[sempre de acordo com a antiga ortografia]

sexta-feira, 6 de março de 2009

Monserrate,

o Cinco de Março

Na realidade, não fosse a prestigiada actividade da Parques de Sintra Monte da Lua, com tantas marcas de sucesso a seu crédito, desde que a equipa liderada pelo Prof. António Ressano Garcia Lamas iniciou funções, e não saberia eu onde ir buscar lenitivo e alento, como antídoto contra tanto despautério e desconchavo que aí vai por Sintra.

Ontem, mais um significativo e simbólico marco, a sublinhar o êxito decorrente de um abrangente e ambicioso programa de actividades tão consistente, no seu desenho a montante, como competentemente posto em execução. Foi o caso da inauguração da Biblioteca do Palácio de Monserrate que, para todos quantos assistiram, terá constituído um momento especialmente emotivo.

De facto, o júbilo de que vos dou conta, começa a ser coisa felizmente habitual nos espaços confiados à PSML. Sabiamente geridos, os recursos disponíveis, quer os gerados pela própria empresa, quer os resultantes de mecenato internacional, estão permitido intervenções no sofisticado património natural e edificado, sob sua custódia.

Provavelmente, enquanto testemunho de património edificado de recorte romântico, o Palácio de Monserrate constituirá o caso mais paradigmático do escandaloso estado de abandono a que, durante décadas, estiveram votados, monumentos classificados do maior interesse. Correu risco de derrocada mas, hoje em dia, ali está, afirmando-se como fénix de esperança e confiança.

Obedecendo e seguindo à risca todos os princípios que enquadram as intervenções em peças patrimoniais congéneres, uma competente e alargada equipa de profissionais, sob coordenação da Arq. Luísa Cortesão, recuperou uma das salas mais atingidas pela perniciosa cultura do desleixo que tanto afecta as lusas paragens.

Como sabem os que costumam seguir os meus escritos, tive oportunidade de acompanhar os trabalhos e, portanto, de confirmar como foram respeitadas as cartas internacionais que obrigam Portugal neste domínio da recuperação de património. Tudo exemplar, impecável. Claro que é uma grande satisfação ver, agora, aquela estupenda sala, prestes a recuperar a sua vocação.

Trata-se de algo difícil de verbalizar ou descrever. Compreenderão os leitores a dimensão da emoção e do júbilo de três dos presentes, Ema Gilbert, José Manuel Carneiro e eu próprio, cúmplices que temos sido de uma causa que todos conhecem, experimentando tantos anos de desgosto e desânimo, relativamente ao que parecia irremediável?

Pessoalmente, ainda tive o grato prazer de reencontrar uma série de pessoas afectas ao campo da defesa, preservação, recuperação e restauro de património. Perdoar-me-ão se, em vez dos representantes das entidades oficiais – e lá estavam um Ministro, Secretários de Estado, a Embaixadora da Noruega – aqui vier destacar antigos alunos que têm estado envolvidos nesta obra, cujos nomes o Presidente da PSML ontem distinguiu nas singelas mas pertinentes palavras que a todos dirigiu.

Como se tudo isto já não fosse bastante, o Prof. Lamas e colaboradores, tinham preparado, para a Sala de Música, um recital de câmara, com um programa diversificado e muito agradável, com pequenas peças de Bach, Händel, Mozart, Beethoven, Schubert, Bocherini e Bizet a cargo do Trio de Cordas Intempore e Natália de Carvalho Brito, meio-soprano, que decorreu com grande dignidade, havendo oportunidade para confirmar as boas condições acústicas do espaço.

Naturalmente, também de parabéns, e de que maneira!, estão os outros dois membros do Conselho de Administração, Drs. João Lacerda Tavares e Manuel Baptista. Tenho a certeza de que o manifesto sucesso da empresa também é fruto do bom ambiente de trabalho que ali promoveram e fomentaram, um ar que se sente. Eu sinto e já tenho idade para não me enganar em avaliações que tais…

Toda a equipa técnica da PSML estava natural e particularmente feliz. Se, ontem, em destaque, estaria a Arq. Luísa Cortesão – que, com a sua proverbial discrição, não cedeu às luzes da ribalta – o Engº Jaime Ferreira, a Dra. Ana Oliveira Martins, a incansável Ana Cristina Rocha, todos partilhavam connosco mais um simbólico momento, em que Sintra melhorou a olhos vistos.

Ah, meu Deus, quem dera poder escrever coisa idêntica a estas linhas, acerca do executivo municipal, que vai adiando e enredando a resolução de sobejamente conhecidos e mais que estudados problemas, como o do centro histórico, comprometendo a qualidade de vida dos munícipes, tão lamentável como indesculpavelmente!

Por tudo quanto venho de escrever, deixaria um aviso que, em simultâneo, também é conselho àqueles bons amigos da PSML, cujo sucesso incomoda muita gente, no sentido de se preparem para a continuação do coro dos incompetentes e conhecidos invejosos locais, coro esse indirecto, acoitado à surdina de campanhas em (re)curso de alguns cidadãos de boa vontade cuja instrumentalização se adivinha.

PS:


Permitam que, a propósito do evento de ontem, aproveite a oportunidade para lembrar como, não só em Sintra, mas igualmente por esse país fora, existe tanto, tanto trabalho para jovens profissionais que, paradoxalmente, após o seu período de formação, têm alguma dificuldade em encontrar onde exercer as suas tão necessárias competências.

É Portugal, no seu melhor, negando a quem adquiriu uma sofisticada formação, em escolas secundárias e superiores sustentadas por dinheiros públicos, a possibilidade de aplicar os seus conhecimentos, enquanto os bem patrimoniais caem aos bocados…

3 comentários:

Anónimo disse...

