[sempre de acordo com a antiga ortografia]

quarta-feira, 30 de setembro de 2015




30 de Setembro de 1791
Famosa efeméride mozartiana
com especial conotação pessoal
 
 
 
Ao longo da vida de Mozart, o dia 30 de Setembro aparece recheado de eventos que, subsequentemente, passaram a ser comemorados como efemérides, a mais famosa das quais remonta ao seu último ano de vida, 1791, e ao dia em que ele próprio dirigiu a estreia de "Die Zauberflöte", KV. 620, no Theater auf der Wieden em Viena.

Permitam que, hoje mesmo, a propósito desta efeméride, também recorde a concessão da Medalha de Mérito Municipal grau Ouro de que fui objecto, por parte da Câmara Municipal de Sintra, no dia 28 de Setembro de 2012, em cerimónia durante a qual, no discurso de agradecimento ao Senhor Presidente, Prof. Fernando Roboredo Seara, introduzi um excerto desta ópera cujo significado, para mim, é absolutamente transcendente.

Depois de ter considerado que, também Sintra, é um Templo Iniciático onde o meu querido e saudoso amigo Prof. Agostinho da Silva me incumbiu da missão que tenho tentado cumprir, fiz ouvir aquele referido excerto, explicando até que ponto, a tal lugar, só pode aceder quem o merece e que, de acordo com o libreto de Emmanuel Schikaneder:

"(...) é um espaço sagrado, onde não há lugar para a mesquinhez, nem para quaisquer sentimentos baixos, como a vingança ou a traição, antes é lugar do amor, da amizade, um lugar onde quem não rejubilar com estes ensinamentos, não pode reivindicar a condição de ser humano (...)".

Eis esse momento, em interpretação paradigmática de Kurt Möll, numa récita desta ópera no Met de New York, em 1991, com a orquestra da casa sob a direcção de James Levine.

Boa audição!
 
 
 
 
James Levine and the Met Orch (1991) See Kurt Moll sings "O Isis und Osiris" from this production at http://www.youtube.com/watch?v=K_IaJDqz2Zo" listen…
youtube.com
 


Que esplêndido consolo matinal!
 
 
 
Começo este auspicioso dia agradecendo a «descoberta» deste curioso estudo ao meu amigo Ricardo Pinto DeCastro ECésar, que, muito recentemente, foi pai pela primeira vez, portanto, alguém que, só agora, pôde constatar, diante da sublime perfeição da sua filha, como é pertinente este estudo. Pois bem, apenas tendo tido filhas, duas estupendas mulheres, hoje na casa dos quarenta, eu há muito que desconfiava...
 
Deixem-me continuar no registo da i...ronia para lembrar que ambas casaram com excelentes rapazes, é verdade, mas nem por sombras tão atraentes - é o termo do estudo, limito-me a reproduzir - como este vosso amigo... A prová-lo, como concreto resultado dos seus consórcios matrimoniais, é que as duas deram à luz rapazes, os meus queridíssimos netos Pedro Maria e João.
 
Enfim, como os garotos são irresistíveis, prevejo, com elevadíssimo grau de probabilidade, que, tão atraentes, repitam a façanha do avô João e tragam ao mundo mulheres, pelo menos, tão especiais como as suas mães!...

 
 
 
 
 
 
A pesquisa foi feita pelo psicólogo autor do livro “Por que pessoas bonitas têm mais filhas?”
paisefilhos.com.br
 

29 de Setembro de 1789
Grande efeméride mozartiana
 
 
 
Em Viena, Mozart dá por concluída a composição do Quinteto para Clarinete, em Lá Maior, KV 581. Sendo uma das suas obras-primas, também é considerada uma das mais importantes peças para clarinete da literatura musical de todos os tempos.
 
Tenho ouvido este Quinteto por todo o lado e, por Sabine Meyer, várias vezes, em grandes auditórios que esgotam meses e meses antes dos recitais e concertos. Prezo-me de ser como «piolho por costura» quando se trata de saber onde, por cá e lá por fora, acontecem os programas importantes.
 
Por isso, novamente, como não lembrar hoje que assisti a um dos mais interessantes eventos musicais da minha vida, num pequeno auditório, de uma modesta associação cultural do Oeste, a Sociedade de Recreio ‘Os Pimpões’ das Caldas da Rainha, numa ocasião em que a clarinetista Sabine Meyer, a diva ou 'die Göttin', [a deusa], o seu mais famoso epíteto, ali tocou o Quinteto KV 581 com o estupendo Quarteto Tokyo?

