[sempre de acordo com a antiga ortografia]

domingo, 28 de março de 2010

Sintra a reinar ao romantismo...

A divulgação pelo Presidente da Câmara de que se vai investir 1,2 milhões de euros na propaganda da marca “Sintra Capital do Romantismo” é uma excelente notícia para as agências de meios e publicidade. No entanto, não desviará a atenção dos sintrenses de outros temas, entre eles o empenho na compra da Quinta do Relógio (6.750.000 euros) cujo rigor em custos de reconstrução e utilização prevista se desconhece.

Da divulgação feita no site oficial da Câmara Municipal de Sintra (
www.cm-sintra.pt) com o título “CULTURA E TURISMO” e subtítulo “SINTRA INVESTE NO ROMANTISMO”, ressalta a alusão pouco diplomática à “República da China”, já que Portugal apenas mantém relações com a República Popular da China. Também a dúbia interpretação do que é dito sobre a China “libertar” turistas, não ajudará muito a incentivar a sua vinda.

Quanto a Sintra, é sintomático que, só ao fim de 12 anos como Presidente da Câmara de Sintra, o Senhor Dr. Fernando Seara afirme, sabe-se lá se com ar consternado, que “temos que olhar para o turismo com dez anos de distância”. Talvez quisesse dizer “de antecedência”...
Tínhamos um patamar a 10 anos para o SATU, passámos a ter mais outro a 10 anos, com a chegada massiva de turistas chineses, ávidos de pedalar nas ciclovias prometidas em 2003.

Sem novos hotéis de qualidade perto dos locais a visitar (na cintura de Sintra construíram-se, sim, vários motéis) como é possível aumentar para o dobro o número de dormidas e satisfazer o “turista cada vez mais exigente”? Em parques de campismo? Ou com a zona da Volta do Duche reservada a caravanismo, sem o mínimo de segurança nem condições, tais como instalações sanitárias adequadas?

Consultando o “SintraINN” o total de quartos disponíveis não atinge os 1000, dos quais cerca de 600 em Hotéis de reconhecida qualidade. Destes, em zona acessíveis aos diferentes monumentos e palácios, apenas contamos com mais ou menos 113 quartos. Temos mais 122 em Hospedagens, 67 em Pensões, 38 em Motel, 29 Turismo de Habitação, 28 em Moradias, 26 em Pousada, 21 em Estalagem, 19 em Apartamentos e 17 Turismo Rural.

Poderá perguntar-se aos Senhores Presidente da Câmara e Vereador do Turismo se, imbuídos de tanto sucesso em alojamentos, estariam dispostos a passar dois ou três dias com as suas famílias em todos os que agora são colocados à disposição dos turistas, mesmo onde os “jacuzzi” fazem parte integrante da oferta.

Não há, pois, uma oferta adequada ao prestígio internacional de Sintra e à qualidade exigível, pois não basta embandeirar-se com o aumento de turistas se esses fluxos não forem positivos em termos económicos.

Quando muitos comerciantes se desfazem de lojas tradicionais e as mesmas passam a comércio desadequado à história dos locais, prova-se que pouco tem sido feito em prol do turismo.

Por fim, desmistifique-se que os "2,5 milhões de euros na requalificação da centenária linha do Eléctrico de Sintra”, não serão suportados pela CMS, mas sim por um mecenas cultural, facto que está omisso na divulgação feita pelo site oficial.

Fernando Castelo

quarta-feira, 24 de março de 2010

Da ignorância


Ontem mesmo, em Lisboa, durante uma conversa de circunstância a propósito daquela patetice da campanha turística Sintra, capital do romantismo, percebi que um arquitecto dos seus quarenta anos, havia tropeçado nas minhas palavras quando me referi ao ecletismo revivalista sintrense. E não foi precisa muita perspicácia da minha parte para perceber que, pura e simplesmente, o homem ignorava o que é o revivalismo romântico.

Jamais me passaria pela cabeça que um arquitecto não dominasse a terminologia e conceitos conotados. Todavia, tive de me render à evidência. Parece impossível, mas a coisa era absolutamente inequívoca, tanto para mim como para os outros dois companheiros, médicos, envolvidos na troca de impressões. A situação era tão bizarra que, desconhecendo os antecedentes e as coordenadas do artista, não saí da mesa sem perceber o fenómeno.

E consegui entender. É arquitecto, apenas porque se licenciou numa faculdade de arquitectura. De facto, nunca exerceu a profissão. É funcionário de uma autarquia em cujos serviços culturais emite parecer sobre projectos de animação cultural. Pasmo. De queixos caídos, continuo a sondar, acabando por perceber que o sujeito decide. O senhor arquitecto até tem responsabilidade de chefia! Pasmo duplo, não triplo, meu e dos outros dois.

Enfim, é o que pode designar-se como ignorância institucionalizada… Trata-se de ignorância, dura e crua, porque, repito, um licenciado em arquitectura não pode deixar de conhecer a matéria em questão. Olhem, fiquei tão afectado que ainda estou a recompor-me. Apenas me permito partilhar convosco o episódio porque o ignorante é funcionário público, da administração local, cujo salário é assegurado pelo erário público, portanto, produto dos impostos liquidados por todos nós.

