[sempre de acordo com a antiga ortografia]

quinta-feira, 18 de outubro de 2007

Civismo, moral e justiça,
ao pé da porta

Há questões de importância aparentemente irrelevante que, sendo suscitadas pela atitude desatenta, descuidada, desleixada e egocêntrica de alguns cidadãos, induzem, por imitação, fenómenos de replicação do comportamento desviante que, às tantas, transformam aquelas questões em seríssimos problemas, pondo em jogo alguns princípios de ética cuja observância é indispensável à vida em comum.
Deixem-me abrir um parêntesis, a propósito de Notas Diárias de hoje, para lembrar como a leitura de determinados textos clássicos deveria ser inequivocamente obrigatória, em algum momento do percurso da escolaridade. Entre outros, destacaria o fascinante Protágoras, diálogo de Platão, com destaque para o momento em que Zeus ordenou a Hermes que levasse aos homens o sentido moral (aidós) e a justiça (dike), a fim de haver ordem nas cidades e laços harmoniosos de amizade.
Mesmo nas situações qualificadas como pouco significativas, basta que o sentido moral e a justiça seja oportunisticamente «esquecido» apenas por um cidadão, para se gerarem evitáveis momentos de imitação indutores dos conflitos de interess. E, quando isso acontece, preciso é que uma autoridade reponha a regularidade, que sendo extremamente frágil, tão frágil como o próprio homem, a todos convém porque é absolutamente vital.
Exemplo edificante...
Querem um exemplo muito comezinho? Imaginem que, aqui no Centro Cultural Olga Cadaval, trabalha um daqueles cidadãos que, não tendo lido o Protágoras, também não terá sido, por qualquer outra via, beneficiado com os valores da moral e da justiça. Sentindo que, melhor do que ele, só Nosso Senhor Jesus Cristo e, com alguma dificuldade, o special one decide que a sua superior qualidade (?!?) justifica que estacione o seu carro numa zona totalmente proibida, portanto, à revelia do que está estabelecido como Lei para todos os cidadãos, que a ele não atinge, haja em conta a importância que atribui ao seu excepcional estatuto...
Naturalmente - ou, talvez, nem tanto - os colegas, em vez de, frontalmente, porem em causa, de denunciarem um comportamento que, tão manifestamente, desafia a Lei vigente, acabam por fazer aquilo que é mais fácil e habitual num país onde impera a cultura do desleixo, ou seja, imitam a atitude desviante, sob a desculpa de que ou há moralidade, ou comem todos... E,num ápice se gerou a cena a que todos assistimos nas semanas precedentes.
Claro que não posso jurar que as coisas se terão passado assim. Situações análogas, em contextos semelhantes, levam-me a apostar que algo de idêntico terá acontecido por aqui. O que não é normal é que a autoridade tivesse levado tanto tempo a repôr a legalidade. Mas fê-lo, de acordo com a vontade dos agentes culturais envolvidos, nomeadamente, a Dra. Maria Nobre Franco do Museu de Arte Contemporânes e Dr. Mário João Machado da Sintraquorum, CC Olga Cadaval. E, afinal, foi tão fácil ccolocar aquela barreira de ferro... Saúdo a GNR pela exemplar actuação, ainda que tardia.
Inadmissível, contudo, continua a situação à volta do mercado da Estefânea - a começar na Rua Capitão Mário Alberto Soares Pimentel, onde se estaciona livremente, mediante a complacência da mesma GNR, cujo regime é o de trânsito vedado a automóveis, por ter sido oportunamente pedonizada, exactamente como a Av. Heliodoro Salgado - para se estender às ruas limítrofes, suscitando quadros de perigo iminente, com particular acuidade em dias de mercado.
É inadmissível mas remediável, mesmo hoje, ainda que não estejam disponíveis as alternativas que a Câmara Municipal de Sintra não pode escusar-se a concretizar.

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