[sempre de acordo com a antiga ortografia]

sexta-feira, 3 de abril de 2009

Na Serra, o descanso




Como sabem os leitores que acedem a estas páginas, já houve quem me atribuísse o epíteto de protector da Parques de Sintra Monte da Lua. Porque me tenho atrevido a evidenciar o excelente trabalho concretizado pela empresa, passei a ser distinguido, ganhei este curioso estatuto local. Se querem que vos confesse, não me causa qualquer mossa e até me convém já que, com ou sem ironia à mistura, a minha protegida* merece totalmente a minha protecção.


Se querem um bom conselho para estes dias de Primavera, não hesitem. Aceitem a minha sugestão e, primeiramente, dirijam-se à rampa da Pena. Lá em cima, na bifurcação, voltem à esquerda, a caminho dos Capuchos. Quem, como vós, conheceu aquela estrada, ladeada por arvoredo, bosques, matagais completamente desleixados, que constituiam permanente preocupação pela possibilidade de indução de incêndios, vai surpreender-se.


Hoje em dia, embora ainda haja muito que fazer, as tapadas começam a estar civilizadamente limpas, na sequência de trabalhos de limpeza e desbaste que atingiram uma escala que já classifiquei como dramática, no sentido teatral, de uma cena que, apesar de continuar no mesmo palco, no mesmo espaço, mudou radicalmente. Trata-se de uma grande campanha de operações que só tem paralelo nas obras de recuperação do património histórico edificado, igualmente confiado aos cuidados da mesma empresa.


No caso vertente, ou a cena mudava mesmo, nos termos em que veio a acontecer, ou a perpetuação do statu quo equivaleria a um crime em que todos acabaríamos por ser cúmplices. Todavia, preparem-se. Quem não está habituado a acompanhar as periódicas manobras de manutenção de uma floresta bem gerida - caso da maioria dos leitores - vai apanhar um murro no estômago.


Foi tudo por bem. O que, de uma vez por todas foi feito, tinha de ser feito e tornava-se tão inadiável como imprescindível. As infestantes estão sob controlo. Está em curso uma campanha de plantação de espécies florestais, ecologicamente adequadas, e foram postas em execução todas as medidas tendentes à preservação de um património que tem de evoluir saudavelmente e com toda a segurança.


Cumpre-me esclarecer que a minha protegida tem sido tão ingrata que não me passou qualquer procuração... Por isso mesmo, a mensagem que aqui expresso, surge, tão somente, na sequência de várias deslocações aos lugares, numa das ocasiões, com dois silvicultores - um deles meu amigo austríaco, de passagem por Sintra - portanto, sem a mínima relação com a PSML, que me transmitiram o resultado da sua observação sumária, opinião que, com tanto gosto, partilho convosco.


Quando, já vai para dois anos, a propósito de cortes e desbastes, em terrenos então impenetráveis, onde hoje funciona a quintinha pedagógica, escrevi que o barulho das motosserras era melopeia para os meus ouvidos de inveterado melómano, estava a PSML na primeira fase da campanha que, paulatinamente, tem vindo a alargar, contemplando o património natural incluído no território que está sob a sua custódia. Enfim, até agora, todos os indícios me levam à conclusão de que não me terá faltado lucidez à minha protecção...


Finalmente, a segunda parte do conselho. Depois de refeitos da surpresa, que vos prenuncia o descansado gozo daquelas paragens, pelas futuras gerações, sugiro o regresso à Pena. Visitem o Parque. Não vos chamarei a atenção para isto ou aquilo. Concedam-se as horas necessárias e apercebam-se das melhorias introduzidas. Uma das zonas que mais curiosidade suscita pelo que, entretanto, já está a acontecer em termos da sua recuperação, é o Chalet da Condessa. Vão numa altura em que possam bisbilhotar o centro de interpretação e apreciar os trabalhos à volta.


Mais tarde, se quiserem, voltem aqui, ao sintradoavesso, para pormos em comum as nossas impressões.

* Comentário de Rui Silva, publicado em 24 de Março pºpº

6 comentários:

Ester Pedroso disse...

