[sempre de acordo com a antiga ortografia]

quinta-feira, 1 de novembro de 2007

Conservatório
de Música de Sintra


Ao ensino da Música, não tem sido conferido, em Portugal, o estatuto de dignidade que, há mais ou menos tempo, lhe é reconhecido na maioria dos países da União Europeia. Princípios perfeitamente assumidos em terras com tradição cultural no ensino da Música - que vão no sentido de concluir que a sua aprendizagem, desde a mais tenra idade, constitui importantíssima mais-valia para a aquisição de competências noutros domínios, como a Língua Materna e a Matemática - no nosso país, se não são desconhecidos, estão muito longe de serem adquiridos pelo vigente Sistema de Ensino.
No entanto, apesar de constrangimentos de toda a ordem, mesmo entre nós, não admira se faça uma certa sensibilização das famílias que, naturalmente, procuram estabelecimentos de ensino musical onde os seus educandos possam aceder à aprendizagem que, escandalosamente, anda arredada do ensino formal, no primeiro ciclo, embora algumas medrosas tentativas a mascarem de actividade curricular, sob a eufemística capa de um enriquecimento que esconde franciscana pobreza...
Política do vão de escada...
Tudo isto vem a propósito do excelente artigo de Graça Pedroso, que ocupa as páginas centrais da edição deste semana do Jornal de Sintra, acerca da injusta e flagrante falta de condições de funcionamento do Conservatório de Música de Sintra, cuja articulação institucional com a Câmara Municipal de Sintra não deixarei de salientar como positiva. É incrível o conjunto de iniciativas concretizadas pela Escola de Música sediada em Rio de Mouro. Todavia, é inimaginável como se consegue ensinar música, trabalhar em condições que tais, num país da União Europeia.
Em Portugal, continua a haver quem pense que o Ensino é um sacerdócio. Ouvimos isto há gerações. Quando se lê um artigo como o da Graça, aquela peregrina e religiosa ideia tende mais para o martírio... Manda a sinceridade afirmar que, na realidade, nada do que vem estampado nas páginas do JS nos apanha desprevenidos ou surpreende. Então não sabemos todos que o tecto do Salão Nobre do Conservatório Nacional de Lisboa, pintado por Malhoa, está em risco de queda iminente, por falta de obras de manutenção, que sucessivos Ministros e Ministras da Educação e da Cultura ainda não conseguiram dar despacho favorável?
Pois é, o dinheiro não estica. Aquilo que há anos se gastou, se esgotou, nos malfadados estádios de futebol - numa operação conduzida por um Ministro de então, hoje Primeiro Ministro, a quem convém se esqueça o fiasco - actualmente é uma miragem. Não dá para mandar cantar um cego quanto mais para mandar ensinar música, com dignidade, em edifícios e salas adequados...
Se, em Sintra, não nos valer um certo mecenas, que não se importe de ficar na História, na classe dos filantropos de alto coturno, capaz de ceder um bom edifício, ainda que devoluto e decadente mas perfeitamente prestável, como o do cinema da Portela, para uma grande Casa da Educação Musical, deve ser muito difícil que as crianças e jovens da actual e futuras gerações vejam concretizado o direito que têm outros meninos e meninas mais felizes, apenas porque, por exemplo, nasceram na Polónia ou na República Checa, países que não deixam os seus créditos do ensino e da aprendizagem da Música pelas ruas da amargura.
Para que conste, com o objectivo de concretizar o desiderato supra, o subscritor destas palavras avança já para a primeira linha daquilo que quiserem considerar, sei lá, abaixo-assinados, petições, qualquer estratégia legal de pedinchice em que a lusa condição é tão pródiga. O sintradoavesso.blogspot.com está aberto às generosas inscrições para o indispensável debate inicial de ideias.

9 comentários:

Anónimo disse...

