[sempre de acordo com a antiga ortografia]

sexta-feira, 30 de abril de 2010

Bancarrota dois

Retomo o artigo A Bancarrota? Se calhar..., aqui publicado no dia 25 de Abril que, como terão verificado, não poderia ter sido mais premonitório. Mesmo não sendo economista nem jamais ter investido na bolsa, houve quem me dissesse que, só por horas, não acertei na mouche.

De qualquer modo, não assumo quaisquer capacidades divinatórias nem proféticas e, neste última acepção, muito menos de profeta da desgraça. Se bem se lembram, escrevia eu que andava num desassossego desgraçado, prevendo que uma segunda-feira, mais ou menos próxima, acordaríamos para o pesadelo da iminente bancarrota. E, sem grande margem para erro, desenhei a estratégia dos habituais predadores.

Pois eles continuam por aí, por tal se entendendo não só os que estão sediados na outra margem do Atlântico mas também os seus agentes ,nas praças fortes do centro da Europa, em Frankfurt e Milão. Continuam e de que maneira! Aliás se bem se derem ao trabalho de ir acompanhando as vozes que nos vão chegando, terão reparado que já avisaram: apesar de muito sérios, os casos da Grécia e de Portugal são muito menos preocupantes do que o de Espanha...

Como se depreende, trabalho não lhes falta. As peças de caça, os famosos pigs,* quais acossados javalis, tentam escapar, pedem auxílio desesperado aos coitos do costume. Todavia, um deles – o que, precisamente, dá aquele p inicial à sigla de fama tão má – cada vez mais, se põe a jeito do definitivo golpe.

De facto, não se percebe. Ou, pelo menos, eu não consigo perceber. Como se ainda fosse necessário, demonstrou-se à evidência como é angustiante a situação financeira do país. Incapaz de produzir a riqueza bastante e, para satisfazer os compromissos decorrentes do serviço da dívida, já não tendo outro remédio senão o recurso sistemático a créditos alcavalados dos juros elevadíssimos impostos pelas impiedosas agências de rating, Portugal aí está, irremediavelmente à mercê de todos os ataques.

A exemplo dos mais desgraçados devedores, está o país a pedir emprestado para pagar o que pediu emprestado… É a incontornável, a menos desejável espiral que cerceia os horizontes e compromete o futuro das gerações que nos seguem. Pois nada disto parece impressionar os governantes que temos, incapazes de cobrarem à banca o que, cheios de fanfarronada, impõem aos cidadãos indefesos. Nada disto parece impressionar um governo incompetente, sem a mínima táctica para o enquadramento da economia paralela que, totalmente, foge ao controlo do Estado.

Com base no que afirmara o Ministro das Finanças, ainda ousámos esperar que, finalmente, se suspenderia a falsa estratégia desenvolvimentista sustentada nas desconformes obras públicas. Ou seja, as auto-estradas que ficam desertas, o aeroporto que iria substituir o da Portela que está muito longe da saturação e que pode funcionar em articulação com o Montijo (para as low cost), o tgv até Madrid, que jamais produzirá qualquer rendimento directo…

Houvesse disponibilidade financeira, e facilmente daria de mão que tais obras até poderiam ser equacionadas. Mas, a realidade é totalmente oposta. Não temos para mandar cantar o cego. Pois, ainda assim, pela boca do inefável Ministro das Obras Públicas, ficámos a saber que, afinal, o monstro de treze mil milhões de Euros irá mesmo para a frente…

Tanta estupidez! Tanta falta de lucidez! Perante a ignorância institucionalizada, ao mais alto nível, não só estamos diante da mais desentranhada e suicida estratégia mas também daquilo que designaria como bancarrota dois, o descalabro, o verdadeiro desgoverno, a cegueira irracional que os poderes constitucionais parecem incapazes de suster.

Ainda há quem se admire com a emigração dos jovens de trinta e quarenta anos, partindo de armas e bagagens, abandonando esta proverbial piolheira da cultura do desleixo. Há séculos que assim é. Partem, sempre partiram os melhores de nós. O melhor que fizemos, fizemo-lo lá por fora, surpreendendo o mundo com uma capacidade que, aqui, dentro de fronteiras, não somos capazes de impor aos medíocres.

Será este o tal luso fado?

PS:


Com o futuro assim comprometido, não admira as peregrinações a Fátima, em ano de visita papal, ou a Santiago de Compostela em ano Jacobeu. De facto, se não nos valem os santos da corte celeste, acabamos mesmo muito mal…

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* No sintradoavesso, referi-me aos designados pigs, pela primeira vez, em 6 de Janeiro de 2010, no texto intitulado Sócrates + Seara=desânimo

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Saudação a Fátima Campos

No dia em que há eleições para a Concelhia de Sintra do PS, não queria deixar passar a oportunidade para manifestar a Fátima Campos o meu mais sincero desejo de que a lista que lidera saia vitoriosa. É uma oportunidade histórica de derrotar, democraticamente, uma facção aparelhista que, durante tantos anos, já teve oportunidade de mostrar o que vale e como vale.


Um abraço a Fátima Campos e que alcance o seu objectivo!

Não tenho a menor dúvida de que todos ganharíamos com ela, mesmo os que, independentes de esquerda como eu, sabem como é importante a genuinidade de propósitos e bonita a luta por ideais, ainda que, corajosamente, contra as posições mais instaladas do seu próprio partido.



terça-feira, 27 de abril de 2010


Carta Aberta da CDU



Da Coordenadora da Concelhia de Sintra da CDU, via correio electrónico datado de hoje, às 17.09, acabo de receber o texto – constante de uma Carta Aberta – que passo a transcrever:


"Excelentíssimo Senhor
Dr. João Cachado,

No seguimento do seu artigo publicado no blog sintradoavesso.blogspot.com no dia 22 de Abril de 2010 e passando a citar “(...) Porém, como o alcance da minha intervenção não vai além deste blogue, espero que, tanto no executivo como na Assembleia Municipal, o PS e o BE continuem a opor-se ao projecto que a CDU – nada surpreendentemente – decidiu viabilizar. (...)” cumpre-nos
esclarecer:

1. Refutamos o tom insinuoso (sic) que colocou na sua observação visto que enquanto força política, possuímos um património político inquestionável.

2. Refutamos o tom de suspeição que acaba por cair directamente sobre o eleito da CDU Vereador Baptista Alves, sendo aliás esclarecedor o artigo publicado no Jornal Sol, edição de 28 de Março de 2010, sobre o processo Face Oculta.

3. A proposta em causa, que foi alvo de votação no dia 10 de Fevereiro de 2010, contemplava a aquisição da Quinta do Relógio e dos seguintes imóveis: Complexo Municipal de Fitares, Escola Básica n.º 1 do Cacém, EB1 de S. João das Lampas, EB1/JI de Bolembre, EB1/JI de Monte Abraão, EB/JI da Quinta da Fonteireira, EB1/JI de Vale Mourão, EB1/JI da Cavaleira, EB1/JI n.º 1 de Mem – Martins, EB1/JI de Fitares e EB1/JI n.º 2 de Queluz.