Caro Dr. Cachado,

Ouvi ontem de manhã a entrevista que deu ao Rádio de Sintra onde falou acerca deste assunto. Já tinha lido no seu blogue alguma coisa mas desconhecia tudo sobre as limpezas na serra e ontem à tarde pedi à minha filha para me levar até ao pé dos Capuchos. Na realidade o desbaste foi muito grande mas percebe-se que tinha de ser pelas zonas vizinhas onde ainda não mexeram. O Dr. Cachado disse na rádio que há pessoas contra estas limpezas e eu entendo muito bem porque a paisagem é a mesma mas a vegetação diminuiu muito. Mas basta ver o que está a acontecer agora com tantos incêndios. Para evitar essa tragédia em Sintra era preciso cortar as acácias, roçar aquele mato todo. A seera é a mesma mas está mais limpa. Agora está tudo muito castanho mas basta chover um pouco para ficar mais verde.
Nasci na Sertã e sei que a madeira não pode ser largada à sua vontade.
Eu ontem fiquei mais tranquila relativamente aos fogos.

Cumprimentos

Ester Pedroso

Artur Rosa disse...

Caro Dr. João Cachado,

Se tudo fosse como o senhor escreve podíamos estar descansados. Se os «seus» silvicultores apreciaram positivamente os desbastes, há outros que discordam com argumentos técnicos consideráveis. Felizmente parece que até os que estão contra não dizem que se cometeu um crime.
Como a empresa dos Parques de Sintra representa o Estado nem os serviços oficiais podem arbitrar. Portanto a questão que existe é um «nado morto».

Cumprimentos

Artur Rosa

Anónimo disse...

Prof. João Cachado:

Também ouvi a sua entrevista ao Rcs mas não concordo nada com o trabalho. A paisagem agora é desoladora. Talvez com o tempo as coisas melhorem.

Olavo Ribeiro

Anónimo disse...

Amigo João Cachado,


Se houvesse algo mal feito tinha aparecido algum perito a denunciar. O Carlos Albuquerque apareceu no blogue do Vereador Marco Almeida mas aquilo é só dor de cotovelo.
Como disse Artur Rosa, «os seus silvicultores» deram uma opinião técnica que não pode ser contestada.
Como vê já acabaram os protestos. Os tais militantes das florinhas da Volta do Duche como o Cachado
chama, já meteram o rabinho entre as pernas.
Com amizade

Rui Sobral

Artur Rosa disse...

Caro Dr. Cachado,

Como o senhor costuma responder aos comentários estou estranhando a sua atitude.
O senhor Rui Sobral referiu o nome de Carlos Albuquerque e eu julgo que deve ser a mesma pessoa que dirigiu o Parque de Sintra-Cascais e que noutro dia o Expresso também mencionava como um biólogo que tinha uma sociedade na Guiné com outro biólogo Guerra, e que tinha dado dois pareceres diferentes sobre o Freeport.

Cumprimentos

Artur Rosa

Sintra do avesso disse...

Amigos Ester Pedroso, Artur Rosa, Olavo Ribeiro e Rui Sobral,

É verdade que, como lembrava Artur Rosa, eu costumo responder. Faço-o muito gostosamente e, em especial, quando os meus «comentaristas» acrescentam ou suscitam matéria pertinente.

Isto não significa que as vossas considerações não sejam extremamente oportunas. Todavia, grosso modo, à excepção de Olavo Ribeiro, estamos de acordo. Na verdade, como escreve Rui Sobral, as vozes discordantes parece estarem rendidas à evidência.

Quanto ao biólogo Carlos Albuquerque, não sei nem me interessa - desculpe o Artur Rosa -se é ou não a mesma pessoa que deu dois pareceres de sinal contrário sobre o projecto Freeport. Há gente para tudo...

O que não consta é que esse senhor tenha deixado, em Sintra, obra que, pública e manifestamente, possa ser invocada como contributo para a salvaguarda do importante património que a Parques de Sintra Monte da Lua, finalmente, está a defender.

Aliás, ainda sobre o caso Freeport, apenas lamento que o PM ainda não tenha feito o que faria qualquer um de nós, se grave e injustamente acusado na praça pública, ou seja, pedir para ser ouvido como arguido. Tudo o resto, por enquanto, é poeira.

Um abraço e votos de boa Páscoa para todos,

João Cachado