Nunca escrevi num blogue e não sei se resulta. Uma pessoa amiga deu-me a ler o assunto porque já sabia que me diz-me respeito. Tem piada que há uns dez anos, O Dr João Cachado foi professor da minha amiga Cidália de que não me lembro do apelido, que ainda hoje o elogia muito. Tenho um filho no Conservatório de Música de Sintra e confirmo o que escreveu. Ainda não li o artigo do jornal de Sintra mas ainda bem que estão a denunciar a questão das instalações porque talvez se consiga fazer alguma coisa. O cinema da Portela não pertence ao Justino da fábrica de São João das Lampas? O Dr Cachado acha que ele será pessoa para dar um edifício daqueles? Eu custa-me acreditar.

Helena

Sintra do avesso disse...

Para Helena,

Como vê acabou por resultar. Começa por escrever sobre uma sua amiga Cidália que terá sido minha aluna mas de que não recorda o apelido. Pois, sem apelido, não vou lá. Não é um nome muito comum mas, nestes últimos dez anos, tive uma boa meia dúzia de Cidálias como alunas. Se é sua amiga, com certeza poderá contactá-la a perguntar o sobrenome, pretexto bastante para voltar ao sintradoavesso... Vai ver que lhe toma o gosto.

No que respeita as instalações do Conservatório, tem que se arranjar uma solução com dignidade. Embora os nossos impostos sirvam para custear as soluções com dignidade, também é de esperar que, quem pode,
se satisfaça a si próprio e à comunidade, através de obra de filantropia que, a concretizar-se, pode e deve revestir a forma mais conveniente à satisfação dos desejos mais prementes da comunidade.

O que escrevi é tão hipotético como sair-nos a sorte grande. Não é uma brincadeira, não é um abuso. É uma hipótese. Na verdade, o edifício da Portela pertence ao Comendador João Justino. Se Comendador é, pois sê-lo-á porque o País lhe reconheceu méritos de grande empreendedor, o industrial que emprega centenas de trabalhadores. Portanto, a comunidade já lhe fez a justiça de o enaltecer entre os demais. Saberá a comunidade convencê-lo, ao ponto de o Comendador Justino não se importar de ficar na História - História com agá grande - cedendo um bem patrimonial da sua grande fortuna e, com esse gesto até constituir exemplo para outros grandes empresários?

As almas grandes assim actuam, deixam-se convencer pelas boas causas, à medida da sua disponibilidade. Vamos ter esperança de que, salvaguardada a distância da escala, anima o Comendador Justino a mesma alma que determinou o Senhor Gulbenkian ao gesto magnífico cujas conseqências toda a comunidade beneficia já há cinquenta anos. Vamos esperar que, um dia destes acorde sob a melhor inspiração e seja sensível à resolução deste problema que, na realidade, se quiser ser magnânimo, pode resolver.

Se não estivesse convencido disto mesmo, acredite que não teria erscrito o parágrafo do meu texto em que esta hipótese é ingenuamente sugerida. É uma hipótese longínqua, é certo, mas o coração dos homens, às vezes surpreende.

Saudades à sua amiga Cidália, minha ex-aluna do

João Cachado

pedro macieira disse...

Acompanhando com bastante interesse os seus textos sobre questões que preocupam todos os que gostam de Sintra, sou levado a comentar de novo um post, porque a imagem descrita sobre a personagem do Comendador, conforme as suas palavras “sê-lo-á porque o País lhe reconheceu méritos de grande empreendedor, o industrial que emprega centenas de trabalhadores” penso que não é uma imagem exacta da pessoa em causa. É uma personagem que além de ter sido Presidente da Câmara Municipal de Sintra, eleito pelo PSD em 1989, e em 1992 ter sido o primeiro eleito local a ser destituido judicialmente, tem sobre ele um longo processo judicial, derivado de ao arrepio de tudo que é lei , ter construído uma enorme mansão na sua quinta em Colares, em zona protegida do Parque Natural Sintra Cascais com quase o triplo da área de 578m2 que lhe havia sido autorizado.Estando neste momento pendente de mais um seu recurso uma decisão de demolição da ilegal construção.Mais recentemente ( Outubro 2007) a mesma personagem fez construir deteriorando um imóvel em vias de classificação(edificio que foi habitado pelo Dr Carlos França) uma vedação metálica com mais de 5 metros de altura na quinta do Pombeiro, mais uma vez sem licença camarária, não permitindo novamente que os fiscais da Câmara entrassem na sua propriedade para embargar a obra....(assunto publicado no jornal “Público” de 24 de Outubro de 2007)
Sendo uma pessoa que não respeita a lei nem os seus vizinhos, não me parece que mereça tão grande elogio.O cinema da Portela foi “emprestado” para sede da campanha autárquica a Edite Estrela, e talvez por isso a construção da mansão não fosse perturbada.Posteriormente tomou posse da administração da Empresa Galucho, ao lado de Fernando Seara, e é um benemérito dos bombeiros de Colares, entretanto vai deixando apodrecer os imóveis que tem espalhado por Sintra, à espera talvez das próximas eleições...
Cumprimentos
Pedro Macieira