Por acaso, Sintra não é a autarquia da história. Não, desculparão mas não esclareço. Paciência, fica na pasta das vossas dúvidas… Até porque o que relatei podia ter-se passado em muitas Câmaras Municipais. Contudo, infelizmente, como todos bem sabemos, por cá – e, então nos serviços culturais! – o tal arquitecto da treta não está nada mal acompanhado…

Apenas se confirma, aqui e por todo o lado, que são os ignorantes, sempre mal preparados, que colocam subordinados ignorantes em patamares de responsabilidade. É assim que a ignorância alimenta e gera a ignorância. O pior é que a potencia inusitadamente, reproduzindo-se sem controlo. É um flagelo!


PS:

Outro assunto, mas ainda a propósito de ignorância. O que terá querido dizer o Senhor Deputado Ricardo Rodrigues do PS, ao afirmar que o PSD pretendia fazer chincana política [ao chamar à Comissão de Inquérito o Senhor Primeiro Ministro]? Chincana? É que nem sequer se trata de regionalismo açoriano...

Claro que o Senhor Deputado desconhece ser chicana o termo correcto. No precipitado afã de fazer eco da voz do dono, não se lhe colocou qualquer dúvida. Lamentável, perfeitamente lamentável a ignorância do Senhor Deputado. Por ali, terá acontecido um fenómeno de contaminação fonética [gincana?] - deveras interessante de explorar noutro contexto - que, provavelmente, o conduziu à retumbante calinada. Estou desejoso de verificar como resolveu a questão o Diário das Sessões...


segunda-feira, 22 de março de 2010

Sintra,
desleixo capital



Apenas quatro parágrafos para, mais uma vez, trazer um assunto que, de modo algum, é novo nestas páginas. Trata-se da patética campanha Sintra, capital do romantismo* que, despudoradamente, a Câmara Municipal insiste em promover, depois de, por más decisões e omissões, se ter constituído como entidade que mais contribui para a degradação de locais paradigmáticos das três freguesias da sede do concelho onde se concentram as características mais românticas jóias da coroa.

Capital de quê? Do romantismo? Claro que não sabem do que falam. Claro que se trata da mais atrevida ignorância, a galope no pacóvio desdém pelo estudo de coisas tão sérias como as que se conotam com a noção de romantismo que tanto se articula com o pródigo ecletismo revivalista sintrense. E, na realidade, o romantismo até tem, não uma, mas várias capitais. Mas noutras latitudes. Em países civilizados… Aqui, não.

De facto, noutras mãos, com gente outra, informada, culta, interessada – numa atitude de dedicação total [lembram-se do slôgane da campanha eleitoral?...] – na gestão dos destinos desta comunidade, Sintra até teria condições para o efeito mas, de há muitos anos a esta parte, é guitarra demasiado sofisticada para as unhas da tão desqualificada gente que tem tentado tocá-la…

Veja-se, a título de exemplo inequívoco, o caso da Sintra Garagem cujas sobras de telhado desabaram, há poucos dias, escandalosamente, em pleno coração da Estefânea, continuando a pôr em risco pessoas e bens. Reparem que, em Maio de 2004 – há seis anos! – o Presidente da Câmara me garantiu que tinha acabado de assinar um despacho que resolvia o assunto em definitivo. Valha-nos Deus!

Sintra, capital de alguma coisa? Só se for da cultura do desleixo


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*Neste blogue, ler os textos publicados nos dias 21.10.09,04.09.09, 01.09.09, 17.08.09 e 20.07.09.


sexta-feira, 19 de março de 2010

Como eram a azinhaga e a casa
Vale dos Anjos,
o inferno em que tudo vale

O primeiro comentário inserido no artigo “Seteais, a propósito duma promoção” poderia ser gerador de uma indignação legítima, pela desconformidade latente com a defesa do nosso Património na Serra de Sintra e Paisagem Cultural da Unesco.


Até onde foram as escavações
Todavia, basta ler aquelas breves palavras para perceber que há quem aprove os projectos mais infames, verificando-se amiúde o alheamento dos organismos que deveriam actuar rapidamente contra os desmandos. Não raro, ao considerar os contornos com que se propõem projectos PIN ou, ao chegar à conclusão de que o licenciamento de um Fórum e grande parque de estacionamento adjacente se aparenta ligado a um mecenato de tal modo controverso que poderá atingir os dois milhões e meio de euros, a título de reabilitação do eléctrico, quem poderá espantar-se com a escrita dos disparates mais similares e convergentes?

Volumetria do construído agora
Só faltou que PC advogasse uma continuidade de condomínios privados, ou o loteamento da Serra para moradias e suas piscinas, como chegou a estar previsto para a Tapada do Saldanha e que o 25 de Abril fez gorar.

Portanto, pela minha parte, estou grato a PC por ter justificado estas palavras ao mesmo tempo que se juntam as fotos de como era a Quinta dos Anjos e como evoluíram as obras da construção.

