[sempre de acordo com a antiga ortografia]

quinta-feira, 8 de novembro de 2007


Questão de sinais


Em Portugal, é francamente má a qualidade da comunicação que se obtém através da leitura e interpretação das mensagens que constam dos sinais instalados nas nossas estradas e ruas. Se esta é uma situação grave, que a comunidade em geral não tem sabido resolver, ainda mais problemática se revela a omissão da informação lesiva dos mais diversos interessses e direitos dos cidadãos.


Mesmo quando não gera consequências tão nefastas como a ocorrência de acidentes e incidentes de toda a ordem, a deficiente sinalética é indutora de stresse, mais ou menos significativo, especialmente no caso dos condutores de automóveis que, em função das deficientes ou inexistentes mensagens, ficam incapazes de, rápida, conveniente e correctamente, adoptarem a melhor decisão para se dirigirem aos seus destinos.
Se pensarmos nos estrangeiros, de todas as origens e diferentes línguas, enquanto elo mais fraco deste circuito de comunicação - já que não dominam nem o contexto nem o canal em que a mesma se processa, portanto, os mais interessados numa comunicação escorreita, funcional e eficaz - então o problema agrava-se exponencialmente, atingindo patamares de desalento, desencanto, uma certa frustração. Tal não significará que, mais tarde, passado o momento crítico, o assunto até não possa ser recordado com bonomia, ou como mais um sintoma que caracteriza e caricatura este desorganizado povo que é o português.
Não é preciso ter estudado semiologia e semiótica e convivido com conhecidas obras de Ferdinand de Saussure, Rolland Barthes, Umberto Ecco ou de Eduardo Prado Coelho, todos conhecidos semiólogos para, imediatamente, concluir que toda esta «ementa» se aplica, que nem uma luva, à realidade sintrense. Só quem anda desatento aos signos e sinais, aos sintomas e síndromes desta nossa terra estranhará o discurso.
Sugestões, + 1 x



Não entrarei em pormenores que não cabem na economia deste pequeno escrito mas lembrarei que esta é uma questão recorrente na imprensa regional e constantemente presente nas conversas do quotidiano em que se expressa o nosso descontentamento. Tenho em mente, portanto, a inexistência de sinais quando, em determinada situação concreta, tudo recomendaria a sua inequívoca instalação, a falta de lógica, tanto ao nível das dimensões como do cromatismo como do próprio local em que foram colocados (isto é, onde dava jeito a quem os colocou mas sem préstimo a quem deles carece...).
A propósito, continua a fazer imensa falta a colocação de placas uniformes, obedecendo a um modelo imediatamente identificável no tecido urbano, junto de cada edifício com história própria, ou de outras indicando a conveniência da visita de certa zona particularmente interessante como, por exemplo, em pleno centro histórico, são os casos da judiaria e mouraria. Bem, não entendam isto como algo de imediatamente aplicável porque, no caso desta última, tanto é o desleixo e a falta de higiene na Rua do Açougue que, por enquanto, o melhor é tapar o Sol com a peneira da penumbra...


Ainda no domínio da sinalética, em turística área com a fama de Sintra, uma solução especialmente correcta passaria pela pintura, em pleno pavimento, de linhas tão coloridas consoante os dois, três ou quatro percursos sugeridos, que corresponderiam às plantas impressas nos folhetos disponibilizados aos turistas, assinalando os diferentes pontos de paragem.
E pouca conversa...



Nada disto é coisa nova. Eu próprio, em vários artigos no Jornal de Sintra, tive oportunidade de recomendar a adopção destas soluções* que, tal como é patente, continuam por concretizar apesar de toda a pertinência. Afirmo-o não por presunção mas, isso sim, com o desgosto de saber que são medidas fáceis, baratas, que melhorariam a qualidade do acesso, da divulgação e da interpretação do património.

Gosto muito de ser prestável aos forasteiros que me interpelam. Quantas vezes, por exemplo, na estrada já muito perto de Monserrate, me perguntam se vão bem na direcção da Pena... Isto já para não tornar presentes, em plena Estefânea, perguntas congéneres cuja resposta, por muita simpatia de que sejamos dotados, se torna impraticável, tão tenebroso é o circuito que a Dra. Edite Estrela nos deixou como herança. E não se pense que são estrangeiros os que mais perguntam porque, na maior parte dos casos, até são nacionais. Como calculam, prefiro guardar a minha disponibilidade para outro género de conversas.
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* Jornal de Sintra, Um turismo às claras..., 15.04.05

2 comentários:

Anónimo disse...

