[sempre de acordo com a antiga ortografia]

sexta-feira, 29 de fevereiro de 2008




Maria Nobre Franco,
amiga de Sintra




Há cerca de dois meses, tão discretamente quanto, dez anos atrás, tinha chegado ao edifício da Heliodoro Salgado, para assumir o cargo de Directora do que ali ficou instalado como Museu de Arte Moderna de Sintra-Colecção Berardo, deixou Maria Nobre Franco de exercer tais funções, após inauguração da exposição Arte Latino-Americana na Colecção Berardo.

Sempre com a máxima discrição. Há pessoas assim. Diletante, na melhor acepção do termo, não é que faça grandes coisas sem perceber que as está fazendo. Não, faz grandes coisas, percebe a sua importância, porque é lúcida, mas fá-las como se não tivessem importância alguma. Envolve-se ao máximo nos projectos, mas sempre com um elegante distanciamento, com eles mantendo uma sui generis aristocrática relação.

Num momento em que pululam os videirinhos, metendo-se como piolho por costura à conquista de qualquer vantagem, em que raro é quem não se ponha em bicos dos pés, esbracejando uma presença que, na maior parte dos casos, seria perfeitamente dispensável, continua a ser alto o privilégio de encontrar e privar com pessoas como Maria Nobre Franco.

Soube-se que a Maria ia aposentar-se. Mas não acreditem. Alguém que vive com a Arte uma art de vivre, cujos sinais também deixou cá por Sintra, alguém que passou a vida a reformar coisas que precisavam de reforma, não vai nada para a reforma, ainda que, teimosamente, mas em vão, o calendário e as lindíssimas rugas o afirmem…

Créditos e palmarés

Mulher de Cultura, licenciada em Clássicas - no tempo em que uma licenciatura nas várias Filologias, imediatamente remetia para um universo de referências e abrangências culturais de nível absolutamente superior, sem a mínima comparação com o que actualmente acontece - é pessoa de muitos talentos que bem sabe gerir, desde professora, tradutora, jornalista da ORTF em Paris, onde permaneceu largos períodos, aí convivendo com conhecidos artistas e intelectuais locais e também portugueses, até ter fundado e dirigido a Galeria Valentim de Carvalho entre 1984 e 1995, etc.

Passou uma inteira década que, em Sintra, pela sua mão, afirma e confirma um percurso bem presente e prenhe de realizações que permanecerão como marca indelével da transição entre dois séculos de Arte. Falo da pintura, da escultura, também da fotografia ou dos media mistos que, na maioria dos casos, através das propostas de Maria Nobre Franco, souberam espreitar e lançar pontes, consoante as mais evidentes ou sofisticadas conotações, para abordagem de outras expressões como a literatura, a música ou o cinema.

Seria fastidioso lembrar o enorme palmarés de dezenas de exposições e de outros eventos a que o seu nome ficou ligado, alguns dos quais autênticos sucessos a nível nacional. Muito resumidamente, cumpre assinalar as periódicas e invariavelmente interessantes apresentações de diferentes componentes e novas aquisições da Colecção Berardo, com pontos do mais alto interesse na Pop Art, Arte Cinética e Op Art, no Surrealismo, no Minimal, Fotografia, Art Deco.

Na memória de quem anda convenientemente atento e, a crédito desta grande amiga de Sintra, ficarão ainda «Living Site, Specific Wall Paintigs de Michael Craig Martin», «O Vício da Liberdade, Arte e Desenhos Publicitários», «Pomar – Autobiografia», «Geração Esquecida – Erich Kahn», «Fernando Lemos e o Surrealismo», «Sedução, Cinema e Pintura» para além de outras.

Podia ser melhor…

Tive oportunidade de, nestas mesmas páginas do Jornal de Sintra, ter escrito acerca de algumas destas iniciativas, razão pela qual, naturalmente, muito bem recordo alguns factos e até curiosos episódios com elas relacionados. Não é altura para entrar em pormenores que poderão aceder através da leitura desses artigos mas, tão somente, de trazer à colação apenas dois, de emocional sinal contrário.

Lembro, por exemplo, com alguma tristeza, a circunstância de haver pouquíssimos espectadores num concerto, no vizinho Centro Cultural Olga Cadaval, promovido por altura da exposição à volta de Erich Kahn, expressionista alemão, judeu sobrevivente dos campos de concentração. Música do maior interesse que passou totalmente ignorada. Ou, noutra onda muito mais favorável, o pintor Júlio Pomar que enriqueceu o património artístico de Sintra ao pintar duas portas dos sanitários do restaurante da D. Joana…

Justo é mencionar que, no contexto do protocolo vigente, o município ofereceu muitos bilhetes de acesso às Juntas de Freguesia do concelho, facilitando a vinda de muita gente que, de outro modo, jamais teria visitado um Museu de Arte Moderna. E também as crianças e jovens que enriqueceram a sua formação e experiência, ganhando um maior interesse por expressões artísticas que Sintra cultiva naquele lugar.

Vem a propósito ainda referir que este seu período de direcção não foi isento de algumas sérias dificuldades cujos contornos soube enquadrar, com um contributo decisivo para o objectivo de encontrar as melhores soluções. Tais foram, por exemplo, os casos das obras que o edifício da Heliodoro Salgado exigia, para além do sempre melindroso problema da renegociação do protocolo entre a Câmara Municipal de Sintra e o mecenas fundador da colecção.

Não tenho a menor dúvida em afirmar que não fossem os constrangimentos decorrentes, por um lado, da sistemática falta de ou deficiente divulgação das actividades do Museu, e, por outro, a incapacidade de resposta à questão do estacionamento - factores flagrantemente negativos, permanentemente apontados na avaliação dos visitantes nacionais e estrangeiros, cuja resolução, em ambos os casos, compete à Câmara Municipal de Sintra - o saldo deste período ainda seria mais significativo. Mas, enfim, esta é a moldura geral da realidade nacional. Contra «isto», pelos vistos, nem a Maria nem o mais pintado…

Pagar dívida

Pessoa de cativante personalidade, promotora de tão multifacetadas actividades, Maria Nobre Franco é exigente com os membros das equipas que coordena. E ainda bem porque, só assim, se justifica a obra asseada que para trás fica, com a certeza de que as aprendizagens adquiridas sob sua orientação hão-de plasmar-se no futuro, já que permanecem no Museu aqueles que, durante anos, mais de perto com ela trabalharam.

Inequivocamente, repito, trata-se de uma grande amiga a quem esta terra deve uma atitude de gratidão. Na minha modesta opinião, não pode nem deve tardar. Estas homenagens públicas, perante personalidades deste calibre, ou se fazem de imediato ou não se fazem. Bem, muito bem, actuou o nosso vizinho Jorge Sampaio que, enquanto Presidente da República, a agraciou como uma das mais notáveis mulheres deste país.
Aguardemos.

PS:

Querem saber um segredo? Para além da partilha coincidente de muitas opiniões sobre Arte, a Maria e eu ainda temos uma paixão comum. É a pianista Clara Haskil, que nasceu em 1895 e não morreu em 1960, contra o que afirmam as biografias da ordem. Conforme atestam as gravações que deixou, é a mais notável intérprete de Mozart, de todos os tempos. O também imortal Mozart, reconheceu em Haskil um espiritual émulo interpretativo, quase demiurgo, permitindo-lhe o acesso à sua mais recôndita harmonia. A Maria e eu apenas o descobrimos em tempo oportuno. Mais nada.

