[sempre de acordo com a antiga ortografia]

segunda-feira, 31 de março de 2008

Educação e indisciplina,
Que autoridade?

(continuação)

Apenas mais três ideias, cuja linearidade e evidência dispensariam referência, não fosse a grande confusão que continua a vigorar e que importa considerar antes de formular qualquer conclusão.

Primeiramente, para lembrar e contrariar a ideia de que a Escola é um lugar onde as aprendizagens se fazem num contexto lúdico. Este é um princípio que, entendido de forma fundamentalista, tem sido responsável por inúmeros mal-entendidos. É uma noção que urge rever em articulação com as mais-valias da pedagogia do esforço.

Tal não significa que deva caminhar-se para o entendimento de que a Escola é um lugar desagradável. Todavia, forçoso é que as crianças, jovens e famílias assumam como aquele é um espaço de trabalho, onde se adquirem hábitos de trabalho indispensáveis ao cumprimento dos objectivos, não só durante a escolaridade mas também como lastro para a vida futura.

Em segundo lugar, neste como noutros contextos relacionados com especificidades do Sistema Educativo português, não se pode pensar que a indisciplina à portuguesa e a quota parte de responsabilização das famílias para o enquadramento do fenómeno coincidem ou são análogos aos dos outros países da União Europeia.

Nalguns casos poderá haver factores de afinidade mas a verdade é que diferem em múltiplos aspectos. Bastará pensar na circunstância de Portugal ser o país, daquele grupo a vinte e sete, com mais elevados índices de iliteracia e analfabetismo para que não nos surpreendamos com as mais bizarras atitudes de incompreensão de certos pais e mães em relação ao exercício da autoridade dos professores quanto à proibição da utilização do telemóvel durante as aulas.

Por último, cumpre também não esquecer que Educação é, fundamentalmente, um processo de transmissão de valores, trabalhados nos domínios físico, intelectual e moral. Em determinada altura daquele processo, cerca dos três anos de idade da criança, a família entrega à Escola, ao Sistema Educativo, um indivíduo que, para todos os efeitos, foi e já é um educando.

Se, até esse momento, o educando não tiver adquirido, no seio da família, uma série de conhecimentos e atitudes afins da higiene, da disciplina, de uma certa socialização que implica um mínimo saber estar em grupo, então, o trabalho da Escola, que devia ser supletivo, vai ter de assumir um peso específico que já cai no domínio de estratégias de remediação, daquilo que não foi feito ou foi mal feito pelas famílias de origem.

Por outro lado, ao contrário da bondade da perspectiva da Educação como transmissão de valores, a família e, tantas vezes, a própria Escola, sem que explicitamente o propiciem, não deixam de fomentar outro modelo, tão só e redutoramente, visando a aquisição e acumulação de saberes académicos que, em última instância, a galope numa desenfreada competitividade, podem transformar um educando, não no cidadão de que a sociedade carece, mas numa pessoa execrável.

(continua)

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