[sempre de acordo com a antiga ortografia]

quinta-feira, 31 de julho de 2014



Islamista?

Com tanta asneira a galope em todos os suportes da comunicação social, não faltam casos a merecer a atenção. O erro que hoje partilho, para tentar descodificar e remediar, erro que me ocupa e preocupa, é daqueles que, arriscaria eu, muito mais do que a galope, anda mesmo com o freio nos dentes, usado e abusado por quem está convencido de uma correcção que é tudo menos verdadeira.

De
sde já, para que conste, «Islamista» não existe. ‘Islamita’, sim, é palavra derivada de Islam/Islão em que o sufixo ‘ita’ confere a ideia de pertença étnica, de sentido étnico. ‘Islamita’, portanto, o que professa, o que pratica a religião islâmica. Outros termos poderia invocar para o mesmo significado, tais os casos de ‘maometano’ ou de ‘sarraceno’.

Tem sido a comunicação social, de facto, a grande responsável pela difusão de «islamista», termo que, ao apresentar o sufixo ‘ista’, remete para a noção de agente. É preciso ter ainda em consideração que «islamista» tem sido conotado com o extremista que se encarniça na luta por uma situação política em que haja coincidência de religião e Estado, qual feição de um manifesto integralismo.

Assim sendo, para que não se incorra no erro em apreço, a solução é empregar o correcto termo ‘islamita’ adjectivando-o, por exemplo, com ‘extremista’,‘integrista’,
‘fanático‘, ‘fundamentalista’. De outro modo, ao insistir na forma ‘islamista’, nem sequer se pode pensar na ideia de neologismo porque, pura e simplesmente, é uma corruptela

Efeméride mozartiana
31 de Julho de 1778


Uma das mais longas cartas que Mozart escreveu em toda a vida está datada de Paris, 31 de Julho de 1778. É o famoso documento em que, respondendo ao pai, conta as circunstâncias dos últimos dias de
vida da mãe, que acabaria por falecer no dia 3 daquele mesmo fatídico mês de Julho.

Sem dúvida que terá sido o mais terrível evento da juventude de Wolfgang. A carta é um documento extremamente interessante, inclusive, no que respeita ao estado da medicina na altura. E, mais especificamente, no que se refere ao próprio estado de espírito em momento tão crítico, propicia uma série de elementos importantes para entender a sua personalidade bem como, indiscutivelmente, as enormes contradições que o assaltavam.

Não deixa de ser curioso que, no meio de tanta emoção e comoção, Mozart tivesse conseguido alinhar umas palavras acerca do Concerto para Flauta e Harpa em Dó Maior (KV. 299) que compusera em Abril anterior, na sequência de uma encomenda do Conde de Guines.

Acontece que o aristocrata solicitara uma peça, ao fim e ao cabo, ‘de salão’ para ser tocada por ele e por sua filha, como solistas. Pois bem, ultrapassando os contornos da encomenda, Mozart escreve uma estupenda obra-prima de precisão e de lirismo. É essa a obra que hoje partilho convosco. Oxalá coincidam comigo no máximo apreço que tenho por esta preciosidade absoluta.

[A gravação não disponibiliza elementos identificativos da interpretação. De qualquer modo, é de superior qualidade.]

Boa audição!


http://youtu.be/Xc6-KozGK3c
 
 


A mídia?

Infelizmente, não é a primeira nem a segunda vez em que, durante debates televisivos com a participação de Maria João Avilez, referindo-se aos meios de comunicação social em geral, a jornalista utiliza o termo 'mídia', acentuado na antepenúltima sílaba. Assim fazendo, o que já é incorrecto, ainda o precede do artigo definido feminino singular ‘a’, emparceirando ela com os falantes da var
iante brasileira que, em duas palavras, conseguem fazer uma catadupa de asneiras.

De facto, a palavra ‘media’ entra no Português em resultado da importação da expressão inglesa ‘mass media’ mas, na verdade, trata-se de um latinismo. Originalmente, palavra do género neutro, declina-se como 'medium, media', respectivamente, singular e plural. Correctamente, deve dizer-se ‘os media’, abrindo a primeira vogal, em pronúncia perfeitamente coincidente com a da homófona ‘média’.

Péssimo é dizer «a mídia», à brasileira, em vez de ‘os media’. A propósito, não posso deixar de lembrar um episódio que remonta ao ano de 1979, tendo sido protagonistas um colega que, ao tempo, tal como eu, era adjunto do Gabinete da Dra. Maria Alice Gouveia, falecida e saudosa Secretária de Estado dos Ensinos Básico e Secundário. Então não teve ele o desplante, ao pretender empregar o plural de 'item', de dizer «aitems»?…

Acontece que a Dra Maria Alice, ainda por cima, licenciada em Clássicas, ia tendo uma coisinha má. Além de esquecer que, tendo entrado no vocabulário da língua portuguesa, forma o plural de acordo com a regra, passando de ´em’ a ‘ens’, portanto, 'item, itens', o colega ousara americanizar a já incorrecta forma… Um pavor!

