[sempre de acordo com a antiga ortografia]

quarta-feira, 31 de outubro de 2007


Monserrate,
cena de desbaste

Passou-se a cena que passo a contar há uns meses, por altura do início da grande operação de limpeza de árvores e arbustos, de um e outro lado da estrada de Monserrate. Juntamente com intervenções da mesma índole, noutros locais sob gestão da Parques de Sintra Monte da Lua, estava-se no advento de mais uma das actividades que a empresa tem vindo a conduzir no sentido de resgatar a vergonha de dezenas de anos de indesculpável relaxe.
Preciso é anteceder o relato da tal cena com uma nota pessoal que, certamente, me hão-de relevar. Todos os dias, faça sol, chuva, vento ou caia neve, esteja onde estiver, em Portugal ou no estrangeiro, cumpro o saudável dever de andar a pé tantos como são seis quilómetros, bem medidos, durante uma hora. Em Sintra, palmilho vários percursos, mais ou menos sinuosos, mais ou menos luminosos, consoante a hora que mais me convenha, em função dos compromissos.
Uma das caminhadas mais frequentes leva-me de Seteais à Quinta da Piedade, vértice do mágico triângulo que a une a Monserrate e à Pena. Por breves instantes, chegado ao largo contíguo à capela, o olhar percorre a parte visível da propriedade. Avistando a pérgula, assaltam em brilhante catadupa, imagens sonoras de tantos e estupendos deleites musicais. Bem visível e afirmativo, um renque de jovens cedros, já plantados por Teresa Schönborn, neta da Marquesa de Cadaval, orienta-se à memória da mecenas a quem Sintra e o país tanto devem. Um líquido azul, a poente, donde sobem maresias benfazejas, o castelo mouro e o palácio na montanha, à direita, não há dúvida que é um lugar de feitiço, sítio religioso, propício.
Assim, já percebem por que tanta gente me encontra, tão frequentemente, por aquelas paragens, agarrado a uma bengala que só me serve de bordão ao pensamento... Enfim, depois há que voltar ao ponto de origem, para dobrar a distância e completar o programa. Foi num desses regressos que passei pelo Dr. Manuel Baptista do conselho de administração da PSML. Sentado ao volante do seu carro, aguardava que o trânsito fluísse, após interrupção necessária à movimentação de troncos.
Grande era a azáfama, com máquinas e viaturas sem parança. O ruído produzido pelas motosserras era de tal ordem que quase não deixava que trocássemos a saudação matinal. Mas, a breve trecho, recomeçava o movimento na estrada, não sem que ainda tivesse tempo para lhe dizer como aquela actividade da PSML soava a doce melopeia aos meus ouvidos de inveterado melómano... Pois é, autêntica música, aquele serrar, libertando resinosos odores. Passados tantos anos, eis que se assiste a uma operação indispensável à manutenção das matas da zona.
Outra cena
Não me passa pela cabeça que os técnicos que conduzem os trabalhos não saibam o que estão a fazer. A minha única hipótese de avaliação decorre da analogia com cenas a que assisto nas deslocações aos festivais de música. À volta de Bayreuth, de Lucerna, de Salzburg, todos os anos, se rasgam novas clareiras, se amontoam imensos esteres de lenha, montes de estilhas cujos destinos se adivinham.
Diferentes que sejam as espécies arbustivas e arbóreas, não deixam de pressupor semelhantes intervenções, quer em Sintra quer naquelas famosas regiões europeias. Como, até ao momento, desconheço qualquer comentário técnico abalizado, favorável ou contrário à condução técnica da actividade ainda em curso, não me assiste razão para alinhar com quem tem manifestado apreensões. (*)
.......................................................................................................
(*) Vd., no espaço do blog destinado a comentários, ereis datado de 24.10.07

13 comentários:

Sintra do avesso disse...

para 'cascacebola'

Alguém que se acoitou sob o pseudónimo 'cascacebola',(?!) enviou-me um mail, muito zangado com as minhas constantes referências ao biólogo Serra Lopes que, na sua douta opinião, mais se assemelham a tenaz perseguição, neste blog que até acabou por elogiar...

Enfim, no meio dum azedo ataque, em defesa do seu amigo, valha-me o facto de não ter sido ordinário...

Em primeiro lugar, não percebo porque 'cascacebola' não fez o comentário que acima resumi no espaço adequado do blog.