Não é para envergonhar o PC, mas sim quantos intervieram no processo e se encontram caladinhos por razões que a verdade, certamente, desconhece.

No inferno também haverá gente desqualificada.

Fernando Castelo


Nem o muro escapou ...... Largura da Azinhaga...... Novo "muro" acimentado

quarta-feira, 17 de março de 2010

Seteais: silenciar, jamais!!!



















Tantas vezes tem sido esta grave questão abordada e, salvo a Alagamares, jamais alguma das entidades que se reclama da defesa do património em Sintra, mesmo das que têm responsabilidades institucionais, se dignou manifestar-se para salvaguarda dos interesses colectivos em causa.

Com o intuito de melhor desafiar a participação de todos, a partir desta data, decidimos quebrar o exclusivo pressuposto de denúncia escrita - que desde o início do sintradoavesso tem vigorado - para, sempre que possível, passarmos a introduzir mensagens audiovisuais que melhor caracterizem a matéria objecto das preocupações que com todos partilhamos.

Hoje, iniciamos esta prática com uma foto actual do destruído tanque travestido em prosaica casa de máquinas e um pequeno vídeo onde é possível ver os gases poluentes, bem como ouvir o barulho dos motores em operação.

João Cachado/Fernando Castelo


terça-feira, 16 de março de 2010

Seteais,
a propósito duma promoção

Começo por vos pedir que releiam os textos aqui publicados nos dias 13 e 14 de Novembro de 2008, respectivamente, Seteais, pobre tanque e Seteais, tanque essencial. Se não o fizerem, deixarão de entender o alcance do assunto que hoje vos trago para reflexão.

Entretanto, apenas lembraria que houve um alto funcionário do Estado, Arquitecto Assessor Principal da Administração Pública Central, na altura afecto ao IGESPAR, que, dando total cobertura à destruição e subsequente adaptação do tanque a casa de máquinas, se permitiu justificá-la com argumentos que envergonhariam qualquer estudante de Ética da Recuperação do Património.

Pois fiquem sabendo que, actualmente, tão douto técnico desempenha as funções de Chefe do Gabinete de Sua Excelência o Secretário de Estado da Cultura. Se, como eu, ainda não perderam totalmente a capacidade de espanto – num país em que, ao mais alto nível da decisão política, passaram a ser possíveis as maiores bizarrias – surpreendam-se com mais esta promoção ao cargo de Principal colaborador de um governante.

Insisto, com a sugestão do primeiro parágrafo. Releiam os textos, pelo menos, os que vos sugeri e, se possível, todos os outros que, acerca do caso em apreço, tive oportunidade de subscrever neste mesmo blogue. A propósito, não posso perder a oportunidade de sublinhar como Seteais continua a ser um local tão causticado pela ignorância e cupidez.

Seteais, desespero de causa

Conselho final. Vão até lá, reparem no miserável aspecto daquela controversa casa de máquinas que o Senhor Arquitecto Assessor Principal pretendia ver encimada pela ilusão de um espelho de água inconcebível. Porém, ao deslocarem-se, observem também, do outro lado da estrada, a volumetria da mansão que Miguel Pais do Amaral está a construir na Quinta do Vale dos Anjos.

Subam a azinhaga, verifiquem como o caminho – é absolutamente incrível! – está actualmente reduzido a oitenta centímetros de largura. Percebam o tipo de abusos que vão sendo cometidos. Entendam que aquela casa, com os seus onze metros de altura de fachada, vai ficar mais acima que o Palácio de Seteais donde, aliás, a construção já é visível.

Todas as entidades afins da autorização de construção da mansão do magnata foram consultadas. Nenhuma, desde o Parque Natural Sintra-Cascais, à Câmara Municipal de Sintra, ao IGESPAR, emitiu parecer desfavorável. Acham isto normal, numa zona de intervenção problemática?

E, repito, do outro lado, um agradável tanque com espaço circundante dotado de conversadeiras e adequada decoração arbustiva, que fazia parte inequívoca do acervo de património construído da Quinta de Seteais, interessantíssimo espaço de lazer, foi liminar e criminosamente arrasado, porque o hoteleiro concessionário do Palácio, o grupo Espírito Santo, precisando de instalar a maquinaria poluente, longe da zona de alojamento, encontrou um Arquitecto Assessor Principal que não viu o mínimo inconveniente.

Acuda-nos e valha-nos com a sua intercessão o poderoso São Judas Tadeu que, como tenho lembrado, em absoluto desespero de causa, é advogado dos impossíveis...



quinta-feira, 11 de março de 2010


Correio de Sintra,
auspicioso primeiro número


Desde já me sinto obrigado a confessar um conflito de interesse. Ao escrever sobre este novo órgão da imprensa local e, simultaneamente, chamando a atenção para a necessidade da sua leitura, não posso deixar de informar que sou seu colaborador e, com imenso gosto, desde o primeiro número* que veio a público no dia 1 deste mês.