E, a terminar, a sugestão de adquirirem uma gravação ao vivo, de um concerto de Haskil, no dia 1 de Agosto de 1957, no Festival de Salzburg. Entre outras peças, ouvirão a Sonata em Dó Maior, KV 330 de Mozart. Se, ao escutarem o Andante Cantabile, não subirem no céu, logo ficam a saber que nem são dignos de Haskil nem de Mozart. Portanto, vejam lá no que se metem…

quinta-feira, 28 de fevereiro de 2008

Em Belas?
- o que o luto não cala



Neste nosso desgraçado país que continua sendo tão manifestamente afectado pela enraizada cultura de desleixo - também fruto dos mais altos índices de analfabetismo e iliteracia da União Europeia - até que ponto será necessário lutar, no sentido de tornar eficazes os efeitos da intervenção cívica de denúncia, contra cada evidente caso que ponha em risco a segurança de pessoas, ao ponto de lhes causar a morte?

É uma questão que sistematicamente se me coloca e para a qual continuo sem resposta. Recentemente, Loures, Camarate, o horror das inundações, a morte em Belas. Por analogia, ocorre-nos o caso de Entre-os-Rios, que tanta e natural consternação causou, para que nos perguntemos se seria de esperar que o colossal processo de mediatização decorrente, em vez de acicatar a sempre latente atitude de voyeurismo, poderia desencadear a reacção cívica que se impunha.

Esperava eu que afirmativa fosse a resposta àquela questão. E assim pensava, tendo em consideração aquilo que, sem presunção, julgo ser o meu profundo conhecimento da realidade nacional, em consequência da actividade como técnico superior do Ministério da Educação, durante anos e anos envolvido em projectos de intervenção integrada, em Trás-os-Montes e Alto Douro, Douro Litoral, Minho, Beiras, Alentejo e Açores, para além da zona metropolitana de Lisboa, em contacto directo com uma imensa diversidade de realidades locais.

Previa que uma calamidade, com a dimensão de Entre-os-Rios, não só acabasse por constituir um sério ponto de viragem, um definitivo alerta contra a chaga nacional que é a sistemática falta de manutenção de todo o tipo de infra-estruturas, mas também contribuísse para favorecer o fermento de uma atitude cívica inconformada e exigente, que não se satisfizesse apenas com o ressarcimento decorrente da recepção de indemnizações.

A verdade é que, num momento então propício e num terreno que era preciso ter explorado convenientemente, não apareceram as associações cívicas de diferentes perfis, fazendo o trabalho de mobilização afim da motivação e consciencialização para o envolvimento das populações, cuja concretização permanece totalmente pertinente, agora, na sequência deste infeliz episódio da intempérie dos passados dias 10 e 11 de Fevereiro.

Lágrimas de indignação


Conhecidas, lamentáveie e evitáveis causas, no âmbito da proverbial e fatídica cultura do desleixo, estão a montante das trágicas consequências do acidente de Belas. Naturalmente, não há entidade disposta a assumir a mínima responsabilidade e, muito pelo contrário, ao vislumbrar qualquer hipótese de que tal possa acontecer, logo trata de sacudir a água do capote...

Veja-se o caso da Câmara Municipal de Sintra. No dia 27 do mês passado, por ocasião da primeira reunião pública após a tragédia, o executivo municipal expressou pesar pelas duas mortes, fez um minuto de silêncio e o Senhor Presidente lembrou que aquela via é uma estrada nacional. Para bom entendedor... O Senhor Vice-Presidente enalteceu o empenho dos serviços municipais nas tarefas de remediação e o Senhor Vereador João Soares congratulou-se com o facto de a JF de Monte Abraão ter suportado os encargos com o funeral, esperando que o município tudo faça no sentido de minorar o sofrimento das crianças filhas das vítimas.

E pronto. Tudo resolvido. Como sempre, toda a gente de consciência tranquila. Entretanto, a família das duas jovens irmãs – que, duma assentada, perderam a vida em Belas - já anunciou a intenção de processar a Câmara Municipal de Sintra e a empresa Estradas de Portugal EP por homicídio por negligência, contando com o testemunho de pessoas que já se tinham queixado quanto ao péssimo estado em que o muro se encontrava.

Indignação consequente

No âmbito de uma tragédia que, assim, para sempre destroçou e enlutou uma família que podia ser a minha ou a vossa, quero manifestar a mais profunda admiração pela decisão que tomaram. Contudo, no dificílimo momento que estarão atravessando, adivinho como estas pessoas enlutadas gostariam de sentir a solidariedade consequente de todos os cidadãos que se indignaram perante a evitável perda destas duas vidas e não se conformam com expressões de pesar que não passam de formalidade de circunstância.

Com isto, e, através deste meu singelo contributo, apenas pretendo dizer da necessidade de dar público manifesto dos sinais de desconforto e de mal estar, suscitados por todas as ausências e omissões de atempada actuação dos serviços da administração central e local, que suscitaram os efeitos acumulados na origem do infausto acidente.

Estou em crer que, só deste modo, transformando em atitude cívica, responsável e consequente – aquilo que, assim não sendo, apenas entendo como lágrimas de crocodiloestaremos à altura do momento de luto, incapazes de admitir atitudes que, escandalosamente, como no caso de Entre-os-Rios, acabem por ilibar os eventuais responsáveis.

quarta-feira, 27 de fevereiro de 2008

Bons sinais


Já o tenho referido e, de vez em quando, é um prazer renovado poder confirmar. Algumas notícias que nos chegam da Parques de Sintra Monte da Lua, constituem verdadeiro lenitivo contra os desagradáveis episódios com que, não raro, nos confrontamos em Sintra-Sintra, ou seja, a parte do concelho que, sabem os leitores, costumo considerar inequivocamente conotada com as ideias e imagens de uma terra que nada tem a ver com alguns adjacentes subúrbios incaracterísticos e betonados.

Muito recentemente, ficámos a saber que a administração da empresa está a preparar a possibilidade de os visitantes acompanharem as obras de restauro do Chalé da Condessa. Esta é uma atitude que me é tão mais atraente e cara quanto sinto que, provavelmente, terei contribuído ao insistir nesse sentido e, inclusive, apresentando exemplos de situações congéneres no estrangeiro, em que o público acede, com toda a segurança, às obras em curso.

Como diz o povo, as coisas estão a entrar nos eixos. Alargando o âmbito destas considerações, por exemplo, também a Monserrate, é sabido que a campanha de obras de recuperação não é coisa a concretizar em um ou dois mas, certamente, para uma faseada intervenção, ao longo de muito mais anos, que os sintrenses e a comunidade em geral não podem deixar de encarar.

Todos sabemos quão escassos são os recursos financeiros. Daí que deva insistir-se e esgotar todas as possibilidades decorrentes da Lei do Mecenato, através da sempre sofisticada e morosa negociação de contrapartidas em que radiquem e, de parte a parte, se justifiquem os compromissos a alcançar para a salvaguarda de um património absolutamente inestimável, exigindo que todos estejamos à sua altura.

