[sempre de acordo com a antiga ortografia]

quinta-feira, 27 de junho de 2013



Movimento cívico de Sintra,
a luta continua


Fiz parte de um pequeno grupo de pessoas que, há doze anos, lutou contra o profundo disparate que se perfilava para a zona da Volta do Duche. O Movimento Cívico do qual muito me orgulho de ter sido um dos impulsionadores, foi capaz de fazer frente aos propósitos da então autarca, uma luta de David, nós que só tínhamos a força da razão, contra Golias, uma poderosa figura política apoiada pela força de um partido poderoso.

A luta atingiu contornos de apropriação nacional por todos os media. Raros foram os Intelectuais, jornalistas, artistas de nomeada que não nos deram apoio. Ajudámos a derrotar a autarca que era candidata a novo mandato e conseguimos que todos as outras forças políticas se comprometessem publicamente no sentido de que, uma vez eleitos, não concretizariam o projecto que, nem mais nem menos, era «só» assinado pelo Arq. Fernando Távora (por quem, aliás, eu tinha e mantenho a mais profunda admiração).

De facto, um movimento cívico a funcionar capazmente é coisa impressionante. Mas tem limites. Pois, sem entrar em detalhes, o nosso limite aconteceu com a incapacidade de «dar a volta» ao maior absurdo que a mesma autarca deixou aos sintrenses como herança: um horroroso circuito labiríntico, entre os bairros da Estefânea e da Portela que, tão manifestamente, compromete a qualidade de vida, não só, em especial, dos fregueses de Santa Maria e São Miguel, mas também de São Martinho e de São Pedro, já que causas e consequências, no quadro de uma abordagem sistémica, se posicionam a montante e a jusante dos territórios em apreço.

Em articulação com o despautério em questão, evidencia-se a péssima qualidade de concretização da zona pedonal da Heliodoro Salgado – que, com mais uma loja ocupando o espaço do antigo supermercado Baeta, está prestes a transformar-se numa desqualificada, desinteressante e inestética «chinatown» – um aborto, sem qualquer hipótese de animação de rua, por muito fértil que se revele a imaginação de quem ali pretenda fazer qualquer coisa de jeito.

O Movimento Cívico de que fiz parte que tanto sucesso alcançou na Volta do Duche, chegando a ser apontado com paradigma a nível nacional, numa boa reportagem do semanário “Expresso”, poi «não teve unhas» para o resto que se impunha, apesar de ainda ter promovido, entre outros, um famoso debate sobre a Estefânea, no Palácio Valenças, em que tive, sentado a meu lado, o meu querido e saudoso amigo Bartolomeu Cid dos Santos, ele que considerava a Heliodoro Salgado um sarcófago…

Pois, a verdade é que não conseguimos adiantar mais trabalho. O nosso empenho cívico esbarrou em obstáculos que urge analisar e avaliar. Há imenso que fazer. Nós, que da democracia, temos uma perspectiva de participação activa que, quotidianamente, se consubstancia na cidadania, temos muito que fazer para ajudar na arrumação que se impõe.

É trabalho para amadores empenhados e, «pelo andar da carruagem», tantas são as negociantes mentes que se perfilam para a refega eleitoral autárquica, que temo pelo resultado. Tal como há doze anos, também hoje não faltam razões para a luta. Acresce, actualmente, a circunstância de se tornar imprescindível lutar contra quem não esconde uma avidez desmesurada pelo regresso ao poder local, com nítidos objectivos mercantilistas, sob a capa do discurso de impoluta matriz democrática.

Como não tenho quaisquer compromissos partidários, posso dar o meu apoio e juntar-me a quem muito bem me apeteça, a diferentes forças político-partidárias, consoante se trate de Junta de Freguesia, Assembleia Municipal ou Câmara Municipal, a movimentos de cidadãos, etc, continuando a atitude de liberdade e de independência que tanto prezo.

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Sessão da Associação de Defesa do Património de Sintra - 21 de Junho de 2013

VILA DE SINTRA, MOBILIDADE E ATIVIDADE NO CENTRO HISTÓRICO

É indubitável a realidade configurada pelo centro histórico, produto cultural único, portador de especificidades e carácter diferenciador, induzindo e pressupondo o desenho de políticas públicas dedicadas.
A singularidade destes espaços sugerem e expressam um c...
onjunto específico de problemas e, nestes, é o domínio da mobilidade matéria da maior importância, sensibilidade e preocupação.
Mas, importa reter o universo de características únicas do designado centro histórico da Vila de Sintra. Isto é: não se trata de um centro histórico entre muralhas; não se trata de um centro histórico preenchido ou dominado por sistema viário tortuoso ou impróprio aos atuais meios de transporte; não se trata de um centro histórico que, à semelhança de outros, assiste ao abandono de atividades terciárias ou residenciais.
É, pelo contrário, um centro, um espaço patrimonial que persiste em diversidade de atividades, em espaço viário generoso, em tecido urbano aberto e de conectividade assertiva, e onde persistem pulsões e dinâmicas de produção de oferta seja no imobiliário tradicional, seja em espaços de acolhimento turístico, seja em comércio dedicado e temático ou em produção e fruição de cultura.
Não é, portanto, um espaço em risco de definhamento económico e social: é um espaço que obriga a gestão das dinâmicas de procura que permanecem em crescendo e sugere inteligência, criatividade e reforço de memórias, sendo certo que é, e deve ser, espaço aberto ao acolhimento de iniciativas contemporâneas e eruditas.
De rigor arquitetónico, de qualificação de espaço público e de atividades configuradoras de produto. De valor e riqueza.
Nunca desejámos para Sintra, espaço patrimonial, uma gestão que se dirija à má consolidação ou tendência de parque temático de oferta específica. Sempre desejámos, para Sintra, espaço patrimonial, uma gestão que, em simultâneo, assegure reforço identitário e de memória e, do mesmo modo, assegure afirmações de modernidade, de contemporaneidade e de empregabilidade diversa.
Esta é a direção e afirmação politica. Este é o domínio da afirmação de princípios geradores de políticas públicas dirigidas a Sintra, espaço patrimonial. Corresponde, naturalmente ao domínio das ciências de gestão, do urbanismo, da mobilidade, da multidisciplinariedade requerida, encontrar formas e processos de corresponder à legitimidade da afirmação política.
Este encontro, este seminário é, por isso, bem-vindo.
Pertencemos àqueles que asseguram contexto democrático. Que asseguram abertura e competitividade na exposição de teorias, sendo certo, que o debate das opções e escolhas afirma a possibilidade de eliminação das teorias inúteis e garante a progressão da atitude de ciência.
O método da ciência é o ensaio e o erro. A procura incessante do ajustamento dos erros, do avanço de soluções diversas, da progressão de futuro melhor, da inquietude e incomodidade inerente.
Mas desenvolvimento e progresso é domínio da atividade humana, sendo certo ainda que vivemos em ordem social e política que confere segurança ao autor ou defensor de ideias, por muito incómodas que possam parecer ao exercício da autoridade legítima.
Por isso, em liberdade segura, prossiga e afirme-se o debate.
Por isso, aplaudimos esta iniciativa e reafirmamos a nossa determinação política em manter Sintra como espaço patrimonial aberto à configuração de futuro melhor.

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