O noticiário concelhio, não mais opinativo do que deve, é muito interessante, verdadeiramente notável, em quantidade e qualidade, abrangendo um diversificado leque de interesses e cobrindo áreas tão distintas como a cultura, economia, ambiente, saúde, desporto e outras, não deixando de acolher a expressão das várias vozes partidárias, num saudável e equilibrado convívio.

Entre muitos outros factores de franco agrado, salientarei um pela raridade, nada despicienda, nos tempos que correm. Pois fiquem sabendo que, de facto, no Correio de Sintra, não se nota jeitinho algum ao poder local. Sabe muito bem folhear este jornal e não deparar – coisa bem corriqueira aí pela vizinhança – com prosa mais ou menos declaradamente laudatória, sub-reptícia mas veneradora e obrigada quanto baste, dos executivos da Câmara ou das freguesias.

Como sabem, a independenciazinha de um jornal é algo verdadeiramente precioso. O que eu mais quero para este Correio de Sintra é que a saiba preservar, mesmo que falte a espalda da publicidade dita institucional. Manda a dignidade que não se resvale para terrenos que até podem ser muito cómodos mas, na verdade, de evitar e de fugir como o diabo da Cruz…

Longa vida ao Correio de Sintra! As primeiras semanas são absolutamente cruciais para se aquilatar da credibilidade alicerçada na confiança que nele depositam os leitores e anunciantes, deste enorme e tão compósito concelho de Sintra, de quem depende, em última instância, a viabilização do projecto. Os mais sinceros parabéns aos seus mentores, os jornalistas Joaquim Reis e Luís Galrão.

PS:

Ainda a propósito, uma nota mais pessoal, para afirmar que, depois da minha recusa na continuidade da colaboração com a actual direcção do saudoso Jornal de Sintra, subsequente ao lamentável episódio que envolveu os tratos de polé sofridos por um texto da autoria do meu amigo Fernando Castelo, nada me poderia dar maior alegria do que este regresso ao papel, à possibilidade do especial contacto com os leitores que um jornal propicia.

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*Festival de Sintra, pág. 28 , Correio de Sintra, 1 de Março de 2010


segunda-feira, 8 de março de 2010



Festival de Sintra 2010*

Durante alguns anos, pude considerar este Festival como o mais sofisticado produto cultural de Sintra. No entanto, nas últimas edições, devido a uma programação extremamente controversa, aconteceu aquilo que não devia e, como já tive oportunidade de largamente justificar,* nomeadamente, a partir do momento em que, sem válido critério, se decidiu a inclusão dos designados contrapontos.

Tanto quanto julgo poder dar conta, tudo se desenrolou à revelia dos conceituados directores artísticos das vertentes musical e de bailado, respectivamente, Dr. Luís Pereira Leal e Mestre Vasco Wellenkamp cuja competência, mesmo em tempo de vacas magras, sempre cuidou e foi no sentido de não suscitar qualquer quebra de qualidade.

Volto aos contrapontos. Se, como parece, a intenção era a conquista de novos públicos para o Festival, o modo como se concretizou não podia ser mais polémico. De facto, o programa transformou-se num saco de gatos onde tudo cabe,
sem preocupação de coerência interna, ignorando que a necessidade de articulação harmoniosa dos eventos tem de obedecer a uma inequívoca lógica temática, de compreensão imediata e legível.

E, na realidade, o que tem sucedido era evitável. É perfeitamente possível conciliar o respeito pela tradição, os pergaminhos do Festival e a demanda de novas audiências, através das mais diversificadas iniciativas, mas sempre em íntima relação com
algo que tem faltado definir, isto é, um tema geral, que funcione como abóbada do espaço onde todos os eventos hão-de interagir e conviver numa desejável interdependência.

É neste contexto que, mesmo para a edição de 2010, ainda seria possível anunciar a unidade temática que funcionaria a montante das atitudes de animação cultural, hoje em dia, indissociáveis da realização de qualquer festival. Porque não envolver um ciclo de cinema e/ou exposição, teatro, concursos de alunos das escolas de música, conferências, oficinas de expressão plástica, corporal, dramática, etc,?

Julgo poder opinar que, em função das gerais restrições de ordem financeira impostas pela situação de crise global, não será previsível programar, por exemplo, algo de semelhante à corajosa iniciativa do Senhor Presidente da Câmara, quando convidou o Prof. António Damásio a proferir uma Conferência de Abertura numa das anteriores edições do Festival de Sintra que esgotou a lotação do Centro Cultural Olga Cadaval.

No entanto, é perfeitamente previsível e programável, a possibilidade de convidar um ou mais musicólogos da nossa praça - têmo-los de alto gabarito - para se pronunciarem acerca de assuntos afins da comemoração das aludidas efemérides que, em articulação com o tal tema central que urge anunciar, constituam momentos fortes de informação e de formação do público que for possível cativar.

Num tal quadro de referência pode continuar-se a promover os concertos e recitais nos palácios, quintas ou igrejas locais, e, por outro lado, acolher públicos de todas as idades, dos mais diversos perfis, tanto nos auditórios e salas de ensaios e polivalentes do Centro Cultural Olga Cadaval, como noutros locais mais afins, dando continuidade à realização dos concertos das bandas mas, sublinho, sempre na submissão ao grande tema geral que presidiria à edição.