4. O Vereador da CDU absteve-se nesta votação tendo declarado: “(...) no entender da CDU, da listagem de operações que vão ser financiadas com este empréstimo estão de acordo com quase a totalidade porque são obras necessárias e imprescindíveis de serem executadas. E esta é uma forma de dar resposta às necessidades importantes da população. Não estão de acordo com uma delas que é a compra da Quinta do Relógio pelas razões que já expuseram anteriormente. Portanto, vão-se abster nesta votação”.

5. Assim, consideramos positiva a aquisição destes importantes equipamentos públicos escolares, distanciando-nos da aquisição da Quinta do Relógio.

6. A mesma posição de abstenção foi tomada pela bancada da CDU na Assembleia Municipal de 25 de Fevereiro de 2010.

7. Quando alguém se pronuncia sobre assuntos desta importância e coloca em causa a idoneidade de terceiros, é conveniente que estude as fontes, que analise os problemas ou então assuma os seus propósitos políticos.

8. Os factos devem ser analisados com rigor e exactidão e interpretados à luz da discussão realizada.

9. Temos cópias de todo o processo para ceder, caso seja do seu interesse.


Sem outro assunto de momento nos subscrevemos. Cumprimentos,

(Coordenadora Concelhia de Sintra da CDU)"


Eis a minha resposta:



À Coordenadora Concelhia de Sintra da CDU

Assunto:
Carta Aberta de 26.04.10

Exmos. Senhores,


Muito agradeço o texto objecto da Carta Aberta que, tão amavelmente, me dirigiram e através do qual também tiveram a oportunidade de esclarece a opinião pública, sobre os termos em que se processou a votação da CDU, tanto na reunião do executivo camarário como na Assembleia Municipal. Assim sendo, primeiramente, cumpre que expresse a minha satisfação, na medida em que o texto publicado no sintradoavesso, em 22 do corrente, vos suscitou a decisão de vir a público elucidar algo que, efectivamente, carecia.

Gostaria, em segundo lugar, o mais veemente e liminarmente que souber e for capaz, de afirmar sem qualquer margem para dúvida, que jamais – repito, jamais – foi minha intenção suspeitar fosse o que fosse, muito menos de insinuar algo menos abonatório, subestimar ou desrespeitar o cidadão eleito que é o Engº Baptista Alves, Vereador da CDU na Câmara Municipal de Sintra. Desconheço o que, a propósito do referido no ponto 2 da Carta Aberta, o semanário Sol terá publicado de abonatório. Para mim, o cidadão Engº Baptista Alves é alguém inconfundível, cuja exemplaridade de actuação, há tantos anos, em benefício dos munícipes, é a todos os títulos indiscutível.

Aquilo que escrevi e como escrevi, apenas teve a ver com a circunstância em si. Na realidade, infeliz mas objectivamente, através do recurso à abstenção, a CDU viabilizou uma operação que, na minha opinião, é extremamente polémica, pondo em causa uma série de factores de ordem económica e financeira que enquadram a actividade da autarquia, para além de favorecer uma negociação cujo objectivo nem sequer se vislumbra.

Através da Carta Aberta, tanto eu como a esmagadora maioria dos cidadãos, ficámos a saber que, afinal, a CDU também está contra a aquisição da Quinta do Relógio. Mas, por assim acontecer, porque não solicitou a CDU ao proponente que tornasse independentes as diferentes propostas de aquisição dos bens em apreço? Porque razão, sendo contra a compra da Quinta do Relógio, deixou a CDU que fosse veiculada a ideia de que a sua abstenção favoreceu a intenção da Coligação Mais Sintra?

Se tivesse actuado como sugerido no parágrafo anterior, saber-se-ia que a CDU estava de acordo com a aquisição do património afim do parque escolar e, como afirma no ponto 5 da Carta Aberta, se distanciava inequivocamente da aquisição da Quinta do Relógio. Se assim tivesse actuado, jamais teria eu escrito aquilo que escrevi, e como escrevi, desgostoso e desiludido, perante uma atitude da CDU que, afinal, não correspondia à realidade do que sucedera, quer na reunião do executivo quer na Assembleia Municipal.

Através deste episódio, que a Carta Aberta tão bem esclarece, fica a conclusão de que tudo há a ganhar com o saudável jogo da clareza de atitudes. E, no caso vertente, tanto mais assim é quanto sabem V. Exas. existirem muitos cidadãos que não acompanham – ou deixaram de acompanhar, como é o meu caso – as reuniões dos órgãos autárquicos, munícipes que tomam conhecimento do que acontece nas reuniões através dos órgãos de imprensa que não pormenorizam as circunstâncias.

Tal não significa que, a nível pessoal, não me sinta atingido pelos reparos assinalados nos pontos 7 e 8 da vossa Carta Aberta. De qualquer modo, solicitaria relevem a interpretação de ter pretendido lesar a idoneidade de terceiros que, de todo em todo, como já confirmei, era minha intenção. E, substantivamente, o que me cumpre evidenciar é a posição insofismável que, desde a primeira hora, manifestei.*

Finalmente, importaria renovar o sentimento de satisfação que o vosso esclarecimento me proporcionou, ficando a saber que, também em vós, tenho cúmplices nesta causa de denúncia do negócio de compra da Quinta do Relógio, cujos contornos me provocam a maior apreensão e que, provavelmente, até me acompanharão na proposta que trouxe a público relativamente à Sintra Garagem.

Sem outro assunto de momento, aceitem os melhores cumprimentos e o manifesto da maior estima e consideração do



João Cachado




* Vd. sintradoavesso, 14.01.2010 (I), 14.01.2010 (II) e 01.04.10

segunda-feira, 26 de abril de 2010


Sintra, lagoa do desleixo


Apressada e compreensivelmente, na própria tarde da tragédia, e sem qualquer vontade de encarar as televisões que procuravam obter as suas declarações, o Presidente da Câmara Municipal de Sintra, apenas dizia que os serviços da autarquia já tinham intimado o dono do terreno a drenar a água acumulada. Pois. A verdade, indesmentível, é que dois miúdos acabavam de morrer numa lagoa do Cacém.

Desconfio que sei onde tudo aconteceu mas a exactidão do local pouco interessa. Não estou a fazer notícia. Não tenho de estar preocupado com as regras da pirâmide da comunicação que, certamente, terão sido respeitadas pelos homens dos media encarregados de informar o facto. O que me interessa é trazer à colação a evidência de mais um desleixo que custou a vida de crianças.

Tudo isto é tanto mais lamentável quanto, passados dois ou três dias, a água tinha sido escoada. Desconheço que entidade terá concretizado tão atrasada operação, se a autarquia, se o proprietário. Pouco importa o pormenor. Agora, que o desastre já sucedeu, agora, que toda a gente chora lágrimas evitáveis, o luto que importa fazer não pode deixar de implicar o apuramento de responsabilidades. Se tal não for feito, ainda menos estaremos à altura de tão lamentável circunstância.

Inquestionavelmente, trata-se de negligência grosseira. Não poupemos os adjectivos. Descuido escandaloso, mais um vergonhoso episódio, daqueles que não aconteceriam se, entre nós, portugueses, não estivesse tão entranhada, florescente e próspera, a designada cultura do desleixo, contra a qual o Presidente Jorge Sampaio tantas vezes lutou, a mesma hedionda cultura que, à modesta escala deste blogue, aqui tenho continuado a denunciar, contra nós, sintrenses.