Aquele 'concerto das Caldas' não me escapou. Sei que, na altura, a direcção do conservatório local soube aproveitar uma digressão dos músicos por Espanha, solicitando à discográfica a sua deslocação. Mas, garanto-vos, lá não esteve presente nenhum daqueles que costumo considerar «melómanos da treta». Passava-lhes lá pela cabeça que a maior clarinetista do mundo e um dos mais prestigiados quartetos de cordas iam tocar aos "Pimpões"!...

Volto à efeméride. Comemorando a data, proponho que assistam à estupenda interpretação da obra pelo Quarteto Hagen e, precisamente, Sabine Meyer, através da gravação de um concerto na Grosse Saal do Mozarteum de Salzburg a que tive o privilégio de presenciar. Aliás, só nestes últimos quinze anos, exactamente por estes cinco intérpretes, na mesma sala, já devo ter assistido a umas quatro interpretações do KV 581. E, sempre, sempre, o maior assombro!


Boa audição!
 
 
 
 
 
I. Allegro II. Larghetto III. Menuetto - Trio I - Trio II IV. Allegro con Variazioni
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terça-feira, 29 de setembro de 2015



Maria João Pires


Há uns dias, com alguns amigos e conhecidos, falando acerca de um concerto marcado para ontem, permiti-me dizer: "Enfim, talvez apareça..." Uma dessas pessoas que me ouviram proferir tais palavras, já sabendo que o concerto não se concretizou, acaba de me telefonar perguntando se sou bruxo...

Escusado será dizer que não tenho quaisquer capacidades divinatórias. O que eu tenho, isso sim, é a «rodagem» suficiente para saber que essa hipótese era extremamente pl...ausível. Afinal, tal como tantas vezes tem acontecido ao longo da sua carreira, também ontem, Maria João Pires não compareceu num evento para o qual se tinha comprometido.

Desta vez foi com o Mozarteum. A última, em que, com a mesma pianista, algo de semelhante se passou em Salzburg - eu estava lá e até dei o «exclusivo» da novidade ao programa da manhã da RDP2 - foi no âmbito da Mozartwoche, em 26 de Janeiro de 2013.

Tendo constado que cancelava, MJP acabaria por aparecer no Grosses Festspielhaus, apoiada no braço de Gustavo Dudamel. No palco, Mathias Schulz, Director Artístico do Mozarteum, tinha anunciado que, apesar de afectada num pé, ela acedera a concretizar o concerto com a Filarmónica de Viena.

Emocionalmente muito instável, MJP tem causado alguns graves dissabores devido a episódios congéneres. A propósito, quem tem um longo historial para contar acerca dos cancelamentos de MJP é Luís Pereira Leal, durante mais de trinta anos, Director Artístico da Gulbenkian e também do Festival de Sintra. De facto, assinados com enorme antecedência, os contratos não podem prever que, no dia aprazado, tudo esteja em conformidade. De qualquer modo, há casos muito particulares.

Há quem compare a sua à atitude do atleta Fernando Mamede. Muitos se lembrarão. Enfim, imaginemos o sofrimento de tais pessoas e, por isso mesmo, respeitemos as suas fragilidades. Para que conste, nova data está marcada. Será no dia 31 de Maio de 2016, às 19,30. Queira Deus que MJP possa honrar este seu novo compromisso.
 
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Wir freuen uns sehr, daß wir Ihnen bereits heute den Ersatztermin für das gestern abgesagte Konzert von Maria João Pires und Julien Libeer bekanntgeben können:
...Das Konzert wird am Dienstag, 31. Mai 2016, 19:30 Uhr, nachgeholt.
Die Konzertkarten behalten selbstverständlich die Gültigkeit. Sollten Kunden den Termin nicht wahrnehmen können, ist es möglich auf Wunsch die Karte gegen ein anderes Konzert in der Reihe "Kammermusik im Großen Saal" umzutauschen.
Informationen im Kartenbüro der Stiftung Mozarteum:
Theatergasse 2 im Mozart-Wohnhaus
5020 Salzburg
Tel: +43 (0) 662 87 31 54
E-Mail: tickets@mozarteum.at
 
 


29 de Setembro de 1789
Grande efeméride mozartiana

Em Viena, Mozart dá por concluída a composição do Quinteto para Clarinete, em Lá Maior, KV 581. Sendo uma das suas obras-primas, também é considerada uma das mais importantes peças para clarinete da literatura musical de todos os tempos.