Não é difícil, num ano em que, por exemplo, se comemora os cento e cinquenta anos do nascimento de Gustav Mahler ou o dos bicentenários do nascimento de Chopin e Schumann, partir para um desafio abrangente que tenha em consideração as ressonâncias românticas e o quadro de privilégio onde, em Sintra, se desenrolam os eventos.

Assim se poderá reanimar o Festival de Sintra, polivalente, multifacetado, mais formal numas circunstâncias e menos noutras. Quanto aos contrapontos, pois sim senhor, mas interligados, lógicos, inteligíveis e inteligentes, preservando a fama e o proveito que granjeou ao longo de décadas, de muito empenho e dedicação, que não podem continuar sendo postos em causa com a ligeireza dos últimos anos.

PS:

1. No passado dia 3 do corrente, acerca desta questão, troquei impressões com um grande melómano, íntimo da Sra. Marquesa de Cadaval, que, durante muitos anos, foi figura de absoluta referência no Festival de Sintra. Confirmou totalmente o que aqui subscrevo, manifestando o seu profundo desgosto em relação à inequívoca descaracterização de uma iniciativa que, a nível nacional e, em certos casos, mesmo internacional, já era um marco da vida musical.

2. Penso que, no futuro, a vertente de Bailado do Festival deveria tornar-se independente, de tal modo que Sintra pudesse vir a encarar a hipótese de promover uma pequena temporada, noutra altura do ano, mais propícia, aproveitando a altura em que as companhias igualmente se deslocam em tournée.
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* Para além de uma série no «saudoso» Jornal de Sintra, vd., entre outros, os seguintes textos sobre o assunto no
sintradoavesso:
- Festival de Sintra 2009, palmarés comentado, 11, 12, 13 e 14 de Junho de 2009;
- Vengerov maestro, um equívoco, 15 e 16 de Junho de 2009;
- Alcobaça, a Festa da Música, 17 de Junho de 2009;
- Revisão da matéria, 18 de Junho de 2009;
- Espinho, Estoril e Póvoa de Varzim, festivais culturais, 6 de Julho de 2009;
- Grandes festivais, 7 de Agosto de 2009.

NB: - Com pequenas alterações, trata-se do texto publicado no nº 1 do Correio de Sintra de 1 de Março de 2010.



sexta-feira, 5 de março de 2010

Eis um texto de Fernando Castelo que, tendo chegado como comentário, vem à primeira página pelo merecido destaque.



Quinta do Relógio,
polémica insistência





É uma pena que os actuais decisores de Sintra, que apenas ficarão na história pelos pedidos de empréstimo de milhões, não garantam que as Actas das Sessões estejam acessíveis através da internet. Talvez porque o custo não justificará o recurso a um qualquer sindicato bancário.



Algumas Actas, pelo menos das sessões privadas, revestem-se de pormenores interessantes. Numa breve incursão pela Acta da Sessão de 10 de Fevereiro último, nota-se que, entre uma Proposta do Vereador Batista Alves (julgo ser Baptista Alves) sobre a utilização de uma loja no mercado de Queluz e outra do Vereador Lino Ramos para um contrato-programa com a Associação de Atletismo de Lisboa e mais um subsídio de 3000 euros, não poderia estar melhor encaixada a Proposta subscrita pelo Presidente (100-P/2010) para a celebração do pedido de empréstimo de 26.606.629 euros que inclui a QUINTA DO RELÓGIO.



Somos levados pela estranheza de tão enorme vocação para aplicar 6.750.000 euros num bem cuja recuperação tem um valor inimaginável e de que se desconhecem os fins em vista. Tanto mais que se sabe, ou pelo menos se sente, a falta de vocação e a incapacidade para resolver graves problemas com incidência no bem-estar dos munícipes e no desenvolvimento económico e turístico - e de imagem - de Sintra, como é o caso de ausência de parques de estacionamento periféricos, acessos à Pena ou a recuperação das casas degradadas e "embrulhadas" na da Volta do Duche.



Dá que pensar. Talvez mais cedo do que tarde, se conheçam os contornos da insistência nesta transacção, que justifica as maiores reservas por parte da oposição camarária, embora apenas o PS tenha votado contra. Resta acrescentar que, na mesma proposta, também aparece o Complexo Desportivo de Fitares que por razões conhecidas deixou de servir a comunidade. Mais 4.800.000 euros.Por fim, doirando a pílula, são as Escolas Básicas, onde as ampliações em nove (9) envolvem 13.056.629,12 euros (veja-se o pormenor do acerto em cêntimos), correspondendo a uma média por escola de 1.450.736,57 euros.



Ficam, isso sim, grandes preocupações para o futuro, porque seremos nós, os munícipes, que nada vêem, quem terá de suportar os custos de medidas que nós próprios desconhecemos. Depois, os responsáveis batem asas e partem com o futuro mais assegurado e risonho.



