[sempre de acordo com a antiga ortografia]

quinta-feira, 25 de janeiro de 2018


Aniversário da Senhora Marquesa de Cadaval
-Turim, 17 de Janeiro de 1900, 
  Lisboa, 21 de Dezembro de 1996
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Primeiro momento da minha homenagem
AUSÊNCIA DAS CRIANÇAS DE SINTRA
- QUE PATRIMÓNIO É POSTO EM CAUSA?
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Se há cinco anos foi possível que crianças de Sintra estivessem presentes na homenagem, hoje não é. E o facto de assim suceder não deixa de ser altamente sintomático. Pois, em dia de lembrar quem tanto se preocupou com Sintra, das mais diversas maneiras, não vos incomodaria com esta constatação se, na realidade, não considerasse que, embora sucintamente, vale a pena reflectir um pouco acerca desta ausência.
O enorme detalhe da presença dos miúdos aconteceu quando, em 2013, em data análoga, meninos e meninas de uma escola vizinha, depois de se lhes ter falado acerca da figura da mecenas, vieram ao Centro Cultural Olga Cadaval e, junto do busto de Dona Olga, lhe ofereceram flores.
Em qualquer latitude civilizada esta é uma atitude habitual que, nos seus contornos de uma certa formalidade - que não deixa de conter inestimáveis valores educativos para o «cidadão em construção» que a criança é - também tem um significado inestimável para a vida da comunidade, para a celebração da memória como mensagem de perenidade e esperança no futuro.
Estavam presentes técnicos e Vereadores da Câmara Municipal de Sintra, como a Paula Simoes, professores, cidadãos anónimos e, em representação da família Álvares Pereira de Melo, Teresa Schönborn(Condessa Schönborn-Wisentheid), neta da Senhora Marquesa, com quem os miúdos se encantaram perante as histórias que lhes trouxe à mistura com as pré-históricas pedras de Muge que tirou do saco por artes da sua 'lúcida magia'.
As palavras que vos trago, foram ditas, precisamente, naquele dia 17 de Janeiro de 2013. Muito sinceras, sentidas, mesmo do coração, e cito, do texto que abaixo reproduzo "(...) porque considero o acto de homenagem, não uma formalidade para preencher agenda mas, isso sim, algo de altamente interpelante, verdadeiro desafio de gente que reconhece os valores da cultura e da civilização em que nasceu, enaltecendo alguém que, tendo-os encarnado no passado, nos ajuda a transmiti-los ao futuro. (...)"
Como dizer-vos, de maneira menos triste, que estou triste? Não haver crianças presentes é uma pena. Uma pena que acrescento a outras, em Sintra relacionadas com a memória da Senhora Marquesa e, 'lato sensu', outras penas RELACIONADAS COM A PRÓPRIA DEFESA DO PATRIMÓNIO DE SINTRA, penas tão discutíveis quanto dispensáveis porque evitáveis.
Finalmente, as palavras da homenagem. À senhora Marquesa, cuja memória permanece e, na altura, sem que alguém tivesse sonegado às crianças a possibilidade da partilha de momentos tão importantes para a comunidade sintrense.
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[17 de Janeiro de 2013]
Meus amigos,.
Acontece este acto, tão singelo, precisamente no local onde, constantemente, e sob as mais diversas formas, se celebra a Arte e vivem momentos de Cultura. É o local que a comunidade sintrense considerou adequado à perpetuação da memória de quem teve uma vida tão cheia, ocupada, preocupada e marcada pela Arte e pela Cultura, a Senhora Marquesa Dona Olga de Cadaval.
Se quiséssemos resumir em que consistiu a fundamental atitude de tão desinteressada mecenas, bem poderíamos dizer que passou muito do seu tempo numa total disponibilidade para quem mais carecia do seu apoio. Aconteceu isso em todos os domínios mas, como é do conhecimento geral, a sua intervenção, em especial no universo musical, nacional e internacional, foi absolutamente determinante no sentido de facilitar os primeiros grandes passos de jovens valores, a quem sabia reconhecer inquestionáveis méritos e dotes, apontando-os ao mundo como expoentes que evidenciavam as mais gratificantes promessas.
Antes de 1974, por vezes enfrentando alguns riscos dos sombrios tempos que enquadravam a vida cultural portuguesa, disponibilizou os seus conhecimentos, colocou ao seu serviço a rede de contactos dos amigos, soube estar atenta e, sempre que se lhe ofereceu o ensejo, jamais desperdiçou a oportunidade de promover os talentos, de contribuir para a excelência, de sublinhar a excepcionalidade. Ora bem, meus amigos, será que, à escala das possibilidades de cada um de nós, estaremos à altura desta nobre atitude, ou seja, da herança que recebemos da Senhora Marquesa de Cadaval?
E, perante estas crianças da nossa comunidade, crianças que, sendo o futuro, são o próprio tempo – como dizia o meu grande mestre Prof. Manuel Antunes – perante estas crianças, prestes a concretizar o gesto tão simbólico de oferecer flores à Senhora Marquesa, será que, interrogava eu, também nos poderemos comprometer com a nossa disponibilidade, para fazer tudo quanto estiver ao nosso alcance no sentido de reconhecer e respeitar a individualidade sagrada de todos os meninos, as suas características próprias, sempre a seu favor, nunca em seu prejuízo?
Permitirão que assim me expresse, sincera e comovidamente, curvado perante a memória desta senhora que, para mim, tem revelado um fascínio, cada vez mais surpreendente, à medida que mais e melhor a venho conhecendo e descobrindo. Uso desta veemência, porque considero o acto de homenagem, não uma formalidade para preencher agenda mas, isso sim, algo de altamente interpelante, verdadeiro desafio de gente que reconhece os valores da cultura e da civilização em que nasceu, enaltecendo alguém que, tendo-os encarnado no passado, nos ajuda a transmiti-los ao futuro.
Antes de terminar, gostaria de vos trazer um excerto do texto subscrito por um íntimo amigo da Senhora Marquesa, o Engº Luís Santos Ferro, palavras do programa comemorativo do aniversário de Dona Olga, em 1997.
Cito: “(…) Melhor é a sabedoria do que a valentia diz, numa moeda de ouro de 1724, o mote latino de um dos sete doges seus ancestrais, Alvise III Mocenigo, Melior est Sapientia quam Vires.
(…) Como participantes nesta cerimónia e, simbolicamente, representando tantos que a sua personalidade de alguma forma tocou, louvemos a sapiência e a generosa simplicidade com que distribuiu os seus invulgares talentos, multiplicados e enaltecidos no transcurso de toda uma ampla vida.” Fim de citação.
Neste nosso tempo, tão conturbado, afirmar que "Melhor é a sabedoria do que a valentia", é um acto de profunda coragem, lucidez e de grande sabedoria, mensagem certíssima, meus amigos, na perspectiva do futuro, para bem do qual a Senhora Dona Olga, Marquesa de Cadaval, tanto, tão decisiva e positivamente contribuiu, o mesmo futuro que tanto prezava na actualidade e na modernidade da Arte que jamais a desconcertou,
o futuro que aqui está, hoje, neste átrio, nestas crianças.
Pela primeira vez, celebram elas a memória de alguém que nós lhes apontamos como exemplo de vida. Estes alunos da Escola D. Fernando II sabem ao que vieram. Demos-lhes nós o melhor exemplo. Não as desapontemos.
Muito obrigado.