Tenho ouvido este Quinteto por todo o lado e, por Sabine Meyer, várias vezes, em grandes auditórios que esgotam meses e meses antes dos recitais e concertos. Prezo-me de ser como «piolho por costura» quando se trata de saber onde, por cá e lá por fora, acontecem os programas importantes.

Por isso, novamente, como não lembrar hoje que assisti a um dos mais interessantes eventos musicais da minha vida, num pequeno auditório, de uma modesta associação cultural do Oeste, a Sociedade de Recreio ‘Os Pimpões’ das Caldas da Rainha, numa ocasião em que a clarinetista Sabine Meyer, a diva ou 'die Göttin', [a deusa], o seu mais famoso epíteto, ali tocou o Quinteto KV 581 com o estupendo Quarteto Tokyo?

Aquele 'concerto das Caldas' não me escapou. Sei que, na altura, a direcção do conservatório local soube aproveitar uma digressão dos músicos por Espanha, solicitando à discográfica a sua deslocação. Mas, garanto-vos, lá não esteve presente nenhum daqueles que costumo considerar «melómanos da treta». Passava-lhes lá pela cabeça que a maior clarinetista do mundo e um dos mais prestigiados quartetos de cordas iam tocar aos "Pimpões"!...
 

Volto à efeméride. Comemorando a data, proponho que assistam à estupenda interpretação da obra pelo Quarteto Hagen e, precisamente, Sabine Meyer, através da gravação de um concerto na Grosse Saal do Mozarteum de Salzburg a que tive o privilégio de presenciar. Aliás, só nestes últimos quinze anos, exactamente por estes cinco intérpretes, na mesma sala, já devo ter assistido a umas quatro interpretações do KV 581. E, sempre, sempre, o maior assombro!

Boa audição!
 
 
[The Hagen Quartet & Sabine Meyer] W. A. Mozart - Quintet for Clarinet and Strings in A major
I. Allegro II. Larghetto III. Menuetto - Trio I - Trio II IV. Allegro con Variazioni
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segunda-feira, 28 de setembro de 2015



Setembro, o fim


Manhã cedo, recupero do lunar desatino da noite passada. No monte, a impossível quietude do Alentejo profundo. Que não se exprime. Até este alinhar das palavras com que, tão amenamente, me afadigo, ao fim e ao cabo, coisa de tão aparente sossego, quase roça a blasfémia, pela ofensa à inércia reinante, que tudo asfixia, tudo condiciona. Ah, como se pode pecar por tão pouco!...

Em pequeno almoço de fim de Setembro, ainda nos batemos com alguns dos nossos figuinh...os ‘pingo de mel’. Também as últimas uvas tintas e, santo Deus, os meus primeiros diospiros!

Aqui, tudo tão pródigo! Romãs e marmelos já esperam colheita. As laranjas alaranjam e, literalmente, algumas «explodem», como que protestando contra inclemências que, coitadas, lá saberão… Tangerinas? Ainda muito verdes, tantas, mal se distinguem das folhas.

Figos secos, há para o resto do ano. As amêndoas, apanhadas em fins de Julho, secaram como deviam. Graças a Deus, há bastante azeitona e, se tudo correr bem, quando a varejarmos, lá para o meado de Novembro, que serões não teremos, animados a figo com amêndoa, bagaço novo que São Martinho trará e o que mais se beber!

Entretanto, sob o famoso telheiro, sento-me nesta ou naquela cadeira, refastelado umas vezes, mais firme noutras, diante do manso horizonte de tanta vinha. O meu pequeno olival é singular ilhéu neste mar que, dia-a-dia, ganha os mais improváveis cambiantes avermelhados, acastanhados, arroxeados!
E, de vez em quando, os pássaros, em alegres despontes, numa afirmação de pertença e domínio, não vá algum de nós esquecer…

Pois é. O Outono. A propósito, um poema de Ludwig Rellstab. Um Outono outro, este que Franz Schubert traduziu para o idioma do Lied. É “Herbst” [Outono], D 945 que Dietrich Fischer-Dieskau canta como mais ninguém, acompanhado ao piano por Gerald Moore.


Herbst
 


Es rauschen die Winde
So herbstlich und kalt;
Verödet die Fluren,
Entblättert der Wald.
Ihr blumigen Auen!
Du sonniges Grün!
So welken die Blüten
Des Lebens dahin.