Com a maior informalidade, tenho conversado não só com o Dr. João Lacerda Tavares mas também com técnicos da PSML que, muito profissional e simpaticamente, me têm posto ao corrente dos trabalhos actuais e dos projectos. É muito gratificante manifestar a opinião de que podemos confiar naquela gente, independentemente do cuidado e da permanente atenção que a área de jurisdição da empresa nos deve solicitar em termos de intervenção cívica.

PS:

Bem sei que, durante vários anos, fomos tão desrespeitados pela controversa gestão do biólogo Serra Lopes que não é fácil deixar de desconfiar… Aliás, a este propósito, também tenho repetido que ainda não está esquecida a necessidade de saber, afinal, qual o resultado das averiguações levadas a efeito pela Polícia Judiciária, na sequência das auditorias às práticas administrativas consideradas irregulares, durante tão conturbado período.

terça-feira, 26 de fevereiro de 2008

Prós e contras

Ontem, dia de Prós e Contras na RTP Um, enorme era a expectativa relativamente ao teor do debate que poderia acontecer. Com o Sistema Educativo em grande ebulição, natural seria que a abordagem de temas como a avaliação dos docentes e regime de gestão dos estabelecimentos de educação e de ensino de nível não superior, suscitasse inusitada apetência.

A verdade é que as coisas não correram bem. E tal não sucedeu, na medida em que, mesmo de acordo com as características de risco do programa em questão, Fátima Campos Ferreira esteve muito aquém da capacidade de que já deu sobejas provas na condução de debates, pelo menos, tão ou mais espinhosos quanto este se perspectivava.

O que mais me custa admitir, é que, durante horas de emissão, se tenha perdido uma evidente oportunidade para esclarecer questões muito específicas, não raro, dificilmente assimiláveis, em detrimento de participações avulsas, mal preparadas, repetitivas, dando voz a entidades de contornos difusos que, nem sequer ainda tiveram tempo para chegarem à definição dos seus próprios objectivos, afinal:

- não deixando transmitir – caso do Prof. João Formosinho, da Universidade do Minho – uma informação técnico-científica um pouco mais afinada, que seria capaz de muito melhor circunstanciar do que a pivô lhe permitiu, com a qual, tanto os presentes como os telespectadores, com evidentes vantagens, perspectivariam as suas posições como cidadãos, pais e encarregados de educação e educadores;

- impedindo o sublinhar, ainda que, muito sucintamente, de alguns pormenores das pertinentes considerações do professor Arsélio, por vezes tão recortadas e eivadas de profundidade didáctica e pedagógica - à mistura com uma poesia dos trabalhos e dos dias de quem, na qualidade de docente, estava ali por direito próprio – assim contribuindo no sentido de que o programa não se tivesse transformado naquele desassossegado vórtice;

- não concedendo à ministra a oportunidade de, mais copiosamente, explanar as medidas que ela e a sua equipa, sob a égide do chefe do governo, insistem em impor ao Sistema Educativo, atabalhoadamente, sem qualquer perspectiva sistémica, apenas em articulação com o calendário político, portanto, em conjugação com a legislatura e o período eleitoral.

De qualquer modo, apesar dos óbices que, tão sucinta e incompletamente, acabo de apontar, foi flagrante o divórcio entre a decisora política e os agentes educativos e patente a impossibilidade de continuar a constante luta, no recinto de combate em que se transformaram as escolas, que já perderam a capacidade de acolher, perceber, estudar as propostas da Cinco de Outubro.

PS

A quem possa interessar:

Qualquer razoável professor o sabe. Um debate não é coisa cuja preparação e posterior concretização se possa aligeirar. Pressupõe uma táctica e várias estratégias, de acordo com figurinos mais ou menos racionalistas, bem radicados em conhecidos métodos, dentre os quais o muito cartesiano Treino Mental, da autoria de Benigno Cacerès e Joffre Dumazedier, é dos mais eficazes que conheço.

segunda-feira, 25 de fevereiro de 2008

O (in)evitável fim da tabela…


Quando, nestas páginas de Notas Diárias, me refiro aos preocupantes níveis de analfabetismo pleno, analfabetismo funcional e à iliteracia no nosso país, faço-o com a permanente intenção de que sejam conjugados e articulados com os evidentes manifestos das incorrectas e condenáveis práticas quotidianas dos cidadãos que, naturalmente, são consequência do estado de coisas reflectido pelas mais insuspeitas estatísticas.

Alguém duvidará de que há uma subtil relação entre aqueles índices e o facto de acontecer entre nós o maior fosso europeu na distribuição da riqueza, a maior diferença entre os salários dos administradores e o mínimo nacional, uma preocupante fraude fiscal, economia paralela descontrolada, fabulosos lucros da banca, corrupção galopante atentados contra o ambiente, caos urbanístico e, infelizmente, mais, muito mais?

Em Portugal que, invariavelmente, não consegue descolar do fim da tabela, devia pontificar o maior pudor em falar de excelência ou de ilhas de excelência, na medida em que tais noções apenas funcionam relativamente às nações que, há mais ou menos tempo, resolveram as questões que permanecem no nosso quadro da vergonha.

Não é preciso ir mais longe do que a Espanha para mencionar um país – que, não esqueçamos, já é a oitava potência económica mundial! – para lembrar que aí já se atingiu o patamar de uma normalidade económico-financeira e social que, sendo motivo para natural orgulho, até justifica uma alta auto-estima. Por estas e por outras é que, em Espanha, se pode falar em excelência, em ilhas de excelência e que, em Portugal, apenas se pode falar de excepções que confirmam a regra.

Mas as crianças, senhor…

Mais uma vez, confirmando a regra, aí está o relatório que a União Europeia hoje vai divulgar, afirmando que Portugal se encontra entre os piores oito países em que se registam níveis mais elevados de pobreza nas crianças, uma em cada cinco, portanto, vinte por cento (correspondendo à média geral nacional, que inclui todos os cidadãos independentemente da idade).

No que respeita ao factor escolaridade dos pais, afirma-se ser o pior nível de desqualificação da União Europeia, em que quase 70% das crianças portuguesas vivem com pais que não terminaram o secundário. Reparem que a média Europeia é de 16%! Tão ou ainda mais preocupante o facto de o risco de pobreza ter aumentado de 23 para 24% entre 2004 e 2005.

Recolocaria, com outros parâmetros, mas afins, a pergunta do segundo parágrafo: alguém duvida que estas marcas de terceiro mundo se relacionam com os resultados da intempérie da semana passada? Se forem pela negativa, o melhor é acenderem uma velinha, a ver se lhes concede maior lucidez...

Claro que é possível dar a volta a isto. Não com os óculos cor de rosa dos senhores primeiro e demais ministros, que vão passar por estas notícias como cão por vinha vindimada. Pudera! Suas Excelências governam outra realidade, como se este fosse um país da média europeia, ou que, como a Espanha, já tivesse ultrapassado tal fasquia.

sexta-feira, 22 de fevereiro de 2008

Quem diria…

A Sedes – Associação para o Desenvolvimento Económico e Social - é uma organização cívica, constituída ainda no tempo do antigo regime, em 1970, congregando uma série de figuras de intelectuais, estudiosos das áreas da economia e finanças e das ciências sociais que, ou eram da oposição democrática ou se posicionavam na área mais progressista da Igreja Católica.

