[sempre de acordo com a antiga ortografia]

terça-feira, 1 de fevereiro de 2011

Tirar o chapéu a Manuel do Cabo

Goste-se ou não de algumas opiniões de Manuel do Cabo, o artigo que subscreveu na última edição do Correio de Sintra, na qualidade de Presidente da Associação Empresarial do Concelho de Sintra, justifica que se lhe tire o chapéu.

O texto espelha, com clareza, a involução do desenvolvimento sintrense, sem sombra de dúvida da responsabilidade dos autarcas que a têm gerido nos últimos 10 anos.

O facto de ter citado a criação de 700 novas empresas, sem também indicar as que fecharam, mas a cautela sobre o “cariz uni-familiar” de algumas, não desvaloriza o escrito.

Ao citar um conjunto de vertentes que se tornam apelativas aos investidores, não deixa de se referir ao “famigerado xadrez económico-financeiro do nosso concelho”.

Meditemos no sofrimento com que aborda a “fraca dedicação” que ao desenvolvimento empresarial é dado pelo Município de Sintra, o qual, na sua opinião “faz pouco para atrair investimentos”. Não podemos regatear-lhe solidariedade pela coragem.

Venderam-nos gato por lebre, falaram numa dedicação que antes nos empobrece e enche de indignação, justificando que um destes dias as populações se levantem e manifestem com veemência o seu protesto. No dia em que se ocupe o Largo Virgílio Horta, os responsáveis terão a visão do que os sintrenses são capazes.

A monstruosa grua junta da Bristol, sujando a paisagem, é o símbolo do que se passa no concelho, merecendo exibir um dedo que aponte os responsáveis. Nada justifica a falta de propostas para a solução, um pouco como a construção de um hotel em S. Pedro.

Enquanto regredimos, a Europa avança. Cidades limpas, com riquíssimo Património histórico como Colmar, Annecy, Bruges ou Dubrovnik (entre outras) enchem-se de esplanadas cujos lugares são disputados por milhares de visitantes e deixam boas receitas financeiras.

No largo fronteiro ao parlamento Suíço, em Berna, agricultores vendem, semanalmente, os seus produtos (não fica uma pétala no chão!), protegidos pelo governo que limita fortemente a importação desses bens. Imaginam semelhante actividade em frente do Palácio Nacional de Sintra? Que escândalo, num espaço para automóveis em dias especiais.

O centro histórico de Munique, a cidade mais rica da Alemanha, é ocupado por quiosques e bancas nos chamados “Mercados de Natal”, onde milhares e milhares de pessoas compram e confraternizam. Até no pátio interior da Rathaus (Câmara Municipal) se come, bebe e compra. E Sintra das vaidades? O retrato de uma ou outra figura a inaugurar uma série de luzes numa árvore.

Por cá, meia dúzia de pessoas, sobreviventes da época do Plano De Gröer (1949), conseguem travar o progresso, incapazes de perceber que, com arte e engenho, se responderia às dificuldades actuais, garantindo mais capacidade económica e postos de trabalho.

Diz, então, Manuel do Cabo: - “É Tempo de mudar”. Antes, tinha escrito que “temos todas as condições, mas também temos todos os obstáculos (…)”. Que triste sorte se abateu sobre Sintra…

As palavras foram tão claras que encosta à parede os mais altos responsáveis.

Com o devido respeito, mais uma vez se tira o chapéu a Manuel do Cabo.

Fernando Castelo

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