[sempre de acordo com a antiga ortografia]

terça-feira, 11 de novembro de 2008

Eis mais um dos meus artigos acerca do problema do estacionamento em Sintra, em especial na sede do concelho. O caso do Vale da Raposa foi apenas o pretexto para, mais uma vez, abordar uma questão que a Câmara Municipal de Sintra não encara com a inequívoca prioridade que merece.


Artigo publicado no Jornal de Sintra em 17.02.06


"Vale da Raposa,

estacionamento em debate



A anunciada intenção de apresentar um projecto para a construção de um parque de estacionamento no Vale da Raposa, quanto mais não seja, tem o mérito de suscitar a conveniente reflexão acerca da questão crucial do estacionamento na sede do concelho.

Na verdade, oportunidades não têm faltado no sentido de concretizar uma séria atitude de discussão do assunto. Por exemplo, o caso da Volta do Duche e a luta que mobilizou tanta gente em Sintra no fim de 2001 - ao ponto de ser considerado, em 12 de Abril de 2003, pelo Semanário Expresso, como um movimento exemplar de cidadania - deveria ter sido aproveitado para desencadear o correspondente debate das ideias em jogo. Infelizmente assim não aconteceu.

Apesar do êxito subsequente ao envolvimento cívico de cidadãos nas manifestações públicas, dos abaixo-assinados com milhares de assinaturas de nacionais e estrangeiros, da participação dos mais destacados nomes da arquitectura paisagista portuguesa, de artistas, escritores, ambientalistas, intelectuais em geral, não houve capacidade para, posteriormente, levar a cabo o resto do trabalho, ou seja, discutir, fazer luz, que permita participar lucidamente na decisão.

Como já escrevi noutra oportunidade, deste pecado não se penitencia o Jornal de Sintra que ao assunto tem dispensado grande atenção. No que individualmente me respeita, a estas páginas tenho tentado trazer uma opinião que privilegie soluções globais, não contemplando qualquer estratégia casuística. Pelo contrário, impõe-se, ninguém duvide, uma actuação integrada que tenha em consideração todas, mesmo todas, as diversas componentes em presença.

O que está em causa

Isto não significa apenas o equacionar do estacionamento em parques periféricos, não só articulado com bolsas de pequena e média dimensão mais próximas do centro histórico mas também com o parqueamento das viaturas de residentes e comerciantes. Se assim fosse ou estivesse a ser pensado, já nos poderíamos dar por muito felizes… Seria sintoma de uma abordagem minimamente abrangente que, até hoje, nem sequer anunciada foi.

Infelizmente, é sabido como, em geral, a falta de preparação da classe política, a sua proverbial incultura, por um lado, a obediência a interesses de caris partidário e o calendário político, por outro, têm constituído sérios obstáculos à concretização das únicas e correctas práticas de administração da coisa pública que conheço capazes de erradicar o espírito de capelinha instalado nos serviços. Todavia, trabalhar integradamente, com diversos pelouros envolvidos, em perfeita coordenação, não faz parte da nossa cultura mas revela-se absolutamente vital.

Efectivamente, a situação de Sintra está de tal modo inquinada, atrasada e obsoleta que são indispensáveis outras medidas simultâneas, de inequívoca afinidade, decorrente dos diagnósticos de situação que apenas permitem ter a análise sistémica como paradigma. E, caro leitor, qualquer rápido exercício de análise sistémica, não poderá deixar de levar à conclusão de que as várias modalidades previsíveis de estacionamento que facilitem o acesso à sede do concelho e ao seu centro histórico, igualmente pressupõem:

- a mais íntima relação com um sistema integrado de transportes públicos;
- operacionalização de
um regime civilizado e expedito de distribuição de mercadorias, com cargas e descargas em horários adequados;
- alteração profunda dos fluxos de tráfego, actualmente labirínticos, perigosos, psicológica e economicamente desgastantes;
- a restrição de circulação em determinadas vias que passariam a estar condicionadas a veículos de emergência, táxis, residentes e comerciantes.


Já tantas vezes me pronunciei, (JS, 20.12.02, 31.01.03, 17.04.03, 17.11.03, 28.11.03, 18.06.04, 24.09. 04, 04.03.05, 09.09.05, 09.12.05, só para mencionar alguns dos artigos publicados neste jornal) até com certo detalhe, acerca de cada um daqueles quatro items de intervenção articulada, que me reservo para futuros contributos durante as sessões de esclarecimento e debate a concretizar no próximo futuro. Inevitavelmente, tanto quanto me parece, tais reuniões deverão contar com a presença empenhada dos presidentes das Juntas de Freguesia da AFRESINTRA uma vez que o assunto também é deles.

