[sempre de acordo com a antiga ortografia]

segunda-feira, 27 de julho de 2009


A propósito
(de um concurso de piano)

Sempre que posso, não perco. Tenho assistido a muitas provas públicas, tanto em Portugal como no estrangeiro, sempre na expectativa de, eventualmente, ser surpreendido por algum intérprete excepcional, de ter o vislumbre da centelha, de poder assistir à manifestação de um inequívoco talento apontado à grande Arte, de partilhar o instante mágico da recriação musical pelo jovem que tudo promete.

Naturalmente, no âmbito do Concurso Internacional de Piano de Vendome, acompanhei as provas eliminatórias dos quinze concorrentes que se apresentaram no grande auditório da Gulbenkian. Lá estive até ao fim da passada quinta feira, dia 23, altura em que, de acordo com as regras, ficaram apontados os dois concorrentes que acabariam por disputar a final.

De modo algum surpreendente em circunstâncias que tais, nenhum dos finalistas seleccionados pelo júri coincidiu com o favor do conhecedor público presente na Gulbenkian. Mais uma vez sucedeu aquilo que, já há muitos anos, me levou a concluir que os tais momentos mágicos, de grande música para piano, em que se avalia a capacidade do recitalista e do concertista, não acontecem nas grandes finais mas, isso sim, a montante, nos dias precedentes.

Tive o privilégio de assistir a tudo quanto se passou nos grandes bastidores. Por outro lado, como não tenho necessidade de remates institucionais, não fui à final. Não só no caso dos concursos musicais mas também no de outros contextos artísticos que pressupõem grandes finais – que, tantas vezes, não passam de encontros sociais – cada vez mais, me fico pelas linhas e entrelinhas.

E neste particular caso do Vendome, até a própria designação me suscita memórias de uma sofisticada praça de Paris, tão conotada com linhas de Chopin e entrelinhas de Mesmer. Por aqui fora poderia continuar, com outras relações musicais, lembrando como Mozart aproveitou as propostas de Mesmer em Cosi fan tutte… É fascinante como os saberes e a experiência da vida se plasmam num fluxo tão inesgotável de sensações, de memórias…


1 comentário:

José João Arroz disse...

João,

Mas o rapaz que ganhou o primeiro prémio não há dvida que é bom. Abraço

José João Arroz