[sempre de acordo com a antiga ortografia]

sexta-feira, 19 de dezembro de 2008

O banquete da asneira

Não falta muito para que passe um ano sobre a data do intempestivo encerramento do terreiro de Seteais. Apesar da muita tinta que continua a fazer correr, a situação mantém-se lamentavelmente inalterada.

Inicialmente, se bem estão recordados, até o próprio Vereador da Cultura da Câmara Municipal de Sintra se mostrou disposto a repor o acesso livre ao local. Com a devida vénia, passo a reproduzir parte de um artigo publicado pelo Jornal da Região de 1 de Abril, com referência à precedente sessão da Assembleia Municipal de Sintra, durante a qual eu próprio intervim acerca do assunto:

“(…) O vereador da Cultura, Luís Patrício, adiantou ao JR que já dispõe de um dossiê, elaborado por juristas e técnicos da área do património, «que aponta no sentido de que aquele espaço não pode ser vedado ao público, é um espaço de domínio público». Com base nesse parecer, o município vai diligenciar, junto do Grupo Espírito Santo (Hotéis Tivoli, que explora a unidade hoteleira instalada no palácio, no sentido da reabertura imediata do espaço. «As obras não são nos jardins, mas sim no palácio, é uma questão de colocar uma vedação», acentua o autarca, que não vê razões para serem invocados argumentos de segurança para o encerramento dos jardins do monumento nacional (…)”. *

Pouco depois, afinal, o município acabaria por se render perante uns esfarrapados argumentos de segurança, invocados pelo concessionário hoteleiro Espírito Santo, ainda que apresentados sob chancela do Igespar. Havia necessidade de abrir umas famigeradas valas, incompatíveis com as visitas. Lembram-se?

Placidamente, o município remeteu-se a um comprometedor silêncio. O costume, pois claro. Por outro lado, tão inconformados como eu, muitos cidadãos iam dando os sinais que a Alagamares se encarregou de dar pública expressão, inclusive através de uma conferência de imprensa.

Os cidadãos pretendiam o simples acesso ao centro do terreiro, apenas para contemplação da paisagem circundante e, em especial, do Palácio da Pena, no cimo do monte, acompanhando a leitura da magnífica descrição de Eça de Queirós, em Os Maias.

Pois, não senhor, ninguém se comoveu. O relvado manteve-se inacessível. Em simultâneo, destruía-se o tanque, iniciava-se a designada reconstrução da habitação da Quinta do Vale dos Anjos e era impedia o acesso ao local do Presidente da Junta de Freguesia de São Martinho… Concentração de asneiras? Não, desgraçadamente, mais do mesmo. Não, infelizmente, Sintra nas mãos de democraticamente eleitos incompetentes.

Então e as valetas, prestes a serem abertas e atravessando o mítico e simbólico terreiro de Seteais? Então o perigo dos buracos onde cairiam as criancinhas todas das escolas? Pois, até agora, nem uma vala ou valeta para amostra...Todavia, teimosamente, o hoteleiro concessionário levou a sua avante, arrastando consigo alguns organismos do poder central e o executivo municipal. Não há dúvida: quer, pode e manda!

Entretanto, depois de tantos meses de ofensa aos cidadãos e à memória de quantos se têm batido pela vigência do regime de público acesso aos jardins, os portões vão continuar fechados. Um dia virá, em que a conveniência de Sua Excelência o concessionário, ditará a reabertura do terreiro que, muito provavelmente, até coincidirá com a reabertura do hotel.

Nessa data, eventual e igualmente aproveitada para pôr em evidência a iluminada ilusão de um espelho de água que o Igespar escandalosamente sancionou – encimando a casa das máquinas a que o ingénuo tanque deu lugar – aparecerão todos os actores desta farsa, lambuzando-se e bebericando no banquete do banqueiro Espírito Santo, obsequiados por tanta prova de bacoco e militante companheirismo. É um fartar vilanagem…


*entre «», palavras do vereador

1 comentário:

Anónimo disse...

Meu estimado João Cachado,

Não fora o facto de ter cumprido a tradição de almoçar com o meu amigo Diogo Palha e sua mulher Júlia Elisa, e não estaria aqui a deixar-lhe estas palavras.

Como sintrenses empenhados, teria de vir à baila o contexto deste "banquete". A visão do Diogo é magnífica - pela ilustração.

Diz que estamos naquela fase "dos grandes mestres cozinheiros" que anunciam pratos excelentes e pouco vistos, fazem uns cozinhados razoáveis durante três a quatro anos e, ganha a clientela, sonham com trespasses chorudos, ao mesmo tempo que vendem mixórdias.

Transportando a sua teoria para Sintra, apresentou algumas das iguarias com que temos sido ludibriados, uma delas sem nos termos apercebido que gente de bem e confiante não precisaria de recorrer ao clubismo serôdio para se firmar eleitoralmente. Mas adiante.

Recordou-me sobre aquela coisa de se falar na entrada da Câmara Municipal de Sintra como accionista do Hospital da Amadora, por sinal habilidosamente mascarado com o nome de Sintra para ficarmos contentes por existir um hospital...que quase apenas usa o nome da nossa terra.

Segundo disse, faz a sua passagem diária por Seteais e em tempos até assistiu a uma sessão divulgadora ou propagandistica da construção de ciclovias, dizendo le eque até guarda um CD qe na altura se distribuiu.

Abordou os vários Estudos Estratégicos, desde um para o Desenvolvimento a outro sobre as condições Climáticas daqui por não sei quantos anos. Perguntou-me se imaginava quanto é que isso tudo custou e quem recebeu, mas garantiu que de benéfico para Sintra nada resultou.

Lá voltou a falar daquela história encantada que nos fazia chegar milhares e milhares de euros como compensação daque Companhia na Tapada do Mouco, mas não sabe onde pára tal dinheiro.

Mais recentemente, anda curioso com a desenvolvimento da questão ligada com o Imposto Especial de Jogo, que deveria ter vindo do Gundo de Turismo e cuja aplicação parece estar rodeada de segredos.

O Diogo agora anda doido por causa dos PIN's da Cinelândia e do Pego, os primeiros ligados com a mesma gente que daria tanto dinheiro pelo uso da Tapada do Mouco e os segundos porque é para fazer moradias - cada uma com sua piscina - o que facilitará a posterior venda individualizada...

Portanto, segundo ele, não estamos perante um banquete da asneira, porque quem se envolve nestas coisas sabe bem o que faz, o que está fazendo e porque é feito.

E nós, coitadinhos, que ainda confiámos, com a ingenuidade de quem espera algo de bom para a sociedade em que vivemos.

E como prenda de Natal, que bom seria a mudança do cozinheiro, para se evitarem alguns desarranjos que se vislumbram no horizonte.

Nota: O Diogo passou-me uma mensagem subliminar que não compreendi: recomendou-me que apurasse que subsídios têm sido atribuídos a título de recuperação de imóveis na zona histórica. Ele lá saberá porquê.