Seguidamente, aproveitaria a oportunidade para informar 'cascacebola' de que continuarei a fazer as referências que entender, não ao biólogo mas às irregularidades da gestão do biólogo Paulo Serra Lopes na administração da Parques de Sintra Monte da Lua, que vieram a público, na sequência das auditorias levadas a cabo.

Mais lhe direi que não vou sossegar enquanto não souber o desfecho das investigações que o Ministério Público determinou e que levaram a Polícia Judiciária ao trabalho subsequente. Serenamente, aguardo que o Senhor Presidente da Câmara Municipal de Sintra considere a vantagem de destapar a caixa ou abrir a gaveta onde adormece o processo...

Ainda acrescentarei que, por motivos óbvios que se prendem com as altas funções e personalidade de Suas Excelências, não tenho a menor esperança de que o EngºJosé Sócrates ou o Dr. Pedro Silva Pereira, respondam às graves acusações que, a propósito da gestão do biólogo na PSML, lhes lançou o Engº António Abreu (o administrador que se seguiu ao biólogo na administração da referida empresa) em artigo publicado pelo Jornal de Sintra de 24.12.2004. Bem tenho tentado, já não sei quantas vezes, mas a notícia, mesmo que tenha chegado ao Largo do Rato, ou encravou ou terá entupido o canal de comunicação que nos concederia o privilégio de perceber alguns meandros da questão.

Tudo isto continua na baila porque, não esqueça 'cascacebola', estão em jogo muitas centenas de milhar de euros de dinheiros públicos, verbas saídas dos impostos pagos por contribuintes a quem assiste o inalienável e inequívoco direito de saber o que de bem e mal é feito com tais recursos.

Anónimo disse...

O comentário que coloquei sobre este assunto, foi ao seu post do dia 24 de Outubro.
emília reis

Anónimo disse...

Ao Dr. João Cachado

Acabo de ler o comentário do Dr. Cachado ao tal mail que o cascacebola lhe enviou e acho que tem razão pois os dinheiros públicos não podem ser desbaratados. Mas vai desculpar o meu desabafo: não perca tempo com esse Serra Lopes.Essa gente não se caça com armas ao nosso alcance. São altos figurões. Parabens e força para as outras lutas.
A sua ex-aluna,
Vanessa Serrano

Sintra do avesso disse...

Para Emília Reis,

Então, ereis, sempre era a minha amiga... Pelos vistos, ter-me-ei enganado a citar o seu comentário, datando-o do dia anterior. Vou já emendar o erro.

De qualquer modo, em nada se altera o que ambos escrevemos. Na realidade, e, para que fique bem claro, desconheço a existência de qualquer opinião proferida por técnico a quem devamos crédito. Até pode ser que exista, repare a Emília Reis. Eu é que ignoro. E, naquele contexto inerente ao desbaste das árvores, também lhe pediria que, comigo e com todos os leitores do blog, partilhe qualquer informação de que,, eventualmente, disponha.

As melhores saudações do

João Cachado

Sintra do avesso disse...

Para Emília Reis,

Então, ereis, sempre era a minha amiga... Pelos vistos, ter-me-ei enganado a citar o seu comentário, datando-o do dia anterior. Vou já emendar o erro.

De qualquer modo, em nada se altera o que ambos escrevemos. Na realidade, e, para que fique bem claro, desconheço a existência de qualquer opinião proferida por técnico a quem devamos crédito. Até pode ser que exista, repare a Emília Reis. Eu é que ignoro. E, naquele contexto inerente ao desbaste das árvores, também lhe pediria que, comigo e com todos os leitores do blog, partilhe qualquer informação de que,, eventualmente, disponha.

As melhores saudações do

João Cachado

Sintra do avesso disse...

Minha cara Vanessa,

Não posso discordar mais da tua opinião, embora agradeça os teus votos.

Na realidade, não me passa pela cabeça que os tais 'altos figurões' possam desafiar a comunidade, ficando impunes porque as nossas armas não têm hipótese de atingi-los...
Valha-te Deus, Vanessa, parece que esqueceste o episódio de David e Golias; que a fabulosa figura de Don Quixote nada te diz; que, apesar da mortal rotina de Sisifo, não há um Prometeu redentor... E minha querida ex-aluna, sempre te digo que a caneta entre os dedos pode ser uma arma temível.

Continua a participar nestas trocas de impressões. Saudades do teu velho professor,

João Cachado

Anónimo disse...

