[sempre de acordo com a antiga ortografia]

domingo, 28 de setembro de 2014



Christopher Hogwood

[facebook, 26.09.2014]

Morreu há dois dias. Embora fosse anunciada, já que há meses estava muito doente, a sua morte não me podia ter causado maior impressão. Figura de destaque da designada Música Antiga, era um dos directores de orquestra mais aguardados em Salzburg. A sua direcção das sinfonias de Mozart, com a Academy of Ancient Music, perdurará como marco irrefutável da leitura do legado sinfónico mozartiano.

Para ilustração do trabalho de CH, proponho que partilhemos a Sinfonia No.25 em Sol menor, K. 183 (K. 173dB) que foi acabada de compor em 5 de Outubro de 1773, apenas dois depois após a precedente sinfonia Nº 24, facto que não está absolutamente comprovado, e pouco tempo depois do sucesso obtido pela sua ópera “Lucio Silla”.

Socorro-me do texto que escrevi por altura da minha abordagem ao conjunto total das sinfonias de Mozart, começando por chamar a vossa atenção logo para os primeiros acordes já que foi esta a peça escolhida por Milos Forman para início do “Amadeus”, filme que, como sabem, de modo algum, corresponde a uma biografia do compositor.

Mozart escreveu duas sinfonias em Sol menor, ou seja, esta – também conhecida como a ‘Sol menor Pequena’ e, muito mais tarde, em 1788, a famosíssima Nº 40, KV 550. Preciso é ter em consideração que a maioria das sinfonias do século dezoito é composta em tom maior, aparentemente, adequando-se muito mais à optimística grandeza e pomposa solenidade do que aos matizes mais escuros e sentimentos mais apaixonados afins das obras em Sol menor. É um pouco nesta linha que se move uma corrente da musicologia pretendendo ver nestas peças a marca de um pré ou proto-romantismo, coincidente com o movimento Sturm und Drang.

Em contraste com as sinfonias da década precedente, estas obras têm em comum um uso muito mais frequente do contraponto, súbitos saltos temáticos, maior utilização das síncopes – ou seja o recurso ao padrão rítmico em que um som é articulado na parte fraca do tempo ou compasso, prolongando-se pela parte forte seguinte – finais mais prolongados e ocorrência muito mais frequente de segmentos em uníssono.

Ainda a propósito, convirá ter presente que, muito antes de ter composto esta Sinfonia KV. 183, o jovem Mozart conhecia todas estas particularidades. Lembremos o que, já a propósito desta série de artigos introdutórios às sinfonias de Mozart, eu próprio referi quanto à KV. 118, datada de dois anos antes. E, ainda mais extraordinário, se recuarmos ao período da infância, nomeadamente, a 1764 (nos seus oito anos de idade, durante a estada em Londres), quando esboçou num caderninho de notas uma peça para tecla – precisamente, em Sol menor, KV 15 - em estilo quase orquestral, que já captava o carácter tempestuoso que tem sido erroneamente proclamado como original de um período posterior.

A obra desenvolve-se de acordo com a estrutura clássica de quatro andamentos ,1. Allegro con brio, 4/4 em Sol menor, 2. Andante, 2/4 em Mi bemol Maior, 3. Menuetto /Trio, 3/4 em Sol menor e Trio em Sol Maior e, finalmente, 4. Allegro, 4/4 em Sol menor. Ainda de assinalar que haverá influências da Sinfonia No. 39 de Joseph Haydn, que também obedece à tonalidade de Sol menor.

Boa audição!

http://youtu.be/OyNi19dceMo [I. Allegro con brio]
http://youtu.be/UGwRzbQM9os [II. Andante]
http://youtu.be/1tpLUlOUIVA [III. Minuetto e Trio (Allegretto)]
http://youtu.be/Sl_enPgIjJQ [IV. Allegro]

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