terça-feira, 16 de janeiro de 2018

Pena máxima!...

Hoje também. Vão sempre, vão! Sem livros, sem música. Lá encontram tudo o que mais precisam.




Como agradecer?
Redundância máxima será afirmar e confirmar que, no Parque da Pena, o Senhor D. Fernando nos cumulou com um espantoso legado. De salientar, isso sim, que a generosidade ali prevalecente e pródiga é a daqueles que concretizam grandes obras, não para seu próprio gozo mas para os vindouros.
Ao tempo da morte do rei-consorte poucos terão entendido o que a Pena era, o que a Pena seria, que obra para o futuro era aquela, que grandeza de alma era a de quem tudo aquilo concebeu.
De facto, somos nós que estamos a usufruir a plenitude da obra que projectou e realizou, não só lado a lado com Elise mas também com a ajuda de muita gente competente.
Passado século e meio sobre as variadíssimas intervenções, em especial decorrentes da introdução de espécies provenientes das mais diferentes origens, europeias nórdicas, americanas, asiáticas, eis-nos inebriados perante a beleza a rodos por ele imaginada. Que fabulosa herança!
No entanto, como Sintra é terra de enormes privilégios, não é difícil considerar outros legados tão importantes como os de Sir Francis Cook ou da Senhora Marquesa de Cadaval.
[Ilustr: recanto do Parque da Pena (foto do blogue Sintra, acerca de)]


