[sempre de acordo com a antiga ortografia]

quarta-feira, 10 de junho de 2009


Festival de Sintra 2009,

palmarés comentado


Tal como algumas vezes tem acontecido, também hoje resolvi dar destaque de primeira página a um comentário que acaba de me ser enviado, referente ao texto aqui ontem publicado.

Devo esclarecer que o autor, Dr. José João Arroz, é meu amigo há quarenta anos. Trata-se de um esclarecido melómano, com quem tenho feito um enorme percurso de Festivais nacionais e no estrangeiro. Trata-se de um conhecedor, em especial no mundo da ópera, a quem não deve ter escapado, desde Aix, ao Covent Garden, Met, Bayreuth, Milão, Verona, Torre del Lago, Salzburg, Viena, qualquer produção digna de registo nas últimas décadas.

Portanto, não é uma voz qualquer. É com o maior gosto que trago as suas palavras a este painel, sabendo que posso contar com o respeito dos leitores por alguém que, como soe dizer-se, sabe o que são festivais, por dentro e por fora. Eis a transcrição:


" noutro dia me pronunciei e mesmo no ano passado, se te lembras, dei a minha opinião acerca do actual pobre Festival de Sintra. Parece mentira. O tempo das vacas magras não justifica tudo. Se não entrasse essa coisa dos contrapontos, o festival seria pobrezinho mas digno. Assim é uma miscelânea inacreditável, não se sabendo como é que a responsabilidade do Pereira Leal e do Wellenkamp está envolvida nessa trapalhada.

Infelizmente, já descaracterizaram o festival. Se não têm dinheiro para vedetas, paciência. Mas não se compreende o que é que tem a ver o concerto para bebés com as «fronteiras longínquas». Se eu quiser até arranjo uma ligação mas será sempre um insulto à inteligência de qualquer pessoa. Até parece que se limitam a introduzie no Festival, como contrapontos, uma série de coisas que o Centro Cultural de Sintra apresentaria nesta altura mesmo que não houvesse festival...

Nós que frequentamos festivais de prestígio lá fora, sabemos quem são e quem foram aqueles grandes artistas presentes na lista que ontem publicaste no blogue. Termino na esperança de que os responsáveis do festival compreendam a tua atitude quanto ao efeito que a lista poderá ter. Espero que sejam bons entendedores...

Um grande abraço

José João M. S. Arroz
10-06-2009 10:47"

NB:

Esta é matéria que muito me interessa trazer à consideração de leitores do blogue, incluindo alguns amigos e fiéis melómanos que logo se voltam para o sintradoavesso sempre que para tal dou aso. Assim sendo, poderão contar com a abordagem deste tema ainda nos próximos dias.

2 comentários:

I. Risoldi disse...

Dr. João Cachado,

Há anos que não falamos mas certas ocasiões vejo-o pela Gulbenkian e só não vou ter consigo porque sei como gosta pouco da conversa de intervalo. Para me situar, sou viuva do Jorge Risoldi, da delegação de Madrid, amigo do seu pai que sei também já faleceu. O senhor se lembra certamente de estarmos juntos no Schweitzerhof de Luzern duas ou três vezes.
Vi o seu post de hoje mas é mesmo sobre este de ontem que quero intervir. Por causa do José João Arroz que guiou duas viagens inesquecíveis ao Met e a Bayreuth em que eu e meu marido participámos. ELe sabe imenso de música e tenho sua opinião muito em conta. O que escreveu e você passou é muito certo e se refere a uma situação que amigos meus já me tinham falado. Infelizmente não fui a Sintra no ano passado e agora que estou de partida para Roma também não irei. Mas é mesmo uma pena o que está a acontecer. Sintra é tão especial e o festival tão especial também. Nós somos do tempo de Dona Olga, senhora incrível. Se fosse viva Dona Olga não consentiria isso que o Dr. Arroz e o senhor denunciam.
Verá que as coisas mudarão.
Uma saudação para sua mulher, para si e, por favor para José João Arroz da

Isabel Risoldi

Sintra do avesso disse...

Olá Isabel,

Como não havia de me lembrar... Ainda se fecorda da minha opinião sobre os intervalos dos concertos. Na realidade, para mim, a necessidade de intervalo é para os artistas. Os espectadores aproveitam para «o social» e, para isso, eu não tenho paciência embora, de vez em quando, seja impossível escapar ao escrutínio de certos amigos e conhecidos.

A Isabel está a fazer confusão. Em Luzern, convosco, no Schweitzerhof - ah, meu Deus, que saudades!... - só estive uma vez. Com o meu pai, isso sim, é que terão estado em várias edições do Festival do qual ele era um grande apreciador. Aquilo, no fim de Verão e princípio de Outono era sacramental, não falhava. E com razão, já que o de Luzern é mesmo um dos melhores do Mundo. Tem acompanhado o que o Abbado lá tem feito nos últimos anos com aquela orquestra ád hoc?

Esteja descansada que passarei ao José João Arroz as suas recomendações. Ainda bem que este caso do Festival de Sintra nos está a proporcionar este contacto. O que por aqui se passa, toda esta confusão (afinal de quem não entendeu a lógica dos Kontrapunkte que, precisamente, o Abbado pôs a funcionar no festival da Páscoa de Salzburg...), merece que as pessoas se preocupem e digam de sua justiça. Porque, como escreveu a Isabel, o Festival de Sintra é especial, é talvez o que maior património virtual acumulou, um bem absolutamente inestimável que não pode correr o risco de se perder ou descaracterizar.

Tenho muita esperança de que, ainda se está a tempo de arrepiar caminho de tal modo que, em futuras edições do Festival, se corrija esta «estratégia» de conquista de público, que não tem pés nem cabeça.

Ainda bem que recorda a Senhora Marquesa de Cadaval. Com mais uns amigos, estou envolvido num trabalho acerca da sua excepcional figura de grande senhora da cultura europeia do século vinte. Hei-de ter oportunidade de lhe falar acerca desse projecto.

Por agora, o meu agradecimento pela sua preocupação e votos de boa estada em Roma onde, certamente, vai passar um período com a sua filha.

As melhores saudações do

João