A propósito, recorro a um argumento de autoridade. Goste-se ou não do estilo, sempre que a oportunidade se lhe oferece, a verdade é que o Dr. Marinho Pinto, Bastonário da Ordem dos Advogados, não tem poupado as palavras, com o objectivo de contribuir para a dignificação dos actos da administração, quer considerada a nível central quer local.

Ora bem, a oportunidade ofereceu-se-lhe, precisamente no dia seguinte ao da tragédia, quando, entrevistado por Conceição Lino, no programa da SIC, Nós por cá, e perante um caso absolutamente idêntico, no Norte do país, considerou que a possibilidade de uma ocorrência com tais contornos se inscrever na classificação de homicídio por negligência.

Desconheço que diligências terão feito ou farão as famílias das crianças que perderam a vida na famigerada lagoa do Cacém. Entretanto, uma coisa gostaria de convosco partilhar, ou seja, a vontade de que esta seria uma daquelas circunstâncias de crime público, que não carecem de queixa individual para serem devidamente enquadradas pelos tribunais. Fosse essa a situação, não tenho a menor dúvida de que muitos seríamos agora a exigir que justiça se fizesse, doesse a quem doesse.

Quem se atrasou a cumprir a determinação da autarquia? Será lícito (e justo?...)considerar que a responsabilidade da Câmara Municipal de Sintra terminou com o aviso dirigido ao proprietário do terreno? Ou, mais razoável e racionalmente, não será de entender como criminoso relaxo, a atitude dos serviços camarários, que não terão controlado o prazo de execução imediata da referida determinação? E, ainda outra coisa, aquele fatídico terreno, transformado em criminosa lagoa, não deveria ter sido oportuna e correctamente vedado?

Por favor, haja quem se digne assumir as responsabilidades decorrentes deste tristíssimo caso. Morreram duas crianças que mereciam andar por aí, no gozo do seu direito à vida. Trata-se de mais um atentado à segurança das pessoas. É para esse efeito que nós, contribuintes sintrenses, pomos à disposição da comunidade, os meios necessários para que se exerça a autoridade democrática de que, inequivocamente, a autarquia está investida.

Inequivocamente, meus senhores, inequivocamente!... Por isso, ou somos corajosamente consequentes ou, como há tanto tempo acontece, não passamos de uma cambada de bandalhos.


domingo, 25 de abril de 2010

A bancarrota?
Se calhar...


Para vos dizer com toda a franqueza, apesar de me considerar pessoa interessada e informada acerca de tudo o que, a nível nacional e internacional, se vai sabendo relacionado com a lusa vidinha, não previa que, tão rapidamente, tivesse de andar neste desassossego galopante dos últimos dias, tentando adivinhar o comportamento dos principais mercados internacionais.

Para que conste, não tenho contas em paraísos fiscais nem jamais comprei qualquer papel na bolsa. Preocupação tão estranha deve-se, pois certamente, à necessidade de perceber o verdadeiro estado da nação, em especial, no que às contas diz respeito, uma vez que é mentiroso e susceptível da maior desconfiança o discurso oficial do estado a que isto tudo chegou.

Felizmente, já há muitos anos, aprendi a descodificar os mecanismos da especulação, a montante da avidez de certas instâncias, sem rosto nem bandeira, que se perfilam na sombra dos juros agiotas das operações overnight, ou no campo de batalha monetarista, em que autênticos predadores, pretendendo abater determinada moeda, isolam do grupo o seu elo mais fraco para, tal como na caça, mais facilmente poderem matar a peça…

Não deixa de ser sintomático que, a tentativa de saber o que se passa cá dentro, deva pressupor o acesso ao que se escreve e diz lá por fora. Que ironia! No preciso dia em que comemoramos trinta e seis anos do Vinte e Cinco de Abril, dou por mim a fazer o mesmo que fazia no dia 24, ou seja, tentando sintonizar outras fontes, porque as do regime, não são credíveis...

Enfim, como assim é, logo que posso, lá estou, vorazmente, ou com o The Economist, tentando digerir, nas linhas e entrelinhas, as referências mais explícitas e implícitas ao caso português ou, por exemplo, num blogue do The New York Times, com Simon Johnson, em tempos economista-chefe do FMI, a considerar, sem escândalo nem surpresa, que a Grécia e Portugal são mais arriscados do que a Argentina em 2001.

Multiplicam-se os manifestos do descrédito internacional através do testemunho de insuspeitos especialistas. É o Nobel da Economia, Joseph Stiglitz, no El Pais, advertindo quanto à possibilidade de Portugal e a Espanha sofrerem processos de falência análogos ao da Grécia. É Nouriel Roubini, o guru que previu a crise global em que estamos mergulhados, chegando ao ponto de, no seu site, escrever que Portugal e a Grécia até poderão ter de abandonar a união monetária.

Sabem o que passou a acontecer-me nas horas que precedem a reabertura dos mercados, à segunda-feira? Perante perspectivas tão alarmantes, fico num autêntico frenesim. Interrogo-me se será desta que – tal como já fizeram na Grécia, com o sucesso que se conhece – os especuladores internacionais conseguem, também neste elo mais fraco que é Portugal, manipular o Euro a seu bel-prazer, atirando-o para o desgraçado buraco que os governantes, com os habituais óculos cor de rosa, recusam ver.

Porém, aí estão os avisos, pelas mais respeitadas vozes. Quem tem a coragem de afirmar que são profetas da desgraça? Quem quer cair nesse ridículo? Pois bem, apesar dos sinais de alerta, continuamos ouvindo a insistência na concretização do aeroporto de Alcochete, nas linhas de tgv sem qualquer hipótese de rendibilidade, bem como na nova travessia do Tejo. Que falta de lucidez! Que cegueira é esta, de braço dado com as grandes construtoras?


De facto, andamos a viver acima das nossas possibilidades. Há demasiado tempo. Acho que andamos mesmo a brincar com o fogo. Até que, um dia destes, provavelmente, numa das próximas segundas feiras, alguém nos irá acordar para o pesadelo bem real da mais negra situação financeira, que nenhuma comunidade gostaria de encarar. Mas, será que temos de levar com o descarnado murro da bancarrota? Quem dera que não...

sábado, 24 de abril de 2010

Os génios da finança


Em parangona de primeira página e no seu suplemento de Economia, o semanário Expresso de hoje, reporta-se ao caso de João Rendeiro, ex-presidente do Banco Privado Português, que, em cerca de dez anos, tendo recebido mais de doze milhões de Euros a título de remunerações, se deu ao luxo e à pouca vergonha de apenas declarar um quarto de tal montante para efeitos do fisco.

Naturalmente, nada espanta que, com tais princípios éticos, tal personagem sempre tenha exigido a transferência de tão chorudos vencimentos para paraísos fiscais. Muito sinceramente, o que me espanta é que, na nossa praça de ignorantes e incompetentes, muitos dos senhores jornalistas tenham perpetrado a oportuna façanha de alcandorar João Rendeiro à galeria dos génios da finança.