A luta do Largo
Num momento em que, ao dar os seus primeiros passos públicos de intervenção cívica, QSintra QSintra group pretende envolver-se neste 'terreiro de afirmação' em São Pedro, a atitude que me parece mais natural e eficaz é a de se inteirar acerca do passado recente de uma luta que já teve momentos do maior interesse.
Entre outros textos que estão disponíveis na página da Canaferrim - Associação Cívica e Cultural, além do que ontem aqui voltei a partilhar, mais este, em que pus em comum impressões posteriormente sublinhadas por comentários síntonos que vale a pena consultar.
Canaferrim - Associação Cívica e Cultural
LARGO DE SÃO PEDRO
>>> POIS BEM, VAMOS À LUTA!
Perante o desassossego que a Câmara Municipal de Sintra pretende causar com o seu abstruso plano para o local - entre outras malfeitorias tendo previsto a instalação de um parque de estacionamento para mais de cem viaturas - alguns cidadãos já se começaram a mobilizar para a luta que, inevitavelmente, aí vem.
Há dois dias, a propósito deste assunto, escrevia eu:
"Se o plano da Câmara Municipal de Sintra vingasse, o terreiro de São Pedro seria tão desrespeitado, tão abastardado que, só muito dificilmente, depois se reconheceria o espaço que nos foi legado e que urge manter com o seu perfil, com todas aquelas características da vernaculidade local.
Enfim, é preciso lutar no sentido de que não haja factos consumados. (...) Claro que há coisas a beneficiar mas, nunca por nunca, como se pretende, transformar o recinto, ainda que apenas parcialmente, em parque de estacionamento permanente. Por outro lado, em que escolas terão aprendido os técnicos proponentes, sancionados pelos políticos que os avalizam, ser necessário nivelar aquilo tudo, padronizar um pavimento e não sei que mais? (...)"
LUGAR NO CORAÇÃO E NA MEMÓRIA DOS SINTRENSES
O recinto é extraordinário, a ele tendo coladas camadas e camadas de memórias, de vivências com muitas décadas, um lastro enorme de vidas cruzadas, de cenas repartidas entre gerações de residentes, de amigos, de famílias, com seus risos, gozos, gostos e também desgostos, horas mais e menos propícias.
Tal património tem os contornos pessoais e comunitários que cada um guarda e a própria comunidade assumiu porque, repito, foram precisamente as características do lugar, a vernaculidade a que já aludi noutro texto, que permitiu tivessem adquirido os matizes patrimoniais pessoais que carregam.
Haverá alguém que desconheça esta como componente indissociável da própria definição de Património que a UNESCO perfilha?
Aquele recinto que, de tão equilibrado, tem sábios desníveis, pedras calorosas e cordiais, não pode ser mexido, remexido à revelia da vontade dos cidadãos. É que nem pensar! Se, dos estiradores dos gabinetes de urbanismo e de planeamento da autarquia, não saíu coisa mais interessante e menos contundente, então há que saber responder, dando a entender como, afinal, TAIS PAPÉIS APENAS TROUXERAM À LUZ UM NADO MORTO, filho de uma atrevida ignorância.
Dificilmente, de facto, encontraria a Câmara Municipal de Sintra um local que mais pudesse «mexer» com a sensibilidade epidérmica dos sintrenses à possibilidade - ainda que tão remota! - de alteração tão radical como a proposta.
De facto, o lugar não poderia ser mais mobilizador da vontade dos cidadãos em fazerem-se ouvir sobre as suas razões de discordância. À partida, independentemente da necessidade de aprofundamento dos argumentos a dirimir, o desacodo não pode ser maior. Por isso, já há opiniões a circular, ideias que devem ser partilhadas, discutidas, bem debatidas.
ABAIXO ASSINADO CONTRA O PROJECTO, JÁ ACESSÍVEL
O meu amigo Guilherme Leite, o grande promotor da Saloia TV, que tanto e tão bom trabalho cívico tem feito em prol das gentes de Sintra, com a sua conhecida argúcia, naturalmente, apercebeu-se da pertinência da luta em perspectiva. E ontem lá esteve, num acolhedor cantinho Largo De São Pedro, ouvindo os amigos que pretendem partilhar as suas razões de queixa.
Eis o primeiro momento, com o nosso companheiro João Diniz, da Canaferrim, Associação Cívica e Cultural. Nos próximos dias, outros se sucederão. Estejam atentos!
Bom visionamento!
https://youtu.be/pFTVkgFEwBE
por João De Oliveira Cachado