Pelos vistos e ouvidos, passados quase quarenta anos, nada se alterou para melhor já que o ‘pontapé’ continua. O mínimo que há a fazer é tentar corrigir quem faz o erro, sempre «com o credo na boca» não vá ouvir-se réplica indesejável…


SINTRA,
PALÁCIO DA PENA,
JÓIA EM RECUPERAÇÃO


É com todo o gosto que passo a divulgar a informação que me acaba de chegar do gabinete de comunicação da
Parques de Sintra. Quem acompanha o que se passa nos espaços que lhe estão afectos, sabe perfeitamente que há obras de vulto no Palácio da Pena, circunstância que, no entanto, pressupunha a disponibilização dos elementos agora partilhados.

Trata
-se de um documento precioso porque vos dá conta da sofisticação dos trabalhos em curso que, como sempre, recorrem aos melhores especialistas e às melhores práticas. Como poderão verificar, apesar das obras, os visitantes acedem a todos os cantos e recantos disponíveis, de acordo com o programa "Aberto para Obras".

E, POR FAVOR, NÃO ESQUEÇAM QUE AS VERBAS DESPENDIDAS EM TODOS OS TRABALHOS DE PRESERVAÇÃO E RESTAURO RESULTAM, ÚNICA E SIMPLESMENTE DAS RECEITAS DE BILHETEIRA. NA PARQUES DE SINTRA NÃO ENTRA UM C~ENTIMO DOS COFRES DO ESTADO.

Mais uma vez, aproveito a oportunidade para lembrar que os residentes no concelho de Sintra têm entrada gratuita todos os domingos de manhã.

»»»»»»»»»»»»»»»»»»»»»»»»»»»»»»»»»»»»»»»»»»»»»»»»»»»»»»»»»»»»»»»»

Obras de recuperação e conservação no Palácio da Pena: fachadas, muros, azulejos e cantarias

- Recuperação das fachadas, muros, conservação de azulejos e cantarias

- Investimento global de quase 270.000 Euros

- Pintores alpinistas acedem às zonas onde é difícil colocar andaimes

- Período de verão reúne as melhores condições para estes trabalho

Imagens:
http://62.28.132.233/1406732640.zip


Sintra, 30 de julho de 2014 – A Parques de Sintra iniciou no passado mês de junho uma intervenção nos revestimentos das estruturas edificadas que constituem todo o Palácio Nacional da Pena, onde existem rebocos caiados (paredes e muros), revestimentos azulejares e elementos de cantaria (pedra). O Palácio permanecerá aberto durante os trabalhos, mantendo a política de “Aberto para Obras” da Parques de Sintra, sendo que os andaimes não cobrirão todo o Palácio em simultâneo, para minimizar o impacto visual nos visitantes. Ambos os trabalhos estão previstos terminar antes do final do ano.

Recuperação das fachadas e muros

O projeto de recuperação das fachadas e muros na envolvente do Palácio foi motivado pelo facto de a generalidade se encontrar em condições de degradação no que diz respeito à caiação e aos barramentos coloridos. Isto deve-se sobretudo à presença de colonização biológica, pequenas zonas de fissuração e de desprendimento de argamassas. Grande parte das paredes exteriores do Palácio são revestidas a reboco caiado e a barramento colorido, eficazes revestimentos tradicionais na proteção do edifício, mas que requerem manutenção regular. Existem também alguns elementos revestidos com tintas plásticas, fruto de intervenções anteriores, que resultaram numa variedade de tonalidades dentro da mesma cor base. Esta intervenção dotará o Palácio Nacional da Pena de uma nova harmonia cromática.

Previamente, foram feitos estudos e análises de cor, que incluíram reuniões com técnicos da Direção Geral do Património Cultural (DGPC). Foram contempladas as melhores soluções para garantir não só o melhor resultado como também a proteção do monumento. Por exemplo, foi tido em conta que a alvenaria de pedra constituinte das paredes e muros do Palácio deve estar em equilíbrio higrotérmico com o meio envolvente, pelo que o seu revestimento tem que ser permeável ao vapor de água, para que não se deteriore. Deverão, assim, utilizar-se materiais tradicionais (tintas e argamassas à base de cal) para manter o modelo de funcionamento das paredes.

