[sempre de acordo com a antiga ortografia]

segunda-feira, 3 de dezembro de 2007

Seteais, usos impróprios

Na sexta-feira passada, 30 de Novembro, houve um espectáculo musical em Seteais com os cantores Rui Veloso e Marisa, ao que tudo leva a crer promovido pelo pelouro da Cultura da Câmara Municipal de Sintra, pois assim o dão a entender os anúncios suspensos à entrada do recinto.

Uns dias antes, começaram os preparativos afins da montagem de um pavilhão de estrutura metálica coberta por película branca, espaço onde foi erguido o palco e montadas as cadeiras, operação rápida que não deve ter sido particularmente barata em função dos meios logísticos em presença. Quando, a meio da tarde daquele dia, por ali passei e colhi estas informações, dois funcionários preparavam-se para fechar os portões.

Há dois anos

Aparato semelhante houve, por ocasião do casamento da filha do banqueiro Ricardo Espírito Santo Salgado, em fins de Outubro de 2005. Na altura também foi erguida estrutura análoga, a qual só acabou por ser totalmente removida ao fim de três semanas, tendo deixado destruído o emblemático tapete relvado.

Denunciei aquela situação nas edições de 11 e 18 de Novembro de 2005 em artigos que subscrevi no Jornal de Sintra, fui à reunião pública da Câmara manifestar o desagrado de muitos munícipes que iam sabendo da situação que também foi relatada por outros órgãos da imprensa regional. Em simultâneo, através de carta, dei conta do sucedido a todas as entidades oficiais que podiam ter alguma interferência.

Há um ano

Em meados de Maio do ano seguinte, na sequência de novo desacato, voltei a contactar os mesmos e vários serviços oficiais. Em ofício de 3 de Julho de 2006, a Direcção Geral do Turismo informava-me de que “(…) Relativamente à reclamação e após análise da mesma, verificou-se haver indícios da prática de contra-ordenações (…)”, acrescentando que o processo tinha sido enviado à ASAE, para procedimento em conformidade.

Infelizmente, até agora – este é o país em que vivemos!… – ano e meio depois de inúmeras diligências junto da ASAE, não consegui obter a mínima satisfação sobre o andamento e/ou conclusão do caso. Pois, a gente sabe e está acostumada… Não é fácil fazer frente ao Grupo Espírito Santo, ao qual pertence a empresa que explora o hotel. [O que dá um certo jeito é fazer-se acompanhar das câmaras da televisão, nas feiras e mercados de levante, contra uns desgraçados quaisquer, actuando a referida Autoridade com o auxílio de agentes policiais encapuzados, armados, intimidando tudo e todos].

Tudo em nome da Cultura

Entretanto, havendo indícios da prática de contra-ordenações, resta-me lamentar que as dúvidas que se me colocaram quanto à utilização do terreiro de Seteais, com a instalação das referidas estruturas - que prejudicam a leitura e o usufruto público de um inestimável bem do património cultural local e nacional – nem sequer tenham feito hesitar ou pestanejar a Câmara Municipal de Sintra (uma das tais entidades também por mim próprio posta ao corrente dos casos supra mencionados) assim incorrendo em tão criticável prática, por ocasião do tal espectáculo do dia 30.
Disseram-me que houve sérios problemas de trânsito. Era absolutamente previsível. Ora bem, foi mais uma oportunidade perdida para que a edilidade desse um sinal de que está atenta ao problema. Precisamente, poderia ter posto a funcionar o esquema de acesso que, futuramente, não poderá deixar de contemplar a Regaleira, ou seja, obrigatoriedade de estacionamento das viaturas particulares no parque junto ao edifício do Departamento do Urbanismo em articulação com transporte público até ao destino.
Tudo quanto não seja algo de coincidente com esta solução apenas reproduzirá as cenas de terceiro mundo que toda a gente aceita por hábito entranhado da cultura de desleixo em que continuamos mergulhados.
O programa segue dentro de momentos...
Repare-se que, há ciquenta anos, nestas mesmas páginas do JS, em 18 de Agosto de 1957, António Medina Júnior dava conta de um engarrafamento monstruoso por ocasião do primeiro evento das Jornadas Musicais de Sintra (primeira designação do Festival de Sintra), espectáculo de bailado pelo Círculo de Iniciação Coreográfica de Margarida d´Abreu, no terreiro de Seteais. Andava eu pelos meus dez anos, lembro-me perfeitamente.
Meio século passado, continuamos não na mesma mas muito pior porque, entretanto, o parque automóvel aumentou exponencialmente. Era tempo de ter aprendido qualquer coisa. Era tempo de ter remediado e, definitivamente, solucionado o problema de acesso aquelas bandas. Mas não. Então, como agora, sempre em nome da Cultura, a Câmara Municipal de Sintra apenas nos deixa a alternativa de invocar São judas Tadeu, o advogado dos impossíveis...

2 comentários:

Anónimo disse...

Caro Dr. Cachado,

Também deixei hoje comentário no seu post mais recente. Já percebi que tenho mais ou menos a sua idade, sou nascido e criado em Sintra, estive naquele espectáculo de ballet em Seteais em 1957, lembro-me bem do engarrafamento e do velho Medina. Gratas memórias. Como diz, só é pena que estes politiqueiros não tenham aprendido nada.

Muitos cumprimentos do

Artur Sá

Sintra do avesso disse...

Caro Artur Sá,

Como sou um indefectível optimista, continuo à espera que os tais «politiqueiros» acabem por aprender qualquer coisa. Bem, oxalá não levem outros cinquenta anos a assimilar o que é suposto aprender em meia dúzia de semanas...

Abraço do

João Cachado