Olhe João,

Assinei ereis nos comentários anteriores, não para esconder qualquer identidade mas porque foi assim que, a partir do momento em que as pessoas começaram a conhecer o meu nome, emília reis, eu passei a identificar-me nos blogues “Rio das Maçãs”, “Serra de Sintra” e no viajante “Trans-atlântico”. Parti do princípio de que o João Cachado era também leitor desses espaços e que tinha já essa informação, foi esse o motivo.

Agora SÓ sobre o assunto do abate e corte de árvores.

Eu não me referi às intervenções no Parque de Monserrate, que não conheço, nem das bermas das estradas, com que,em princípio, concordo. Referi-me sim à forma como a P.S.M.L. se relacionou com aqueles que a interpelaram aquando da limpeza e abate de árvores na zona dos Capuchos e nalgumas zonas da Tapada D.Fernando, sobretudo aquela que foi efectuada junto ao parque de estacionamento aí deixando uma clareira enorme. Alguns blogues, nomeadamente os “Serra de Sintra” e “Rio das Maçãs”, perante aquelas intervenções, questionaram por e-mail a P.S.M.L., que, meio atabalhoadamente e tarde,lhes respondeu no Alvôr de Sintra, fazendo depois a primeira coisa por que devia ter começado – a colocação de placas informativas nos locais intervencionados.

É verdade que não eram árvores centenárias as acácias adultas que foram abatidas mas é discutível se a sua manutencão não seria benéfica criando sombras que evitassem a proliferação e crescimento de outras mais jovens. É esta a opinião, por exemplo, de silvicultores que conhecem o problema.

Em Novº. de 2001 um jornal diário e também a “Naturlink” informava que, com vista ao problema grave da proliferação e erradicação das infestantes na Serra, tinha sido criado o Centro de Investigação e Experimentação Florestal dos Parques de Sintra, de que faziam parte três Organismos – a P.S.M.L. que iniciaria, nesse ano, um plano quinquenal de estudo e erradicação, o P.N.S.C. que iria candidatar-se a um programa europeu e a D.G.F. que jogaria na condução das acácias para os pontos altos, a fim de criar zonas sombrias prejudiciais às que ficam mais abaixo. Apenas no Parque da Pena me lembro de ouvir dizer que tinham sido feitas, nessa altura, algumas experiências piloto.

Agora as pessoas perguntam-se. É a estratégia preconizada por este "Centro de Investigação ..." ou por outra entidade competente, a que está a ser seguida neste caso? Ou terá a P.S.M.L. que, daqui a algum tempo, voltar a contratar a empresa“Sequoia Verde”, a quem foram adjudicados estes trabalhos (e a quem está a pagar-se, ao que consta, 4 000 euros por hectare mais a madeira), para intervencionar os mesmos locais?


Eu até acredito que algum plano exista e que esteja a ser aplicado correctamente, tanto mais que parece ser o Engº. Jaime Ferreira profissional competente. Parecia-me é que, por transparência, uma vez que implica custos elevados, a informação devia ter sido mais completa, clara e sobretudo fornecida antes das intervenções começarem.

Criou-se assim o ambiente propício à desconfiança e à especulação que não dignificam nem prestigiam a Administração da P.S.M.L., por muito competentes que sejam os seus membros.

Um abraço
ereis

Sintra do avesso disse...

Emília Reis, cara amiga,

Muito obrigado pelo circunstanciado esclarecimento que trouxe a este espaço.

Em primeiro lugar, deixe-me esclarecer, relativamente à sua designação «Monserrate», que não coincide com o que eu referi. Não escrevi nada que se passe no Parque de Monserrate, mas, isso sim, em terrenos de um e outro lado da estrada, no sentido de quem desce em direcção a Monserrate, antes de chegar às entradas do parque, que estão sendo objecto de uma profunda intervenção de desbaste - nada que se possa confundir com limpeza de bermas - em que nada vejo de incorrecto.

Com respeito a tudo o resto, é claro que tenho vindo a acompanhar aquilo que, nem sequer aproximadamente, considero que constitua polémica. Terá havido um ou outro mal-entendido e, evidentemente, a falta de uma eficaz estratégia de comunicação dos objectivos das várias intervenções em curso. Felizmente, tão somente isso, nada mais. Substantivamente, portanto, em relação à eventualidade de objectivas incorrecções, nada emergiu que seja motivo para preocupação.