Praticamente, em véspera do descalabro público do BPP, não houve jornal, jornaleco, revista ou canal de televisão que não tivesse ido ao beija-mão do fenómeno, no momento em que apresentava a porcaria de um qualquer livreco de sua autoria, perante a reverência bacoca de quem, com tanta matéria de interesse para noticiar neste pobre país, parece não ter mais nada com que se preocupar…

Muito bom seria que estes piquenos escreventes e escribas, afivelados à mais que duvidosa designação profissional de jornalistas, se preparassem convenientemente para as lides em que andam envolvidos. Se assim acontecesse, talvez não caíssem, pelo menos com tanta facilidade, nas esparrelas que lançam aos incautos certos habilidosos, como este efémero ex-banqueiro de opereta ordinária que, a uns conseguiu apanhar a massa e, a outros, cativar a atenção de que precisou para tempo de antena nos media.

De facto, em Portugal, para ser rei, nem sequer é preciso o tal olho do ditado… Bem ensaiado, bem assessorado por uns vendidos sem escrúpulos, nas mãos de especializada agência de imagem, qualquer ceguinho é capaz de levar no bote os mais ufanos espertalhões, deslumbrados com os fatinhos, os automóveis e as mulheres de capa de revista que esses figurões apresentam aos jornais e às televisões.

Não faltam exemplos desta desqualificada gente cuja vida de enganos é passada aos domésticos écrans como quintessência de quase angelicais virtudes.
Arvorados à condição de paradigma de homens de sucesso, servidos por uma comunicação social acéfala e acrítica, que os vende como se de produto capaz se tratasse, os Rendeiros, os Oliveira e Costa e tutti quanti, vão-se dando bem.

E, mesmo quando alguns se dão mal, a justiça que vamos tendo – tão pressurosa a ilibar corruptos e a incomodar os denunciantes – remete-os à gaiola dourada que lhes sobrou do processo de separação de pessoas e bens, para evitar o arresto do património, convenientemente dotados de pulseira electrónica, com muitas desculpas pelo transtorno…




quinta-feira, 22 de abril de 2010

Sintra Garagem



Parte Quatro


Ora bem, se a capacidade de endividamento da Câmara não está esgotada, então que, em alternativa, proponha aos munícipes a compra, beneficiação e adaptação da Sintra Garagem, que, actualmente, não passa do mais-que-perfeito ex-libris do proverbial desleixo e da mais completa incompetência sintrense.

Tive conhecimento oportuno e recente de que, para apreciação em reunião privada do executivo municipal, seguiu uma proposta do Partido Socialista contemplando a solução da instalação de um parque de estacionamento no local. Mas, permita-se-me a surpresa, porquê?

Então não vai avante a construção do parque de estacionamento, subterrâneo e à superfície, junto ao edifício do Departamento do Urbanismo? A menos que a construção do dito e anunciado parque de estacionamento não passe de mais uma das tão frequentes como vãs promessas do pródigo executivo camarário…

Claro que estou interessadíssimo na resolução do problema do estacionamento. Entretanto, precisamente ao lado, se vai ser instalado um parque com esse objectivo, não cairá pela base o argumento da necessidade da Sintra Garagem para tal efeito?

Finalmente, o que me dizem? Concordam com a ideia de destinar aquele espaço a sede de multifacetadas actividades juvenis? E, se assim for, estarão dispostos a lutar por ela? Quero eu dizer, uma vez que o dinheiro não é elástico, estariam na disposição de manifestar concordância com tal projecto, em detrimento da compra da Quinta do Relógio?

Eu não me conformo com tal objectivo autárquico. De modo algum! Porém, como o alcance da minha intervenção não vai além deste blogue, espero que, tanto no executivo como na Assembleia Municipal, o PS e o BE continuem a opor-se ao projecto que a CDU – nada surpreendentemente – decidiu viabilizar. Mas é imprescindível que os cidadãos se mobilizem pois ninguém os substituirá.

Olhem que não é fácil. Há imensos interesses em jogo. Por exemplo, apesar de tudo, absolutamente tudo, ter de se equacionar com a máxima qualidade e sem qualquer transigência relativamente à segurança, não faltará quem, com justificada precaução e natural preocupação, ponha em causa a concretização de tal iniciativa, com base na desconfiança de indução de comportamentos desviantes. Claro que, em sentido contrário, e, a montante, não faltam medidas que obviem tais eventualidades.

Não obstante os previsíveis obstáculos, ainda que se conte com a desconfiança atávica de certos membros mais conservadores, não acham que vale a pena explorar a hipótese que hoje vos apresento? Quero acreditar que a vossa resposta só pode ser a que aqui está implícita e que, por isso mesmo, funcionem a cidadania e a participação de quem se sentir desafiado.

Muito gostaria de ler o que, a propósito, pensam os membros da comunidade educativa – tais como pais e encarregados de educação, os autarcas, os representantes das actividades económicas, os membros do clero local, etc, – e os educadores da mais restrita comunidade escolar, i.e., professores e assistentes operacionais. Sem dúvida que esta é matéria preferencial, da qual não podem nem devem alhear-se uns e outros.

Fico aguardando as reacções.


quarta-feira, 21 de abril de 2010

Sintra Garagem


Parte Três


Além da danceteria – sem dúvida, um dos pratos fortes mais geradores de dinâmica – contaria com a mais actualizada das ofertas de animação cultural, nos domínios da informática, do audiovisual, das artes performativas de formato reduzido, e até de pista de gelo, como sui generis componente desportiva, de recreio tout court.

Pelo menos, no que me toca, não tenho qualquer pretensão quanto à reivindicação de originalidade. Limito-me a sugerir o que tenho visto. Por onde costumo andar no estrangeiro, em especial na Áustria, o que não faltam são espaços que tais. Não direi que constituem o meu lugar geométrico de diversão mas, naqueles onde já entrei, sempre aprendi algo de novo e enriquecedor.

Por outro lado, uma vez devidamente adaptado às exigências da vida urbana civilizada, nomeadamente no que concerne a necessidade do controlo acústico, no sentido de evitar a poluição sonora para o exterior, susceptível de causar o desconforto de terceiros, não tenho a menor dúvida de que o espaço da antiga Sintra Garagem poderia transformar-se no pólo civilizado de animação juvenil de que Sintra tanto carece.

Todavia, tenham em consideração que isto nada tem a ver com uma Casa da Juventude. Trata-se de um dispositivo com valências lúdicas especificamente vocacionadas para este grupo de destinatários, funcionando num horário muito alargado, que pressupõe o enquadramento logístico não só de comércio de restauração mas também de outro, bastante diversificado.

Assim sendo, os pequenos e médios empresários locais, cuja presença no projecto seria de inequívoco interesse, juntar-se-iam aos especialistas, ligados às grandes marcas, nacionais e internacionais das fileiras comerciais mais relacionadas com a s actividades previstas. Portanto, desde logo, haveria a acrescentar um nada desprezível factor de animação comercial, numa zona que, por enquanto, está moribunda há tempo demasiado.

Quanto à concretização de tal empreendimento, em especial no que se refere ao financiamento, só há duas hipóteses: ou se deixa funcionar o mercado e a livre iniciativa, ou a autarquia, ela própria, desencadeia e se encarrega de tudo quanto é necessário para o levar a bom termo.