Largo D. Fernando II
(Largo da Feira de São Pedro)


A título de mero exemplo, eis um dos textos que subscrevi em 2016, num momento da intervenção cívica contra o projecto que, actualmente, volta à baila ainda não se descortinando muito bem com que contornos.
Cumpre lembrar que o movimento em apreço foi promovido pela Canaferrim - Associação Cívica e Cultural, entidade à qual estou ligado enquanto fundador e dirigente, 'de braço dado', entre outros, com Fernando CunhaJoão DinizGabriel CruzSofia Dionísio, António Esteves ou Ricardo Duarte.
João De Oliveira Cachado adicionou 2 fotos novas.
Largo da Feira de São Pedro
É como membro da Canaferrim, Associação Cívica e Cultural que vos escrevo acerca do assunto cujo título encima estas palavras, assunto que, por continuar perfeitamente na ordem do dia, carece de um esclarecimento relativamente aos seus objectivos.
A todos quantos têm manifestado interesse na resolução da questão, suscitada pela apresentação pública do Projecto de Intervenção que a Câmara Municipal de Sintra pretende concretizar no local, apenas lembrarei o compromisso fundamental constante do texto de apresentação do abaixo-assinado que, para vossa comodidade, abaixo reproduzo.
Aquilo que os signatários solicitam à Câmara Municipal de Sintra é que se disponibilize para convocar uma reunião com os cidadãos interessados no sentido de debater as questões pertinentes. É nessa sede de assembleia democrática que os interessados pretendem discutir o que houver para discutir, com toda a urbanidade, no exercício de direitos e deveres cívicos em que eleitos e eleitores coincidem em absoluto.
Enquanto a Câmara Municipal de Sintra não convocar a reunião para que autarcas e técnicos possam explicitar aquilo que, infelizmente, não tiveram o cuidado de fazer em tempo oportuno, será oportunidade perdida qualquer tentativa de contorno da questão através de iniciativas que não considerem, de facto, a auscultação dos fregueses de São Pedro, dos sintrenses em geral e de todos os demais interessados.
Está em marcha um movimento cívico. O abaixo-assinado é apenas uma dentre muitas atitudes que pode revestir a luta pela causa em apreço. É isto a democracia participativa que todos tanto prezamos e que tão bons frutos tem tido como, por exemplo no caso da Abrunheira Norte, em que, pura e simplesmente, processo muito mais complexo fez a marcha-atrás que os cidadão quiseram.
Felizmente, hoje em dia, os cidadãos estão cada vez mais bem preparados para protagonizar as atitudes de defesa do património comum, capazes de impedir que se aceite como facto consumado qualquer projecto mais ou menos abstruso, mais ou menos absurdo, desrespeitador das memórias que estão coladas aos locais onde se pretende intervir.
O caso do Largo da Feira de São Pedro está a suscitar uma acção de cidadania activa muito interessante que, pela sua feição, tudo leva a crer possa ser exemplar e digna herdeira, por exemplo, do Movimento Cívico que, há mais de década e meia, impediu a autarquia de construir um parque de estacionamento na Volta do Duche.
Resumindo e concluindo, aqui fica expresso o desejo de que a Câmara Municipal de Sintra, seja sensível e acolha o pedido dos cidadãos, não tardando na convocatória da reunião pública, objectivo específico do abaixo assinado. Tão simples como isto!

sexta-feira, 5 de janeiro de 2018

Alvíssaras!
Alvíssaras!