Parece-me também, a todos os títulos flagrante e sintomático que, no preocupado afã de acompanhar as atitudes de intervenção nas matas -especialmente no que toca os desbastes e o ataque às infestantes, cuja necessidade foi denunciada e proclamada anos e anos a fio por muitos de nós - não haja quem acabe por cair na tentação de aplicar esforços em lutas estéreis, cujo resultado cobrirá de ridículo gente afinal empenhada, vindo a ser objecto de epítetos semelhantes aos de «defensores das florzinhas da Volta do Duche» a exemplo do que, um dia destes, um frequentador deste blog que se assina 'Saloio'
teve oportunidade de ironizar e, na minha opinião, com toda a oportunidade.

E, para todos os efeitos, minha cara amiga, continuo na minha posição de esperar que venham a público as opiniões abalizadas, autorizadas, devidamente assinadas por técnicos que saibam «da poda», engenheiros silvicultores de preferência, contestando, com os argumentos que a lógica determina, as intervenções da PSML.

Até esse momento - se tal vier a acontecer, o que duvido - manterei discreta reserva, continuando atento mas confiante na eficácia e correcção das operações em curso. É que, tal como a Emília Reis teve oportunidade de escrever, está em curso a concretização de um plano, conduzida por um homem competente.
Tudo o resto é ruído, coisa menor que uma boa conversa poderá esclarecer.

Não terminaria, sem lembrar o que ontem escrevi, lembrando as intervenções que tenho acompanhado nas minhas andanças no centro da Europa. O caso mais espectacular dentre os que mencionei é, efectivamente, o de Salzburg, cidade implantada num vale, rodeado pelos montes de Mönchsberg e Kapuzinerberg onde, cada ano que passa, assisto a desbastes sistemáticos, numa escala absolutamente impressionante, que levariam qualquer ignorante a verberar [cá está o verbo que a Emília Reis considera «feio»] contra os assassinos que se permitem perpetrar tão horrendo crime...

Como lá me desloco duas e três vezes por ano, em pleno Inverno, na Primavera e, por vezes, no Verão, vou acompanhando os ciclos sazonais, para verificar que, afinal, apesar da impressionante escala, aquelas intervenções mantêm tão famosas florestas com lindíssimo aspecto, saudáveis e produtivas. O mesmo acontece nas Salzkammergut, montanhas mais afastadas da cidade e, naturalmente, na Baviera, mais a norte, tanto nos arredores de Bayreuth, como em Neuschwanstein e Hohenschwangau.

O que há dezenas de anos vejo por lá, só agora estou a assistir em Sintra. Diferentes são as espécies em presença mas a atitude, finalmente, é a mesma por cá.
O que me custa a admitir é que, podendo ter actuado como era suposto, se tenha perdido tanto tempo, anos e anos de criminosa irresponsabilidade que a actual administração da PSML pôs termo.

As melhores saudações do

João Cachado

Fernando Castelo disse...

Meus amigos, na verdade é bom ver-se este tema pelas árvores e não pela rama.Infelizmente a nossa riqueza arbórea está em muito mau estado, porque pouco ou nenhum tratamento foi feito, tal como o controlo das doenças. Há técnicos capazes? Sem dúvida. Mas quantas vezes são ofendidos (digo ofendidos) por figurinhas que só denotam fobias pelos cortes e que, sem nenhum peso efectivo no meio, conseguem ser escutadas pelos responsáveis? Depois, quando surge uma tragédia relacionada com qualquer queda, fingem nada ter a ver com as pressões feitas junto de responsáveis. Assim temos vivido nos últimos anos e vamos a ver as consequências futuras. Vejam, por exemplo, o porte que estão a atingir alguns plátanos na Volta do Duche e que já eliminaram a paisagem sobre a Várzea, uma das perspectivas criadas quando do alargamento daquela via. Temos aquele jóia que é o Valenças e lá encostado, já temos outro plátano, com raízes que devem estar ligadas à estrutura do edifício. Com aquele porte e sempre a crescer, num dia de ventos fortes vamos a ver o que sucede. Pergunte-se ao departamento da CMS responsável por esta área quais os resultados de exames a muitas árvores e porque não se tomam medidas.
É isso que não se passa com os responsáveis daquelas belas florestas da Baviera que JC aqui referiu.
Permitam que fale de duas coisas mais: das acácias que, no oriente, são espécies muito valorizadas e respeitadas; das árvores cortadas que têm servido de pretexto para uma central de biomassa...mas estarão a fazer parte do negócio da limpeza das matas. A ser como aqui se diz, não aprovo que quem corte fique na posse do cortado, pois pode ser um incentivo para certos exageros...
Os meus muito respeitosos cumprimentos para os participantes.

