[sempre de acordo com a antiga ortografia]

segunda-feira, 27 de janeiro de 2014





Manhã,
às missas, numa pressa





[Salzburg, 26.01.2014] De manhã, as Missas de Mozart. Às nove horas, na igreja dos Franciscanos, “Credo Messe”, em Dó maior, KV. 257. Uma hora depois, na Catedral, a “Piccolomini Messe”, na mesma tonalidade que a precedente, KV. 258, ambas compostas em Salzburg entre os anos de 1775 e 1777. Naturalmente, o tempo é tão escasso que mal dá para saír da primeira e (per)correr os cerca de duzentos metros entre os dois templos para não «perder pitada» de uma e da outra.

Há muitos anos que, aqui estando, as manhãs de domingo são sempre assim preenchidas. Dirão que pareço uma «rata de sacristia». Pois, quem não quer ser lobo… De qualquer modo, se tiverem em consideração que sou católico, apostólico romano, então o que dirão daqueles que não o sendo, fazem exactamente a mesma figura?

Pois, quer dos católicos como eu, quer dos de outras confissões e agnósticos, ateus, etc, melhor será que digam apenas serem apreciadores de boa música e que, com esta atitude, em plena Mozartwoche, satisfazem a abordagem, ao vivo, de peças da vertente de música sacra composta por Mozart, também ele católico, e senhor de uma relação tão especial com o divino. Tão simples como isto.

Vamos a coisas sérias. A Arquidiocese de Salzburg é extremamente activa em todos os domínios socioculturais e, como é evidente, também na Música. É famoso em todo o mundo o programa ‘Salzburger Dommusik’, cujo responsável máximo é János Czifra, o conhecido Kapellmeister. Já agora tomem nota do sítio da internet
www.kirchen.net/dommusik pois, mesmo desconhecendo Alemão, aperceber-se-ão da riqueza e variedade das iniciativas, nomeadamente, o das missas cantadas, com solistas, coro, acompanhamento por orquestra, pelo menos, todos os domingos do ano, dias santos, festas especiais, etc.

A igreja dos franciscanos, também dispõe de um programa musical específico, dirigido por Bernhard Gfrerer, cobrindo domingos e festas religiosas. Não gostaria de propor qualquer comparação até porque as situações são incomparáveis quanto aos meios disponíveis. Não deixa de ser curioso, no entanto, que conhecidas vozes, tais são os casos de Barbara Bonney ou Angelika Kirchschlager, ali tenham cantado dando o seu contributo para a qualidade musical das missas. De igual modo, aí têm as refereências,
www.franziskanerkirche-salzburg.at. Tanto num como no outro caso, verão como ficam surpreendidos com a programação.

[A propósito e acerca do assunto, gostaria de lembrar que podem dispor de uma boa quantidade de textos escritos e publicados também no blogue. Encontrá-los-ão facilmente se procurarem por temas afins da religião, das missas, da morte, da maçonaria, música religiosa, sacra, etc.]

Tarde. Obras de Arvo Pärt, no 'Solitär'

À tarde, no estupendo auditório ‘Solitär’ da Universidade Mozarteum – onde, nos últimos anos, tenho assistido a inesquecíveis master classes, entre outros, de Mitsuko Uchida, Pierre Boulez, Thomas Quasthoff ou Sofia Gubaidolina – fui assistir a um evento exclusivamente preenchido por obras de Arvo Pärt. Quatrocentos lugares totalmente preenchidos.

Tenho a maior dificuldade em não ser «adjectivoso» porque, em síntese, foi tocante, impressionante, de uma elevação espiritual inequívoca, timbre, aliás da generalidade das propostas deste compositor. Uma hora densa, nem mais nem menos, sem qualquer interrupção para aplausos, uma hora para a interpretação de 9 obras, tão especiais.

“Summa”, para Coro misto ‘a cappella’, tão somente o Credo do Ordinário da Missa em Latim, 1977; ‘Canção de embalar’, com texto em Russo, excerto da Natividade, segundo São Lucas 2:7, 2002; ‘Fratres’ para Quarteto de cordas, 1977; ’Duas Sonatinas para piano, op1. No. 1, 1958; “Mozart-Adagio, para violino, violoncelo e piano”, 1992; “Duas Sonatinas para piano, Op. 1 no. 2; “Spiegel im Spiegel" [Espelho no espelho], para violoncelo e piano, 1978; “Canção de embalar estónia” e, finalmente “Summa para quarteto de Cordas”, eis o rol das obras apresentadas.

Através de um tal escaparate, bem se evidencia como Pärt, homem de fé, encontrou algo em que acreditar, em tempos de desespero [e de descrença. Talvez seja por isso que, num apelo à tradição, como fonte de ordem, tantos adeptostem conquistado para a sua música.

Dos músicos envolvidos, bastante jovens, estavam presentes o Quarteto Minetti, oito membros do Coro da Rádio e, muita atenção, Herbert Schuch, um pianista romeno requisitadíssimo, vencedor, entre outros de Concursos Internacionais de Piano, como o de Londres e o Beethoven de Viena.

Eis "Spiegel im Spiegel", um fragmento da magia vivida na hora de privilégio. Desculparão não ter encontrado uma gravação sem imagens. É que, assim, o documento musical, transforma-se num diaporama...

PS. Mais tarde, darei notícia do concerto da noite.

http://youtu.be/QtFPdBUl7XQ


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