Meu ilustre bloguista, resistissem os ordenados a entrar nos bolsos dos autarcas e de muitos responsáveis sem que apresentassem um justificativo forte e a coisa mudaria muito.
Por outro lado, a génese da falta de realização também se relaciona com uma questão nuclear: a barateza de pequenas mas muito úteis obras. Não nos fartamos de ouvir dizer que não há dinheiro? Malvadas folhinhas de papel ou redondinhas peças de metal que parecem ter pernas, mas sem olhos para verem as grandes "encomendas", os estudos faraónicos e coisas parecidas, de cujas mais-valias até devemos desconfiar.
Quer o meu amigo indicações para que os turistas que nos visitam não andem perdidos por todo o lado à procura do Centro Histórico? É muito boa a sua idéia, mas é de borla e essa graça não estava prevista.
Chego a pensar que um conjunto de pessoas sintrenses e amigas de Sintra, do seu desenvolvimento e que vivem todos os momentos desta nossa terra, são vistas como peças incómodas e, quiçá, metediças, daí funcionarem os serviços ao contrário: "Ai dizes? Pois agora é que não é feito". Bem feito.
Depois falam na marca Sintra e nas capacidades para se receber dois milhões de visitantes, fingindo desconhecer-se que na maior parte são visitantes de uma hora (ou menos) sem que por cá possam dormir ou ficar até muito mais tarde.
Causa-me, até, estranheza, que certos responsáveis, ao falarem de Sintra e dos seus encantos, não se revejam no abandono a que a têm votado, ao lixo e a muito de mau que se vê no Centro Histórico, onde a Rua do Açouge não é única.

Sintra do avesso disse...

Saloio, Caro amigo,

Ah como eu gostava de saber quem anda por aí, sob este pseudónimo, que também esconde a minha condição!... E, ainda por cima, com tanta afinidade.

Bem, se o senhor diz que é por pirraça que certas coisas se não fazem porque previamente alvitradas por vozes como as nossas, então quase lhe diria que estaria disposto a calar-me se, efectivamente, soubesse que, com o meu silêncio, estaria a «comprar» a concretização de tantas e tão boas ideias, baratinhas, acessíveis com que vou sonhando...

Outra coisa, a propósito do ridículo lapso de tempo que traduz a permanência dos forasteiros em Sintra, que parece não chegar à média de uma hora.

Toda a gente diz que são necessárias mais camas. Completamente de acordo, mas não a qualquer preço como era o caso do famigerado projecto da Sintralândia, que pretendia vender as "marcas" Sintra e Descobrimentos Portugueses a interesses obscuros que, definitivamente, cavariam a sepultura desta terra, apesar do canto de sereia de cinco mil postos de trabalho. Se a coisa não foi para diante, justo é reconhecê-lo, tal se deve ao actual Presidente da Câmara, Prof. Seara, a quem tirarei o chapéu agora e sempre, em reconhecimento do que não deixou fazer. Fique o Saloio a saber que cheguei a ser ameaçado por, publicamente, pugnar contra tão desnaturado projecto...

Camas sim, mas não a qualquer preço! Muito mal se entende que, como o Saloio os designa - os tais defensores das florinhas da Volta do Duche, tenham o topete de emitir pareceres negativos acerca de projectos bem concebidos, de pequena e média dimensão, que Sintra não pode dispensar, se quer cativar um turista que pretenda permanecer, em unidades hoteleiras acessíveis às bolsas que têm problema em se alojarem no Tivoli ou Seteais...

Como é que, por exemplo, o Festival de Sintra, com tantas e excelentes propostas, apesar de acontecer tão perto de Lisboa e Cascais, não tem capacidade para recrutar, in loco, portanto, em Sintra, umas centenas de pessoas que aqui deveriam «residir» enquanto decorresse, dinamizando o comércio local e a procura de outros bens culturais aqui instalados? Porque não há camas acessíveis, nem 'chez l'habitant', nem nas tais unidades hoteleiras que não se constroem porque os tais imobilistas se opõem e, paradoxo dos paradoxos, a autarquia os ouve, sem o cuidado de solicitar aos promotores, as alternativas que, perante algumas situações obviáveis, tais projectos poderiam contemplar para serem autorizados e viabilizados.

Tenhamos esperança e confiemos que certos pequenos sinais indiciam uma vontade de mudança de atitudes que só mudanças na macroestrutura -caso da divisão do mastodôntico concelho em duas ou três unidades governáveis, por exemplo - definitivamente permitirão.

Um abraço de saloia fraternidade do

João Cachado