A equipa é constituída por 10 elementos, incluindo pintores, carpinteiros e também colaboradores para a montagem do andaime. O maior desafio desta empreitada reside no difícil acesso ao Palácio para montagem do material de andaime, especialmente nos muros exteriores. Desta forma, foram contratados dois pintores alpinistas (equipa de trabalhos verticais) para chegar a zonas como, por exemplo, as de canteiros com espécies vegetais a proteger, e muros construídos em escarpa, onde o acesso com o material de andaime é quase impossível. Estes têm os materiais necessários em baldes, presos com mosquetões ao arnês. Um outro grande benefício em utilizar estes pintores alpinistas é o de reduzir a quantidade de andaimes nos acessos, de acordo com a política “Aberto para Obras”, para manter o máximo de circuitos exteriores disponíveis para os visitantes.

Uma vez que as obras implicam a montagem de andaimes em torno do corpo do antigo Mosteiro e do corpo do Palácio novo, surge também a oportunidade de inspecionar e recuperar as caixilharias dos vãos ainda não reparadas. Desta forma, contribui-se para que os ricos revestimentos decorativos interiores e o mobiliário do Palácio sejam protegidos do clima agressivo e possam continuar a ser intervencionados com boa cadência.

Já no que concerne aos pormenores decorativos de pedra das fachadas e muros do Palácio, uma vez que são suscetíveis ao rápido desenvolvimento de colonizações biológicas e à acumulação de sujidade e poeiras, sofrerão igualmente um processo de recuperação e conservação.

Conservação dos azulejos e cantarias das fachadas

Devido ao microclima do alto da Serra de Sintra, foi imperioso que os trabalhos decorressem durante esta época do ano, pois é nesta altura que estão reunidas as melhores condições de trabalho para os conservadores-restauradores, sobretudo no que diz respeito à secagem dos materiais para preencher partes em falta e consolidar o suporte do revestimento dos azulejos.

A equipa é constituída por cerca de 10 elementos, incluindo especialistas em conservação e restauro de azulejos e materiais pétreos (pedra). Este é um requisito fundamental para o desenrolar de trabalhos tão específicos como este, num clima agreste e envolvendo fases tão distintas da história da construção do Palácio (como a fase conventual e a fase palaciana, esta última preparada com o requinte e a supervisão direta de D. Fernando II).

Esta intervenção, tanto na fase de projeto como na da obra, tem o apoio do Museu Nacional do Azulejo, através da sua conservadora-restauradora.

Para além de todo o Túnel do Tritão e fachada Noroeste, onde se localizam os azulejos com a esfera armilar e a famosa janela inspirada na Janela Manuelina do Convento de Cristo (cantaria), será intervencionada toda a enorme superfície de azulejos de inspiração neomourisca do corpo do Salão Nobre, a Cúpula e galilé da Capela (ainda da época de construção do primitivo Mosteiro Jerónimo) e dois dos arcos da entrada do Palácio, que incluem azulejos em relevo de Wenceslau Cifka.

A intervenção abrangerá zonas tão características do gosto e génio de D. Fernando II como a Janela do Tritão e a Porta Férrea, em diferentes alturas, para que os visitantes tenham sempre oportunidade de usufruir de algum destes espaços simbólicos. O mesmo cuidado foi tido no que respeita aos Arcos de Entrada, para que também permaneçam à vista os característicos azulejos em relevo de folha de videira enquanto os seus similares do Arco do Tritão estarão resguardados, sendo a situação invertida no segundo período da obra.

Aberto para Obras

O conceito “Aberto para Obras” refere-se à possibilidade de os visitantes dos polos sob gestão da Parques de Sintra presenciarem de perto os trabalhos de salvaguarda e valorização em curso nos diversos parques e monumentos, sendo também possível o diálogo com os técnicos envolvidos. Trata-se de uma das iniciativas mais emblemáticas da empresa, presente nos diversos projetos de requalificação implementados, sempre de portas abertas ao público.

Com base neste conceito, a Parques de Sintra inclui, em todos os projetos de recuperação que não coloquem em causa a segurança do visitante ou do trabalhador, a exigência de que os mesmos sejam efetuados à vista do público. Os técnicos respondem às questões que lhes são colocadas, motivados pela Parques de Sintra a explicar pro-ativamente aos visitantes o trabalho que estão a desenvolver. Pretende-se, deste modo, manter o trabalho em curso visível, permitindo aos visitantes reconhecer a exigência da conservação do Património (natural, arquitetónico e museológico) e compreender o investimento humano e financeiro necessário para a conduzir. Adicionalmente, ao assistir às obras, é mais imediata a noção da evolução das mesmas, o que potencia uma melhor apreciação dos resultados finais.

