[sempre de acordo com a antiga ortografia]

quarta-feira, 25 de junho de 2008


Seteais,
estratégias de comunicação
(continuação)


A propósito

As obras são perfeitamente compatíveis com a continuação das visitas, desde que limitadas aos espaços onde, inequivocamente, em tão larga superfície, os visitantes não correm quaisquer riscos. Mas, a propósito, importaria perceber se a Câmara Municipal de Sintra tem conhecimento, de qualquer modo foi informada ou procurou informar-se acerca de todos os trabalhos em curso. De igual modo, cumpre entender se o IGESPAR, entidade à qual compete o acompanhamento técnico da obra, está efectivamente a acompanhar os trabalhos que, simultaneamente, decorrem no exterior.

Mas que razão me leva a levantar este problema? Pois, muito simplesmente, porque não suscita a mínima tranquilidade a obra que está a decorrer no antigo tanque, visível a partir da estrada. O que, naquela propriedade, era um local aprazível, fresco e calmo está a ser transformado numa zona descaracterizada, onde funcionará um grande depósito de água. A escala da construção inicial foi tão significativamente aumentada que já ali se aplicaram muitas toneladas de betão, através de melindrosas trasfegas a que tenho assistido.

Aliás, permitam-me um aparte para dar conta de que a última dessas operações, na passada sexta-feira, originou um lamentável acidente, registando-se um ferido com alguma gravidade, sinistro a propósito do qual será necessário apurar se a empresa de segurança, envolvida com o grupo Espírito Santo nestas obras de recuperação, esteve ou não à altura das circunstâncias, actuando como seria suposto e desejável.

Volto à questão que venho abordando para confirmar que as dúvidas que se me têm colocado são partilhadas pela Parques de Sintra Monte da Lua, entidade que, a partir da terceira semana de Agosto próximo, será responsável pela totalidade do espaço de Seteais. Tanto quanto consegui apurar, a administração daquela empresa já pediu explicações ao IGESPAR sobre tão polémica obra.

De facto, a intervenção em curso, para além de outros indesejáveis factores, como o tão evidente aumento da escala ou a aplicação de controversos materiais, pôs em causa, de modo inequívoco, a salvaguarda do espírito do lugar, circunstância a evitar a todo o transe, para além de contrária ao que determinam as cartas internacionais que Portugal subscreveu e que, para todos os efeitos, está obrigado a respeitar.

Por outro lado, adicionalmente, também me é possível informar que a própria UNESCO já foi posta ao corrente da situação. Afinal, esta questão de Seteais, não é bem aquilo que o senhor Vereador da Cultura da Câmara Municipal de Sintra já classificou como teimosia de um grupo de cidadãos fundamentalistas. Afinal, para além do próprio encerramento temporário, há razão bastante para justas e iniludíveis preocupações quanto à preservação, defesa e recuperação do património em causa.


(continua)

3 comentários:

Fernando Andrade. disse...

Caro Dr. João Cachado
Permita-me umas palavrinhas neste seu espaço que só há pouco tempo conheço apesar de seguir, atento, os seus artigos no Jornal de Sintra.
Assisti à sua intervenção na reunião da CMS de hoje e gostei .
Gostei da sua eloquência; gostei da sua argumentação; gostei do seu amor à causa.
Sem conhecer em pormenor o assunto, partilho da sua opinião.
Não gostei do que disse o Sr. Presidente da CMS com aquela estória do "gostava de vos ver aqui!". Ou seja,a Câmara não actua de forma clara e decidida, porque tem "receio" de "meter os pés" (por negligência que seja)e vir ele a ser responsabilizado por qualquer eventual falha que cometa.
Assim, o melhor é não se meter com grupos poderosos, deixando-os actuar a seu belprazer.
Também aqui em S. João das Lampas, não vejo a Câmara com pulso forte para impedir que o Sr. Justino, esteja a ampliar a fábrica Galucho para cima das habitações. Embarga, mas deixa que continue. Interrompe, mas não resolve face a uma habilidosa providência cautelar. Deixa que, no vazio legislativo, propositadamente criado, cresça uma descomunal estrutura, ao lado das habitações.
Peço desculpa por estar a desviar-me do assunto, mas no fundo, no fundo, o que fica claro, em ambos os casos, é que a Câmara (que tem o poder legitimado pelo voto)se mostra enfraquecida face a "grupos" a quem falta a legitimidade, mas não falta poder.
E essa realidade é inconfessável, comprovada apenas, pelo proecupante desenrolar dos acontecimentos.
Faço votos para que continue atento.
Grande abraço
FA
http://outrogalocanta.blogspot.com

Sintra do avesso disse...