Ciclicamente, a Sedes vem a público apresentar o resultado de alguns dos estudos que, felizmente, continua a desenvolver sempre com irrefutável e inequívoca qualidade, em prol da cidadania. Hoje, precisamente, o jornal diário Público concede o seu principal destaque, de primeira página e interior, a um documento cujas conclusões mais não fazem do que resumir o estado de depressão social que o país atravessa.

Ao contrário do que o Primeiro-Ministro, desesperada e falsamente, continua a afirmar, o insuspeito estudo daquela associação cívica vem confirmar que Portugal experimenta um mal-estar difuso (sic) de tal ordem preocupante que, mais cedo ou mais tarde, poderemos estar a braços com uma crise social de contornos difíceis de prever.

Os factores que, mais decisivamente terão contribuído para este statu quo e continuam o seu pernicioso efeito na sociedade portuguesa são a “(...)degradação da confiança no sistema político, sinais de crise nos valores, comunicação social e justiça, criminalidade, insegurança e os exageros cometidos pelo Estado (…)”.

Uma das mais pertinentes afirmações da Sedes relaciona-se com o potencial mas flagrante fracasso da democracia representativa que “(…) criará um vácuo propício ao acirrar das emoções mais primárias em detrimento da razão e às consequente emergência de derivas populistas, caciquistas, personalistas (…)”.

Acerca da corrupção - doença social crónica que, também hoje, será objecto de Lei a aprovar pelo Parlamento, infelizmente, expurgada pelo Partido Socialista dos dispositivos judiciais que, com maior eficácia, permitiriam o seu combate – afirma a Sedes que “(…) É precisamente na penumbra do que a lei não prevê explicitamente que proliferam comportamentos contrários ao interesse da sociedade e ao bem comum. E é justamente nessa penumbra sem valores que medra a corrupção, um cancro que corrói a sociedade e que a justiça não alcança (…)”.

Naturalmente, também os partidos políticos e o Estado, em geral, são visados no sentido de prestarem contas sobre a forma como exercem o poder, alertando para a permanente necessidade de ouvir os cidadãos que não podem deixar de entender “(…) as razões que presidem à formação das políticas públicas que lhes dizem respeito (…)”.

O Documento da Sedes surge num momento em que faltava uma síntese operacional do estado de coisas a que chegámos, com um governo que, ao contrário das recomendações supra, não tem querido ver, ouvir e ler os sinais de mal-estar de um povo que não aguenta mais.

A que nos governa, tenho-o dito e repetido, é uma classe política destituída dos méritos que mais interessariam à gestão da república, classe que, ao contrário da sempre desejável elite, é incapaz de produzir os verdadeiros estadistas que preservam o lastro ideológico e cultural sem o qual a política é coisa desalmada (isto é, sem alma, sem ânimo).

Para estes politiqueiros que nos governam, a quem convém afivelar máscaras condicentes com os óculos cor de rosa, o estudo da Sedes, não tenham dúvidas, vai ser considerado como mais um factor gerador de desânimo popular, a contribuir para a falta de auto-estima, de quem não compreende os superiores propósitos dos iluminados que, em São Bento, cantando e rindo, vão afundando este desgraçado país.

Até agora, apenas vimos, por exemplo, e, só de uma vez, quase duzentas mil pessoas protestando na rua, em manifestação que o governo desvalorizou. Até agora, apenas vimos, por exemplo, um grupo de professores que, no Largo do Rato, se permitiu manifestar, ao Primeiro-Ministro e Secretário-Geral do Partido Socialista, um descontentamento que Sua Excelência logo considerou deslocado e protagonizado por militantes comunistas que tentavam condicionar uma outra força política...

Um dia destes, quando os protestos revestirem força e formas diferentes, estes politiqueiros não poderão dizer que não foram avisados. Aves agoirentas, dirão. Pois, mas não foi só a Sedes. Se bem se lembram, ainda há poucas semanas, nas páginas do Expresso, o General Garcia Leandro, director do Observatório de Segurança, publicava um artigo com idênticas conclusões. E, pelo menos, até prova em contrário, não consta que, quer a digníssima associação cívica quer o militar em questão, não passem de lamentáveis profetas da desgraça.

quinta-feira, 21 de fevereiro de 2008


Que lástima!


Na maior parte dos casos, são técnicos de Educação e professores os meus familiares e amigos que, na casa dos sessenta anos de idade, se reformaram muito recentemente ou estão prestes a fazê-lo, logo que possível.

Esta gente que me é tão próxima, nasceu na década de quarenta, frequentou a faculdade na de sessenta, lutou contra a ditadura, rejubilou em Abril de setenta e quatro e, sempre na Função Pública, ao serviço das crianças e jovens de Portugal, afirma um enorme orgulho por ter servido o país, às vezes em condições muito precárias.

Desde sempre, tinham adquirido o princípio de que o Estado é pessoa de bem. Pois foi necessário chegar ao fim da carreira para perceberem que um Estado Democrático de Direito, governado por um grupo de eleitos nas listas de um Partido que se afirma Socialista e de esquerda, e por independentes que lhe são afectos, pode tratar muito mal quem jamais pensou ser objecto de aviltamento tão sistemático.

Embora haja razões de sobra, não me refiro à quebra unilateral de um contrato de trabalho que fora celebrado na presunção de que, no termo de trinta e seis anos de serviço, a aposentação era possível. Essa é matéria ainda não esgotada, que abrangeu toda a Função Pública, afectando e minando os seus mais profundos alicerces.

No entanto, em boa verdade, não impediu o funcionalismo de responder ao ataque com uma imensa dignidade, aguentando todas as invectivas, não dispensando o natural protesto mas sem jamais pôr em causa a função e o exercício da mesma, assim respeitando e indo ao encontro dos interesses da generalidade dos cidadãos

Não. O que estou a pensar, é, isso sim, na perversa e sistemática perspectiva economicista que, a montante de todas as designadas reformas educativas do Governo Sócrates, põe em causa inequívocos princípios da didáctica e da pedagogia, princípios estes que, independentemente da sua intrínseca generosidade, radicam em investigação científica perante a qual os actuais decisores políticos fazem tábua rasa.

Tais responsáveis políticos, permitem-se desmantelar, alterar importantes componentes do Sistema Educativo - no Ensino Especial que abrange crianças e jovens com necessidades educativas muito específicas, no Ensino Artístico em geral e no da Música em particular, na Avaliação dos docentes, no regime de autonomia dos estabelecimentos de educação e de ensino dos vários níveis, na administração, gestão e direcção da Escola - sem que estejam asseguradas alternativas minimamente equacionadas e credíveis.

Ninguém desconhece ou advoga o imobilismo e/ou que não haja necessidade de verdadeiras mudanças. Mas também ninguém ignora que todo o processo de alteração, afim de mudanças de natureza conjuntural ou estrutural, carece de um tempo de estudo, de assunção, de aplicação e de avaliação que não pode nem deve ser posto em questão por medidas precipitadas, que se articulam com a duração da legislatura e com o calendário eleitoral…

Ministra e Secretários de Estado, acolitados por uma clique bem orquestrada, estão actuando ao arrepio de toda a boa prática que, no respeito e contexto de uma perspectiva sistémica, impediria a concretização de quaisquer alterações ao Sistema sem que se observasse uma estratégia de ataque, enquadramento e solução de todas as consequências decorrentes de tais mexidas.

