[sempre de acordo com a antiga ortografia]

quarta-feira, 9 de abril de 2008

Rumo a Santa Eufémia

É bem verdade que a Pena, tão propício e especial lugar, nos está sempre no pensamento. Para muitos de nós, a Pena permanece, também constantemente, ao alcance de um olhar, apenas uns metros acima do quotidiano que, cá por baixo, afinal tão perto, neste doce baloiço de desníveis, não está à altura ou se alheia de tamanho privilégio.

Aos felizardos como eu, que moro no coração da Estefânia, basta chegar à varanda para logo ficar sob a protecção da verde parede da serra, impedindo as vistas menos propícias dos des(en)graçados e infelizes subúrbios das freguesias de betão que, em compreensíveis mas pungentes declarações de falta de identidade, se afirmam tão sintrenses como, por exemplo, São Martinho que, só para citar dois entre inúmeros bens patrimoniais ímpares, tem o Palácio da Vila e Seteais no seu seio…

Pois é, o betão está longe da vista porque a Serra, com a Pena vigilante, se encarrega do anteparo. Todavia, quem quiser ter a percepção do sufoco que ameaça o território que costumo designar como Sintra-Sintra, pois que se apetreche do seu binóculo, concedendo-se o tempo bastante para subir até Santa Eufémia, para ali realizar um simples exercício de observação. [Se querem um conselho de amigo, levem também umas vitualhas. Merendar no local é coisa indispensável].

Se nunca tiver visitado aquele terreiro, desde logo compreenderá o espantoso panorama que tem perdido. De Imediato perceberá a razão de ser do santuário. E, finalmente, correspondendo à minha sugestão do tal exercício de observação, não deixará de concluir que os amontoados de cimento armado, tantas vezes em sítios onde jamais se deveria ter construído sequer um casebre, nada têm a ver com a lógica de afinidades, cumplicidades e conluios da área que, vinda do Atlântico, muito naturalmente, vai terminar onde começa o desconchavo…

São as freguesias do betão. Porém, cumpre ter em consideração, que se trata dos lugares onde está concentrada uma larguíssima percentagem de cidadãos eleitores do actual tão gigantesco quanto ingovernável concelho «de Sintra». Na verdade, num futuro concelho de Sintra, sem aspas, tais lugares não terão lugar porque outra é a sua lógica de articulação e de integração.

Aos autarcas de curtas vistas, da direita e da pseudo esquerda que têm alternado no exercício do poder local, não convém pôr em causa um statu quo que tanto tem penalizado e seriamente prejudicado a gestão do território único e especialíssimo que acolhe a Paisagem Cultural da Humanidade. Bem se compreende que justificações de carácter eleitoralista, determinem desígnios que, no entanto, carecem de clarificação.

(continua)

8 comentários:

Anónimo disse...

Caro Dr. Cachado,

Já uma vez comentei um dos seus textos a propósito deste assunto. Concordo totalmente com a sua posição. Sugiro, mais uma vez que deve proceder a um inquérito, um género de votação em que as pessoas pudessem pronunciar-se a favor ou contra a divisão do concelho.

Com os melhores cumprimentos,

Artur Sá

Anónimo disse...

Meu caro amigo,

Li, reli e pensei neste seu artigo pela matéria que contém e pelo que não é dito.

Como é possível, como foi possível, que num local tão histórico como Santa Eufémia se tenham montado aquelas antenas fantasmagóricas e se tenha deixado o local que é apontado como o berço de Sintra para uso prioritário de gente que está pouco vocacionada para o respeito.

Em tempos, as coisas apresentaram-se de feição para a recuperação da capela e do largo fronteiriço, tentando até que ali se abrisse uma entrada para o Parque da Pena. Como sabemos, alguns convidados especiais entram por lá, justificando que outros também o façam, nomeadamente pagantes.

Infelizmente, a inabilidade de um responsável político, comprometeu o projecto que se estava a desenhar e que tinha portas abertas para uma solução.

Penso que o Patriarcado também está interessado na recuperação e, bem vistas as coisas, além de um local turístico também se poderia incentivar o seu usufruto em nome da fé.

Não vislumbro, por agora, melhores dias, daí resultando a tristeza que nos envolve quando falamos de coisas tão belas de Sintra a que ninguém liga.

Um abraço,

Sintra do avesso disse...

Caro Artur Sá,

Não me lembro se cheguei a responder-lhe que, fosse essa a estratégia, i. e., pôr a funcionar um inquérito, os residentes das zonas betonadas que se afirmam «de Sintra» porque isso até lhes dá um certo estatuto, sendo muito mais que os residentes nas restantes áreas, acabariam por perverter o resultado.

Acabei de publicar a continuação do texto de ontem. Embora só conclua amanhã, vá o meu amigo acompanhando para, depois, me dar a sua opinião.

Muito grato, receba um abraço do

João Cachado

Sintra do avesso disse...

Meu Caríssimo Fernando Castelo,

Eu só tinha pedido aos leitores para rumarem a Santa Eufémia na medida em que não conheço outro ponto tão estratégico para a observação deste concelho.

Na realidade, na economia do texto, não cabiam as extremamente pertinentes considerações que o meu amigo faz acerca do lugar propriamente dito,naquilo em que se transformou e no que urge fazer.

É matéria em que pretendo envolver-me. Sem dúvida. Tem aqui um companheiro para essa «viagem». Pelo que já me disse, parece que vou ganhando em si um adepto para a luta da cisão do concelho em unidades governáveis.

Gostaria de lhe pedir que faça chegar a MA e LP este meu texto cuja conclusão será publicada amanhã.