Cumpre ter em consideração que, no âmbito do município, até há uma empresa, a SintraQuorum, com perfil para agarrar a ideia e explorá-la em todas as coordenadas. Julgo que seria de equacionar e privilegiar esta modalidade, para operacionalidade da qual nada me custaria ver a autarquia vir pedir aos munícipes a verba necessária. E, se assim fosse, também poderíamos ficar muito mais descansados em relação ao controlo da grande qualidade que um empreendimento deste calibre pressupõe.

Opção inevitável

Não esqueçam que é de cerca de seis milhões de Euros o montante que, escandalosamente, a Câmara pretende gastar na polémica aquisição da Quinta do Relógio, sem sequer anunciar o custo das sofisticadas obras de recuperação do edifício principal e na ausência programa de ocupação que a autarquia perspectivaria.

(Continua
)

terça-feira, 20 de abril de 2010

Sintra Garagem



[De acordo com o anunciado, continua a publicação do texto iniciado na passada sexta-feira. Como verificarão, trata-se de uma peça longa, cuja extensão me levou a subdividi-la por mais três partes incluindo a de hoje.

Em primeiríssimo lugar, é aos jovens que destino este meu contributo. Há tempo de mais, Sintra vem esquecendo como é necessário apostar recursos da comunidade na satisfação dos seus interesses. Oxalá possa eu, pelo menos, suscitar a discussão que o assunto merece.]


Parte dois


Pois bem, perante a geral e constante perplexidade, continuemos, com a formulação das questões mais pertinentes. A quem pertence aquilo? Como é possível que se deixe chegar a este ponto? Que interesses se escondem sob tanto desleixo? A quem compete resolver? Porque não se cumpre a Lei atinente em casos que tais? Do que está a Câmara à espera?

Não, a curto prazo, não será de esperar qualquer resposta da Câmara. E, para nós, munícipes sintrenses e fregueses de Santa Maria e São Miguel, desde há muito, que aquele imóvel decadente e perigoso para a segurança de pessoas e bens, passou a funcionar como símbolo bem patente da geral e geracional incapacidade de resolução dos executivos camarários que nos têm (des)governado.

Basta de fitas…

Não. Da Câmara, esperem-se álibis. Da Câmara, esperem-se balões atirados aos quatro ventos, cheios de bombásticas notícias, de chorudas promessas. Querem exemplos? Já se esqueceram da Casa das Selecções? E da Cinelândia? Do projecto imobiliário de Monte Santos? Então, as famosas ciclovias, as piscinas em cada sede de freguesia, etc? Da Câmara, até agora, o que infelizmente temos tido, são notícias mentirosas. No entanto, apesar de fugazes, durante uns dias, sempre vão enganando uns papalvos…

Uma das civilizadas atitudes que gostaria de suscitar, seria a possibilidade de promover aquilo que, hoje em dia, tanto se faz nas mais diferentes latitudes, ou seja, a realização de um concurso de ideias. Provavelmente, haverá pessoas que, tal como eu, gostariam de contribuir com sugestões válidas e desinteressadas. Pois, então, que a comunidade seja consultada.

Volto à questão. Entretanto, permanece aquele verdadeiro desafio a todos os interessados. Ao tempo que ali está, desfazendo-se a cada dia que passa, ninguém deixa indiferente, desde os cidadãos em geral aos decisores políticos. Como é natural, independentemente da concretização do tal concurso de ideias, também eu dou largas à imaginação, julgando até que a minha solução é mesmo a melhor para o problema que por ali continua.

Enfim, presunção e água benta… De qualquer modo, vou atrever-me a partilhar convosco a ideia que alguns amigos me animam a pôr em comum. Julgo que muito tem a ver com o meu passado e presente de homem ligado à Educação, à Cultura, aos estudante, aos jovens em quem penso cada vez mais, à medida que o meu tempo vai escasseando.

Aparentemente vocacionado só para as soluções afins da garagem que foi, assim distribuído por quatro imensos andares, com vários milhares de metros quadrados, dotado de tão convidativas rampas por onde, outrora, tantos automóveis subiram e desceram, aquele espaço é inquietante. Incita ao sonho. Pelo menos, a mim, não deixa a cabeça minimamente sossegada, face à possibilidade de outros voos

Primeiramente, a situação. No centro nevrálgico da sede do concelho, a caracterização do lugar evidencia uma zona de fraca densidade residencial, maioritariamente ocupada por serviços. Tratar-se-á de uma área que, sem ponta de animação actual, é assim tão desinteressante e apenas mera zona de passagem?

Lugar aos jovens

À partida, eventualmente negativos, tais contornos urbanísticos, constituem, afinal, o maior trunfo em relação à concretização do projecto que, ali, eu vejo tão adequado, destinado ao público jovem. À beira da linha férrea, sem expressão numérica quanto a residentes na vizinhança, aquilo está fadado para uma grande área de lazer.


(Continua)



domingo, 18 de abril de 2010

"DEDICAÇÃO" entre aspas...(1)



Depois da edição ZERO do passatempo "DEDICAÇÃO" entre aspas... é altura de trazermos aos visitantes deste blogue mais algumas fotos curiosas.



Deve esclarecer-se que os casos aqui apresentados respeitarão sempre algumas regras: conhecimento por parte dos responsáveis e ausência de sintomas que mostrem preocupação com os mesmos.



Aliás, se avaliarmos a situação do Casal de S. Domingos, nem vale a pena que se atribuam quaisquer qualificações.















Para hoje, qual será a resposta a esta foto?


a) Área "INN" para utilização pública em Sintra?
b) Túnel para enterramento das Linhas de Alta Tensão?
c) Rua na zona mais nobre do Centro Histórico de Sintra?



Por favor, tentem descobrir.

sexta-feira, 16 de abril de 2010

Sintra Garagem [1]


Acerca da ruinosa degradação e presente fase de desabamento deste imóvel, não sei mais o que dizer e escrever. Há não sei quantos anos, venho denunciando o que ali está a acontecer. Sempre tenho tido a preocupação de não considerar este como um caso isolado mas, isso sim, como é flagrante e patente, enquanto prova absolutamente provada da geracional incapacidade da autarquia. Não do poder local actual, em particular, mas dos sucessivos executivos que, pura e simplesmente, não conseguem exercer o poder que lhes temos confiado.

A título de mera ilustração, aí vai a memória pessoal de duas etapas deste incrível processo da institucionalizada cultura do desleixo, designação tão apropriada com que o ex Presidente da República Jorge Sampaio apelidou a proverbial e lusa característica, que, tão exuberantemente, tem sido cultivada nestas sintrenses paragens. E, para o efeito, não precisarei de recuar mais do que ao tempo da última fase do mandato de Edite Estrela e, subsequentemente, ao primeiro de Fernando Seara.

A primeira remonta ao tempo em que já estavam a decorrer as obras da malfadada requalificação da Heliodoro Salgado que resultou naquela desqualificada miséria estética que, com efeitos radicalmente perversos, tanto prejudicaria a qualidade de vida nesta zona fulcral da freguesia de Santa Maria.* Pois, ao tempo, numa sessão de esclarecimento com a referida edil, diria a senhora que o assunto da garagem já estava praticamente resolvido.