Este é um governo que tem ofendido muito a gente a quem hoje presto o meu mais sincero, veemente e emocionado tributo. Conheço-os bem. São da minha geração. Deram o seu melhor a uma causa em que acreditaram, actualmente posta em questão por autênticos vendilhões do templo.

Destes meus amigos, alguns há que, em Sintra, em Coimbra, em Viseu, no Porto, já não aguentam mais. E estão a solicitar a passagem à situação de aposentados, mesmo com as pesadas penalizações que terão de suportar. E é belíssima gente, detentora de uma experiência profissional que, em Portugal, o Sistema Educativo se permite o luxo de desperdiçar…

Que lástima! Assim, não vamos lá. Olhem, estou triste, cada vez mais triste com o rumo destas coisas da Educação. Infelizmente, prevejo horas de grande inquietação.

quarta-feira, 20 de fevereiro de 2008


Tudo a meter água…



Depois de uma noite e madrugada de intempérie, não foi mesmo nada bonito verificar como as consequências ultrapassaram aquilo que, normalmente, é previsível em metrópoles consideradas civilizadas. Inundações subsequentes à ocorrência de excepcional pluviosidade, é verdade que acontecem por todo o lado. A atestá-lo, aí estão os canais de televisão, em cima do acontecimento, trazendo-nos a casa, cada dia que passa, as imagens de tais eventos, provenientes de todos os continentes.

No entanto, apesar da frequência com que acolhem tais notícias, os espectadores ainda conseguem discernir acerca das substanciais diferenças que tais reportagens registam, sendo levados a concluir que as grandes enxurradas, as grandes derrocadas de muros e barreiras, portanto, as situações mais gritantes, cenário de menores ou maiores tragédias, se verificam nas latitudes tropicais, normalmente a Sul, em sacrificados países da África, América do Sul e da Ásia.

Salvo raras e conhecidas excepções, na Europa central e ocidental, numa boa parte dos Estados Unidos da América e Canadá, aquelas cenas dificilmente aparecem nos ecrãs.
Ora bem, a maior parte das imagens que todos vimos, captadas pelas câmaras na área metropolitana de Lisboa, denunciam uma realidade, salpicada de terceiro mundo, cuja aparência é a melhor avaliação do lamentável estado de desenvolvimento deste desgraçado país.

Por mais que os governos tentem, não conseguem esconder que, a montante desta e doutras congéneres e cíclicas (1967, 1983) tragédias, há lamentáveis práticas – certamente também de corrupção - que deram origem à construção em leito de cheia, à sistemática impermeabilização de terrenos, à falta de planeamento urbanístico, ao desrespeito das normas vigentes, ao facilitismo, a uma famigerada e perniciosa cultura do desleixo cujas consequências andavam por ali misturadas, envolvidas nas lamas e estercos que os planos das reportagens nos devolviam.

Certas áreas de Belas, de Camarate e de Sacavém, de Trajouce ou Manique de Baixo, subúrbios horrorosos, cilício à cintura de Sintra, de Loures ou de Cascais, são meros exemplos de como há manchas de perfeito terceiro mundo que sucessivos governos vão tentando esconder. Pois é, tentam, embora não valha a pena. É gato escondido…

Nós, que cá vivemos, outro remédio não temos, senão a obrigação de suportar os efeitos de tanto analfabetismo, das incríveis percentagens de iliteracia que explicam o comportamento de um incalculável número de habilidosos, instalados em todas as instâncias, privadas e públicas, até nas governamentais, mesmo ao mais alto nível.

Mas, para vergonha nossa, por exemplo, em Bruxelas, Viena, Paris ou Londres, bem se conhece e reconhece a singularidade desta mixórdia à portuguesa, da tal piolheira de que falava o Senhor Don Carlos de Bragança, como fruto da declarada incompetência de uma classe política incapaz de resolver, geração após geração, os problemas que, isso sim, são habituais em países como o Brasil, a Venezuela ou Filipinas e que enquadram as favelas do Rio de Janeiro, de Caracas ou de Manila.

PS:

Aliás, num aparte final, lembraria que a chacota e falta de respeito de que os portugueses são alvo frequente, não só nas conversas de café e de clube, mas também nas chancelarias das grandes capitais europeias, é que justificam a sobranceria com que os media ingleses se permitiram tratar a Polícia Judiciária Portuguesa, a propósito do caso da miúda raptada. E, afinal, até parece que tinham razão…

terça-feira, 19 de fevereiro de 2008

Risco de opinião
(Continuação)

Vejamos como é paradigmático o caso que, a propósito, muito naturalmente, logo nos ocorre. A verdade é que, até hoje, desde o 25 de Abril de 1974, com a recuperação do Estado Democrático de Direito – perdido com o 28 de Maio de 1926 – provavelmente, não teremos tido outro Primeiro-Ministro que, como o actual, tenha tido tantos telhados de vidro no seu passado.

E, convém sublinhar que, ao referir certas passagens do passado do senhor em questão, ninguém remete para atitudes de adolescente inconsciente e precipitado. São coisas que se passaram de há cerca de vinte anos a esta parte. Trata-se de factos ocorridos quando este senhor já ia nos seus trinta, no caso dos horrorosos projectos de engenharia e/ou arquitectura que ele próprio afirma serem de sua autoria, ou no da sua licenciatura, já na casa dos quarenta.

Pois mostra-se muito ofendido, muito agastado com as referências. Para além disto, qualquer atitude que, publicamente, ponha em causa o desconforto causado por governação tão polémica, como tem sido a sua, é entendida por Sua Excelência como inapropriada, deslocada, injusta.

Tenha-se em consideração, por exemplo, o que aconteceu no sábado passado, no Largo do Rato, perante a espontânea manifestação de tantos professores que davam pública mostra do natural descontentamento perante a desorientação galopante que atinge o sector da Educação. Nessa altura – estaria ali o Primeiro-Ministro ou o Secretário-Geral do Partido Socialista? – saltou a tampa e declarou-se a intolerância, a falta de capacidade de encaixe à crítica democrática.

Dou-vos a minha perplexa palavra de que, cada vez mais, me considero incapaz de distinguir se aquela atitude de cidadão e político, que se afirma de esquerda e socialista, tem alguma relação, por exemplo, com o modo como os inequívocos socialistas e grandes democratas Henrique de Barros, Vasco da Gama Fernandes, Teófilo Carvalho dos Santos, Presidentes do Parlamento, Maria de Loudes Pintasilgo, Mário Soares, Primeiros-Ministros, António Arnault ou Manuel Alegre e, felizmente, tantos outros ministros e deputados têm servido a Democracia e a República.

Enfim, escrevo estas linhas na presunção de que continuo a poder fazê-lo sem que me sujeite ao incómodo de um processo por difamação.

segunda-feira, 18 de fevereiro de 2008

Risco de opinião

Não é difícil entender mas custa a aceitar a atitude de certas pessoas, entidades públicas e instituições, perante a crítica mais ou menos contundente de cidadãos, que se permitem continuar a emitir opinião livre, no Estado Democrático de Direito que consideram ser aquele em que vivem.