Caro Fernando Andrade,

Não tenho nada que permitir e, isso sim, acolher com o maior agrado as suas «palavrinhas»... O espaço é nosso e já percebi que temos muito a partilhar neste terreno que elegemos para afirmar como não admitimos que a arrogância dos poderosos nos intimide.

Há bastante tempo envolvido em lutas quejandas, por vezes, o desânimo suscita a grande tentação da desistência. Sinto, não raro, como nos faltam muito mais cúmplices. Sinto, tantas vezes, como quixotesca é a luta. E custa muito não ver os jovens ao nosso lado.

Quanto aos autarcas, desde os precedentes ao actual Presidente, habituei-me, mas sem me conformar, a que não exerçam a autoridade democrática de que estão investidos. Não a exercem contra os poderosos, vd. casos do Espírito Santo e Justino, nem para pôr cobro àquilo que constantemente tenho denunciado como a generalizada cultura do desleixo, dando péssimos exemplos de complacência e vergonhosa tolerância perante as novas gerações que, naturalmente, cada vez mais descrentes estão da política e dos políticos.

E a verdade é que, como sabe, não há cidadania sem vontade de fazer política. Enquanto homens da "polis", estamos condenados a fazer "política". Enquanto homens da "cidade", estamos condenados à "cidadania".

Volto à questão da tentação da desistência. São muito fracos os resultados da luta mas, de vez em quando, há victórias. Não é pouca coisa esta possibilidade de, por exemplo, chegar a uma sessão pública da "polis" e dizer aos "políticos" encartados como é grande a força de um convencimento.

E, por fim, caro Fernando Andrade, a última coisa que pretendo é dar um sinal de desistência àqueles que estimo, desde a família e amigos aos alunos. Apesar de tudo, há quem nos observe, discretamente, apoiando os nossos passos, vibrando com a veemência que somos capazes de emprestar às nossas causas.

Se quiser, ter-me-á a seu lado para, juntamente com outros "fundamentalistas", desenvolver algum trabalho em São João das Lampas. De longe, é certo, tenho acompanhado o caso que aborda. É um flagrante caso de polícia... Mas o Comendador Justino, como sabe, está habituado a saír impune das refregas (veja a questão da sua casa de Colares) e, para o efeito, muito contarão as chorudas contribuições que magnanimamente distribui por altura das eleições a todos os partidos...

Quando quiser, continuamos. Muito obrigado pelas suas palavras de apoio. Um abraço do

João Cachado

Fernando Andrade. disse...

Caro Dr. João Cachado

Agradeço, sensibilizado, a sua disponibilidade para estar do meu lado nesta luta desigual contra "moinhos de vento".
Embora com a pouca influência que possa ter (sou, apenas um "soldado de infantaria"), pode também contar comigo para "engrossar a fileira fundamentalista".
Acho "graça" chamarem de "fundamentalistas" só por se reclamar um direito fundamental. Estupidamente, usam o termo de forma pejorativa, esquecendo-se que quem está em falta é quem não assegura esse direito, conforme lhe competia. É uma espécie de "inversão do onus":
o fundamentalista é o mau, o negligente ou corrupto é o bonzinho.
Voltando à "vaca fria", caro Dr., por e-mail, comunicar-lhe-ei as diligências já feitas e apresento-lhe, apenas para sua informação, o "relatório" do insucesso que, como referiu, apesar de pouco animador, não deve levar à desistência.

Grande abraço.

Fernando Andrade