[sempre de acordo com a antiga ortografia]

segunda-feira, 18 de fevereiro de 2008

Risco de opinião

Não é difícil entender mas custa a aceitar a atitude de certas pessoas, entidades públicas e instituições, perante a crítica mais ou menos contundente de cidadãos, que se permitem continuar a emitir opinião livre, no Estado Democrático de Direito que consideram ser aquele em que vivem.

O próprio ambiente em que tais reacções se manifestam, o modo como se expressam, a quantidade de processos e ameaças de processos judiciais, são factores altamente dissuasores que, nitidamente, condicionam a formulação de qualquer opinião mais veemente, que ultrapasse, ainda que minimamente, a estagnação do loudaçal em que nos vemos mergulhados.

O recurso a manobras intimidadoras, por parte dos pretensos ofendidos, com o objectivo de que nos sintamos condicionados, receosos quanto aos efeitos de qualquer opinião que possamos exprimir, não só acerca de certas figuras do Estado mas também sobre a actuação de serviços, passou a ser algo de habitual com que devemos lidar.

Hoje em dia, sempre que alguém pretende exprimir opinião acerca da actuação, actividade ou atitude, actuais ou passadas, por exemplo, de um qualquer ministro ou do primeiro-ministro, tem de pensar, não uma nem duas mas muitas vezes, antes de aplicar este ou aquele adjectivo porque Suas Excelências podem sentir-se atingidas e, subsequentemente, fazer-nos a folha.

É que, diga-se o que se disser, será sempre extremamente desagradável ter de ir à barra do tribunal, obrigado a defender o princípio de que emitir uma crítica não equivale, de modo algum, à difamação que, invariável mas inadequadamente, tais pessoas se consideram objecto, depois de algum pressuroso comissário ter vestido a pele do bufo repelente que, pelos vistos, prolifera.

(continua)

2 comentários:

Anónimo disse...

João Cachado,
São muito oportunas estas suas palavras, merecedoras de leitura atenta e que nos obriga, na mor das vezes, a recorermos a metáforas.
Quantas vezes apetece queixarmo-nos da falta de palavra de quem nos promete isto e aquilo só para alcançar os seus poisos, sem a preocupação - mínima - de cumprir algo que se aproxime dos compromissos anunciados.
Devemos estar calados? Isso é o que querem, e daria muito jeito se tivesse como efeito o silêncio dos que entendem ter chegado o tempo da indignação.
Gostam de ter altos voos, vivem assoberbados poe eles, mas ofendem-se quando referimos os passarolhos sem penas, isto é, sem obras.
A degradação da sociedade em que vivemos resulta exactamente dos sempre considerados pressupostos eleitoralistas, que levam muitas vezes à fuga de medidas moralizadoras, porque essas originam falatórios e contestações.
Em sistemas que assim funcionem, é muito mais fácil perseguir e tentar amedrontar quem potencialmente pode trazer as coisas à estampa, porque os órgãos de informação, talvez por excesso de material, devem ter dificuldades em gerí-lo no devido tempo.
AS minhas saudações, meu caro,

Sintra do avesso disse...

Para Saloio,
Caro amigo,

Muito obrigado pelas suas palavras de suporte à ideia que expressei. O risco de opinião é algo de indissociável da vida democrática, em especial da democracia participativa à qual uma grande maioria dos eleitos tece loas mas na secreta esperança de que, cada vez menos cidadãos se habilitem a vivê-la...

O rsico de opinião pode ser objecto das mais diversas abordagens. Aquela que ontem iniciei é hoje concluída. Estou em crer que continuarei a gozar da sua concordância.

Um saloio e cúmplice abraço do

João Cachado