Sintra do avesso disse...

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Caro Pedro Macieira,

Faça-me a justiça de considerar que eu conheço perfeitamente todas as controversas atitudesda do Comendador João Justino, em todas as facetas objecto da análise que o senhor apresentou. Leio os jornais, acompanho as razões de queixa locais e, no caso do Comendador, tenho tomado posições públicas, quer verbalmente quer por escrito, contra algumas das suas atitudes. É matéria que o Pedro Macieira pode comprovar, por exemplo, através de consulta aos arquivos do Jornal de Sintra onde vários artigos de minha autoria assim o atestam.

Está claro que o Comendador Justino não é um menino de coro e, muito menos um anjinho. E, certamente, já o não era quando a comunidade decidiu agraciá-lo.

Na realidade, que fique bem claro, eu não fiz o elogio do Comendador. Quem o fez foi a comunidade que lhe atribuiu a comenda. E Fê-lo, inequivocamente, por ser o patrão de indústria que é, empreendedor, empregador de centenas de assalariados, benemérito local e não sei que mais. Só por deturpada interpretação das minhas palavras, o Pedro Macieira nelas encontrará qualquer vestígio de elogio de minha autoria. Limitei-me a confirmar uma atitude da comunidade. Nada mais.

Agora responda-me com toda a franqueza: se o Comendador Justino, por remota hipótese, decidisse doar aquele espaço da Portela à comunidade, o Pedro Macieira seria homem para liderar um movimento de público desagravo, com o propósito recusar tal oferta na medida em que o ofertante é a controversa pessoa que todos conhecemos?

Ah, meu caro Pedro Macieira, eu também prefiro os cidadãos impolutos! Tenho-os constantemente em consideração como exemplos de cidadania. E, em Sintra, bem discretos, há poucos, mas existem. No entanto, pelo menos todos os que conheço, são pessoas de poucos teres e haveres, a maior parte nem sequer possui casa própria...

E, para finalizar, ainda acrescentaria que o nome do Comendador Justino foi suscitado numa conversa em que intervieram várias pessoas, todas bem ao corrente do seu perfil, não tendo colocado o mínimo óbice e apenas duvidando que a coisa tenha hipótese de concretização. Daí até pensar, que toda a boa gente que conhecemos, esteja disposta a fazer um pacto com o demónio para conseguir um edifício destinado ao Conservatório, parece-me abusivo...

Enfim, o que dava jeito era que aparecesse um mecenas. E quanto mais depressa melhor...

Saudações do

João Cachado

Anónimo disse...

Estou em completo acordo com o que escreveu atrás o Pedro Macieira porque, só num país onde a Justiça funciona tão mal, que privilegia sistemáticamente os que têm o poder e o dinheiro isto é possível. Quém é que se não surpreendeu já, quando olha da Várzea de Colares em direcção ao Penedo, com aquele mostruoso mamarracho a borrar a paisagem daquela encosta tão bonita?

Quanto à criação de um movimento que conseguisse concretizar a cedência, pelo Comendador seu proprietário, do Cinema da Portela (ele também, neste momento, um borrão mesmo em frente do edifício da Câmara), para nele instalar “uma grande Casa da Educação Musical”, como diz o João Cachado, eu estou plenamente de acordo e participarei se for necessário.
ereis

Sintra do avesso disse...

