A reflexão que hoje proponho só não aparece como corolário da maior parte das considerações que convosco venho partilhando desde o dia 12 do mês passado, porque ainda estou longe de ter fechado o ciclo das Notas Diárias dedicado aos assuntos afins das temáticas da insegurança, do desleixo, da irresponsabilidade, da cultura da famigerada tolerância que a autoridade policial em Sintra tão pródiga é, alheia aos malefícios que gera.
O Notas Diárias de hoje aparece na sequência de recente estada na Ilha de Jersey, no âmbito de um trabalho pessoal sobre a comunidade portuguesa ali residente que, como é do conhecimento geral, equivale a cerca de dez por cento da população daquele pequeno território do Reino Unido. Tive oportunidade de contactar portugueses oriundos do continente e, naturalmente, em maior número, os provenientes da Madeira, com o objectivo de conhecer episódios, histórias verídicas da integração desta gente.
Na realidade, julgo conhecer razoavelmente bem algumas questões pertinentes da vida dos portugueses na ilha, especialmente os inerentes ao ensino dos filhos dos trabalhadores, na medida em que, durante alguns anos, na década de noventa do século passado, desempenhava funções de técnico superior no Ministério da Educação, responsável pelo dossiê respectivo, não só no Reino Unido mas também nos Estados Unidos da América, Austrália, Espanha e Suíça.
Desta vez, como já dei a entender, o que me interessa são histórias de vida, cenas edificantes, esclarecedoras de diferenças das maneiras de ser e de estar entre os cidadãos dos países de acolhimento e os que procuram aquelas paragens para resolverem questões de sobrevivência que Portugal não propicia. Interessa-me, sobretudo, incidir a atenção e estudar episódios da vida quotidiana em que, portanto, britânicos e portugueses se encontram e desencontram, evidenciando as respectivas idiossincrasias.
Portugueses, mas diferentes...
Entrando já na zona dos factos concretos, darei o exemplo de um nosso compatriota que se permitiu infringir uma regra de estacionamento proibido. Imediatamente, foi multado em cinquenta libras. Como não pagou dentro do prazo estipulado, uma semana depois, a multa foi dobrada e, mesmo assim, tendo-se permitido ignorar a situação, logo o caso entrou num circuito judicial que o marcou para sempre como infractor.
Vários companheiros portugueses que assistiam à conversa que mantínhamos, confirmaram este procedimento absolutamente normal por parte das autoridades. Mais me disseram que, na maioria dos casos, tendo obtido as suas cartas de condução em Portugal, quando cá voltam em período de férias, preferem não conduzir nas nossas estradas e cidades devido à indisciplina, à falta de cuidado.
Em sentido mais generalizado, tenho ouvido comentários no sentido de que, estando radicados há já alguns anos, muito dificilmente se habituariam àquilo que os esperaria num regresso definitivo pois a sua integração no país, implicou numa radical mudança de atitude que os transformou noutro tipo de cidadãos. São portugueses, continuam portugueses mas a sua cabeça já não admite a habilidade da esperteza saloia, já não consegue perceber o que é isso de tolerância da autoridade em relação ao cumprimento da Lei...
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