[sempre de acordo com a antiga ortografia]

segunda-feira, 14 de abril de 2008

Expirar, aspirar e continuar a agilizar…


É quase uma anedota que conto em poucos parágrafos. Mas, desde já, ficarão sabendo que, para os devidos efeitos, me obriguei à espera de várias semanas, confirmando se a poderia partilhar convosco, com a segurança de corresponder a um facto inegável, como coisa que permanece no tempo, atitude e prática já assumidas que, garantidamente, continuarão vigentes.

Trata-se de habitual intervenção de limpeza na via pública, especificamente no troço da estrada que serve o acesso à Quinta da Regaleira, cada segunda-feira, manhã cedo, pouco depois das oito horas. Como recursos humanos e materiais em presença, temos um grande camion com dispositivo de aspiração de pavimentos, identificado com a sigla SUMA, ao serviço da HPEM, empresa municipal afecta à higiene pública, com o respectivo operador motorista, e um cantoneiro de limpeza munido de expirador portátil.

A cena, que podia fazer parte de um almanaque de ridículas curiosidades, é tão incrível quanto engraçada, roçando os foros do inimaginável. Num primeiro tempo, na berma da estrada, a pé, no meio de tremenda barulheira, o cantoneiro aponta a mangueira do tal expirador para o pavimento, fazendo saltar, de todos os interstícios, as folhas, o lixo e o pó que se acumularam durante uma semana, gerando uma nuvem de porcaria que se depositará estrategicamente…

Se bem estão acompanhando e compreendendo, todo aquele aranzel serve para que o lixo fique a jeito de, num segundo tempo, ser aspirado pelo camion, que também acrescenta os decibéis da ordem, transformando aquele que é sossegadíssimo lugar num recanto de infernais matinas. Hoje mesmo, passando no local, fazendo o seu jogging, um conhecido cidadão estrangeiro comigo comentou o natural desagrado perante o desconchavo.

Um expira, o outro aspira. E lá vão entretidos, impelidos e motivados por doutas instruções da referida municipal empresa, primeiro pelo lado direito e, depois, no sentido contrário da via. Pergunto-me se alguém fez contas. Terá sido comparado o custo da operação horária daqueles dispositivos e respectivos operadores, com os da mesma tarefa, executada manualmente, com vassoura e pá, também uma vez por semana e, pelo menos, com tão bons resultados, sem consumo de combustível e sem a poluição sonora que não é factor despiciendo?

Por outro lado, na Câmara Municipal de Sintra, haverá um iluminado estratega pronto a assumir a existência de locais cujas características ambientais e valores patrimoniais, desaconselham ou não permitem mesmo a utilização de certos equipamentos que, noutros contextos, são mais ou menos pacíficos?

Perguntas para quê? Está tudo dito e, há muito tempo, mais que sabido. É, apenas, mais um exemplo de gestão (?!?) de uma empresa municipal de Sintra. Reparem, daquelas que se constituíram para agilizar procedimentos. Pois não se lembram?

Ah, finalmente, e a propósito. Como se não bastassem as existentes, não é que inventaram mais uma, bem recente? Enfim, cá estaremos para avaliar quem expira e quem aspira (o quê, onde, quando, como e porquê) para além dos que, muito mais sacrificados, continuarão obrigados a agilizar procedimentos, coitados, nessa novel "Sintra Património", que já se adivinha empresa assaz reabilitante...

1 comentário:

Anónimo disse...

Dr. João Cachado,

Estou um pouco sentida consigo porque ainda não deu resposta a umas perguntas que deixei em 20 de Março acerca do Salieri. Certamente esqueceu-se.

Quanto ao seu artigo de antes de ontem que só hoje vi, devo dizer-lhe que se passa a mesma anedota nos meus lados. Eles não fazem contas mas como nós também não exigimos nada fica tudo em
águas de bacalhau. Mas o dinheiro não se pode gastar assim quando há gente com fome em Portugal. Eu tenho vergonha. Alugo um quarto a uma senhora belga que se admira muito como um país pobre como o nosso tem destes luxos.
Finalmente volto a pedir que me dê uns conselhos sobre o Salieri.

Muito obrigada.

Rosa de Lurdes (Rebelva)