Sintra do avesso disse...

Meu Caro 'Saloio',

O meu amigo insiste e, muito bem, naquele assunto das pessoas que, em Sintra, se afirmam da Defesa do Património, natural e edificado, cuja preparação científica quer numa quer noutra vertente é nula. No entanto, tão cândidas criaturas, no seu dizer "(...) figurinhas que só denotam fobias pelos cortes(...)" permitem-se ofender técnicos competentes e, pasme-se perante o paradoxo, conseguem continuar a beneficiar da consideração da autarquia, apesar de completamente desacreditadas por militantes das causas do Ambiente e do Património Cultural que fogem de tal gente como o diabo da cruz...

Atenção, no entanto, que não confundo Emília Reis com tais «defensores das florinhas da Volta do Duche». É que Emília Reis se posicionou com certas reservas, é certo, em relação ao ataque às infestantes, mas numa perspectiva construtiva, inclusive, reconhecendo a capacidade técnica de quem está a conduzir o processo. Estou em crer que a intenção do 'Saloio' também não ia no sentido da confusão que tenho o cuidado de desautorizar. E faço-o, tão somente, com o objectivo de alertar qualquer participante que, embalado numa pressa qualquer, possa ser induzido à formulação de um juízo menos conveniente.

Agora tenho de interromper. Quem me conhece, sabe das minhas andanças melómanas. Lá vou eu, mais uma vez nesta semana, para a Gulbenkian. Um dos meus amigos que se considera melómano mas que, nem por sombras anda no meu doce «desassossego», costuma dizer que eu devia alugar um quartinho, lá para as bandas da Praça de Espanha...
Seja como for, isto sem música, não funciona. E da melhor, que a Sacrossanta Fundação, graças a Deus, não se prende a ninharias para trazer até Lisboa a qualidade superlativa e absoluta.

Até logo.

Sintra do avesso disse...

Caro amigo 'Saloio'

Para continuar e terminar a resposta ao seu comentário.

Sou tentado a concordar consigo no que respeita o grande porte dos plátanos da Volta do Duche. Embora estejam protegidos pela grande muralha que constitui o Parque da Liberdade, dos ventos que possam vir do alto da Serra, o mesmo não acontece em relação aos que chegam de poente. De qualquer modo também me parece que apenas ventos muito fortes, praticamente ciclónicos, poderiam ter os efeitos a que alude.
Tendo citado Salzburg, é curioso que, em 2006, a região foi surpreendida e assolada por uma tempestade com ventos rondando duzentos quilómetros à hora. Uma coisa absolutamente rara que ocorre uma vez em centenas de anos. E, nos montes, o resultado não foi bonito de se ver... Vi muitas árvores centenárias arrancadas pela raíz, árvores sob as quais terão passeado Mozart, Haydn, monumentos elas próprias, reduzidas a cilindros pelos cortes das motosserras que, de imediato, limparam o que havia para limpar. Eu assisti a essas operações que, para mim, foram autêntica formação cívica. Fica para outra altura conversar acerca do caso. Mas quem sabe destas coisas é, por exemplo o Francisco Caldeira Cabral. Que bom seria se ele interviesse neste espaço, a esclarecer se o problema que o senhor coloca é realmente preocupante e, sendo-o, até que ponto. Vou ver se consigo contactá-lo ou à mulher, que é professora na Faculdade de Letras é, portanto, para mim, muito mais fácil de encontrar, a quem pedirei que dê uma palavra ao marido.

Finalmente, no que respeita o assunto do destino da matéria lenhosa resultante dos desbastes, tenho presente um artigo muito interessante que um meu amigo, o Fernando Castelo, publicou no Jornal de Sintra há uns meses, a denunciar a prevista central inceneradora de biomassa que, à semelhança de casos aem terra alheia, lhe parece ser apenas a máscara que esconde um negócio escabroso já que, para funcionar em termos de rentabilidade de operação, terá que ser alimentada por outro tipo de combustíveis cujo controlo escapa aos cidadãos que podem ficar sujeitos à periculosidade dos efeitos de gases carregados de nocivas toxinas. Olhe, caro 'Saloio',isso é que deveras me preocupa. É para essa eventualidade que devemos voltar a nossa atenção. Não misturemos as coisas.

Sempre à espera da sua intervenção, aqui fica a fraternal saudação saloia do

João Cachado

Anónimo disse...

