[sempre de acordo com a antiga ortografia]

sexta-feira, 12 de junho de 2009

Festival de Sintra 2009
Quarenta e quatro


De acordo com o que tinha anunciado, eis a primeira de três partes do artigo que, na íntegra, foi hoje publicado no Jornal de Sintra. Coincidindo com a tónica argumentativa dos textos publicados durante esta semana, constitui mais um contributo afim do debate ainda em curso neste blogue.


Numa altura em que já está a decorrer a quadragésima quarta edição do Festival de Sintra, é acerca da sua estrutura que venho propor me acompanhem numa série de reflexões. De facto, é a questão da matriz programática que se me evidencia como a mais pertinente de sucinta análise.

Nestas mesmas páginas do Jornal de Sintra*, tive oportunidade de referir como, na orgânica geral do programa de qualquer festival, a sua lógica e coerência se devem articular internamente, de tal modo que as propostas revelem a inteligência de uma interligação, por obediência a inequívoca moldura onde não caibam desgarrados.

Tal princípio será tanto mais crítico quanto mais vertentes contemplarem os programas da oferta. Não significando ser menos difícil, ou até mais fácil, conceber um festival apenas com uma componente – musical, por exemplo - mais sofisticada será a concepção da estrutura de um outro em que música, teatro, ópera e dança deverão apresentar traços de união.

Há muito tempo que, apesar de não fazerem parte de qualquer cartilha, estas considerações obedecem a práticas que, tacitamente, se transformaram em consabidas regras, cada vez mais observadas em todas as latitudes. Tanto assim é que quase se poderia afirmar não haver festival que não aspire à afirmação da sua identidade, a partir de um tema ou de uma linha dominante, permanentes ou anualmente alteráveis.

Festivais há em que muito simples foi, e continua sendo, a afirmação da sua especificidade, por exemplo, devido à relação de um compositor com determinado local. É assim que se conotam Bayreuth com Wagner, Torre del Lago com Puccini, Halle com Händel, Leipzig com Bach ou Salzburg com Mozart, cidades e compositores mutuamente indissociáveis.

Em termos nacionais, desde a primeira hora, ao conotar-se com o período do romantismo, o Festival de Sintra afirmaria uma inequívoca individualidade. E muito bem, já que, com toda a lógica, o enquadramento ambiental do património natural e edificado, assim o determinava.

Durante décadas, as mais destacadas personalidades de músicos, do mais alto nível mundial, passaram por Sintra, enriquecendo o fabuloso palmarés do seu Festival, alimentando essa tão particular relação com o romantismo cultural, através de inesquecíveis interpretações de peças criteriosamente seleccionadas e propostas através de programas de assombrosa qualidade.

(continua)


*vd. Quarenta e três, JS 06.06.08
e sintradoavesso, Quarenta e três, 30.05.2008





2 comentários:

V.R. disse...

Prof. João Cachado,

Fui sua aluna do curso da Escola do Património ainda no Cacém. O professor foi uma pessoa que me marcou muito especialmente pelo gosto pela música clássica. Por vezes vou assistir a concertos e até já temos falado. Sei muito pouco e gosto ou não gosto. Por isso não percebo nada de estruturas de festivais mas estranho como já li no seu blogue que haja concertos para bebés no Festival. Não percebo o que tem uma coisa que ver com a outra. Mas fui ver o concerto de domingo e gostei. Era bom que o professor explicasse as coisas com mais pormenor ainda. Tenho muitas saudades dos seus artigos de crítica musical no jornal de Sintra. Aprendi muito consigo para al´ém das aulas.
Cumprimentos
V.R.

Jorge Sequeira Nobre disse...

Colega amigo,
Antigamente fui quase frequentador permanente do festival de Sintra. Actualmente pouco me atrai. Como escreveu o João Cachado deixou de haver grandes nomes a chamar por nós. No ano passado fui ouvir o Sokolov e adorei mas em 2009 não há nada de interesse e muita confusão. Estou como diz à espera do Estoril no mês que vem.
Cumprimentos,
Sequeira Nobre