Rui Pereira, Vice-Presidente da Câmara Municipal de Sintra, autorizou-me a anunciar que, brevemente, vai ser reposta a ponte pedonal sobre a linha dos caminhos de ferro entre os Bairros da Estefânea e da Portela.

Tratando-se de um dispositivo crucial para a regularização da mobilidade urbana na sede do concelho, cuja reinstalação suscitou a minha intervenção em artigos de opinião, quer no 'Jornal de Sintra' quer nas redes sociais, várias vezes por ano durante os últimos 5 anos, poderão imaginar o meu regozijo.

Na mesma altura em que soube esta notícia, também colhi junto do mesmo autarca outras novidades extremamente interessantes e positivas, relativas a questões essenciais para a mobilidade em Sintra. Assim pressinta que as poderei divulgar, pois não faltarei a partilhá-las convosco.

Quem me dera, à medida da minha limitada escala, poder ser arauto da mudança que tanto, tanto tem tardado no domínio da mobilidade! Que as alvíssaras a que tenho direito se traduzam pela satisfação que, estou certo, não deixarão de evidenciar nos vossos comentários.


quinta-feira, 4 de janeiro de 2018

Meditando...

Vem esta «meditação» a propósito da controvérsia acerca da atitude do proprietário do Hotel Central que, inopinada e inusitadamente, ergueu uma estrutura metálica para sustentar a esplanada que sonhou instalar, ali mesmo à beira do Palácio da Vila.
Na verdade, nem uma semana havia decorrido sobre a montagem da estrutura, e na sequência do protesto da Alagamares e da sua denúncia à Comissão Nacional da Unesco, a CMS embargou a obra.
Passados quatro anos, ainda não consegui perceber se terá pedido licença à Câmara e, se assim tiver acontecido, como é que a autarquia terá autorizado…
Porém, até agora, a exemplo do que acontece noutras bem conhecidas situações «cá do burgo», tudo permanece em águas de bacalhau como, aliás, Fernando Castelo não se tem cansado de dar conta através do seu afinadíssimo relógio-calendário...
Para todos os efeitos, os cidadãos merecem uma explicação insofismável e resposta a perguntas pertinentes. Houve ou não houve licenciamento? Se afirmativo, quem autorizou e na base de que pressupostos? Que tipo de ignorância, técnica e de decisão política, estiveram em jogo?

Outros sintrenses casos
I.
Como a memória ainda não é má de todo, ocorrem outros casos cujas nefastas consequências todos estamos a suportar. A título de exemplo, peço que atentem na foto que ilustra este texto. Aí mesmo à nossa frente, sobre a esquerda média*, o grande «empreendedor» Miguel Pais do Amaral ergueu uma mansão que, aproveitando as fraquezas do «sistema», é prova acabada e cabal da nossa incapacidade de cívica intervenção contra os desmandos de quem, apenas pensando nos seus interesses pessoais, consegue passar por cima dos da colectividade.
Enfim, com o parecer favorável de entidades que era suposto pronunciarem-se, lá se construiu o monstro. Há tanto tempo quanto lá vai o ano de 2008, denunciei o caso em primeira mão, Luís Filipe Sebastião levou o assunto às páginas centrais do jornal 'Público', o assunto seguiu para o Tribunal Administrativo de Sintra.
A poucos metros do Palácio de Seteais, a uma cota mais elevada que a do próprio monumento, arrasou a legibilidade da página de 'Os Maias' em que Eça descreve o estupendo cenário que se apresenta a quem, descendo a rampa do ‘belvedere’, um pouco antes de passar sob o arco de triunfo, se lhe depara o espectáculo inolvidável.
Sintra perdeu, todos perdemos um património que, em princípio, deveria ter sido respeitado. Mas o grande empreendedor Pais do Amaral ganhou. Levou a sua avante.