Fernando Castelo


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NB: A propósito, ler os textos aqui publicados em 14 de Janeiro deste ano.


quinta-feira, 4 de março de 2010


Belas, temporal de 2008,
desleixos e tragédia


Hoje é dia de transcrições. Começo com um artigo publicado no jornal Público de ontem:


"A 18 de Fevereiro de 2008, na sequência do mau tempo, a força das águas derrubou um muro em Belas, junto à Estrada Nacional 117, tendo o carro onde seguiam duas irmãs sido arrastado para o rio Jamor.

Sara Gomes foi recolhida já sem vida de dentro do carro e o corpo de Zíbia Coimbra nunca chegou a ser encontrado, apesar de terem decorrido 15 dias de intensas buscas por parte das autoridades.

O advogado António Pragal Colaço surgiu como mandatário judicial das famílias, e anunciou durante meses que iria mover um processo contra a câmara de Sintra e a Estradas de Portugal, responsabilizando as duas entidades por homicídio por negligência.

Dois anos após o acidente, os viúvos das duas vítimas disseram à Lusa que julgavam que o processo estaria a decorrer em tribunal, mas a 28 de Fevereiro foram informados por Pragal Colaço de que já não representava as famílias.

“Pensávamos que o processo continuava a decorrer. Esta situação é muito difícil porque mexe com emoções”, disse à Lusa Mateus Gomes, um dos viúvos.

Carlos Nunes, amigo e porta-voz das famílias, adiantou que até domingo, 28 de Fevereiro, desconhecia a saída de António Pragal Colaço do processo que “nem sequer chegou a entrar em tribunal”, constatou.

“Recebi uma mensagem no telemóvel a dizer que já não era advogado do processo. Agora vamos procurar um advogado oficioso para tratar do assunto”, disse, adiantando que António Pragal Colaço “tinha oferecido gratuitamente os seus serviços em 2008”.

Contactado pela agência Lusa, António Pragal Colaço justificou a sua saída do processo por uma questão de “conflito de interesses”, dada a sua ligação ao Benfica (onde é comentador da Benfica TV) e a Fernando Seara (presidente da câmara de Sintra), mandatário da candidatura de Luís Filipe Vieira à presidência do clube.

“Já não sou advogado das famílias há algum tempo por uma questão de ética “, garantiu Pragal Colaço, causídico que representou Dantas da Cunha no processo em que Vale e Azevedo (ex presidente do Benfica) foi condenado em 2006 a sete anos e meio de prisão.

António Pragal Colaço confirmou que o processo não chegou a dar entrada no tribunal, uma vez que durante o tempo decorrido após o acidente se encontrava a aguardar documentos solicitados à Câmara de Sintra e à Estradas de Portugal.

O causídico confirmou à Lusa que apenas informou as famílias no domingo, 28 de Fevereiro, de que já não seria o seu representante legal: “se calhar não tinha dito directamente mas tinha-lhes dado a entender isso”, adiantou.

O presidente da Câmara de Sintra admitiu à Lusa o estreitamento de relações com o advogado, por força do benfiquismo de ambos.

“Somos benfiquistas e temos convivido. Estimamo-nos muito um ao outro”, disse Fernando Seara. "

……………………………………

O texto é tão explícito que me dispenso de comentários. Apenas gostaria de acrescentar que, na altura, tão impressionado fiquei com a atitude de desinteressado patrocínio manifesto pelo citado advogado, que, sem o conhecer de parte alguma, telefonei para o seu escritório, dando a entender que, através do meu blogue, escrevia sobre o desconforto público que a notícia do acidente suscitara, portanto, em sintonia com a atitude do causídico.

A coisa ficou por ali. Claro que a minha ingenuidade militante se somou ao desconhecimento do que seja esse espantoso sentimento do benfiquismo que, pelos vistos, é tão sobrepujante que obnubila os mais nobres valores da cultura que a todos nos formatou. Foi na ignorância dessa especialíssima sintonia que acabaria por se manifestar, tão exuberantemente, entre o advogado e o autarca, que assinei dois textos para o sintradoavesso* que, por ordem cronológica, passo a transcrever:

[1º texto, 20.02.2008]

Tudo a meter água…

Depois de uma noite e madrugada de intempérie, não foi mesmo nada bonito verificar como as consequências ultrapassaram aquilo que, normalmente, é previsível em metrópoles consideradas civilizadas. Inundações subsequentes à ocorrência de excepcional pluviosidade, é verdade que acontecem por todo o lado. A atestá-lo, aí estão os canais de televisão, em cima do acontecimento, trazendo-nos a casa, cada dia que passa, as imagens de tais eventos, provenientes de todos os continentes.

No entanto, apesar da frequência com que acolhem tais notícias, os espectadores ainda conseguem discernir acerca das substanciais diferenças que tais reportagens registam, sendo levados a concluir que as grandes enxurradas, as grandes derrocadas de muros e barreiras, portanto, as situações mais gritantes, cenário de menores ou maiores tragédias, se verificam nas latitudes tropicais, normalmente a Sul, em sacrificados países da África, América do Sul e da Ásia.