Bom, em resposta ao seu comentário anterior, arrisco em lançar ainda mais algumas achegas para a discussão, no que diz respeito à actuação da P.S.M.L.,posicionando as minhas intervenções sempre numa perspectiva construtiva, como diz o João Cachado, mas não inibindo nunca o meu sentido crítico para, lucidamente, poder tomar consciência daquilo que me parece estar mal.

Começo pela competência dos membros do Conselho de Administração e Técnicos, só dos que tenho alguns dados:

O prof.António Lamas, seu presidente, embora engº. civil de formação esteve à frente do IPPC, antigo IPPAR, entre 1998 e 1990, e é coordenador dos cursos de pós graduação e mestrado do I.S.T. sobre Recuperação e Conservação do Património Construído – as funções que desempenhou e desempenha ainda, garantem-me à partida, que poderá ser a pessoa certa no lugar certo e o ter proposto e visto aprovado por todos os parceiros da P.S.M.L. a gestão conjunta do Palácio e do Parque, assim como a candidatura e obtenção do financiamento atribuído pela E.F.T.A. parecem-me positivos. Ao nível dos parques, salvo alguma intervenção muito pontual, incluindo a substituição dos polémicos postos de atendimento, não todos, ainda, mais nada vi.
Os seus honorários devem ter correspondência com o seu currículo e, por conseguinte, só se lhe pode pedir que faça bem, em conjunto com outros técnicos a quem terá concerteza que recorrer, nomeadamente arquitectos paisagistas, talvez também historiadores e engºs. silvicultores que deverão ser, também, competentes. Eu espero que sejam.

Agora sobre o Eng. Jaime Ferreira, funcionário do I.C.N., ao serviço da P.S.M.L. já no tempo da administração do Dr.Serra Lopes.

Sei que foi sob a sua orientação que foram efectuados os principais trabalhos de recuperação de vastas zonas do Parque da Pena onde incluo as Feteiras, da Rainha e da Condessa, a limpeza de, seguramente, alguns quilómetros de caminhos (hoje muitos deles já intransitáveis outra vez, porque não basta limpar, é preciso manter) e dos inúmeros pequenos lagos que estiveram num abandono total durante muitos anos. A propósito aproveito para mencionar o senhor Cavalleri, membro desta equipa, que, fazendo-me lembrar os antigos jardineiros do Parque, perto da Fonte dos Passarinhos cuidadosamente regava um feto arbóreo, já mais morto que vivo, mas que teimava em querer rebentar. Mais tarde, com a “mudança”, sei que estava a recibos verdes, deixou a P.S.M.L. O feto está lá ainda, mas já seco.

Tudo o que mencionei são coisas positivas a favor do eng. Jaime Ferreira que os meus próprios olhos comprovaram não mo disseram.

Acerca do seu conhecimento sobre o problema da erradicação e controlo das infestantes na Serra, ouvi também opiniões positivas, é verdade, o que não quer dizer que as estratégias escolhidas, que pecam pelo pouco que delas se conhece, sejam as melhores. Fica assim a dúvida.

Agora aproveito para adiantar aquilo que me tem ressaltado como negativo nesta Administração.

O Dr. João Lacerda Tavares, licenciado em direito, julgo, administrador da Empresa, por parte da Câmara Municipal de Sintra a propósito da atribuição do financiamento pela E.F.T.A. que vai cobrir parte das obras de reconstrução do Chalet da Condessa (eu gosto deste “chalet” com t), ao “Alvôr de Sintra” afirmou que: este desafio (o da reconstrução) é acompanhado de outro “a recuperação do seu conteúdo móvel, espalhado por vários museus” desde que o edifício foi danificado por um incêndio.

Ora é sabido, já o disse e escreveu a Drª. Lilia Solipa Pereira, aquando do Colóquio comemorativo do 1º Centenário da morte de D.Fernando em 1985, que o mobiliário original do tempo da Condessa tinha sido por ela retirado depois de ter deixado de passar parte do Verão na Pena. Encontram-se na posse dos seus descendentes algumas peças, poucas, segundo parece, mas onde se inclui ainda o serviço de jantar, chamado das urzes. Qualquer outro mobiliário que tenha estado no seu interior não foi contemporâneo da Condessa e, pelo menos, a partir de 1950, um único móvel com algum valor lá permaneceu: “uma consola em madeira de mogno e tampo em pedra mármore, que em bom tempo cedi ao Dr.Carneiro para que figurasse no Palácio da Pena” assim mo escreveu em 2002, o senhor Engº José Joaquim Calçada de Oliveira que esteve à frente dos Serviços Florestais de Sintra.