O próprio ambiente em que tais reacções se manifestam, o modo como se expressam, a quantidade de processos e ameaças de processos judiciais, são factores altamente dissuasores que, nitidamente, condicionam a formulação de qualquer opinião mais veemente, que ultrapasse, ainda que minimamente, a estagnação do loudaçal em que nos vemos mergulhados.

O recurso a manobras intimidadoras, por parte dos pretensos ofendidos, com o objectivo de que nos sintamos condicionados, receosos quanto aos efeitos de qualquer opinião que possamos exprimir, não só acerca de certas figuras do Estado mas também sobre a actuação de serviços, passou a ser algo de habitual com que devemos lidar.

Hoje em dia, sempre que alguém pretende exprimir opinião acerca da actuação, actividade ou atitude, actuais ou passadas, por exemplo, de um qualquer ministro ou do primeiro-ministro, tem de pensar, não uma nem duas mas muitas vezes, antes de aplicar este ou aquele adjectivo porque Suas Excelências podem sentir-se atingidas e, subsequentemente, fazer-nos a folha.

É que, diga-se o que se disser, será sempre extremamente desagradável ter de ir à barra do tribunal, obrigado a defender o princípio de que emitir uma crítica não equivale, de modo algum, à difamação que, invariável mas inadequadamente, tais pessoas se consideram objecto, depois de algum pressuroso comissário ter vestido a pele do bufo repelente que, pelos vistos, prolifera.

(continua)

sexta-feira, 15 de fevereiro de 2008

Caricaturas


O texto que sintradoavesso hoje acolhe no Notas Diárias não é de minha autoria. Apareceu-me como anexo de um e-mail que Ana de Oliveira acabou de me enviar após ter lido o escrito aqui publicado anteontem, acerca dos novos candeeiros da Volta do Duche, nele se inspirando para a peça que, sem o mínimo retoque, é reproduzida ipsis verbis e na íntegra.

O facto de alguém produzir um texto que, não sendo um comentário, adquire autonomia expressiva, mas sempre em articulação com um escrito da minha responsabilidade, suscitou-me a ideia que, hoje mesmo, ponho em prática. Haja outros autores, nas mesmas circunstâncias, que terei o maior prazer e o privilégio de poder dar-lhes vida, pondo-os a circular através destas linhas.

Naturalmente, impõe-se uma brevíssima apresentação da autora, cujo texto inicia esta nova rubrica que passo a designar como Caricaturas.

Ana de Oliveira
, nascida em Lisboa em 1949, residente em Sintra há quase quarenta anos, tem permanecido na Ilha de Jersey durante a última década, ao serviço de uma grande organização não governamental, operando como assessora para os sectores de saúde, educação e integração das minorias étnicas.

Para além destas funções, Ana de Oliveira tem desenvolvido assinalável actividade artística, concebendo peças cuja estrutura integra uma interessante miscelânea de têxteis, cerâmica, desenho e pintura, um domínio em que foi iniciada pela nossa grande amiga Maria Almira Medina.

Também é, ela própria, a autora de Shatush, um interessante blog em língua inglesa, que recomendo vivamente para terem uma ideia dos artefactos que já andam na posse de alguns coleccionadores. Aliás, neste preciso momento, Ana de Oliveira tem expostos trabalhos seus, subordinados ao enquadramento Textiles and Mixed Media no sofisticado ambiente The Harbour Gallery and Studios, a mais prestigiada das galerias de Jersey.

………………

Às voltas com a Volta


Pequena moradia germinada com quintal, entre Vila Verde e Terrugem. São onze da noite. Frente à televisão, pregados à telenovela, "o técnico", Maurília, a mulher (ou melhor, neste caso, a esposa) e o rebento, Ruben José que devora uma tablete de chocolate e cada pitada da cena erótico-picante em curso.

De repente, "o técnico” lembra-se do catálogo duma dessas grandes superfícies com secção de equipamento para jardins. Levanta-se, vai ao bolso do casaco, rapa do dito, volta a sentar-se, folheia-o durante uns segundos, sem ponta de ânimo, num desassossego.

Acode a esposa, com desvelo...
- Afinal, o que se passa? Estás para aí entupido com alguma. Nem uma pessoa pode ver a porcaria da televisão descansada. Mas que cara de preocupação! E logo nas minhas ventas…

Responde "o técnico”, com a disposição que se imagina.
- Tenho de escolher a porcaria duns candeeiros lá p’ra Sintra. Já me andam a chatear por causa desta gaita. Podias dar uma ajudinha…

Maurília, pega-lhe nas folhas. Mexe, remexe, volta atrás. Rapidamente se decide.
- Olha, eu gosto deste.

O técnico, muito a propósito:
- Não sei… hummmmm…

E lá vão, humm daqui, humm dali… gosto mais, não gosto, detesto…

Ruben José, que é quem manda lá em casa, continua de olhos esbugalhados com a marmelada que vai naquele ecran. Por fim, sempre com o boné da ordem, desperta de tanta gula, para logo botar opinião. Dá um salto, mete-se no meio dos pais e, ainda com o dedo todo lambuzado de chocolate, aponta e esganiça.
- Eu quero este. Este! É lindooo…

"O técnico" achou que o puto é que tinha razão. A respectiva esposa concordou. Ainda acrescentou:
- Sabes uma coisa? Até gostava dum assim pr’ó quintal… Vê lá mas é se dás um jeito e, à conta, encomendas mais um p’rá gente…

Ana de Oliveira

……………………….

Ah!, é verdade, Ana de Oliveira já está a preparar o seu regresso a Sintra, ainda durante este ano. Por muito bem que possa estar e ser considerada em Jersey, pessoas com estas capacidades fazem falta por cá. Embora isto não esteja lá muito bem…

quinta-feira, 14 de fevereiro de 2008


Lembrete
Ainda se lembram de que, até há poucos dias, aparentemente de pedra e cal, assegurava a pasta da Cultura do actual Governo, uma senhora de sobrenome Pires de Lima, vinda do Porto, para nos tratar dos problemas de um sector cujo peso no Orçamento Geral do Estado não chega a atingir 1% do PIB?

Pois, provavelmente terão uma pálida ideia de quem seja ou, então, já se esqueceram. Na realidade, salvo raríssimas excepções, sejam quais forem as consequências das suas atitudes, durante a passagem pelos lugares da decisão política, os governantes têm um poder tão fugaz e efémero que, mal se afastam, estão condenados ao imediato esquecimento.

No entanto, pelo menos no meu caso, esta senhora Pires de Lima - que nunca deveria ter saído do anónimo lugar onde agora terá regressado, para seu e nosso sossego – vai perdurar no meu arquivo da memória por mais uns tempos. A partir deste momento, e, por esta via, venho acicatar-lhes as desagradáveis lembranças de uma ministerial actuação que, na generalidade dos casos, foi de lesa cultura. Tenham paciência, mas estes desgostos devem ser partilhados já que todos fomos alvo do desconcerto…

Assim, de repente, mesmo sem consultar apontamentos, ocorrem-me os seguintes casos de controversos afastamentos de responsáveis que estavam dando excelente conta do recado que era a sua incumbência: António Lagarto, Director do Teatro Nacional D. Maria II; Paolo Pinamonte, Director do Teatro Nacional de São Carlos; Dalila Rodrigues, Directora do Museu Nacional de Arte Antiga.
Depois de tais afastamentos e subsequentes substituições, em nenhum dos casos, melhorou a situação. Pelo contrário. O que se passa actualmente no São Carlos é o absoluto descalabro com uma temporada que já está a dar que falar pelas piores razões. No entanto, se bem se lembram, também foi esta senhora Pires de Lima que, no golpe mais incompetente da sua desastrada actuação, acabou com a Festa da Música, acolitada por um Mega Ferreira, sempre à mão para salvar seja que situação for…

Entre muitas outras, lembraria apenas mais três polémicas, às quais deixa ligado o nome. Trata-se das ausências da ministerial figura das homenagens a Miguel Torga e a José Saramago e do funeral de Maria Helena de Sá e Costa, talvez a mais insigne pianista portuguesa de todos os tempos. Isto é o que me ocorre, repito, sem consultar papéis. Em tão pouco tempo de governação(!?!) é obra!