Emília Reis,
Cara amiga,

Quando, há pouco, escreveu a sua mensagem, espero tenha tido em consideração a resposta que remeti ao Pedro Macieira. Naturalmente, tal como a menina, também eu concordo com tudo o que ele recordou sobre as criticáveis atitudes de quem se permite colidir com os interesses e direitos da comunidade, sem que o. o Sistema Judicial, na defesa da comunidade, consiga ressarci-la, em tempo útil, das ofensas contra si perpetradas.

[Atenção, quando faço uso do termo 'comunidade' refiro, em simultâneo, a comunidade nacional, significando tal abrangência, portanto, a incluindo da comunidade do doncelho de Sintra. Não nos esqueçamos de que as comendas são atribuídas pela Presidência da República, em nome de todos os portugueses...]

No meio de tudo isto, não deixa de ser paradoxal que a comunidade - acusando hoje os efeitos de ofensas entretanto cometidas pelo cidadão em causa - seja a mesma que, através dos sofisticados meios de demonstração da sua pública gratidão, o tenha oportunamente agraciado... E não me rebaterão que, ao tempo da atribuição da comenda, a comunidade desconhecia o completo perfil do cidadão...

Mas, vamos lá ver, será assim tão paradoxal? Onde é que nós já vimos, ouvimos e lemos esta história, ainda que com diferentes contornos? Foi em Sintra, em Portugal, ou noutra qualquer latitude?

E, por favor, não entendam que é minha intenção veicular a ideia de que a comunidade teria conveniência em passar um pano por cima de tudo quanto está por esclarecer, confiada que estaria na concretização da hipótese de benemérita atitude da cedência do edifício... Claro que não!

Será que podemos ou ainda não vamos rematar este aparente diferendo, suscitado pela enviesada interpretação do Pedro Macieira que, nas minhas palavras, descortinou a ideia de que eu teria feito elogios ao Comendador?

Finalmente, quanto a integrar movimentos a favor da cedência do espaço em questão, parece que já somos vários... Não contem comigo para liderar seja o que for. Outra coisa é participar. Provavelmente, teria a sua piada não deixar cair a ideia e falar também com a Graça Pedroso, de Colares, autora do artigo do Jornal de Sintra que me despertou para esta... luta(?)

As melhores saudações do

João Cachado

pedro macieira disse...

Caro João Cachado,

Os cidadãos (principalmente os que detém algum poder)como bem sabe, funcionam na maioria dos casos em função dos seus interesses pessoais (infelizmente), e no caso em referência parece que só funciona desse modo, e sempre com bastante proveito.

Não pretendendo tornar demasiado longo esta resposta, e indo directamente ao assunto; a minha opinião (embora tenha dúvidas que a pessoa em questão comece a ser altruísta sem receber nada em troca), mas considerando a hipótese em teoria , de que entregaria o edificío (antigo cinema da Portela)sem contrapartidas,-para ser utilizado para escola de música, esse facto seria considerado por mim algo de positivo.

Conhecendo o curriculum da personagem, receio bem que houvesse antes algum acordo secreto para que como contrapartida o Presidente Fernando Seara continuasse a “esquecer-se”- de assinar o despacho que indefere o projecto da mansão(recordar que o que motivou a suspensão pelo juíz sobre a demolição da mansão foi o facto de estar pendente na câmara o indeferimento do projecto quando o despacho de demolição foi proferido em Dezembro, passado)

Cumprimentos
Pedro Macieira
Ps: e talvez a legalização da sua última obra clandestina em Colares

pedro macieira disse...

Continuação do meu comentário anterior.
Sobre as comendas:
A comunidade também tem as suas hipocrisias...há interesses envolventes nas atitudes dos seus membros...por esse motivo atribuição de comendas não estão isentas desses “pecados”.
Cumprimentos
Pedro Macieira

Anónimo disse...

Meus caros,
Nao percam mais tempo a falar do
" sexo dos anjos."