antiga ortografia]

terça-feira, 17 de abril de 2012


Chostakovitch,
nas mãos da juventude



Sem margem para qualquer dúvida, Dmitri Chostakovitch é o grande compositor sinfonista do século vinte. Nada menos do que quinze sinfonias constam da lista das suas obras, seguindo muito de perto a evolução do compositor, como músico e como cidadão empenhado, numa União Soviética onde não foi fácil ser artista livre, em especial durante o consulado de Estaline.

A Sinfonia Nº 7 em Dó Maior, op. 60, que levou Leninegrado como subtítulo, é particularmente célebre já que, por um lado, funciona como hino heróico à resistência da Rússia contra o nazismo, em especial durante o cerco das tropas alemãs a Leninegrado e, por outro, poderá ser entendido como denúncia das violências perpetradas pelo regime vigente.

Foi esta a última obra trazida ao Grande Auditório da Gulbenkian pela Gustav Mahler Jugendorchester que, no domingo e na tarde de ontem, evidenciou o proverbial empenho dos jovens músicos que a compõem bem como o seu altíssimo gabarito, desta vez sob a direcção do jovem maestro alemão David Afkham. E, de facto, se o objectivo também era demonstrar como se mantem impecável o projecto inicial desta orquestra fundada por Claudio Abbado, não poderia ter terminado de melhor maneira a breve estada de dois dias em Lisboa.

Trata-se de uma peça absolutamente fascinante para grande orquestra sinfónica, com a duração total de cerca de uma hora e um quarto, em quatro andamentos, cuja sequência e obediência programática quase nos remetem para a morfologia de um poema sinfónico cujos contornos seriam os das referências políticas e beligerantes acima referidas.

Proponho-vos a audição do quarto andamento, Allegro non troppo, representativo da excelente oficina do compositor. Reparem, por exemplo, como, logo no início, se insinua um motivo quase marcha, nas cordas graves, dialogando com os violinos que, progressivamente, ganham grande agitação, tudo isto precedendo uma secção de oponente acalmia em que avultam temas de andamentos anteriores. Segue-se um violentíssimo climax e, como tantas vezes, acontece em Chostakovitch, o remate é irónico e de uma tranquilidade algo ambígua.

A interpretação deste excerto da Sinfonia, consta de uma gravação de 2004, a cargo da Orquestra Filarmónica Russa, sob a direcção de Dmitri Yablonsky.

Boa audição!


http://youtu.be/p5zt4ntcKSE

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