A Parques de Sintra acredita também que o facto de os visitantes assistirem a este tipo de trabalho poderá ser útil para o despertar de vocações, dado que vários milhares de pessoas, por ano, observam um tipo de trabalho que habitualmente é feito em gabinetes não acessíveis ao público em geral.


Ingmar Bergman,

Morte, em 30 de Julho de 2007 (n. 1918)
Inequivocamente, colocaria este seu filme, que, agora, convosco partilho entre os cinco mais da minha vida.

Aproveito chamar a vossa atenção para o verdadeiro «festival» que, hoje à tarde e noite, é proporcionado pelo canal TVCine 2. Nem mais nem menos do que "O Silêncio", às 14,10, "Um Verão de Amor, (15,50), "Cenas da Vida Conjugal (17,30), "Mónica e o Desejo" (20,20), "Morangos Silvestres" (22,00) e, então, máximo dos máximos, "O Sétimo Selo" (23,35).

Bom visionamento!


http://youtu.be/Jl7qzh2is_I
 


Festival de Salzburg 2014,
Orquestra infantil
 

[facebook, 30.07.2014]
 
Anteontem, os músicos da Orquestra Infantil Mozart (Mozarteum), garotos das escolas da cidade de Salzburg e arredores, ensaiaram a "Spatzenmesse", em Dó Maior, KV 220 (196b), na zona do altar-mor da Kollegienkirche - obra emblemática do grande arquitecto do barroco austríaco Fischer von Erlach - preparando-se para os seus concertos dos próximos dias 1 e 2 de Agosto, precisamente naquela igreja, eventos que fazem parte da programação da edição do Festival de Salzburg deste ano.

Partilhemos aqui esta festa da música e de esperança no futuro, acedendo a um documento do Mozarteum que, de algum modo, muito rapidamente, vos dá uma ideia do que é esta orquestra. Mesmo os que não entendem Alemão, estarão perante a mais-valia de um projecto deste calibre. Passados dois anos sobre a sua fundação, momento a que assisti, esta orquestra já pode apresentar-se num dos mais prestigiados festivais e, certamente, dando boa conta do recado.
 
 
http://youtu.be/I8uwgAsbw4M

Boa audição!
 
Und heute probt das Mozart Kinderorchester gemeinsam mit dem Salzburger Festspiele und Theater Kinderchor schon in der Kollegienkirche. Karten für die Konzerte am 1. und 2. August gibt´s bei den Salzburger Festspielen:
 
 
 
Foto: Und heute probt das Mozart Kinderorchester gemeinsam mit dem Salzburger Festspiele und Theater Kinderchor schon in der Kollegienkirche. Karten für die Konzerte am 1. und 2. August gibt´s bei den Salzburger Festspielen: info@salzburgfestival.at

 


Matos fabulosa!
 
[facebook, 29.07.2014]

Gostei imenso. De facto, o ponto menos positivo foi a prestação de Liferkus cujo Scarpia bem evidenciou como deve haver bom senso na abordagem de certas personagens a partir de uma determinada idade. A propósito, no recital de Queluz, no passado dia 11, o barítono russo esteve bastante bem numa série de canções de Rachmaninov.

A estupenda prestação de Elisabete Matos não me surpreende. Sempre que possível tenho acompanhado a sua carreira e uma série de con
hecidos triunfos. Tenho o privilégio de a conhecer fora dos palcos e, inclusive, de ser seu companheiro de lugar em Bayreuth onde beneficieia de uma excepcional companhia e a possibilidade de troca de impressões extremamente enriquecedora.

A sua Turandot é antológica, não há dúvida. Mas a Tosca? A Santusa? E o «seu» Wagner, na Senta, na Elisabeth, na Sieglinde, na Elsa? Uma grande voz, uma grande senhora, e, para mim, também uma amiga.

Convido-vos para este excerto da sua 'Sieglinde'.

Boa audição!

http://youtu.be/G0cvuYkf4E4
 
 
 
Crítica de Jorge Calado (Expresso) ao concerto no Largo de São Carlos.
 
 
Foto: Crítica de Jorge Calado (Expresso) ao concerto no Largo de São Carlos.


Morte de Luis Buñuel (n.1900)

29 de Julho de 1983



Após a proclamação da República, Buñuel voltou a Espanha. Em 1933, financiado pelo amigo anarquista Ramon Acín, realizou o documentário "Las Hurdes, tierra sin pan", sobre a vida quotidiana e costumes ancestrais de uma recôndita aldeia espanhola da Estremadura, profundamente miserável e em estado quase selvagem.

