[sempre de acordo com a antiga ortografia]

quinta-feira, 16 de maio de 2013



Efeméride mozartiana,
Quinteto para Cordas, KV. 516

Acerca do terceiro andamento deste Quinteto, regista Tchaikovsky: “Ninguém [como Mozart neste andamento], jamais terá sabido interpretar através da música, tão sofisticadamente, o sentido da mágoa resignada e inconsolável”.


Em 16 de Maio de 1787 Mozart completava o seu Quinteto para cordas em Sol menor, KV 516, peça para dois violinos, duas violas e violoncelo, estruturada em quarto andamentos, I. Allegro,II. Menuetto: Allegretto, III. Adagio ma non troppo e IV. Adagio – Allegro.

Trata-se de mais uma estupenda peça em Sol menor, o tom em que Mozart melhor expressou tristeza e tragédia. É nesta tonalidade que lembramos o Concerto para Piano no. 1 e, no domínio sinfónico, a no. 25 e a famosíssima no. 40. É uma obra tão especial que não resisto a solicitar a vossa atenção para detalhes de audição que não podem deixar de ter em consideração.

Na forma sonata, o primeiro andamento apresenta dois temas que, começando em Sol menor, não se resolvem no tom maior da recapitulação, terminando em tonalidade menor. Colocado em segundo lugar, o Menuetto só na designação é um minuete já que o turbulento tema em Sol menor, com pesados acordes de terceira, o tornam impraticável para dança. O seu trio central é um brilhante Sol Maior. O terceiro andamento, em Mi bemol Maior é lento, melancólico, ansioso, subsequente ao desespero trazido pelos andamentos anteriores.

É acerca deste andamento que contamos com um dos mais expressivos testemunhos que um compositor poderá ter deixado escrito acerca da música de outro. Regista Tchaikovsky: “Ninguém [como Mozart neste andamento], jamais terá sabido interpretar através da música, tão sofisticadamente, o sentido da mágoa resignada e inconsolável”.

A terminar, o começo do quarto andamento, de modo algum, é o típico tempo rápido final mas uma lenta cavatina que, retomando a tonalidade de Sol menor, é um lamento mesmo mais lento do que o andamento anterior. Permanecemos nesta atmosfera durante alguns minutos antes de uma pausa avassaladora. De repente, Mozart salta para o efervescente Allegro em Sol Maior, provocando um fortíssimo contraste como pode o compositor os andamentos anteriores. Ainda hoje continuamos a perguntar como pode ter Mozart resolvido esta obra com um final tão aparentemente «descuidado» depois de um tão intenso pathos anterior. Mozart, dual, genial, inesperado…

A interpretação que vos proponho é a de Cornelia Löscher, Benjamin Bowman, Michel Camille, Steven Dann, Anssi Karttunen, no contexto da 13ª edição do Festival Internacional de Música de Câmara de Esbjerg, Dinamarca, em 2011, ocasião anual estupenda, geralmente considerada como única, para a partilha da música de câmara. Sente-se o ambiente de partilha. Muito gostaria que se deliciassem com esta obra tão singular.

Boa audição!


http://youtu.be/P6N2Fo5BWu0

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