[sempre de acordo com a antiga ortografia]

terça-feira, 6 de janeiro de 2009



Corrupção & desleixo

Muita, na realidade, deve ser a corrupção que por aí vai. A última história, de pública notoriedade, soubemo-la no passado sábado, através do semanário Expresso. Tendo sido reformados por motivos de saúde, dois ex-gestores da Caixa Geral de Depósitos estão fresquinhos que nem alface a trabalhar na concorrência...

Outro é o caso da Gebalis, empresa da Câmara Municipal de Lisboa, com três ex-gestores já constituídos arguidos, por suspeita de crime de peculato de gestão danosa, entre Março de 2006 e Outubro de 2007. Directamente, terão lesado os cofres públicos com despesas sumptuárias, no valor de 200.000 euros que, afinal, serão uma gota de água num oceano de contratos ruinosos com empresas de outsorcing, para além de disporem de um quadro de funcionários altamente remunerados que nada faziam.

Pois é. Em rigor, no entanto, não passam de ínfimas partículas da horrorosa mancha de óleo que, transversalmente, vai alastrando na sociedade portuguesa. A encher muito mais o olho, estão os casos de pessoas tidas como extremamente competentes e verdadeiros paradigmas de gestão privada – casos dos ex-administradores do BCP, do BPN e do BPP – que, de um momento para o outro, se transformam em sujeitos de duvidoso crédito, sob a alçada das polícias.

O problema fundamental, no entanto, é que tais casos, de maior ou menor visibilidade, apenas revelam a ponta do iceberg da insidiosa e perversa cultura de desleixo que os enquadra. E, não menos perverso, é o facto de tal moldura ser a referência fundamental de uma situação muitíssimo mais alargada, que justifica o quotidiano lodaçal de pequenos mas significativos e incontáveis delitos de corrupção.

Será uma sui generis corrupção, já que não se trata de mera desonestidade. Naturalmente, refiro-me às baixas fraudulentas, às horas roubadas à normal produção de trabalho, prática comum a tantos funcionários dos sectores público e privado; às tarefas mal executadas, sem a mínima qualidade; à falta de controlo por parte dos dirigentes nomeados graças ao cartãozinho; à tolerância das autoridades que acaba por gerar malentendidos, injustiças e acidentes, enfim, um infindável rol.

A própria forma como a comunidade se endivida e malbarata os escassos recursos disponíveis, esconderá sofisticadas formas de corrupção já que, por exemplo, a decisão política que subjaz ao despacho favorável das grandes obras públicas, favorece a possibilidade de financiar os partidos políticos, para além de propiciar riquezas tão rápidas quanto espaventosas.

Em Sintra, neste domínio, como será de esperar, não devemos estar nada mal fornecidos. O que poderemos imaginar perante casos de edifícios degradados, propriedade de conhecidos prevaricadores, que se arrastam sem uma posição firme dos decisores? Casos de corrupção? Nepotismo? Difícil é provar, não é? Provavelmente, no já aludido financiamento dos partidos, se encontraria matéria interessante.

Em princípio de ano, contudo, não entrarei por essa via de acesso ao duro e cru mundo das negociatas de vulto. Estou numa branda, ficar-me-ei pela anedota. Mas anedota real, sintrense, note-se bem. Conta-se rapidamente. Duas senhoras nomeadas para lugares de destaque em Gestão e Direcção, certamente dentro da política de agilizar [perverso conceito este...] procedimentos, são conhecidas pelas longas ausências, de tal forma flagrantes, que a uma delas até já chamam nossa senhora de Fátima, em face das suas raríssimas aparições

Caso de corrupção? Promiscuidade? Alguma coisa deve estar a suceder, se não como entender o compromisso que a entidade à qual estão ligadas terá assumido (político ou de outra ordem), para dar ou ter dado cobertura a um tal procedimento, que pressupõe o pagamento, com dinheiros públicos, de significativos ordenados?

Dos exemplos citados (e mais alguns ficam em carteira) alguém se convence da não existência de interesses cruzados ou que o quadro da traficância e da corrupção se encontra afastado? Pelo menos, é a tal cultura de desleixo que torna inviável o presente e o futuro de toda a comunidade.

8 comentários:

Anónimo disse...

Mas também as há, com lugares de direcção no largo espectro das empresas municipais que aparecem sempre, quase quase cumprindo o horário dos subordinados para que assim, julgam elas,possam justificar o injustificavel, isto é, o tacho que lhes arranjaram.

Anónimo disse...
Este comentário foi removido por um gestor do blogue.
Anónimo disse...

E os senhores? Sim, aqueles que administram legado patrimonial da autarquia e que promovem eventos culturais só e exclusivamente para uma elite de iluminados, seus amigos. Pagam-se viagens e estadia a expertos vindos do estrangeiro para fazerem as suas comunicações em françês a um reduzido numero de almas. è o caso do colóquio exposição dedicado a Lima de Freitas. Despesismo? Gestão danosa? Arrogância? Feira das vaidades?... infelizmente, parece-me, é tudo isso!

Anónimo disse...