Quanto à segunda, lembrar-se-ão alguns leitores que, em Março de 2004, fui um dos promotores da Jornada sobre a desgraça que, naturalmente, continuava a afectar a Estefânea. Nessa altura, tive oportunidade de, acerca deste mesmíssimo caso, interpelar o Senhor Presidente da Câmara. Dois meses mais tarde, no seu gabinete da Vergílio Horta, enquanto mostrava fotografias virtuais do eléctrico atravessando a Heliodoro Salgado a caminho da Vila Velha, me responderia ter acabado de assinar um despacho de obras coercivas…


Enfim, paradigmáticos momentos de decisão (?!) dos dois autarcas que, há quase duas décadas, têm presidido aos destinos deste tão especial e difícil município onde, muito especialmente, nas três freguesias da sede do concelho, se têm mostrado incapazes da resolução dos mais instantes problemas...

Continuarei, na próxima semana, a escrever sobre a Sintra Garagem. Neste momento, em que ainda nada foi decidido quanto ao futuro aproveitamento das instalações, será o meu contributo, sob a forma de sugestão que, tendo em conta a localização e as necessidades da comunidade, se me afigura como a mais consentânea. Espero contar não só com o vosso interesse mas também com indispensáveis comentários.

(Continua)


____________________

*A propósito, no sintradoavesso, ler os textos publicados nos dias 16.04.08, 15.04.08 e 11.12.07.



terça-feira, 13 de abril de 2010

Sintra, um polémico percurso

Da Alfredo da Costa…



O Casal de São Domingos é um edifício com uma certa dignidade que, a escassos metros dos Paços do Concelho, há muitos anos se degrada. Cada dia que passa, o Casal de São Domingos é um vómito e um grito. Vomita o lixo que se acumula na escada e grita o desleixo da autarquia, bem patente naqueles remendos de plástico azul aplicados no deslavadíssimo verde do portão, no painel lateral, que tem sido descaradamente roubado ao longo do tempo, e na sujidade acumulada sobre as cantarias enegrecidas.

Em plena Rua Dr. Alfredo da Costa – artéria sobrecarregada com edifícios descuidados que tive oportunidade de denunciar, há já uns anos, durante quatro edições seguidas do saudoso Jornal de Sintra (1), denúncia acompanhada de elucidativa ilustração fotográfica – o Casal de São Domingos volta hoje aqui à baila.

Desde já, cumpre esclarecer que, desta vez, não aparece como prolongamento do número zero do passatempo “Dedicação” entre aspas (2). Também não por se tratar de um caso excepcional da cultura do desleixo da Câmara Municipal de Sintra, uma vez que se multiplicam os exemplos, precisamente na mesma zona da Estefânea, aqui na freguesia de Santa Maria e São Miguel, onde a subida dedicação dos autarcas presidentes da Junta e da Câmara é nisto que dá.

…à esquecida Ribafria

O Casal de São Domingos, na economia deste texto, apenas funcionou como pretexto ou, se preferirem, como pontapé de saída, enfim, na terminologia futebolística, tão cara e, manifestamente, mais acessível a certas figuras locais que tanto se têm notabilizado nesse domínio. O pretexto é lembrar um outro exemplar de património municipal, muito mais importante, que, na minha modesta opinião, se não está tão abandonado, pelo menos, permanece muito aquém das suas potencialidades de aproveitamento.

Refiro-me à esquecida Quinta de Ribafria, um dos mais interessantes valores do nosso acervo de edifícios históricos que, entre Lourel e Cabriz, tão arredada tem permanecido, esquecida das preocupações dos responsáveis, a ponto de se desconhecer o que por lá acontece. De vez em quando, sabe-se de umas filmagens, de umas fugazes intenções de concretizar algum projecto, mas nada de palpável.

Houve notícia de que poderia ter constituído hipótese de ali sediar a Fundação Champalimaud. Uma jóia do património municipal esteve para voltar a mãos privadas mas, entretanto, Leonor Beleza acabou por preferir o ar do mar… Foi decisão bem avisada a dela já que, cá por Sintra, as neblinas matinais não parecem particularmente propícias. Depois de outra Fundação, a Friedrich Naumann, ali ter trabalhado durante anos, nunca mais o lugar esteve afecto a algo de permanente e definitivo.

Consultei várias pessoas que não puderam adiantar qualquer informação mais substantiva porque, efectivamente, se desconhece quais as intenções da Câmara Municipal de Sintra relativamente a uma digna, pertinente e atinente utilização da Quinta e do Palácio, pólo de invejável e indiscutível mais-valia que, manifestamente, o município não tem sabido explorar. Lamentável? Talvez. Para mim, é Sintra e está tudo dito!

…até à Quinta do Relógio

Tudo, não. De facto, há algo a acrescentar. Este caso da Ribafria vem a propósito porque, neste momento de tão significativas crises nacional e internacional, a autarquia, que não sabe o que fazer com ela, se permite vir solicitar aos munícipes mais de seis milhões de euros, com o objectivo de adquirir outro elemento do património sintrense, a saber, a Quinta do Relógio, desconhecendo-se ainda o montante a afectar para obras subsequentes. (3)

Tanto quanto se conhece, por exemplo, através de informação veiculada por Miguel Geraldes (4), o edifício está em obras, pelo menos, há nove anos, com o interior totalmente desvirtuado da sua forma original. Actualmente, existem dois novos pisos abaixo do nível da quota soleira, porque os actuais proprietários pretenderiam construir uma garagem. E, hoje em dia, as obras ainda estão muito longe do termo.

Quem terá sido o historiador de serviço que produziu a memória histórica descritiva apensa à proposta que a CMS apresentou, ocultando o descalabro da situação actual do edifício principal? O que levará a Câmara Municipal de Sintra a pretender acrescentar um tal património, nestas precárias condições, na ausência de um plano credível de utilização futura do imóvel?


Porque insistirá ser parte num negócio tão avultado, assim impedindo que o mercado continue a funcionar, com as suas regras de oferta e procura? Porquê? Que urgência é esta de, tão manifestamente, assim comprometer a capacidade de endividamento da Câmara? Só porque, na sequência de um divórcio, o proprietário da Quinta do Relógio está interessado em desfazer-se de um bem dificílimo de transaccionar?

Sem respostas

Como se sabe, o dinheiro é um bem cada vez mais escasso e precioso. Penso que o pedido dos milhões que a Câmara Municipal de Sintra apresentou aos munícipes, para esta aquisição tão controversa e polémica, é de um atrevimento tanto mais patente quanto, noutros domínios, afins do turismo, precisa de concretizar urgentíssimas e avultadas obras que tem sido incapaz de promover ao longo de mandatos estéreis e improdutivos.

Mais uma vez, lembro o crítico e famigerado caso do estacionamento. Porque continuam os munícipes em constante e manifesta perda de qualidade de vida, por exemplo, com a sede do concelho e o centro histórico transformados em locais perfeitamente comprometidos, armadilhados e inseguros, impossíveis de descansada visita? Porque não investe a Câmara Municipal de Sintra os milhões necessários na construção dos indispensáveis, expeditos e civilizados parques periféricos?

Como se permite este executivo municipal dar-se ao luxo de adiar e não se implicar na resolução da recuperação do centro histórico, na reconstrução de muros, valas, valetas, sarjetas e saneamento básico, estradas e lindíssimos mas abandonados e degradados caminhos nas três freguesias da sede do concelho?