Torga, Saramago, Maria Helena de Sá e Costa serão nomes perenes para a História das Letras, da Música, da Arte deste país. Da tal senhora Pires de Lima, que o Primeiro Ministro quis ter ao lado na pasta da Cultura - dando prova de um altamente questionável critério de escolha - talvez a história, com agá pequeno, possa vir a registar uma linha, mas sempre pelas piores razões.

PS:

Mesmo assim, convém não esquecer…

quarta-feira, 13 de fevereiro de 2008

Volta do Duche
volta a dar que falar



Subordinado ao título Volta do Duche volta a dar que falar e, a propósito de umas obras naquela conhecida artéria, publicava o Jornal de Sintra um artigo de minha responsabilidade, em 5 de Agosto de 2005 – reparem, portanto, há dois anos e meio – reelacionando-se os trabalhos, como já terão compreendido, com a instalação dos candeeiros que, passado todo este tempo, recentemente se concretizou.

Será conveniente referir que aquele escrito, a cinco colunas, era ilustrado por 12 (doze) pequenas mas sugestivas fotografias das quais, apenas uma, se reportava às obras propriamente ditas, porquanto as outras onze reproduziam fielmente os modelos de candeeiros que encontrei no percurso entre a Heliodoro Salgado e a Quinta da Regaleira.

Passarei a citar as minhas próprias palavras que, no caso vertente, infelizmente, seriam totalmente premonitórias:

“(…) Tenham em consideração as fotografias desta página – que atestam a vertiginosa e perfeitamente ilógica diversidade de suportes de iluminação, inadmissível em qualquer centro histórico, (…) para todos os gostos, inclusive terceiro mundista – e confirmem se tenho ou não razão para tanta apreensão… Santo Deus, que desorientação, que confusão!

Igualmente, não deixem de reparar como a iluminação pública desta zona de Sintra, na sua dimensão de componente de mobiliário urbano, é tão sintomática do modo vulgar, ordinário e incompetente como estes espaços têm sido tratados de há uns anos a esta parte.

E, sem pretender condicionar a vossa avaliação, certamente que me acompanharão na conclusão de que tais práticas constituem flagrantes ofensas à unidade serena que deve estruturar as propostas de intervenção em lugares congéneres, onde qualquer alteração é crítica, exigente de todas as cautelas.

(…) tudo se prepara para que, mais uma vez, venhamos a confrontar-nos com factos consumados. Agora [at. Artigo datado de Agosto de 2005!...] qual será o próximo modelo de candeeiro? A armar ao modernaço como junto à estação terminal dos comboios, ou no Rio do Porto e Heliodoro Salgado, nos seus diferentes cambiantes, ou tradicional-lanternaço como nos restantes lugares?

Os suportes e todas as diferentes componentes metálicas, serão pintados de verde, preto, cinzento, já existentes, ou sangue de boi, ainda não experimentado? E quanto ao cromatismo da iluminação, prevê-se luz branca, amarela, alaranjada ou assim-assim? É que, se ainda não repararam, já temos todos estes matizes a poucos metros de distância uns dos outros… (…)”


Acabando de fazer esta longa citação e, passado todo este tempo, mais de trinta meses, depois de mais não sei quantas centenas de páginas escritas acerca de desagradáveis situações sintrenses, sempre na perspectiva do alerta, da crítica construtiva, tantas e tantas vezes apresentando sugestões alternativas, a primeira coisa que me ocorre é um brado contra esta minha santa ingenuidade, projectando-me para estas fainas condenadas ao insucesso…

Na realidade, só há poucos dias, regressado de Salzburg (ditosa terra esta, a par de Bayreuth, Bregenz, Essen, Eisenstadt, Halle, Lugano, Luzern, Leipzig, Schwarzenberg, só para citar pequenas cidades com famosíssimos festivais de música) onde tanto autarcas eleitos como cidadãos eleitores, jamais consentiriam sequer na hipótese de concretização de tais desmandos, fui confrontado com os trinta e dois candeeiros, afinal a atirar para o tradicional-lanternaço, com que a Câmara agora dotou aquela via emblemática de Sintra.

Desculpem, não consigo deixar de citar mais um parágrafo do tal artigo:

“(…) A questão não é de lana-caprina, ao contrário do que as senhoras e senhores do Gabinete do Centro Histórico estão dando a entender com este tipo de atitudes. Tinham agora excelente oportunidade para exibir uma outra cultura dos serviços, preocupada com o dar satisfações aos cidadãos, interessada no envolvimento da população para resolução de problemas pertinentes como o da iluminação da zona (…)”

Pois não. Os cidadãos que aguentem! Contudo, aquilo que ali está, não podia, não devia acontecer. É mais um negativo contributo para a salgalhada, a falta de unidade afim da preservação de uma imagem que, para todos os efeitos, não pode alterar-se do pé para a mão. Isto não é um apelo ao imobilismo. É, isso sim, um alerta quanto aos cuidados a que estão sujeitos lugares que tais, carentes de permanente coerência.

Naturalmente, estas palavras não encontram eco junto de quem apenas fica muito contente, «porque até passou a haver muito mais iluminação». Pois é, a percepção estética ao serviço da preservação de uma envolvência que o lugar vem herdando, ah isso é outra coisa, que pressupõe outros filtros culturais, nada que possa acontecer antes de que passem uns bons anos…

Porque continuam completamente pertinentes, nada acrescentarei às razões aduzidas no meu artigo de há dois anos e meio. Espero que nenhum técnico(?!) tenha o topete de me replicar que, por todo o lado, tanto em Portugal como no estrangeiro, em pleno casco histórico das comunidades, se registam intervenções no mobiliário urbano, servidas por estética actual, interpretativas e inspiradas em modelos vizinhos, no outro lado da rua ou da praça, com os quais passam a conviver em perfeita harmonia…

Efectivamente, conheço uma série de excelentes casos de boa convivência mas não em Sintra. Sabem? Estou farto destes argumentos, proferidos por técnicos(?!) que podem estar à altura de tudo o que quiserem mas não estão à altura de Sintra, gente que se permite intervir, num espaço com as características de Sintra, como nem sequer é suposto fazer em subúrbios mais ou menos ordinários, saídos de processos de clandestinidade e mais ou menos incaracterísticos. O resultado está à vista, com inadmissíveis e rebarbativas misturas de artefactos incompatíveis com a dignidade e espírito do local.