Es ziehen die Wolken
So finster und grau;
Verschwunden die Sterne
Am himmlischen Blau!
Ach, wie die Gestirne
Am Himmel entflieh'n,
So sinket die Hoffnung
Des Lebens dahin!

Ihr Tage des Lenzes
Mit Rosen geschmückt,
Wo ich den Geliebten
Ans Herze gedrückt!
Kalt über den Hügel
Rauscht, Winde, dahin!
So sterben die Rosen
Der Liebe dahin.
 
[Ludwig Rellstab]

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Autumn

The breezes are rustling
Autumnal and cold,
Make barren the valleys
Denuding the wood.
The blooms on the meadows
So sunlit and green,
Now withering blossoms
Of life we have seen.

Such rushing of cloudbanks
So gloomy and grey;
And vanished are stars in
The heavenly blue.
As silvery clusters
To heaven must fade,
So sink resolutions
Of life that we made.

You days of the springtime
With roses adorned
When I my belovèd
Have pressed to my heart.
Cold over the hillside
Blow winds on the scene;
So die all the roses
Of love that has been.
_________


Boa Audição!

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28 de Setembro de 1791
Efeméride mozartiana



É apenas a três dias da estreia de "Die Zauberflöte" que Mozart compõe a Abertura e a Marcha dos Sacerdotes desta sua última ópera. Parece incrível mas os meandros do compositor estão cheios de episódios congéneres.

Ouçamos os sempre espantosos primeiros momentos de "A Flauta Mágica" que, como já tive oportunidade de esmiuçar e partilhar convosco, encerram vários «recados» maçónicos.
Na gravação que vos proponho, Herbert von Karajan dirige a Filarmónica de Viena. Como terão oportunidade de verificar, os tempos que o mítico Maestro imprime até nem são prticularmente canónicos...

Boa audição!

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Overture to Die Zauberflöte by Wolfgang Amadeus Mozart (1756-1791) Wiener Philharmoniker Herbert von Karajan, conductor 1950
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domingo, 27 de setembro de 2015




27 de Setembro de 1788
Efeméride mozartiana
 
Viena:
 
Composição do Divertimento em Mi bemol Maior para Violino, Viola e Violoncelo KV. 563
 
Proponho que partilhemos uma interpretação do mais alto nível pelo agrupamento de câmara L'Archibudelli, em instrumentos de época. Vera Beths, violino. Jürgen Kussmaul, viola. Anner Bylsma, violoncelo.
 
I. Allegro (0:00)
II. Adagio (7:51)
III. Menuetto: Allegro, Trio (16:00)
IV. Andante (20:56)
V. Menuetto: Allegretto, Trio I, Trio II (27:41)
VI. Allegro (33:09)



Boa Audição!
 
 
 
Divertimento in E-flat Major for Violin, Viola and Cello, KV 563. L'Archibudelli, on period instruments. Vera Beths, violin. Jürgen Kussmaul, viola. Anner By...
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27 de setembro de 1915
Morte de José Duarte Ramalho Ortigão (n.1836)
 
 
Permitam que articule a efeméride com um dos seus notáveis textos o qual ainda será pretexto para a audição de um excerto de peça musical:
 
"(...) Pobre artista! Pobre rei!" É com estas exclamações que Ramalho Ortigão termina o texto subordinado ao título O Rei D. Fernando II.

Quem ainda não leu aquelas estupendas linhas de "As Farpas" e julga conhecer a grande e a pequena História de Sintra, em especial no que se refere ao legado da Pena, não sabe o que tem andado a perder. Ramalho Ortigão escreveu-as, na sequência da morte do Senhor D. Fernando, a quente, reagindo à hipocrisia de uma data de ignorantes que, ao fim e ao cabo, ainda andam por aí. Ou ainda não terão notado? Verão a razão que me assiste quando as lerem.

Uma das maneiras para melhor comemorar a efeméride, não tenho a mínima dúvida, passa pela leitura de texto tão recomendável, que tanto proveito e gozo estético proporcionará a quem seguir o concelho deste humilde escriba que se atreve, não só ao beija-mão real, mas também à evocação de um escritor maior de oitocentos. Nos dias que correm, passe a presunção, não é façanha menor...