Ora eu não posso felicitar o Dr.Lacerda Tavares, como o fez o João Cachado num dos seus posts, porque a ignorância que manifestou (espero que não seja partilhada pelos seus colegas) me parece grave.

A falta de diálogo com a opinião pública que a Empresa demonstrou, pelo menos, nas seguintes situações que são do meu conhecimento também me parece negativa.

Primeiro, no incidente do corte de árvores. Repare, as pessoas que levantaram o problema não sabiam sequer que as infestantes, acácias e pitosporos, eram uma grave praga na Serra de Sintra, elas próprias o escreveram mais tarde nos seus blogues. Mesmo o seu leitor “Saloio” disse num comentário atrás, que as acácias, no oriente eram espécies muito valorizadas e respeitadas, o que eu não desminto mas que, aqui, sob o risco de termos a Serra só povoada com essas espécies, têm que ser controladas.

Ora não seria a altura ideal para uma campanha de sensibilização da opinião pública para esse problema? Eu li, há tempos, não com referência aqui a Sintra, um apelo feito no sentido de que, se todas as pessoas que passeiam pelas florestas onde as acácias existem se dessem ao cuidado de arrancar algumas das pequenas árvores que por lá germinam, só isso, já seria bom.

Depois, a demora em receber o Grupo restrito dos elementos da Alagamares que se propuzeram lutar pela recuperação do Chalet. Foi solicitado no mês de Dezembro de 2006, penso que por e-mail, um encontro com o prof. António Lamas, que foi reiterado mais tarde pelo telefone e depois por escrito em 21 de março de 2007. Sabe quando se efectuou a reunião? No dia 7 de Maio e só possivelmente porque o presidente da Alagamares com o senhor se encontrou num evento no Parque de Monserrate e pessoalmente lho solicitou.

Perto de cinco meses foi muito tempo e eu não gostei.

O mapa do Parque da Pena distribuido aos visitantes à porta dos Parques está cortado. Uma pessoa que nele procure, porque sabe que existe, o Chalet da Condessa ou o Alto do Chá, para dar só dois exemplos, não os encontra. Eu própria já acompanhei até ao Chalet uma família que estava a pedir essa informação na esplanada do Picadeiro. Nenhuma desculpa justifica esse corte porque as pessoas estão a ser enganadas.

E para terminar.

Sabe com quantos estudantes de um colégio situado na zona de Cascais partilhei eu uma visita ao Convento dos Capuchos, onde me desloquei com uma amiga no passado dia 17 de Setembro? 60 (sessenta). E sabe o que estavam a fazer (em grupos de vinte, e grande borborinho com mochilas espalhadas pelo chão) aqueles adolescentes? A medir com fitas métricas as várias dependências do interior do Convento para a posterior execução, à escala, e em barro, de uma sua réplica, isto para um trabalho da área de matemática. Soube depois por uma responsável do colégio que, antecipadamente, tinha sido solicitada à P.S.M.L.,uma visita guiada respondendo a Empresa que isso não seria possível. Adiantou-me também que todos aqueles meninos tinham pago o seu bilhete.

Os funcionários da P.S.M.L. que vi foram apenas dois. Um na bilheteira e outro dentro do Convento, incapaz, sòzinho, de manter a ordem e o respeito ali necessário.

Tudo isto acompanhado com “música de fundo” executada por uma motosserra que desbastava ali perto as árvores, e uma trituradora que por uma ponta “engolia” os pequenos troncos e logo ali os “vomitava” pela outra, já triturados.

Não sei o que pensaram os outros visitantes que se encontravam no monumento naquela altura, a minha amiga, por mim e por ela, entregou na bilheteira uma reclamação por escrito, em impresso próprio da Empresa, onde deixou indicada a sua identificação e contactos, inclusivé o mail. Até hoje não recebeu qualquer justificação ou pedido de desculpa.

Por muito competentes que sejam os actuais membros do Conselho de Administração da P.S.M.L. eles não terão nunca a minha “carta branca”. Sempre numa perspectiva construtiva, denunciarei aquilo que achar mal e valorizarei, sem precisar de lhes agradecer, porque essa é a sua obrigação, aquilo que fizerem bem.

Também as melhores saudações, da

emília reis

Sintra do avesso disse...