As imagens e os factos, tão extraordinários e irreais, acabariam por dar ao filme um cunho verdadeiramente surre
alista. Foi um escândalo. E, a tal ponto, que o próprio governo republicano o censurou e proibiu por propiciar uma imagem pouco abonatória da Espanha no estrangeiro.

Andava na Faculdade, a meio dos anos sessenta quando o vi pela primeira vez. Marcou-me para sempre. É um documento absolutamente extraordinário, só possível com o génio de Buñuel, um testemunho de estudo ao qual muitos sociólogos, antropólogos, animadores culturais têm recorrido. Incontornável. A minha homenagem nesta partilha convosco.


http://youtu.be/qO86FO1bs6g
 


 

terça-feira, 29 de julho de 2014



28 de Julho de 1741

Morte de Antonio Vivaldi

Nesta efeméride, proponho que ouçamos o seu "Stabat Mater", RV 621, na singularíssima interpretação do contratenor Andreas Scholl e do Ensemble 415 de Chiara Banchini.

Chamo a vossa atenção para a reprodução da belíssima "Lamentação de Cristo", quadro de van Dick que ilustra esta gravação.

Boa audição!



http://youtu.be/2XUC2MQ74DE
 



28 de Julho de 1750

Morte de Johann Sebastian Bach

Na efeméride gostaria de partilhar convosco a Cantata Profana que o compositor escreveu por ocasião do 50º aniversário de um professor. Deste modo, lembro o mestre dos mestres e, por seu intermédio, também homenageio os professores meus familiares (são muitos!...), amigos e conhecidos.

As vozes solistas são de Dorothea Röschmann, Axel Köhler, Christoph Genz e Hans-Georg Wimmer. Tocam os Musica Antica Koln sob a direcção de
 Reinhard Goebel.

Boa audição!


http://youtu.be/OirSP7v81uE
 
 



domingo, 27 de julho de 2014


Sintra,
Ribafria,
passado e presente



Bem vos avisei de que devem permanecer atentos à documentação que formos disponibilizando acerca do assunto. Desta vez,
Fernando Morais Gomes, Presidente da Alagamares Cultura, partilha connosco um documento extremamente interessante sobre o estado da Ribafria, há pouco mais de vinte anos, quando funcionava como Academia de formação da Fundação Friedrich Naumann.

Então, passo já ao video. Pois claro, era o ano de 1993. Sensivelmente durante o período em que, com professores e mestres das diferentes especialidades, os alunos da Escola Profissional de Recuperação do Património de Sintra (EPRPS) intervieram em algumas peças do valioso espólio em presença.

O contraste destas imagens com a actual situação é de tal ordem violento que tive uma forte comoção quando, no passado dia 10 de Maio, visitei a Ribafria integrado num grupo, sob coordenação da Alagamares. Posso afiançar que a Câmara Municipal de Sintra, novamente, com pessoal da EPRPS - o que dá uma tranquilidade muito grande porque não há concessões à facilidade - já está a proceder a algumas obras e manobras de limpeza.

Por outro lado, o Relatório que, em 17 do corrente, apresentámos ao Vice-Presidente Rui Pereira, na sequência da aludida visita, já está em estudo, sabendo nós que muitas das reflexões e perspectivas de funcionamento futuro coincidem totalmente com as da autarquia. Julgo que posso animar todos com a nítida esperança de melhores dias já num próximo futuro.



Os melhores do mundo
 
[facebook, 26 de Julho de 2014]

 Através da RDP2, acabo de ouvir a gravação histórica de um concerto que Emil Gilels (!916-1985) veio fazer ao Tivoli numa iniciativa da Sociedade de Concertos de Lisboa, em 1961. Dirigindo a Orquestra da Emissora Nacional, Pedro de Freitas Branco. Como tenho uma gravação [Strauss PortugalSom] desse Concerto para Piano e Orquestra No. 1 de Tchaikovsky, fui verificar a data: 27 de Abril de 1961. Com 13 anos, eu estava lá.

Assim como, uns meses antes, no
Coliseu de Lisboa, tendo como solista David Oistrakh (1908-1974), do mesmo compositor, o Concerto para Violino e Orquestra em Ré Maior, com o mesmo maestro dirigindo a mesma orquestra. Eu estava lá. Sempre por iniciativa do meu pai, em momentos inesquecíveis. Era a fasquia dos melhores do mundo que, aliás, já se me tinha imposto desde criança.

Partilho convosco a primeira memória referida. Por aqui, como sabem, também anda a memória da Senhora Marquesa de Cadaval que presidiu à Sociedade de Concertos de Lisboa. Só boas recordações de um enriquecimento sem palavras.

