[sempre de acordo com a antiga ortografia]

quarta-feira, 25 de dezembro de 2013




Pedro Tamen,
Natal, nata do tempo



Pedro Tamen dá cabo de mim... Deste soneto vos digo que ficará na História da Poesia Portuguesa como um dos mais belos poemas de Natal de todos os tempos. Se puderem, leiam Memória Indescritível, o livr
o onde, além deste, outros desafios lindíssimos esperam a devassa.

Eis dois excertos do longo poema final: "(...) Cheguei ao fim. Andei de pé descalço/ sobre os calhaus do rio, senti/ a água fria, as vozes de outro/ lado. Ergui-me na cisterna, ouvi/ pelo tabique o toque do relógio/ e desci noutra casa, ao longe,/ a escada estreita. Mas sempre/ Em tudo isso sentei-me na cadeira. (...) Por sobre o ombro (dói!) lobrigo/ tantas confusas coisas, falo delas./ .../o peso, o contrapeso, a palavra que digo. Sufoco o medo a medo, e olho a esteira/ remudo e quedo, sentado na cadeira."

Pedro Tamen, que formidável oficina, a sua. Que estupenda escola!


 
Não digo do Natal – digo da nata
do tempo que se coalha com o frio
e nos fica branquíssima e exacta
nas mãos que não sabem de que cio

nasceu esta semente; mas que invade...

esses tempos relíquidos e pardos
e faz assim que o coração se agrade
de terrenos de pedras e de cardos

por dezembros cobertos. Só então
é que descobre dias de brancura
esta nova pupila, outra visão,

e as cores da terra são feroz loucura
moídas numa só, e feitas pão
com que a vida resiste, e anda, e dura.
 


 

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