E, estando preocupado com a promoção das pernoitas, porque não se implica, a sério e não atirando com foguetes pífios para o ar, na reabilitação de uma unidade hoteleira como o Netto, fazendo valer a sua capacidade de negociação junto de grupos económicos? Porque insiste em álibis, como este da Quinta do Relógio, que não levam a lado algum? Ou levarão? Talvez a algum escuso beco…

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(1) Quem cala..., Jornal de Sintra, 13, 20 ,27 de Janeiro e 3 de Fevereiro de 2006;
(2) sintradoavesso, 01.04.10;
(3) sintradoavesso, 14.01.10 (I);
(4) sintradoavesso, 14.01.10
(II).




sexta-feira, 9 de abril de 2010

"DEDICAÇÃO" entre aspas...


Desvendamos hoje o mistério da foto apresentada no número Zero do passatempo “Dedicação” entre aspas…

Foto tirada em Maio de 2009, depois de vários alertas sobre a destruição deste painel.

Está na parte lateral do Casal de S. Domingos (R. Alfredo Costa, 39-41 em Sintra), um edifício municipal anexo à Área Financeira da Câmara Municipal de Sintra.

Na cultura do desleixo, é mais difícil recuperar este pequeno património do que avançar para a compra da Quinta do Relógio por 6.750.000 euros, sem se saber publicamente quantos milhões custará a sua recuperação.

Para ajudar os leitores à avaliação das campanhas de "Dedicação" ou do "Romantismo" agora em voga, seguem-se outras fotos hoje tiradas no local.












Fernando Castelo

segunda-feira, 5 de abril de 2010

Festival de Sintra:
Contrapontos?

- grande desafinação...


A publicação do artigo Festival de Sintra, no primeiro número do Correio de Sintra, no dia 1 do passado mês de Março, bem como, uma semana mais tarde, no sintradoavesso, com um texto ligeiramente alterado, suscitou algumas reacções que poderão encontrar no espaço destinado aos comentários.

Apesar de, neste mesmo blogue, tanto já ter escrito acerca do assunto, parece ainda haver necessidade de melhor explicitar. Não pretendo, de modo algum, deixar de contribuir para todo o esclarecimento possível já que o festival de Sintra não é uma iniciativa qualquer que não mereça toda a consideração que lhe possa dispensar.

Na justa medida das minhas modestas possibilidades, se há algo que ainda posso fazer, é continuar a partilhar o bem mais precioso que possuo, ou seja, alguma informação decorrente do privilégio de frequentar, há muitos anos, festivais internacionais onde colho permanente e actualizado ensinamento.

O seu, a seu dono

É certo que, inequivocamente, me tenho pronunciado contra a concepção da grelha de programação do Festival de Sintra. Todavia, repito, não posso nem devo misturar alhos com bugalhos. Uma coisa é o Festival de Sintra, nas suas duas componentes musical e de bailado, respectivamente dependentes da actividade dos directores artísticos Dr. Luís Pereira Leal e Mestre Vasco Wellenkamp – que, volto a assinalar, como fiz em textos anteriores, não estão em causa – e outra, bem diferente, a decorrente da inclusão dos designados contrapontos, que é alheia aos mencionados responsáveis.

Tenhamos em consideração que, em termos muito gerais e abrangentes, há duas situações a distinguir. Primeiramente, convém ter presente que o programa geral do Festival de Sintra, ainda que, eventualmente, possa segmentar as diferentes vertentes da 1)música, do 2)bailado e dos 3)contrapontos, é de tal modo apresentado que o todo fica subsumido nas partes.

Esta não é coisa despicienda. O público destinatário tem direito a uma informação programática sem a mínima ambiguidade, nos termos da qual, independentemente da natureza do suporte, quer informática, quer papel (folheto, desdobrável, almanaque geral, etc), tudo seja imediatamente inteligível.

Basta recordar que o programa geral do Festival de Sintra, constante do grande telão, ultimamente aposto à fachada do Centro Cultural Olga Cadaval, apenas destacava as coordenadas de espaço e tempo, cruzando-as com a distinção das três componentes, através de cativante cromatismo. Contudo, manifestamente, não deixava de ser falho em informação e, de facto, de corresponder à fiel imagem daquilo que tenho designado como um saco de gatos, onde nada falta para deixar baralhado quem pretenda esclarecer-se.

Não saber agarrar

Por outro lado, em segundo lugar, como factor positivo, consideremos um exemplo concreto, bem ilustrativo do que, tantas vezes, tenho dito e escrito a propósito desta tão evitável confusão. Reparemos que o Dr. Luís Pereira Leal, o grande senhor que, durante dezenas de anos, assegurou a concepção da programação musical da Fundação Calouste Gulbenkian – só uma das casas que melhor programação oferece a nível internacional – sempre teve a preocupação de encontrar um tema agregador do programa que concebe para o Festival de Sintra.

No ano passado, se bem se lembram, designou-o como Fronteiras longínquas, em consonância com o facto de serem originários do extremo oriente os artistas que integravam a proposta mais formal ou, se quiserem, por conveniência desta minha explicação, o ponto do festival. Estava dado o mote. Pereira Leal sabe o que faz.

Entretanto, deixai que me expresse em corrente linguagem musical. É lamentável que tivesse havido quem devia, mas não soube, pegar no tema para desenvolver as respectivas variações… Que culpa tem o Director Musical que a estrutura organizativa do Festival de Sintra não tenha a capacidade instalada para corresponder aos desafios?

Pois bem, ao nível da concepção do programa geral e total, apenas se esperava que os designados contrapontos articulassem com o figurino cujas linhas mestras tive oportunidade de transmitir e de vender, como ideia importada, susceptível de adaptações locais mas sem a desfigurar.

E, para tanto, em articulação com o conceito proposto pela moldura das Fronteiras Longínquas, de acordo com as condições postas à disposição, nomeadamente, de carácter orçamental e logístico, teria de se investigar e encontrar quer as peças mais afins daquela temática, tanto de recorte erudito como popular, quer os artistas que lhes dariam vida. Também teria de se conceder o tempo suficiente a todas estas actividades. Por isso, festivais congéneres são preparados com cronogramas que compreendem dois, três e mais anos de preparação.

Naturalmente, em tempo de vacas magras, cumpre não ter mais olhos do que barriga, sendo de evitar tanto a dispersão, como a tendência para o estardalhaço. E um dos factores a considerar com maior pertinência é a possibilidade de cativar para o projecto os próprios artistas que asseguram a vertente formal e que, igualmente, poderão ser afectos a propostas com características coincidentes com a tal estratégia de informalidade e de conquista de novos públicos, que subjaz ao fulcro destas considerações.


Figurino (desrespeitado em Sintra…)

É neste domínio que, num país e num concelho como o nosso, não é, de todo em todo, particularmente difícil ou sofisticada, a articulação das propostas de música erudita, interpretadas por solistas em concerto sinfónico, ou em recital, em contraponto, por exemplo, com as mesmas peças ou outras, afins ou tematicamente contrastantes, interpretadas por bandas, por grupos de câmara, com arranjos, orquestrações e instrumental totalmente diverso, etc.