Receba um fraterno abraço do

João Cachado

José António Ribeiro e Cunha disse...

Prezado Dr. João Cachado:

Tenho toda a família materna originária de Sintra-Sintra e a paterna apenas metade. Como vivi a minha infância em Sintra-Sintra (até andei na escola do SUS na estefânea!...) e depois me ausentei para fora do País, ao regressar fixei-me em Sintra-não Sintra, leia-se Massamá. Lamentavelmente permitiram o progresso do betão, pois quando cheguei há 29 anos a Urbanização da fase I de Massamá era considerada modelar...depois vi como evoluiu e se transformou numa selva de betão! Os então responsáveis da CMS não se aperceberam de tal!....
Isto para lhe dizer que estou totalmente de acordo com a divisão do Concelho em 2 ou 3 Concelhos que muito evoluiriam de "per si".
Conta com mais um apoiante neste ex Sintra-Sintra...
J.Cunha

Anónimo disse...

Carrissimos,

Eu moro em Queluz, que tambem é sintra,e que por acaso tambem tem um Palácio, que por acaso é UM PALACIO NACIONAL... é triste ver que as "ditas elites de sintra" comçem a chutar para canto os sintrenses das areas urbanas.... enfim acho que deviam vir cá falar conosco(nos nao mordemos), e os tais inqueritos deviam ir para frente, até por que acho os resultados nao iriam ser viciados.
E mais se calhar as areas urabanas ficaram assim... porque voces(ditas elites de sintra) nao se preocuparam com elas.... é dificil saber governar um concelho quando só se tem olhos para uma parte dele, abram os olhos!

Sintra do avesso disse...

Caro J. Cunha,

O seu é o exemplo de alguém que, por ter a vivência plena das duas situações, pode falar e escrever «de poleiro» como soe dizer-se...

Estou convencido e, felizmente, muito bem acompanhado pela opinião de peritos - cuja opinião, coincidente com a nossa, muito prezo - de que levará tempo até beneficiarmos todos, os de Sintra-Sintra e os das freguesias urbanas, com a estratégica solução pela qual tanto tenho pugnado.

Como não perceber o evidente princípio de que lógicas territoriais diferenciadas pressupõem lógicas de gestão e administração diferentes?

Já reparou como enviesada é a opinião do comentário anónimo que se seguiu ao seu desta manhã?
Não avisei eu de que tenho sido acusado de «elitismo militante» ao advogar esta futura perspectiva de unidades governáveis em oposição ao «gigantismo militante» de um concelho que já deu sobejas provas de ingovernabilidade?

Confio muito em que, testemunhos como o seu possam contribuir para o convencimento de quem tem de ser ganho para esta causa. Em abono desta boa solução para os munícipes das freguesias urbanas, espero que apareçam os defensores
convincentes de que carecemos.

Mas, lá está, é preciso um grande movimento de base, é preciso constituir grupos de estudo, promover reuniões, questionar us lideres partidários locais e a nível central, trabalhar muito até sermos capazes de definir a táctica mais consentânea para levar este objectivo avante.

Uma especial saudação de acolhimento a quem já reconheço como mais um «cúmplice».

João Cachado

Sintra do avesso disse...

Ao/À anónimno/a das 11.o2,


Acredite que não me move qualquer animosidade contra os residentes nas áreas urbanas que se afirmam pertencer a Sintra. Era o que faltava! Tenho tanto apreço por tais munícipes como o que nutro por todos quantos, noutros concelhos do país, se mobilizam não para parecerem aquilo que não são mas, isso sim, para lutarem no sentido de, efectivamente, que a gestão da autarquia a que pertencem os represente nas suas lutas.

Em Sintra, nem aqueles que residem em Sintra-Sintra nem os das zonas urbanas, podem estar satisfeitos com a situação actual. Os autarcas, seja qual for a sua origem partidária, não têm condições para acudir, nem em tempo oportuno nem com os recursos minimamente necessários, à resolução dos problemas que coloca um tão vasto, complexo, compósito e populoso território.

Escrevo e falo por mim e por aqueles que defendem a mesma causa, comungando uma generosa ideia que pode ser uma eficaz solução. Através da cisão do actual concelho em mais uma ou duas unidades, com maior coerência e muito menor escala do que no presente, todos beneficiaremos. E uma coisa lhe garanto, isto é, acabará a ideia de que há uma elite, porque todos sairão privilegiados.

Repare que, ao escrever aquilo que escreveu às 11.02, o/a senhor/a faz uma patente, evidente confissão de que o actual concelho, para todos os efeitos, já está definitiva e fatalmente cindido entre «os das elites de Sintra» e os «das áreas urbanas»...

Foi o/a anónimo/a que o afirmou, não eu, que tenho diferente percepção e entendimento. O/A senhor/a considera que eu sou um privilegiado e eu considero que, tanto o/a senhor/a como eu, somos ambos altamente prejudicados.

Actualmente, não há qualquer parte beneficiada, não há qualquer elite. E a minha luta, como já terei dado a entender e muito gostaria que compreendesse, não vai no sentido de que a cisão do concelho prejudique seja quem for. Muito pelo contrário, só interessa que, a acontecer, como espero venha a suceder, só haja vantagem para todos.

Como calcula, tão interessado estou nesta causa, e já há muitos anos, que vou ter consigo, sem reservas, para um debate franco destas questões. Naturalmente, não só entre nós os dois, mas uma reunião pública para que o proveito seja tão alargado quanto possível. Proponha local, data e hora para ajustes se tiverem de ser feitos.

Melhores cumprimentos,

João Cachado

PS:
Não deixe de dar uma espreitadela ao que escreveu J. Cunha e a minha resposta.