Eis uma gravação ao vivo datada de 17 de Março de 1949, com Emil Gilels e a Orquestra Sinfónica da URSS, sob a direcção de Kirill Kondrashin.

Boa audição!

http://youtu.be/dCwJOpi8lwo
 
 

sábado, 26 de julho de 2014



Queluz
- enorme expectativa


Estou preparando um artigo para publicação próxima sobre algumas preocupações da
Parques de Sintra de Sintra em relação a Queluz. Como membro do seu Conselho Científico, participei numa reunião, que teve lugar n...o passado dia 14, durante a qual o Prof. António Lamas partilhou algumas ideias e projectos do maior interesse que, à minha modesta medida, procurarei divulgar.

A recuperação das fachadas, por exemplo, vai ser algo de absolutamente fascinante, asseguro-vos. Finalmente, vamos poder chegar junto das paredes, das portas e das janelas sem a dor que, há tantos anos, temos suportado. O meu amigo Engº Daniel Silva, que tantas provas de probidade e de rigor tem dado na recuperação do património edificado a cargo da empresa, é responsável por mais estas obras no Palácio de Queluz. Os estudos levados a efeito determinaram, sem margem para qualquer equívoco, qual o cromatismo inicial e, portanto, o que agora vai ser adoptado.

Tenham um pouco mais de paciência. Vale a pena esperar e ir acompanhando as notícias que não faltarão para regozijo de todos os que se interessam pela recuperação do património. Como sabem, aqueles bens não podem estar em melhores mãos pelo que, dali proveniente, qualquer atitude, qualquer decisão neste domínio da intervenção cultural, tem sempre o maior crédito para que possa ser acolhida com a maior confiança.

 
Temos já em curso o projeto de recuperação das fachadas do Palácio Nacional de Queluz. Implica o estudo das fachadas e caixilharias, bem como o levantamento do estado de conservação destas e das cantarias, o que requer uma análise mais próxima.
 
 

 
 
 
 
Foto: Temos já em curso o projeto de recuperação das fachadas do Palácio Nacional de Queluz. Implica o estudo das fachadas e caixilharias, bem como o levantamento do estado de conservação destas e das cantarias, o que requer uma análise mais próxima. 

Credits_PSML
 



 

sexta-feira, 25 de julho de 2014


Crianças e jovens no Mozarteum

Estes miúdos estão «a trabalhar» com a Dr. Johanna Senigl, que conheço há muitos anos, do tempo em que a minha querida amiga Prof. Geneviève Geffray era directora da Mozartiana. A presença das crianças na Fun
dação do Mozarteum é algo de verdadeiramente impressionante, representando um investimento que a Região de Salzburg e a cidade de Sazburg enquadram exemplarmente.

Quando, por cá, me perguntam que estratégias desenvolver para conquistar novos públicos, naturalmente, me ocorrem estes exemplos, radicados num passado próximo e longínquo que não se «exporta» nem replica do pé para a mão...
 
 
Die Mozart Kinderwoche 2014 war ein voller Erfolg. Hier sind die Kinder bei Bibliothekatrin Johanna Senigl in der Biblotheca Mozartiana. Schönes Wochenende
 
 

Esta manhã,
na Volta do Duche

Em Sintra com João De Oliveira Cachado


Como estou na boa companhia do Fernando Morais Gomes, até me sujeito a esta pública visibilidade. Há anos que a nossa comum paixão se transformou num «ménage à trois» E escusam de 'apimentar' porque o outro vértice da relação é Sintra...
Neste momento do nosso encontro, se não me engano, falávamos acerca de uma nossa luta, em que, por amor a Sintra, como tantas vezes nos acontece, nos armámos em David. Na altura, Golias era, nem mais nem menos do que o Dr. Ricardo Espírito Santo Salgado, o concessionário hoteleiro de Seteais que, todo poderoso, se permitiu assumir atitudes que muito ofenderam os sintrenses.

Uma vez, a destruição do tanque, outra o encerramento do terreiro, ainda outra quando arrasou aquele magnífico relvado, ali fazendo assentar o arraial de mega-tendas metálicas, por ocasião do casamento da filha. E ainda muito teria de contar acerca da ocasião em que, alegando «razões de segurança», mandou expulsar-me do espaço público porque me atrevi, qual intruso, entrar no recinto onde decorria uma grande festa com magnatas ibéricos...
Tenho um sério rol de queixas contra o banqueiro, é verdade. Contra os seus interesses, fui a reuniões públicas da Câmara e da Assembleia Municipal de Sintra. Incomodei-me nos locais onde devem ser dirimidas as razões de queixa dos cidadãos. E fartei-me de escrever artigos de imprensa, textos no www.sintradoavesso.blogspot.com . Podia, agora, voltar à carga. Mas, coitado, tanta tem sido, está sendo e será a pancada que até tenho pudor.