Este comentador Manuel Lopes, tresanda a José Silva, na pior acepção da denominação e identidade;os blogs começam a «doer» a algumas pessoas e ei-los que, em vez de gerirem aquilo que erradamente lhes foi dado para gerir, gerem o tempo de trabalho no zapping incontrolável da blogosfera conCelhia.E de tanto, saltitarem, nem têm tempo, sabedoria ou compreensão, para entenderem o que lêem.Retiram daqui e dali, palavras, descontextualizam-nas e lançam para o ar, acima das suas cabeças,pouco providas de inteligência e profícua massa cinzenta,as primeiras provocações que lhes saltam à memória.Como também são igualmente desprovidos de carácter,não se identificam, escondendo-se, cobardemente, por detrás do véu diáfano do anonimato.
E um novo exército de jumentos, prestes a abandonar a palha, se junta em direcção ao insulto gratuito, à acusação torpe,à difamação cobarde.Estão verdadeiramente incomodados, já não encontram sentido nas suas tão limitadas existências,não possuindo argumentos para para o baixo, o indigno, o insultuoso.Benditos os pobres de espírito e os ignorantes que nem sabem escrever...
Margarida

Sintra do avesso disse...

Manuel Lopes,

Embora tivesse publicado o seu comentário, resolvi suspendê-lo, pelo menos, temporariamente. Como saberá, na minha qualidade de gestor do blogue, sou co-responsável por toda a matéria nele publicada. Acontece que poderá haver quem, no seu texto, descortine elementos susceptíveis de incurso em irregularidades que não estou disposto a patrocinar seja de que maneira for.

Se Manuel Lopes não é pseudónimo e, portanto, nada tem a esconder, queira fazer o favor de se identificar inequivocamente e, desse modo, sujeitando-se a todas as consequências decorrentes da publicação a sua opinião. Nessa altura poderei rever a decisão que tomei.

João Cachado

Sintra do avesso disse...

Minha Cara Margarida,

Como poderá verificar, acabei de eliminar o comentário produzido por Manuel Lopes. Perceberá as razões que me assistem. O facto de ter disponível um espaço onde a opinião é livre, não pode nem deve - em virtude das perversas características da blogosfera - propiciar a publicação de textos cuja contundência não seja saudável.

Estou farto de eqívocos suscitados pelas características da blogosfera. O anonimato, o uso de pseudónimos,em suma, todos os truques que possibilitem o esconder-se atrás de uma máscara, quase me enojam. Lamento que, vivendo em democracia, haja quem se acobarde, usando e abusando de tais subterfúgios.

[Permita-me este pequeno parêntesis. Como filólogo, não poderia deixar de recordar a semeogonia e semeologia da máscara-persona, do grego ao latim, de persona a pessoa. É um caminho interessante para «chegar» ao tal tipo de pessoa que afivela máscaras, de acordo com as conveniências. Não se trata de persona(gens) de teatro, muito menos de teatro grego, como na origem. É, isso sim, a vidinha dos videirinhos, de uma ordinária gente que não tem vida real nem dignidade. Gente que, no entanto, não deixa de fazer da vida um «teatro» da mais baixa qualidade, ao mesmo tempo que, como noutro dia dizia, continua «em filmagens»...]

Apenas me animam propósitos de intervenção cívica franca, corajosa e esclarecedora. Não obedecia a estas características o texto de um sujeito cuja identidade importa apurar pelas razões que enquadram a minha atitude de o suspender.

Um abraço do

João Cachado

Anónimo disse...

Sr. João Cachado,

Em primeiro lugar queria realçar o quanto surreal é esta situação. Para compreender os insultos de que fui alvo por parte da senhora Margarida, que não conheço, tive que ir re-visitar alguns artigos anteriores seus e verificar que a senhora em questão (presumo que Margarida seja a mesma que Margarida Paulos) já vem sido referenciada há algum tempo. Agora compreendo a sua (da senhora) "azia". Acontece que, ao publicar o meu comentário, em linha com o seu artigo, também comentado por um anónimo, e porque não conheço a senhora, nem as suas acções não entendo como se pode sentir atingida por mim.

Em segundo lugar também não entendo como é que alguém não se pode chamar Manuel ou José como num artigo anterior. Como identificação direi apenas que me chamo Manuel Lopes e que resido na Abrunheira. Tomei conhecimento deste seu blog há algum tempo através da menção ao mesmo que o senhor faz em alguns dos seus artigos que publica no Jornal de Sintra que eu leio quase sempre. Outra identificação qualquer não forneço a ninguém como é óbvio excepto às autoridades.

Mas sr João Cachado, como não quero de maneira alguma estar a atingir pessoas injustamente, mesmo que se sintam atingidas, o que por si só é estranho, e como não entendo como publica comentários anónimos, suspeitando de seguida de identificados, da minha parte não terá mais problemas. Pura e simplesmente deixarei de visitar o seu espaço.

É este o problema dos blogs: tornam-se quintinhas ou grupos de chá onde o acesso é reservado apenas aos convidados.

Manuel Lopes.

Sintra do avesso disse...

«Manuel Lopes»,

Como verifica, não publiquei a sua mensagem, subsequente àquela que suspendi.

Este é um espaço para debate de ideias, não podendo ser suporte de afirmações que possam originar actuações de índole legal, sem que - pelo menos, perante o autor do blogue - o participante esteja claramente identificado.

Parece que Manuel Lopes terá optado por invocar, referir ou abordar factos, sem querer assumir a inerente responsabilidade. Com tal atitude, transfere para o Administrador do blogue as implicações legais decorrentes.

Como é óbvio, mesmo com pseudónimos, as participações não deixarão de ser publicadas, desde que tenham em vista a análise da vida da comunidade sintrense, suas carências ou realizações.

Finalmente, cumpre esclarecer que o comentário subscrito por Margarida, envolve uma participante claramente identificada, embora o texto apareça encimado por "ANÓNIMO" o que, em certas condições, é automaticamente assumido.

João Cachado