Emília Reis,
Minha Cara amiga,

Como é que eu hei-de dar-lhe a entendereu que a qualidade e a quantidade da sua participação chega a comover-me? Palavra de honra, é verdade. Começa uma pessoa abalançando-se a uma coisa destas - o sintradoavesso, como espaço de partilha das preocupações que nos afligem, não como muro de lamentações mas, isso sim, no sentido de operacionalizar o nosso direito à indignação - e, às tantas, recebe a réplica de pessoas que nisto se empenham, como é o caso da Emília Reis, mas que se empenham numa escala perfeitamente inusitada.

Portanto, antes de continuar, penso que, em nome de todos, desde os «apenas visitantes» aos «comentaristas de serviço» deste blog, devo agradecer-lhe pela qualificada participação com que nos brinda, enriquecendo-nos com um autêntico acervo de memórias, qual arquivo vivo, que muito nos pode ajudar a crescer para a eventualidade da necessidade de tomada de posições afiins da intervenção cívica pública.

Sabe a Emília Reis que, a nível pessoal, eu conheço, pelo menos, razoavelmente bem, tanto as problemáticas mais ou menos contundentes como as mais ou menos pacíficas, inerentes a cada um dos casos patrimóniais sob custódia da PSML. Tal como a minha amiga e outros militantes destas causas, com toda a descrição, faço o possível por me ir deslocando, periodicamente, de Monserrate para o Castelo, deste para a Pena e Capuchos, observando, fazendo registo escrito do que permanece e do que se vai alterando, tentando responder constantemente às questões da pirâmide de informação.

E o que tenho constatado, cara amiga, grosso modo, não há dúvida que coincide com o que a Emília Reis tem partilhado connosco com tanto pormenor. No entanto, como tem tido oportunidade de avaliar, nem sempre, as minhas considerações coincidem com as suas conclusões.

Parece valer a pena que me detenha um pouco acerca das razões que esclarecerão a aparente disparidade ou não total coincidência das nossas opiniões.

Por favor, em primeiro lugar, não deixe de ter em consideração que os textos por mim diariamente publicados, entre outros objectivos, também pretendem ser desafiadores da participação. Tal significa que, não sendo panfletários, também não podem parecer inertes e, inequivocamente, também não são inermes. As armas que neles residem, podem estar subtilmente camufladas sob um inocente aplauso... Então não é previsível que os destinatários do texto discordem de um elogio? Naturalmente...

É no contexto deste duplo enquadramento que se define o perfil dos textos que publico cada dia que passa.

Todavia, no que se refere aos elogios, absolutamente inequívocos,
que tenho prodigalizado à administração da Parques de Sintra Monte da Lua, esse carecem de leitura complementar. É que, depois das verdadeiras malfeitorias e omissões do consulado do biólogo Serra Lopes, sinto-me no dever de sublinhar - tão positivamente quanto julgo adequarem-se tais aplausos - o caminho que o conselho sob coordenação do Professor António Lamas tem vindo a percorrer.

Olhe, cara amiga, pode mesmo ter como certo o facto de o biólogo me ter dado cabo de toda a capacidade de encaixe com que terei sido dotado.

Foram tantos ou tão poucos os desconchavos, tantas as ofensas, tanta a hipocrisia de que esse senhor deu prova [coroada com aquela atitude de assinalar o eucalipto que Fernando e Elise plantaram no dia do seu casamento, numa aparente homenagem, que não passava, isso sim, da evidência dos sintomas da culpa decorrente da incapacidade de os ter homenageado como, efectivamente, mereciam, ou seja, através de obras...]
que, actualmente, apesar de alguma
provável incorrecção, sou levado a
partilhar com os membros do actual CA da PSML o sucesso que vão tendo direito a ser-lhes reconhecido.

Não quero deixar passar a oportunidade para lhe lembrar que, no caso específico do Vereador João Lacerda Távares, jamais perdi a ocasião de, mesmo publicamente, lhe devolver o espelho de certas actuações, na minha opinião, reprováveis. Tal aconteceu, por exemplo, precisamente na altura em que o biólogo, apesar das auditorias e da investigação da Polícia Judiciária nos escritórios da empresa, continuava a fazer parte do Conselho de Administração. E, não somente nessa ocasião. Como sei que a Emília Reis é minha leitora do Jornal de Sintra, poderá confirmar a veracidade desta minha posição através da leitura de alguns dos meus artigos ali publicados, com bastantes parágrafos directamente visando posições do Dr. João Lacerda Távares.

Com as melhores saudações e toda a consideração,

João Cachado