Mas ainda não vos deixo sem outra recomendação que, aliás, é suscitada pela leitura que recomendo:

 "(...) E, instalando-se num fauteuil, ao fundo da sala de música, [D.Fernando] cantou-lhe ao piano, à mais larga expressão elegíaca da sua extensa voz de baixo cantante, A Criação, de Haydn (...)"
Ouçam essa outra obra-prima. Mesmo que já conheçam a oratória "A Criação", não deixem de repetir. Dêem-se ao luxo de participar naquele momento sublime da História da Música que cioincide com a fracção de Tempo em que, no Espaço do caos, a luz se fez.

O grande Haydn, introduzido pelo próprio Mozart na Maçonaria, deixa nesta obra o seu mais alto contributo para o brilhante acervo artístico da Augusta Ordem. Ouçam. Repitam.
"A Criação" de Joseph Haydn, na estupenda leitura de Harnoncourt, com o Concentus Musicus.

Boa audição|
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(*) Ramalho Ortigão, José Duarte, O Rei D. Fernando, in As Farpas, Obras Completas de Ramalho Ortigão, tomo III, Livraria Clássica Editora, Lisboa, 1969
_____________________
 
 
 
Joseph Haydn (1732 - 1809) Die Schöpfung, Hob. XXI:2 1. Einleitung - Die Vorstellung des Chaos Dorothea Röschmann, Sopran Werner Güra, Tenor Thomas E....
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Que gozo, meus amigos!


Por óbvios motivos de congénita incompetência, como me dou muito mal com as manobras mais sofisticadas do facebook inerentes ao registo e publicação de fotos próprias, prefiro partilhar as alheias. Não só é muito mais cómodo mas também mais seguro...

Assim sendo, em primeiro lugar, o agradecimento ao Paulo Parracho, querido amigo, presença sempre atentíssima em tudo quanto diz respeito à defesa, preservação e usufruto dos bens patrimoniais de Sintra. N...este caso, foi um dos meus bons companheiros de caminhada tão sugestiva e «fotógrafo de serviço» cujo pequeno conjunto de imagens me permite referir o memorável fim de tarde de anteontem.

Seguidamente, gostaria de lembrar que, em momento de inauguração, não me poderia ter sido mais grato acompanhar amigos da Câmara Municipal de Sintra e da Parques de Sintra cuja presença, em tão grande número, não deixa de constituir prova acabada do imenso interesse de mais outra iniciativa «condenada» ao habitual sucesso.

Desde o Presidente Basílio Horta, Vice Rui Pereira, Vereador Pedro Ventura, os administradores Manuel Baptista, Sofia Cruz e Lino Ramos, Nuno Oliveira, Ana Margarida Oliveira Martins, Ana Pais, Vanessa Rodrigues, Maria João Raposo, Carlos Marques, Elsa Isidro e tantos mais que me perdoarão a omissão, todos aproveitámos um daqueles indizíveis fins de tarde de Sintra outonal, em que a luz coada pelo arvoredo nos remete para uma dimensão outra, para que, passados uns minutos, se comece a insinuar, a instalar o manto de um crepúsculo fresco, pelo qual só nos damos conta quando começamos a apertar um botão, a descer a manga da camisa, a procurar o pullover...

Para os menos atentos, cumpre lembrar que a abertura do circuito em apreço, desde o Castelo dos Mouros / Parque da Pena (Portão dos Lagos) até ao centro histórico, foi precedida de uma intervenção demorada e muito cuidadosa, que pressupôs uma campanha de recuperação da Vila Sassetti, um dos elementos de inusitado interesse deste percurso tão tentador.

É que se trata mesmo de uma tentação! O trabalho de recuperação é mais uma lição. Na casa, projectada pelo mesmo Manini da Regaleira, arquitecto e cenógrafo, que nos obriga a um percurso interno estranhíssimo, ainda se conserva parte do mobiliário, acerca do qual nada adianto porque só visto... E, entre tantos e tão sugestivos elementos propícios à efabulação, a possibilidade de Imaginar o que terá sido aquele espaço, vivido como ninho de amor do milionário Gulbenkian.

Olhem, mais não adianto. Vão! Vão por mim e verão que é o mais sábio dos meus mais recentes conselhos. Um desafio irrecusável! Conseguirão perceber que se trata da proposta de um percurso que, estou certo, muitos de vós nem conseguem conceber como possibilidade de descortinarem uma Sintra que ainda desconhecem?
 
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Foto de Paulo Parracho.
 
 
Foto de Paulo Parracho.

 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 

 
 
 
 
Foto de Paulo Parracho.
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Foto de Paulo Parracho.
 
