[sempre de acordo com a antiga ortografia]

sexta-feira, 19 de setembro de 2014



Cenas de Odeceixe (IV)


Se confiassem exclusivamente nas informações dos meteorologistas teriam razões de sobra para se preocuparem com as nossas férias. Não deixa de ser verdade que tem chovido e até muito copiosamente. Mas, com uma ‘programação’ tão conveniente que, quase diluviana durante a noite, nos tem desanuviado desde manhãzinha ao pôr-do-Sol. Sabem, coisas muito bem combinadas...

Um dos
predicados de Odeceixe é a famosa rebentação. Com a maré a subir ou a descer, na preia-mar [está bem escrito, sim senhor, não é preciso irem ao prontuário…], em todas as circunstâncias há uma permanente rebentação que, jamais, é violenta e, pelo contrário, de uma afabilidade que mais a sentimos como doce e oxigenada massagem.

Dizer indiscritíveis, na mais positiva das acepções, é pouco para qualificar os meus banhos de Odeceixe. Talvez iniciáticos. São a perfeita bênção de um amigo demiurgo, que os engendra à minha medida, embora não me importe haja quem tanto beneficie como eu. Os poemas, alguns também sinfónicos, que também ouço, esses são só meus.

É nestas águas imaculadas que preparo as entranhas das vias respiratórias superiores para todo o ano de agressões atmosféricas emporcalhadas. Confessem que estão impressionados com esta sofisticada forma de me referir às inalações radicais que, além de me libertarem dos mucos nasais, fazem um percurso que atinge a alma.

Por fim, algumas notas afins de matéria mais comezinha. Até ao fim de Agosto e nos primeiros dias de Setembro havia. Agora não há bolas de Berlim assépticas, embrulhadas em papel desinfectado como manda a asae, nem batatinha frita, nadinha que se venda no areal. Quem chega, avia-se antes sem que me aperceba de geleiras ou quejandos equipamentos.

Também não há qualquer tipo de música no ar. A não ser aquele tristíssimo episódio de um passado fim de semana – em que, obviamente, nos ausentámos por causa de uma iniciativa da Câmara Municipal de Aljezur que infernizou a vida neste recanto do éden – graças a Deus, por aqui, os designados ‘animadores de praia’, não têm sorte alguma.

Por favor, não publicitem. A propósito, lembrarei um desses concursos patetas que as televisões promovem, em parceria com entidades cujos publicitários propósitos facilmente se adivinham. Irónica mas desesperadamente, atravás do facebook, pedia eu que não votassem em Odeceixe como maravilha de praia portuguesa de arribas. Dessa vez, o meu apelo foi em vão. Odeceixe passou a ser a «maravilha» das arribas… Olhem, tenham dó! Vão por mim e obrigadinho.

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