Salvo raras e conhecidas excepções, na Europa central e ocidental, numa boa parte dos Estados Unidos da América e Canadá, aquelas cenas dificilmente aparecem nos ecrãs. Ora bem, a maior parte das imagens que todos vimos, captadas pelas câmaras na área metropolitana de Lisboa, denunciam uma realidade, salpicada de terceiro mundo, cuja aparência é a melhor avaliação do lamentável estado de desenvolvimento deste desgraçado país.

Por mais que os governos tentem, não conseguem esconder que, a montante desta e doutras congéneres e cíclicas (1967, 1983) tragédias, há lamentáveis práticas – certamente também de corrupção - que deram origem à construção em leito de cheia, à sistemática impermeabilização de terrenos, à falta de planeamento urbanístico, ao desrespeito das normas vigentes, ao facilitismo, a uma famigerada e perniciosa cultura do desleixo cujas consequências andavam por ali misturadas, envolvidas nas lamas e estercos que os planos das reportagens nos devolviam.

Certas áreas de Belas, de Camarate e de Sacavém, de Trajouce ou Manique de Baixo, subúrbios horrorosos, cilício à cintura de Sintra, de Loures ou de Cascais, são meros exemplos de como há manchas de perfeito terceiro mundo que sucessivos governos vão tentando esconder. Pois é, tentam, embora não valha a pena. É gato escondido…

Nós, que cá vivemos, outro remédio não temos, senão a obrigação de suportar os efeitos de tanto analfabetismo, das incríveis percentagens de iliteracia que explicam o comportamento de um incalculável número de habilidosos, instalados em todas as instâncias, privadas e públicas, até nas governamentais, mesmo ao mais alto nível.

Mas, para vergonha nossa, por exemplo, em Bruxelas, Viena, Paris ou Londres, bem se conhece e reconhece a singularidade desta mixórdia à portuguesa, da tal piolheira de que falava o Senhor Don Carlos de Bragança, como fruto da declarada incompetência de uma classe política incapaz de resolver, geração após geração, os problemas que, isso sim, são habituais em países como o Brasil, a Venezuela ou Filipinas e que enquadram as favelas do Rio de Janeiro, de Caracas ou de Manila.

PS: Aliás, num aparte final, lembraria que a chacota e falta de respeito de que os portugueses são alvo frequente, não só nas conversas de café e de clube, mas também nas chancelarias das grandes capitais europeias, é que justificam a sobranceria com que os media ingleses se permitiram tratar a Polícia Judiciária Portuguesa, a propósito do caso da miúda raptada. E, afinal, até parece que tinham razão…



[2º texto, 28.02.08]

Em Belas?
- o que o luto não cala


Neste nosso desgraçado país que continua sendo tão manifestamente afectado pela enraizada cultura de desleixo - também fruto dos mais altos índices de analfabetismo e iliteracia da União Europeia - até que ponto será necessário lutar, no sentido de tornar eficazes os efeitos da intervenção cívica de denúncia, contra cada evidente caso que ponha em risco a segurança de pessoas, ao ponto de lhes causar a morte?

É uma questão que sistematicamente se me coloca e para a qual continuo sem resposta. Recentemente, Loures, Camarate, o horror das inundações, a morte em Belas. Por analogia, ocorre-nos o caso de Entre-os-Rios, que tanta e natural consternação causou, para que nos perguntemos se seria de esperar que o colossal processo de mediatização decorrente, em vez de acicatar a sempre latente atitude de voyeurismo, poderia desencadear a reacção cívica que se impunha.

Esperava eu que afirmativa fosse a resposta àquela questão. E assim pensava, tendo em consideração aquilo que, sem presunção, julgo ser o meu profundo conhecimento da realidade nacional, em consequência da actividade como técnico superior do Ministério da Educação, durante anos e anos envolvido em projectos de intervenção integrada, em Trás-os-Montes e Alto Douro, Douro Litoral, Minho, Beiras, Alentejo e Açores, para além da zona metropolitana de Lisboa, em contacto directo com uma imensa diversidade de realidades locais.

Previa que uma calamidade, com a dimensão de Entre-os-Rios, não só acabasse por constituir um sério ponto de viragem, um definitivo alerta contra a chaga nacional que é a sistemática falta de manutenção de todo o tipo de infra-estruturas, mas também contribuísse para favorecer o fermento de uma atitude cívica inconformada e exigente, que não se satisfizesse apenas com o ressarcimento decorrente da recepção de indemnizações.

A verdade é que, num momento então propício e num terreno que era preciso ter explorado convenientemente, não apareceram as associações cívicas de diferentes perfis, fazendo o trabalho de mobilização afim da motivação e consciencialização para o envolvimento das populações, cuja concretização permanece totalmente pertinente, agora, na sequência deste infeliz episódio da intempérie dos passados dias 10 e 11 de Fevereiro.

Lágrimas de indignação

Conhecidas, lamentáveie e evitáveis causas, no âmbito da proverbial e fatídica cultura do desleixo, estão a montante das trágicas consequências do acidente de Belas. Naturalmente, não há entidade disposta a assumir a mínima responsabilidade e, muito pelo contrário, ao vislumbrar qualquer hipótese de que tal possa acontecer, logo trata de sacudir a água do capote...