 
 
 
 
 
Foto de Paulo Parracho.
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Abertura do novo caminho pedonal de acesso à Pena, através da Quinta da Amizade e da Vila Sassetti. Uma bela sugestão para um exercício matinal numa paisagem deslumbrante!

 



26 de Setembro de 1888
Nascimento de T. S. Eliot (m. 1965)


Foi pelos meus dezassete anos, em 1965, no primeiro ano da Faculdade. Aluno de Teoria da Literatura, a cargo de Joaquim Fernandes Tomás Monteiro Grilo (poeta Tomaz Kim), por ele fui iniciado em T. S. Elliot, falecido naquele ano, nomeadamente, em "The Four Quartets", indubitavelmente, uma das peças mais geniais alguma vez escrita, longa reflexão acerca do Tempo, estruturada à volta das quatro estações e dos quatro elementos.

Relendo "Outras Canções" de Luís Filipe Castro Mendes – diplomata, excelente poeta, que tive o gosto de conhecer pessoalmente num círculo de amigos e colegas, entre os quais a sua mulher, Margarida Lages, e o saudoso Eduardo Prado Coelho – voltei a deparar com um pema cujo título, "Every Poem is an Epitaph", que passo a transcrever:

Desfiz meu corpo nas vivas marés
que os versos me traziam. Solidã
mil vezes retomada, sombra e pó,
palavras que nos doem mais de perto:
tudo desfez meu corpo e neste mar
um navegante encontra o seu deserto.


Pois bem, aquele título é extraído de 'Little Gidding', última parte, precisamente, da referida obra de Elliot.
 
Deixem que vos cite [para mais fácil reconhecimento, grafei em maiúsculas as palavras respectivas]:
“(…) And every phrase
And sentence that is right (where every word is at home
Taking its place to support the others
The word neither diffident nor ostentatious
An easy commerce of the old and the new
The common word exact without vulgarity
The formal word precise but not pedantic
The complete consort dancing together)
Every phrase and every sentence is an end and a beginning
EVERY POEM IS AN EPITAPHE. And any action
Is a step to the block, to the fire, down the sea's throat
Or to an illegible stone: and that is where we start
We die with the dying:
See, they depart, and we go with them
We are born with the dead:
See, they return, and bring us with them
The moment of the rose and the moment of the yew-tree
Are of equal duration. A people without history
Is not redeemed from time, for history is a pattern
Of timeless moments (…)”


T. S. Elliot & Beethoven

Em 1931, depois de escutar uma gravação do "Quarteto para Cordas em Lá menor", op. 132 de Beethoven, Elliot escreveu uma carta a um amigo, o poeta Stephen Spender, em que considerava esta peça do compositor “quite inexhaustible to study.” É o único dos últimos quartetos de Beethoven que tem a estrutura de cinco andamentos do poema. Elliot continuava:

“There is a sort of heavenly, or at least more than human, gaiety about some of his later things which one imagines might come to oneself as the fruits of reconciliation and relief after immense suffering; I should like to get something of that into verse before I die.”

Quem duvida de que tenha conseguido? Esta, entre muitas, apenas uma das articulações entre Literatura e Música suscitada pela efeméride. Dois poetas, dois poemas, um compositor, uma peça de câmara, na malha interminável de conotações. Naturalmente, para as conjecturar, preciso é conhecê-las. Neste como em tantos domínios, a bem prosaica ideia de que não se fazem omeletes sem ovos...

Não poderia deixar de rematar com o op. 132 de Beethoven que, para vosso gáudio, vos apresento numa interpreatação fabulosa do Végh Quartet, com Sándor Végh, primeiro violino, Sándor Zöldy, segundo violino, Georges Janzer, viola e Paul Szabo, violoncelo. Coloco esta leitura perfeitamente ao nível da do Quarteto Borodin.
 
Eis a estrutura da obra, com indicação dos tempos na mudança de andamento:

I. Assai sostenuto — Allegro
II. Allegro ma non tanto (08:53)
III. "Heiliger Dankgesang eines Genesenen (17:45)
an die Gottheit, in der lydischen Tonart"
Molto adagio — Neue Kraft fühlend. Andante —
Molto adagio — Andante--Molto adagio.
Mit innigster Empfindung
IV. Alla Marcia, assai vivace (attacca) (32:14)
V. Allegro appassionato - Presto (34:32)


Boa audição!
 
 
Ludwig van Beethoven: The Late String Quartets String Quartet No.15 in A minor, Op.132 I. Assai...
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