Mas recordo. Ou, melhor, recordamos. Tal como nesta manhã, com o meu amigo. Conversas que, fazendo parte do nosso currículo oculto, só são possíveis porque, dessas vezes, nos expusemos sem pudor algum...



Efeméride mozartiana,25 de Julho 1788

Dia em que o compositor dá entrada da Sinfonia No. 40 no seu catálogo pessoal.Sem dúvida que foi com duas orquestras em perspectiva que Mozart compôs as duas versões da sua Sinfonia em Sol menor KV. 550, obra cheia de neurose, intelectual e tematicamente a mais erudita de todas as suas grandes sinfonias. Não há uma única nota a mais, ou seja, a contenção é máxima, absolutamente nenhuma concessão à facilidade ou ao ânimo leve.

Muito frequentemente, é nítida a sensação de um violento e notório desespero que nos remete para o Romantismo. A primeira versão da peça, além dos habituais naipes de cordas, foi escrita para 1 flauta, 2 oboés, 2 fagotes, 2 trompas, uma versão em que – façam o favor de reparar bem – são precisamente as trompas que contribuem para um tom particularmente agressivo da música.

Em relação à versão inicial, na revisão da orquestração a que procede em Abril de 1791, Mozart introduz clarinetes na textura e reformula as partes de oboé, conferindo à obra um cariz mais nostálgico. De qualquer modo, quer numa quer noutra, o que ressalta é a economia do material.

Esta é uma obra em que todos os cânones vigentes são postos em causa. É uma obra em que é enorme o salto para o futuro. Ela é um marco na História da Música em geral e na História da Sinfonia em particular. Com a KV. 550, o compositor perturba as consciências formatadas para uma ordem que ele vem abanar como um terramoto.
A partir de então, nunca mais o género sinfónico terá qualquer espartilho. Nesta sinfonia, Mozart protagonizou um salto para a Liberdade, abrindo a porta aos grandes sinfonistas do futuro, em especial, a Beethoven que ainda conheceu e acerca de quem tinha a melhor das impressões. Ouvir a KV. 550 continua a constituir um desafio à inteligência, um convite ao enriquecimento do espírito.

E, se quiserem, no contexto da tríade em que figura como segundo momento – depois da Sinfonia No. 39 e a caminho da ‘Júpiter’ – representa um território sombrio, um momento em que tudo é posto em causa, até à resolução que a Sinfonia No. 41 vem anunciar.

Vou deixá-los com a leitura de Harnoncourt à frente da Orquestra de Câmara da Europa É, de facto, uma abordagem impecável. Assim saibam entender-lhe a diferença relativamente a outras propostas.

Boa audição!


http://youtu.be/2HbMzu1aQW8

 

quinta-feira, 24 de julho de 2014



Di Stefano [II]


Apelido de ouro. Inquestionavelmente. Mas não, não vos trago memória de mais episódio algum da vida de Alfredo, o grande futebolista argentino que morreu há dias. Di Stefano, hoje, é Giuseppe. Nascido em Motta Sant'Anastasia, na província da Catania, na Sicilia, em 24 de Julho de 1921.

Ele é «A Voz» que muitos consideram ser a do maior tenor de todos os tempos e que, com Maria Callas, emparceirou nos mais célebres duetos. Querem um exemplo? Escutem este de
"I Puritani", 'Vieni fra queste braccia', em que tem oportunidade de fazer ouvir um célebre Dó sustenido sobreagudo. Maria Callas e Giuseppe Di Stefano num dos seus melhores momentos, no Palacio de Bellas Artes, México.

Aquele [II] junto ao título significa que este é o segundo de mais testemunhos tão eloquentes que, durante o dia, aqui partilharei convosco.

Boa audição!


http://youtu.be/Q22lBBV5HA4
 
 


Di Stefano [I]


Apelido de ouro. Inquestionavelmente. Mas não, não vos trago memória de mais episódio algum da vida de Alfredo, o grande futebolista argentino que morreu há dias. Di Stefano, hoje, é Giuseppe. Nascido em Motta Sant'Anastasia, na província da Catania, na Sicilia, em 24 de Julho de 1921.