Veja-se o caso da Câmara Municipal de Sintra. No dia 27 do mês passado, por ocasião da primeira reunião pública após a tragédia, o executivo municipal expressou pesar pelas duas mortes, fez um minuto de silêncio e o Senhor Presidente lembrou que aquela via é uma estrada nacional. Para bom entendedor... O Senhor Vice-Presidente enalteceu o empenho dos serviços municipais nas tarefas de remediação e o Senhor Vereador João Soares congratulou-se com o facto de a JF de Monte Abraão ter suportado os encargos com o funeral, esperando que o município tudo faça no sentido de minorar o sofrimento das crianças filhas das vítimas.

E pronto. Tudo resolvido. Como sempre, toda a gente de consciência tranquila. Entretanto, a família das duas jovens irmãs – que, duma assentada, perderam a vida em Belas - já anunciou a intenção de processar a Câmara Municipal de Sintra e a empresa Estradas de Portugal EP por homicídio por negligência, contando com o testemunho de pessoas que já se tinham queixado quanto ao péssimo estado em que o muro se encontrava.

Indignação consequente

No âmbito de uma tragédia que, assim, para sempre destroçou e enlutou uma família que podia ser a minha ou a vossa, quero manifestar a mais profunda admiração pela decisão que tomaram. Contudo, no dificílimo momento que estarão atravessando, adivinho como estas pessoas enlutadas gostariam de sentir a solidariedade consequente de todos os cidadãos que se indignaram perante a evitável perda destas duas vidas e não se conformam com expressões de pesar que não passam de formalidade de circunstância.

Com isto, e, através deste meu singelo contributo, apenas pretendo dizer da necessidade de dar público manifesto dos sinais de desconforto e de mal estar, suscitados por todas as ausências e omissões de atempada actuação dos serviços da administração central e local, que suscitaram os efeitos acumulados na origem do infausto acidente.

Estou em crer que, só deste modo, transformando em atitude cívica, responsável e consequente – aquilo que, assim não sendo, apenas entendo como lágrimas de crocodilo – estaremos à altura do momento de luto, incapazes de admitir atitudes que, escandalosamente, como no caso de Entre-os-Rios, acabem por ilibar os eventuais responsáveis.
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PS:

Desconheço se a Câmara Municipal de Sintra ou a Estradas de Portugal concretizaram quaisquer medidas tendentes a evitar a ocorrência de semelhante tragédia no futuro. Agradeço a alguém que possa elucidar a este respeito.

* Também o saudoso Jornal de Sintra publicou esta matéria na sua edição de 14.03.08



quarta-feira, 3 de março de 2010

Dedicação Total,
episódio
escolar


Um perito avaliador do Tribunal da Relação de Lisboa atribuiu o valor de 1.191.408,92 de Euros às parcelas de terreno destinadas à construção da futura Escola Básica Integrada da Serra das Minas. Contudo, na sua reunião de 10 de Fevereiro, a Câmara Municipal de Sintra deliberou pagar ao proprietário dos mesmíssimos terrenos não o montante supra mas, isso sim, 1.510.000,00!

Mas porquê uma tal diferença? Enfim, não se trata desse tipo de manobra que, provavelmente, alguns dos leitores já estariam congeminando. De facto, 318.591,00 Euros será sempre muito dinheiro em qualquer altura e, ainda mais, em tempo de vacas magras. Afinal, muito simplesmente, terá acontecido que o executivo faltou ao compromisso com os eleitores - ou seja, de sempre actuar a favor dos seus interesses - não projectando nem planeando a construção desta unidade de ensino.

A óbvia consequência de tal omissão foi a ausência de projecto. E, naquela circunstância, a Câmara Municipal de Sintra não estava em posição de oficiar o Ministério da Educação para se proceder à expropriação dos terrenos. Tão simples como isto. E, se assim tivesse sucedido, naturalmente, muito teria baixado o valor a pagar.

Ora bem, isto é gravíssimo. É mesmo algo que não pode passar desapercebido. A coligação Mais Sintra e a CDU votaram a favor da liquidação. O PS votou contra e emitiu um comunicado de imprensa. Porém, como é público e notório, o assunto não tem qualquer notoriedade, os munícipes foram prejudicados e continuam sem saber que o foram e quem é o responsável pelo dislate.

Nestes termos, impõe-se encontrar uma estratégia de comunicação com todos os interessados no esclarecimento da situação, ou seja, nem mais nem menos do que os cidadãos do concelho. Uma vez que a Mais Sintra ganhou as eleições para poder ir (des)governando com as muletas do costume, pelo menos, que se denuncie, formal e eficazmente, os disparates que tanto prejudicam os interesses dos administrados e contribuintes.

Como tenho tido oportunidade de lembrar, tudo isto se passa depois da solene afirmação de que era a TOTAL DEDICAÇÃO que movia os candidatos dos partidos coligados ao abrigo de tal slôgane. É caso para perguntar se já terão imaginado o que nos esperaria se a dedicação não fosse total