Técnicos? Na Câmara há de tudo. Como em todo o lado. Muito bom, bom, medíocre e mesmo mau. E há os discretos, que até subscreveriam estas palavras, ao lado de oportunistas que, a qualquer preço, pretendem deixar o seu nome ligado a determinados trabalhos, à custa de tropelias, aparadas por autarcas pouco identificados com processos sofisticados de intervenção em centros históricos, zonas-tampão, territórios classificados ao mais alto nível, por instâncias internacionais como a Unesco que, um dia destes, volta aqui ao burgo, escreve mais um relatório que, habilidosamente, é remetido para a pasta das dúvidas...

Olhem, sabem que mais? Estou farto! Este, dos candeeiros, é mais um episódio a contribuir para um desânimo acumulado cujas dimensões eu próprio me surpreendo. Sintra já é um desgosto desmesurado. Por vezes, o que apetece é desistir. Partir para outro lado, onde não funcione a sistemática agressão perpetrada pelos pacóvios, provincianos, ignorantes encartados. Só não o faço porque tenho família, amigos e alunos a quem não quero passar tal testemunho de desistência.

E também porque, afinal, esses oportunistas detêm um poder efémero, sempre questionável e sujeito à indignação de quem não a cala.

PS:
É escusado lamentarem a falta de fotografias. Como sabem, por opção editorial, este blogue não publica imagens.

terça-feira, 12 de fevereiro de 2008

Teleférico?
(Continuação)

Confusão?

O teleférico, enquanto meio de transporte capaz de vencer distâncias e desníveis consideráveis, não pode implantar-se num ponto inicial, enquadrado por tecido urbano, em direcção a um palácio umas centenas de metros mais acima. O impacte das sapatas de alicerce das torres de suporte dos cabos, tanto ao nível do solo como de toda a paisagem em geral, os problemas de segurança e outros parâmetros que seria fastidioso enumerar, remetem o teleférico para operação de transporte de pessoas e de mercadorias em zona de montanha flagrante, relativamente afastado de aglomerados populacionais.

Mas é perfeitamente possível, em meio urbano, transportar pessoas, com grande conforto e segurança, vencendo desníveis muito significativos, sem qualquer impacte ambiental, entre um ponto de partida a uns escassos metros de uma grande catedral barroca e o de chegada, em pleno coração da mais bela fortaleza da Europa. Ou entre um edifício, praticamente contíguo a um dos maiores e mais prestigiados auditórios do mundo e um belíssimo e moderno Museu implantado no cimo do monte.

Afinal, o funicular…

Isto é possível através de funicular, que opera total e discretamente, em carril adossado ao monte cujo desnível vence nos dois sentidos, ascendente e descendente. E os exemplos que acabei de citar, no parágrafo anterior, conheço-os há dezenas de anos, a funcionar em Salzburg, cidade cujo património edificado é impressionante, classificada como Património da Humanidade. Em circunstâncias idênticas, poderia mencionar não sei mais quantos exemplos. Mas sempre de funiculares, nunca de teleféricos.

Já não sei quantas vezes escrevi acerca das soluções que teriam de ser consideradas por um sistema integrado de transportes em Sintra, sempre com recurso ao funicular como meio mais barato, seguro e expedito para, a partir da zona da Ribeira, com estação intermédia na Vila Velha, aceder ao Palácio da Pena. Ou, por outro lado, a partir da zona do Ramalhão, vencer a encosta do monte que conduz a Santa Eufémia. Ou de Seteais, de Monserrate, também em direcção ao Palácio da Pena. É uma solução testada, civilizada e, repito, de investimento mínimo.

Quero acreditar que, em tempo oportuno, quem de direito, portanto, o Senhor Presidente da Câmara Municipal de Sintra - radicado numa perspectiva sistémica que a solução para os problemas de transporte e estacionamento em Sintra não poderá deixar de privilegiar - acabará por anunciar a instalação de um ou mais funiculares que os estudos aconselharão.

segunda-feira, 11 de fevereiro de 2008


Teleférico?


No dia 25 do passado mês de Janeiro, o Jornal de Sintra publicava o artigo de Fernando Castelo, subordinado ao título Novelas de Sintra, ao qual apenas neste momento me é possível reagir, já que estive ausente quase três semanas, por ocasião de umas das minhas habituais deslocações a Salzburg. Aproveito a oportunidade, aliás, para anunciar que, muito proximamente, como é habitual, darei conta aos leitores das impressões colhidas no festival de música de Inverno naquela cidade austríaca.

Voltemos, então, ao artigo citado, que me suscitou a mais viva curiosidade, ao referir o anúncio da instalação de um teleférico para a Pena, a partir de terrenos pertencentes a um clube local, com a contrapartida de uma renda a liquidar pela Câmara Municipal de Sintra. E mais. Que tal anúncio fora feito, não pela edilidade, mas pelo presidente do tal clube.

Bem, como é de calcular, fiquei perfeitamente perplexo. Todavia, sem pôr em causa o crédito que devo ao nosso amigo Fernando Castelo, pessoa incapaz de uma brincadeira de mau gosto, mesmo em vésperas de Carnaval, procurei a aludida notícia, publicada no Diário de Notícias de 22 de Dezembro do ano findo.

Pormenores

Trata-se de matéria a ocupar toda uma página daquele jornal, encimada por sinopse a três linhas, onde se lê, a propósito do Clube 1º de Dezembro, que “(…) em 2008, graças ao novo meio de transporte para a Pena a situação financeira pode melhorar”. Imediatamente abaixo, em grande parangona, um título a toda a largura da página, reforça a ideia anterior: À espera do teleférico para o palácio.

E lá está, preto no branco, como soe dizer-se, absolutamente inequívoca, a notícia que passo a citar: “(…) Mas hão-de surgir dias melhores. O teleférico que vai fazer o transporte para o Palácio da Pena terá como ponto de embarque o Estádio do 1º de Dezembro e isso vai ajudar “financeiramente” o clube, que vai receber uma renda da autarquia, devido à cedência do terreno (…)”.

Claro que só podia tratar-se de uma, sempre compreensível, gafe do Senhor Presidente da Junta de Freguesia de São Pedro Penaferrim, um autarca que, como acontece em tantos lugares por esse país fora, acumula tais funções com as de Presidente da Direcção do Clube em questão.

Ausência de reacção

E, não me ocorrendo que pudesse existir outra justificação para que a novidade fosse avançada pelo Senhor Presidente da Junta e não pelo Senhor Presidente da Câmara Municipal de Sintra, tratei de indagar se teria havido qualquer desmentido ou tomada de posição do município que, de algum modo, contribuísse para o esclarecimento da situação.

Esforço vão o meu. Nada. No entanto, das minhas diligências, resultou a impressão de que, não terá havido qualquer reacção ao texto de Fernando Castelo, nem por parte da Câmara nem de cidadãos, circunstância infelizmente concludente quanto à ideia de que, na generalidade, as pessoas se vão demitindo da saudável participação na resolução dos assuntos que afectam a comunidade.

Por muito estranho que possamos considerar, o facto ao qual se reporta a notícia em questão, de algum modo, não passaria de fait divers, quase uma anedota local, não fosse o caso de se relacionar com um dispositivo que, pelas suas características, merece mais algumas considerações. Até porque me parece haver confusão entre este e outro meio de transporte. Amanhã, continuaremos com este mesmo assunto.