Ele é «A Voz» que muitos consideram ser a do maior tenor de todos os tempos e que, com Maria Callas, emparceirou nos mais célebres duetos. Querem um exemplo? Escutem este 'A
te o cara' de "I Puritani' de Bellini. Aqui têm o texto para melhor poderem acompanhar:

A te, o cara, amore talora
Mi guidò furtivo e in pianto;
Or mi guida a te d'accanto
fra la gioia e l'esultar.
Al brillar di sì bell'ora,
Se rammento il mio tormento
Si raddoppia il mio contento,
M'è più caro il palpitar.

Aquele [I] junto ao título significa que este é o primeiro de mais testemunhos tão eloquentes que, durante o dia, aqui partilharei convosco.

Boa audição!


http://youtu.be/pvTYiyd3BbY
 



Falecimento de Giuseppe Tomasi di Lampedusa (n. 1896).
23 de Julho de 1957


Entre outras obras, foi autor do romance "Il gattopardo" [O Leopardo] em que, grosso modo, trabalha a questão da decadência da aristocracia s
iciliana durante o Risorgimento. Celebérrima e constantemente citada é a opinião do príncipe de Falconeri segundo a qual tudo deve mudar para que tudo fique como está.

Este grosso romance, que nunca li, embora não me esqueça da sua destacada presença na biblioteca dos meus pais, deu origem ao filme homónimo, realizado por Luchino Visconti, que vi no Tivoli, logo após a estreia em Lisboa, em 1963. A propósito, ocorre-me hoje destacar a banda sonora de Nino Rota, e a faixa mais conhecida.

Nos meus quinze anos, esta valsa embalou aquela tarde de cinema em que acompanhei uma afastada prima, muito mais velha do que eu e que, de algum modo, a minha adolescência fantasiava em ritmos mais ou menos dengosos, exaltados por hormonas a galope… Claro está que, nestes cinquenta subsequentes anos, tenho visto "Il Gattopardo" «como deve ser». Muitas vezes, e sempre como um dos filmes da minha vida.

Enfim, eis o convite para comigo partilharem alguns momentos da belíssima música do compositor italiano cuja obra também tanto temos em memórias de películas de Federico Fellini.

Boa audição!



http://youtu.be/iuW8hqj8W-w
 
 

terça-feira, 22 de julho de 2014



Goethe-Barenboim/Said


No ano passado, em 29 de Julho, por altura da entrega a Daniel Barenboim do Prémio Gulbenkian por especiais serviços prestados à causa da Liberdade, escrevi eu um pequeno texto sobre a designação da orquestra que ele, galáctico maestro de origem judaica, fundou em íntima colaboração com o académico palestiniano Edward W. Said.

A verdade é que, a propósito de um post ontem publicado neste meu mural, propondo a partilha de uma obra estreada pela Orques...
tra no Festival de Luzern em 2013, duas pessoas me perguntaram acerca do nome. Assim, parece pertinente voltar a esclarecer porque, ceertamente, outras haverá com a mesma dúvida.

West-Östlicher Diwan, designação no original Alemão, ou West-Eastern Divan, como proposta de tradução para Inglês, é um «diwan» - ou seja, uma antologia de poemas líricos - da autoria de Johann Wolfgang von Goethe (28 de agosto de 1749-22 de março de 1832) inspirados na obra do poeta persa Hafez.

Fazendo parte do último grande ciclo de poesia em que Goethe se envolveu, consiste num conjunto de doze livros de poesia dos mais diferentes registos, tais como parábolas, de recorte histórico, de cariz político ou religioso, sempre com o objectivo da aproximação entre Oriente e Ocidente, propósito tão caro aos artistas do período Romântico:

Livro do Cantor (Moganni Nameh)
Livro de Hafiz Hafiz (Hafis Nameh)
Livro do Amor (Uschk Nameh)
Livro da Reflecção (Tefkir Nameh)
Livro do Humor (Rendsch Nameh)
Livro das Máximas (Hikmet Nameh)
Livro de TimurTimur (Timur Nameh)
Livro de Zuleika (Suleika Nameh)
Livro do Copeiro (Saki Nameh)
Livro das Parábolas (Mathal Nameh)
Livro dos Parsi (Parsi Nameh)
Livro do Paraíso (Chuld Nameh).

Em suma, trata-se de uma obra a ser encarada como exemplo e mesmo símbolo da troca, do diálogo entre Oriente e Ocidente, não só no sentido restrito da realidade alemã vs Médio Oriente, mas também Latino-Persa e Cristão-Muçulmano.

Enfim, talvez assim melhor se compreenda porque decidiram Barenboim e Said optar por esta designação para a Orquestra que fundaram em 1999. Numa breve apresentação da Divan, eis o próprio Daniel Barenboim.


http://youtu.be/8VsNJ6ITE64.