[sempre de acordo com a antiga ortografia]

segunda-feira, 15 de junho de 2015




11 de Abril de 1770
Efeméride mozartiana
 


[facebook, 11.04.2015]


Durante a célebre viagem a Itália e estada em Roma. Este foi o dia em que Wolfgang Mozart deu mais um sinal do génio que era e da sua relação absolutamente excepcional com a Música. Através de carta remetida de Roma para sua mulher em Salzburg, Leopold conta que, durante as matinas, Wolfgang tinha escutado, pela primeira vez, o "Miserere" a 9 vozes de Giorgio Allegri, peça que, mais tarde, em casa, reproduziu, escrevendo de memória...

Este episódio é tanto mais extraordinário quanto, a partir de determinada altura, o Vaticano impedira a difusão de cópias das obras musicais de suporte ao serviço do culto na Capela Sistina durante a Semana Santa. No entanto, antes de 1770, três cópias tinham sido oferecidas a Leopold I, Imperador do Sacro Império Romano-Germânico, ao Rei de Portugal e ao Padre Padre (Giovanni Battista) Martini. De qualquer modo, nenhuma conseguira registar a beleza da obra que, uma vez por ano, era cantada na Capela Papal.

Mais tarde, também Mendelssohn e Liszt a transcrevem, tendo-se tornado numa das peças mais apreciadas da polifonia renascentista. Na verdade foi concebida para dois coros, um de 5 e outro de 4 vozes (as tais 9 supra referidas), para o Seviço das 'Tenebrae' (Trevas), canto durante o qual as velas se iam extinguindo, uma a uma, até à escuridão total. Um dos coros canta uma versão simples do Miserere original e o outro, espacialmente separado, canta um 'comentário' ornamentado acerca do anterior.

Bem, é obra lindíssima, de facto, inesquecível, tal é o celestial ambiente. A interpretação que vos proponho é a do Choir of Claire College, Cambridge, sob direcção deTimothy Brown. Para que melhor possam aceder, eis o texto em Latim e em tradução para Português.
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Miserere mei, Deus: secundum magnam misericordiam tuam.
Et secundum multitudinem miserationum tuarum, dele iniquitatem meam.
Amplius lava me ab iniquitate mea: et a peccato meo munda me.
Quoniam iniquitatem meam ego cognosco: et peccatum meum contra me est semper.
Tibi soli peccavi, et malum coram te feci: ut justificeris in sermonibus tuis, et vincas cum judicaris.
Ecce enim in iniquitatibus conceptus sum: et in peccatis concepit me mater mea.
Ecce enim veritatem dilexisti: incerta et occulta sapientiae tuae manifestasti mihi.
Asperges me hysopo, et mundabor: lavabis me, et super nivem dealbabor.
Auditui meo dabis gaudium et laetitiam: et exsultabunt ossa humiliata.
Averte faciem tuam a peccatis meis: et omnes iniquitates meas dele.
Cor mundum crea in me, Deus: et spiritum rectum innova in visceribus meis.
Ne proiicias me a facie tua: et spiritum sanctum tuum ne auferas a me.
Redde mihi laetitiam salutaris tui: et spiritu principali confirma me.
Docebo iniquos vias tuas: et impii ad te convertentur.
Libera me de sanguinibus, Deus, Deus salutis meae: et exsultabit lingua mea justitiam tuam.
Domine, labia mea aperies: et os meum annuntiabit laudem tuam.
Quoniam si voluisses sacrificium, dedissem utique: holocaustis non delectaberis.
Sacrificium Deo spiritus contribulatus: cor contritum, et humiliatum, Deus, non despicies.
Benigne fac, Domine, in bona voluntate tua Sion: ut aedificentur muri Ierusalem.
Tunc acceptabis sacrificium justitiae, oblationes, et holocausta: tunc imponent super altare tuum vitulos.



Tem misericórdia de mim, ó Deus, por teu amor; por tua grande compaixão apaga as minhas transgressões.
Lava-me de toda a minha culpa e purifica-me do meu pecado.
Pois eu mesmo reconheço as minhas transgressões, e o meu pecado sempre me persegue.
Contra ti, só contra ti, pequei e fiz o que tu reprovas, de modo que justa é a tua sentença e tens razão em condenar-me.
Sei que sou pecador desde que nasci, sim, desde que me concebeu minha mãe.
Sei que desejas a verdade no íntimo; e no coração me ensinas a sabedoria.
Purifica-me com hissopo, e ficarei puro; lava-me, e mais branco do que a neve serei.
Faz-me ouvir de novo júbilo e alegria; e os ossos que esmagaste exultarão.
Esconde o rosto dos meus pecados e apaga todas as minhas iniquidades.
Cria em mim um coração puro, ó Deus, e renova dentro de mim um espírito estável.
Não me expulses da tua presença, nem tires de mim o teu Santo Espírito.
Devolve-me a alegria da tua salvação e sustenta-me com um espírito pronto a obedecer.
Então ensinarei os teus caminhos aos transgressores, para que os pecadores se voltem para ti.
Livra-me da culpa dos crimes de sangue, ó Deus, Deus da minha salvação! E a minha língua aclamará à tua justiça.
Ó Senhor, dá palavras aos meus lábios, e a minha boca anunciará o teu louvor.
Não te deleitas em sacrifícios nem te agradas em holocaustos, se não eu os traria.
Os sacrifícios que agradam a Deus são um espírito quebrantado; um coração quebrantado e contrito, ó Deus, não desprezarás.
Por tua boa vontade faze Sião prosperar; ergue os muros de Jerusalém.
Então te agradarás dos sacrifícios sinceros, das ofertas queimadas e dos holocaustos; e novilhos serão oferecidos sobre o teu altar.

Salmos 51:1-19
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Boa Audição!

 
 
 
The Choir of Claire College, Cambridge, Timothy Brown
 
 
 
 

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