Acabo de ter um contacto com o Presidente da Junta de Freguesia de Santa Maria e São Miguel durante o qual Eduardo Casinhas se mostrou profundamente empenhado na iniciativa de promover a discussão do problema do estacionamento na freguesia e, portanto, também disponível para a abordagem das intenções objecto do projecto para o Vale da Raposa que referi haverá que o diálogo democrático não resolva.


na semana passada.

Pedagogia cívica

Apesar de ter sido anunciado de modo que não evitou a natural reacção de rejeição dos cidadãos habitualmente preocupados com este tipo de questões, o projecto não pode deixar de merecer atenção. Não pode nem deve ser hostilizado pelo que, tê-lo na devida consideração, há-de constituir oportunidade para fazer a pedagogia de quem ainda não adquiriu as certezas dos que, à partida, recusam liminarmente qualquer possibilidade da sua realização.

É o momento de todos quantos se sentirem mobilizados aparecerem no ciclo de reuniões que Eduardo Casinhas vai anunciar proximamente. Autarcas, técnicos, representantes das associações, cidadãos munícipes de Sintra, em geral, fregueses de Santa Maria e do bairro da Estefânea, em particular, sociólogos, comerciantes, arquitectos paisagistas, engenheiros do ambiente, professores e alunos das escolas, todos aprendendo e, com todos, partilhando as decisões.


Há muita discussão a fazer. Há muitos argumentos a confrontar, mas à volta da mesa, de tal modo que não seja necessário ir para a rua fazer valer a força da razão, como o foi, no caso da Volta do Duche. Vamos evitar as lamentáveis consequências da inabilidade política da autarquia que, em 2001, apresentou um facto irremediavelmente consumado, sustentado por uma solução altamente polémica. Por muito polémicas que, actualmente, as propostas se apresentem, nada haverá que o diálogo democrático não resolva. (...)"

(continua)

3 comentários:

Anónimo disse...

Ora aqui está a velha questão do estacionamento. Quase tão velha como a questão do teleférico para a Pena, que os nossos velhos dizem "Já o meu pai falava nisso quando eu era pequeno". Mas será assim tão dificil perceber que não é necessário nenhum estacionamento específico no Vale da Raposa como em qualquer outro lugar? Será tão dificil perceber as razões que tornam caóticos os dias em Sintra? Eu acho que é dificil sim, porque para isso tem que se pensar e pensar dá trabalho, coisa que as pessoas que nos governam em Sintra não estão habituadas. Se não conseguem por exemplo elaborar um mapa turistico em condições, que não faça com que as pessoas andem 200 metros sem se perderem, certamente nunca conseguirão resolver este caos. Estacionamento junto do Palácio da Vila às 4 da tarde? Nunca irá haver. Acabar com as filas até ao IC19 no Verão? Também não. Com a GNR a controlar muito menos. Dantes isso só acontecia no fim de semana da Páscoa. Não quero neste meu comentário estar a fazer "bluff", a opinar sem apresentar as minhas soluções, mas este espaço é curto para apresentar o que penso.Bem haja o Sr. Eduardo Casinhas por tencionar promover uma discussão deste género. Já pensava em apresentar esta ideia de discussão ao Fernando Morais Gomes da Alagamares, instituição que tem tido um papel relevante nos ultimos tempos na discussão dos problemas de Sintra. Bem haja Prof. João Cachado também por promover esta iniciativa. Eu vou lá estar.

Sintra do avesso disse...

Caro Miguel Oliveira,

Gostaria de chamar a sua atenção para o facto de este meu texto no blogue ser a transcrição de um artigo saído no Jornal de Sintra em 17 de Fevereiro de 2006, há mais de dois anos e meio.

Quando o senhor afirma que vai estar presente no debate que o Eduardo Casinhas anunciou, deve reportar-se àquela longínqua data...

De qualquer modo, não fique com pena de não ter participado. Sabe, o debate nunca chegou a acontecer... Mas lá que continua pertinente a sua concretização, disso não tenha dúvida. Talvez o Dr Fernando Morais Gomes, presidente da Alagamares, pegue na ideia.

Se não for a Alagamares a constituir-se como um permanente forum de discussão deste e de outros problemas afins da salvaguarda dos bens culturais de Sintra, entre os quais avultam os do património arquitectónico e paisagístico, não estou a ver que outra associação local tenha gabarito para o efeito.

Olhe que amanhã será a conclusão da transcrição do artigo. Continuo a contar com a sua participação.

Melhores saudações

João cachado

Anónimo disse...

Pois é, que grande equívoco que eu cometi. Não li correctamente o inicio do artigo. É o que dá estar a fazer várias coisas ao mesmo tempo. De qualquer forma mantem-se a importância da questão. Aliás todas as questões relativas a Sintra de que se fala são tão antigas quanto importantes, que já atravessaram várias governações de Cãmara que o estranho mesmo é termos que falar nelas todos os anos. Enfim....