[sempre de acordo com a antiga ortografia]

sexta-feira, 25 de novembro de 2011


Congresso certo
em lugar certo


Começou no passado dia 22 e termina hoje, em Sintra, um encontro internacional que me interpelou de modo muito especial. Território vasto, com tantos problemas por resolver no âmbito da defesa e preservação de um património natural e edificado riquíssimos, Sintra tem todas as características, mais e menos positivas, para acolher uma iniciativa com o alcance deste XI Congresso Mundial da Organização das Cidades Património Mundial.

Na sua qualidade de anfitrião, ao dirigir-se a todos os interessados, através de sucinta introdução publicada no impresso geral deste Congresso, que se subordina ao grande tema das Cidades Património Mundial e as Alterações Climáticas, muito bem soube o Presidente Fernando Seara posicionar-se entre o júbilo e uma justificadíssima apreensão.

Muito naturalmente, por um lado, era a satisfação de poder abrir as portas, mostrando o que se tem feito em Sintra, no âmbito da defesa do património em articulação com as preocupações ambientais, dando as boas vindas a centenas de autarcas participantes, representando cidades de muitos países dos vários continentes, bem como aos peritos nas matérias em apreço. Por outro, citando as suas palavras, uma pertinente dúvida quanto ao “(…) legado que vamos transmitir às gerações vindouras e quais as medidas que iremos ou poderemos tomar para proteger um património que é, afinal, de todos nós (…)”

Enquanto Património Mundial, na condição de Paisagem Cultural da Humanidade, que articula e integra elementos urbanos, Sintra bem pode fornecer elementos preciosos de estudo que contribuam para a correcta compreensão das consequências resultantes das alterações climáticas. Multifacetada, entre a montanha e o oceano, ainda com assinalável actividade agrícola, igualmente marcada por nefastos efeitos de indústrias indisciplinadas, Sintra é um espantoso mosaico que, a céu aberto, escancara os interstícios a quem os souber ler e interpretar.

Estou perfeitamente convencido de que, nesta ocasião ímpar, em que pode evidenciar o que de muito bom por cá acontece, nomeadamente sob a responsabilidade da empresa Parques de Sintra Monte da Lua, ou a acção pedagógica da Escola Profissional de Recuperação do Património, Sintra também saberá evidenciar erros clamorosos que, em abono da verdade, se cometem em todas as latitudes – deixai que apenas cite um entre os vários que, certamente, serão abordados – como o da construção em leito de cheia, prática que, a montante e a jusante, compromete a gestão de factores essenciais a uma eficaz defesa e preservação do património natural e edificado.

Enfim, muito trabalho para estas jornadas. Sem dúvida, mais um cartão de apresentação para Sintra que, deste modo, através do trabalho desenvolvido, ficará conotada com uma preocupação global, inequivocamente definidora dos conturbados tempos que tivemos a sorte de viver. Todos desejamos que o trabalho destes dias contribua, decisivamente, para o apontar de soluções que as conclusões do Congresso não deixarão de registar. Aguardemos as notícias.



2 comentários:

Fernando Castelo disse...

Meu caro Amigo,

Como sabe, tenho estado fora do país, pelo que algumas da habilidades políticas da nossa terra passam ao lado.

Parece que hoje se juntam uns quantos pinóquios, todos da mesma família, que serão hábeis nos dividendos que querem retirar de um evento sintrense.

Ou será que a Sintra das parangonas e frases feitas que serão quase declamadas é a mesma Sintra que nós conhecemos? Essa uma questão pertinente.

Os congressistas dormiram, porventura, em autocaravanas no Rio do Porto, ali mesmo pertinho do centro histórico?

Foram os congressistas visitar o Vale dos Anjos e apreciar aquele mastodonte legalizado e aprovado ao mais alto nível?

Passaram os congresistas, livremente, pela Heliodoro Salgado e ter-se-ão deslumbrado pela "beleza" e "linha ambiental" dos váruios contentores de lixo?

Alguém perguntará pelo fontanário mais do que centenário que foi retirado do Largo Afonso de Albuquerque há quase 1500 dias, não voltando a ser recolocado?

Os caminhos da serra, que o meu Amigo também aborda, estarão hoje sem carros para que as comitivas possam "apreciar" os cuidados autáquicos na preservação ambiental?

Ou, meu caro Amigo e adepto da vida ao ar livre: terão os congressistas ido descontraír nas ciclovias que foram anunciadas em 2003 e "estariam feitas em 2009"?

Esta é outra indignação, que não há palavras nem meias-tintas que apaguem.

Sabe, de pinóquios estou farto.

Ainda ontem fotografei mais um...

Um abraço,

FCastelo

Anónimo disse...

Os congressistas tiveram um tratamento "hipervip", ficaram hospedados na Penha Longa. às custas de quem? Às nossas obviamente! Deslocaram-se, ou melhor, foram levados a passear com escolta/batedores da Polícia Municipal...algo verdadeiramente despropositado, ao jeito de visita de figuras de estado do 1º Mundo (ironia). Porquê? A habilidosa encenação teve como propósito, mais uma vez, enganar quem não será tolo mas que gosta de papas e bolo(s).
Caro Fernando Castelo, obrigado pelo seu comentário.