[sempre de acordo com a antiga ortografia]

segunda-feira, 2 de março de 2015



2015, Salzburg, XXVI
 

[Concerto da manhã do dia 31 de Janeiro]

[facebook, 31.01.2015]

Pois, Emmanuel Pahud, que, na minha opinião, não haja a menor dúvida, é o maior flautista em actividade, já tem 45 anos e eu conheci-o quando era pouco mais do que adolescente… Curioso que o seu dia de aniversário é o de Mozart, também em 27 de Janeiro.

Hoje em dia, o menino de ontem, que, mesmo como solista principal e estrela da Orquestra Filarmónica de Berlin, nós conhecemos – lembra-se, minha amiga M Manuela Bravo Serra? – com uma certa e agaiatada irreverência, a esse menino, já começa a faltar algum cabelo…
Reparem no que ele afirma acerca da sua flauta actual:

“(…) This is the most flexible instrument I have tried so far. It enables me to transpose into music what I'm thinking and what I'm feeling. But, although the instrument is important, the player is the most important. All the work must be done before the mouth even makes contact with the instrument. It all happens by the way you hold your muscles, control your lungs, use the different cavities in the head and the upper body to let the sound resonate more or less."

Hoje de manhã, às 11,00, na Grosse Saal do Mozarteum, quem afirma a tal e íntima relação acabada de citar, veio fazer algo que o seu estatuto permite, ou seja, estrear na Áustria o “Concerto para Flauta” que Elliot Carter compôs, sublinhe-se a façanha, em 2008, quando completou 100 anos!
Se bem que o auditório principal do Mozarteum esteja habituado a primeiras audições nacionais, mundiais, de obras muito recentes, a verdade é que alguma parte do público ainda torce o nariz. Paciência, diremos tantos de nós que, graças a Deus, não fossilizámos na Primeira Escola de Viena e estamos despertos para todas as novidades.

Concerto difícil de executar. Concerto difícil de ouvir, a pedir mais e mais audições para o entendimento que é suposto extrair. Muito bem. Porém, a imediata avaliação de uma dávida total à obra que a Camerata Salzburg, sob a direcção de Pablo Heras-Casado também se entregou de alma e coração. Muitos e entusiásticos aplausos, em especial para Pahud que estava arrasado depois da prova de fogo a que estivera submetido. Isso mesmo o disse, cá fora, quando se dispôs a assinar algumas das suas gravações disponíveis para venda no hall.

Ainda ouvimos a “Sinfonia No. 2 em Si Maior”, D 125 de Schubert e a “Sinfonia No. 39, em Mi Maior”, KV. 543 de Mozart. Deixem-me que vos confesse a emoção renovada com que assisti à interpretação desta que foi a primeira da tríade fabulosa que Amadé compôs no famoso Verão de 1788. Um assombro de execução! A Camerata Salzburg - herdeira da Camerata Academica Salzburg, fundada pelo lendário Bernhard Paumgartner e que o queridíssimo Maestro Sandor Vegh dirigiu até 1997 – fez-se ouvir honrando o célebre ‘klang’ de Salzburg, o selo das orquestras da cidade que celebram Mozart de modo tão especial.

Gostei muito deste meu fim de manhã. Vim almoçar, cansadíssimo, porque estes concertos, caldeados de emoções, deitam-me abaixo, no melhor sentido, e, por isso, vinha cheio de um apetite que satisfiz, ad libitum, pois importava preparar-me para um concerto da tarde em que, já sabia, novas emoções se sobreporiam para continuar o desgaste… Ah, que maravilha!

Não vos deixo sem a proposta de escutarem a Sinfonia No. 39. Interpretação paradigmática da Orquestra Filarmónica de Viena, sob a direcção de Harnoncourt


Boa audição!


http://youtu.be/9CpA7tlVqN4
 
 

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