II.
Aliás, a provar que o crime compensa mesmo e, igualmente perante a nossa incapacidade de organização cívica consequente - sem que as denúncias no 'Jornal de Sintra' ou no meu blogue sintradoavesso, cartas ao IPPAR, idas a reuniões públicas da CMS e Assembleia Municipal tivessem obtido qualquer resultado - o concessionário do hotel, outro «grande empreendedor», do grupo Espírito Santo, entretanto caído na maior desgraça, consumou a destruição do tanque, travestindo-o em prosaica casa de máquinas, como podem constatar sempre que passarem pelo local que era canto de lazer, profundamente radicado no espírito do lugar.
Uma perversa «lição» para os sintrenses? Não, de modo algum o creio. Processo fechado? Não, também assim não penso. Assim haja exemplar vontade política de repor a situação inicial, e, tanto no caso da mansão de Pais do Amaral como no do tanque da Quinta de Seteais, propriedade do «banco bom» ou do «banco mau», outro poderia ser o desfecho.
Provas inequívocas de um diferente e, enfim, mais civilizado modo de estar e de ser, daria a Câmara Municipal de Sintra se, em relação a estas ofensas ao espírito do lugar, em zona crítica e classificada, perspectivasse o protagonismo de atitude de embargo, idêntica à que, tão rapidamente, cumulou o caso do Central...
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*AT: a casa de Pais do Amaral não é essa tosca construção que surge na esquerda média. Olhem que vale a pena deslocarem-se até lá...

[Foto de Câmara Municipal de Sintra]

terça-feira, 2 de janeiro de 2018

Ribafria,
o melhor da Renascença em Sintra,
um sonho de Agostinho da Silva

2 de Janeiro de 2018
Em relação a este nobre espaço, que foi objecto do meu artigo publicado na edição do 'Jornal de Sintra' do passado dia 22 de Dezembro, venho partilhar a adopção da solução que, grosso modo, foi proposta pelo meu querido e saudoso amigo, Prof. Agostinho da Silva.
Não tenho mesmo a mínima dúvida de que estar à altura daquele espaço passa por concretizar um projecto que «apenas» apresenta a vantagem de ter sido idealizado por quem tanto conhecia a portuguesa maneira de ser e de estar aqui e no mundo e, ainda, pelo modo como Sintra estava no seu coração.
Está nas mãos de quem pode, ou seja, nas do actual Presidente da Câmara Municipal de Sintra que detém o Pelouro da Cultura, a eventualidade da concretização do melhor destino para a Ribafria, através de intervenção multidisciplinar que defenda e preserve legado patrimonial tão significativo. Por isso, a chamada de atenção às associações cívicas e culturais, movimentos e cidadãos de Sintra preocupados com estas questões.
Foto de João De Oliveira Cachado.



Margarida Magalhães Ramalho,
estupendo serviço cultural

1 de Janeiro de 2018

"Durante a II Guerra Mundial, o Palácio de Monserrate era residência particular (...) As histórias desses dias estão relatadas numa espécie de memórias dactilografadas escritas por Ida Kingsbury, que com o marido Walter e os filhos Richard e Hugh foram os últimos habitantes deste palácio. A forma como esses papéis chegaram à minha mão foi bizarra (...)"
[Margarida Magalhães Ramalho, Viver em Monserrate, Expresso, Revista, ed. 29.12.2017)]

Margarida Magalhães Ramalho que, cada vez mais, se vai tornando indispensável em trabalhos que tais, regala-nos com um esplêndido artigo sobre Monserrate. Fê-lo a partir de documentação, que tão bem sabe explorar, com o seu impar saber de experiência feito em congéneres .
Sintra já muito lhe deve. Os seus bem conhecidos labor e interesse sobre esta terra bem documentados estão, por exemplo, em "Escrever sobre Sintra", datado de 2011, ou, muito mais recente, "Os Criadores da Pena – D. Fernando II e a Condessa d'Edla", bem como a sua participação no filme "D. Fernando II, Notas Biográficas", da Parques de Sintra, para o qual também eu próprio tive o prazer de contribuir como autor do guião.
Aceitem o desafio e percebam, não só a tal 'forma bizarra' como a autora acedeu à documentação sobre Monserrate mas também o desenrolar de dias ímpares de História e histórias ali vividos. Ah, é verdade, por favor, a melhor atenção para a exposição em curso no Palácio de Monserrate. Absolutamente imperdível.

Histórias nunca antes contadas de um dos mais icónicos palácios portugueses, adquirido em 1869 pelo milionário e colecionador britânico Francis Cook, e que viria a ter um papel determinante durante a II Guerra Mundial
LEITOR.EXPRESSO.PT