Está visto que se refere às pessoas contra as limpezas florestais. Se calhar gostavam mais quando estava tudo em perigo de arder. Sei do que falo. A Tapada do Mouco é um paiol autêntico. Os bombeiros podem confirmar o medo de acontecer ali uma grande desgraça porque a falta de cuidado foi de muitos anos.
Já noutro dia li uma passagem no seu blogue com que concordo completamente.
Agora parece que as limpezas são muito grandes porque durante muitos anos não se fez nada. Estive a trabalhar em França na região da Aquitaine onde há grandes florestas e habituei-me a ver grandes movimentações de abates de árvores anuais. Se aqui acontecesse o que eu por lá via, chamavam a polícia.
Acontece em todo o lado quando alguém faz uma coisa bem feita mas em Portugal é demais a inveja.
Parabens e coragem.

Raul Alves Isidro

Sintra do avesso disse...

Senhor Raul Isidro,

Muito obrigado pelo seu comentário, apoiando a minha posição contra quem, na realidade, estará laborando num grande equívoco. De facto, considero mesmo que, em Sintra, haverá entidades interessadas na instrumentalização de cidadãos, com o objectivo de, em especial, atingirem a aministração da PSML cuja actividade,com demasiados sucessos a seu crédito, suscita inusitadas invejas. A verdade é que, contudo, para cumprir a sua missão de defesa e gestão do património que lhe está confiado, não tinha alternativa.

Menciona o senhor o testemunho dos bombeiros. Também eu tenho tido oportunidade de auscultar o parecer de alguns e confirmo a geral satisfação em relação ao trabalho em curso, cujas consequências, no futuro, lhes conferem a eles e à comunidade em geral, a tranquilidade de poderem ir descansar nas noites de estio sem a tenebrosa possibilidade de um incêndio iminente.

Sei perfeitamente o que tem sido viver esta inquietação, durante dezenas de anos de escandaloso desleixo. Incrivelmente, agora, que a PSML está fazendo o que lhe compete, é que é posta em causa, como se estivesse a concretizar um crime de lesa património e não a defender o património que herdámos, um património comum que, para continuar, tem de ser expurgado de toda a carga de biomassa que faz perigar a sua existência.

Há normas nacionais e internacionais de gestão da floresta que foram criminosamente descuradas durante muito tempo. O caso das infestantes é paradigmático da perplexidade que reina e nada fácil é de resolver e enquadrar, de acordo com uma estratégia que equacione todas as varáveis em presença, neste que é um singular território, diferente de outros, onde outras são as estratégioas concretizadas.

Alarmam-se alguns cidadãos preocupados com as clareiras recentemente abertas. São vastas as zonas de desbaste e, por vezes, de total abate. É um facto. Desconhecem tais pessoas aquilo que o senhor Alves Isidro viu fazer nas Landes, penso eu que a esta zona se referia ao mencionar a sua conhecida Aquitaine. Na realidade, parece haver um grande défice de conhecimento, de informação corrente e mais comum, que, estou certo, evitaria estas atitudes de escusado alarme.

Vamos aguardar que serenem os ânimos e que os preocupados cidadãos se rendam à evidência daquilo que o próprio Ministro do Ambiente, tão parco em públicas intervenções, já deu a entender, no próprio Parlamento, no sentido de se tratar de uma intervenção sem alternativa.

Acrescentaria eu que, feliz e finalmente, o ruído das motosserras, soa aos meus ouvidos, de indefectível melómano, como tranquilizante melopeia. Ruído? Não, indispensável manobra ao futuro gozo dos reanimados e saudáveis lugares onde o inferno do fogo iminente deixará de acontecer.

João Cachado

Anónimo disse...

AT:

O ENGº DIOGO PALHA ACABA DE ME ENVIAR UM MAIL SOLICITANDO QUE O SEU COMENTÀRI HÁ POUCO PUBLICADO NO TEXTO «NAN - DI - NHO?» SEJA TRANSFERIDO PARA «MONSERRATE, O CINCO DE MARÇO». PORTANTO, NÂO ESTRANHEM A MINHA INTERVENÇÃO.



Diogo Palha disse...
Meu estimado Dr. João Cachado,

Não imaginará a alegria que senti ao saber destas novidades. Monserrate viverá comigo enquanto a lucidez me ligar à vida. Lá namorei e passei momentos de grande entrega à natureza, mas com que frequência e curiosidade espreitava para dentro do palácio a tentar lobrigar os sentimentos e a vidas que lá por dentro passaram.

Sou do velho tempo em que um guarda-florestal nos espreitava ao longo do dia e revistava as malas das senhoras não fossem levar lá dentro algum papo-seco (nome que evoluiu agora para bolas e outros).

Numa daquelas árvores,lá escrevi um dia o meu nome e o da minha namorada na época,sendo o nosso primeiro destino ir lá ver o crescimento dos nomes e data, seguindo depois para a cascata ou, lembra-se por certo, para os tanques que existiam no fim da encosta verdejante.

É a história meu caro, e talvez se aproxime o momento em que o túmulo etrusco (eram dois) possa regressar a Monserrate quando um museu dos parques existir. Há lá material para outro motivo de satisfação cultural - o museu. Há peças dos Capuchos, do Parque da Pena, da antiga serralharia.

Ao ler a sua crónica ficou-me a alegria da recuperação interior do palácio estar a ser feita e lá continuarei a ir sempre que possa.

Não encontrarei lá o meu nome e da minha mulher gravados, há tantos anos, numa das árvores que o tempo matou, mas tenho lá sempre o meu coração e os sentimentos do que é viver umas horas naquele espaço.

Um abraço e muito obrigado por ter trazido estas boas notícias.

Diogo Palha

08-03-2009 12:07