Aqui chegados, lembrarei, uma vez mais, o Maestro Abbado, já citado em artigos precedentes. O que ele concebeu para Salzburg, baseado na noção do musical contraponto, foi um produto que, sempre da mais alta qualidade, e em perfeita sintonia e articulação com o tema geral da vertente formal do Festival da Páscoa, se apresenta de tal maneira que o público enriquece com uma outra experiência cultural, próxima no tempo e no espaço.

Como a coisa funciona

O seu sucessor, Sir Simon Rattle, deu continuidade à ideia e sem qualquer alteração de figurino. Poderia aqui trazer exemplos exaustivos de anos e anos que levo deste fabuloso festival mas decidi-me por 2007, por ser ano jubilar do seu quadragésimo aniversário, e em que a vertente de ópera do Festival da Páscoa iniciou com Das Rheingold, (O Ouro do Reno), a apresentação de um Ring que só terminou, precisamente, na Páscoa deste ano de 2010.

Para além desta primeira jornada da famosa Tetralogia de Richard Wagner, outros momentos, noutros dias do festival daquele ano, incluiriam peças sinfónicas, coral sinfónicas ou poema sinfónico em que se faria sentir
a presença do ouro, como tema central agregador, Por exemplo, em Das goldene Zeitalter (A Idade do Ouro), de Dmitri Schosttakowitsch. Ou em Das goldene Spinnrad (A roda de fiar dourada) de Antonin Dvorák.

Estão a entender, apenas a partir de um pequeno mas concreto exemplo, como se pode procurar a lógica da concepção de um programa de festival com coerência e coesão internas? Mas continuemos. Então, se estes eram momentos da vertente mais formal, como foram concebidos os contrapontos?

Apenas darei como exemplo o último dos três concertos Kontrapunkte que tinha como título Gegen Wagner (Contra Wagner), incluindo obras de Erwin Schulhoff, Paul Hindmith, Ernst Krenek, Sandor Veress, Anton Webern e Ernst Toch que, nuns casos, através de fina ironia e noutros, por radicais, desafiantes e interpeladores contrastes, propõem uma estética musical que, flagrantemente, põe em causa as mais conhecidas soluções wagnerianas. Não esqueçam que era de Wagner a grande peça lírica do Festival. Tudo tem de estar conotado, relacionado por laços mais ou menos ténues, subtis, implícitos, explícitos.

Mais uma achega

Convém esclarecer que, desde 1967, ano em que Herbert von Karajan, ele próprio nascido em Salzburg, fundou o Festival da Páscoa, «apenas» e exclusivamente se conta com o acompanhamento e suporte musical da Orquestra Filarmónica de Berlin. Ora bem, desde logo, e, para que se perceba que não há qualquer concessão à qualidade musical, os contrapontos, mais tarde introduzidos por Abbado, também são assegurados por grupos de músicos da mesma e excepcional orquestra. No exemplo em questão, que atrás circunstanciei tão sumariamente, tratou-se de um conjunto de cordas e de metais composto pelos chefes de naipe.

Ainda mais uma achega que, provavelmente, enquanto exemplo modelar de concepção programática, poderá constituir uma síntese tão eficaz como desejaria para este texto em que venho tentando expressar aquilo que, para mim, é tão óbvio como beber água porque se tem sede…

Para tanto, nem mais nem menos, recorrerei ao seríssimo caso da Festa da Música de Lisboa que, durante vários anos, fez a alegria dos amantes da música, desde os velhos e inveterados melómanos, como eu e alguns dos meus amigos, até às crianças e jovens que davam os primeiros passos ou consolidavam as suas preferências nestes territórios tão apetecíveis da grande música.

Se bem se lembram, também se tratava de um figurino importado, originalmente concebido por René Martin, qual réplica da Folle Journée de Nantes, que o Centro Cultural de Belém importou durante vários anos até que uma certa senhora, arvorada em Ministra da Cultura [quem se lembra hoje da governante Pires de Lima?...], acolitada por Mega Ferreira, se permitiu pôr-lhe termo.*

Com três dias de duração, era uma grande festa em que se sucediam as propostas musicais, desde a grande orquestra sinfónica, ao músico em recital a solo, aos conjuntos de câmara, ao canto, em dezenas e dezenas de pontos e contrapontos, dentro do grande, dos médios e pequenos auditórios, nos corredores, em todo o lado onde fosse possível.

Muito público, muita informalidade e sempre, sempre, inequívoca qualidade. Convém ainda salientar que, embora só funcione como um todo e não seja reproduzível parcialmente, é perfeitamente possível encontrar no modelo um ou outro ponto forte que nos ajudem a resolver os problemas.

A questão dos temas

Por exemplo, a imprescindível submissão da proposta geral a um tema geral. Recordemos: Johann Sebastian Bach, 2001; Haydn & Mozart, 2002; De Monteverdi a Vivaldi, 2003; Chopin, Schumann, Liszt e Mendelssohn-geração 1810, 2004; Beethoven e os seus amigos, 2005; A Europa Barroca-AHarmonia das Nações, 2006. Em cada ano, um tema agregador para cada Festa. Trata-se de uma estratégia de uma defesa, um chapéu, se quiserem entendê-la como tal, sob o qual se abrigam todos os eventos, em relação articulada.

Algo tem de ficar muito claro. Naturalmente, é possível organizar festivais sem um tema geral. Agora, o que não é possível é organizar um festival, que inclua a solução dos designados contrapontos, sem a presença de um tema gerador e determinante. A própria noção de contraponto, stricto sensu, o pressupõe.

Ser programador de uma proposta cultural tão sui generis como é um festival, implica o conhecimento, na primeira pessoa, ou, pelo menos, indirecto mas detalhado, de casos como os de Nantes, La Rocque d’Anthéron, Luzern, Verona, Lugano, Salzburg, Schleswig-Holstein, Styriarte (Graz), Schwetzinger SWR, Grafenegg, Lockenhaus, Tiroler Festspiele Erl, Edinburgh, etc.

Há para todos os gostos. Há soluções exemplares, desde a bilheteira à arrumação das salas, à organização das manifestações paralelas de animação cultural, aos transportes e comunicações, à articulação com a hotelaria tradicional e a estada chez l’habitant. Há lições estupendas que não se pode ignorar. Ignorar é sucumbir e desperdiçar oportunidades. Em suma, por ser coisa coisa de… ignorantes, ignorar é inadmissível.

Não passa pela cabeça de ninguém que alguém menos esclarecido – enfim, deixem lá passar o eufemismo… – possa estragar o que tanto trabalho deu a conseguir erguer, isto é, a reputação de um festival como o de Sintra, cujas vicissitudes o engrandeceram.

Dificuldades podem existir, vão existir sempre. Por isso, só os mais bem preparados devem ocupar os lugares de comando. No dia em que alguém menos qualificado acede a um lugar de direcção ou de comando, é certo e sabido que a sua falta de discernimento vai potenciar o risco de, ele próprio, ser um motor e veículo de promoção de outros casos de desqualificação. Ora bem, não me vão dizer que nunca viram disto por aqui

Se me permito escrever com este desassombro é porque apenas me permito comentar os casos em que estão em causa dinheiros públicos. Uma entidade privada pode dar-se ao luxo de recrutar um incompetente. O mesmo não pode acontecer num serviço do Estado, ou no poder local onde o que está em jogo são recursos da comunidade, fruto dos impostos liquidados pelos contribuintes.

Tão simples como isto.

PS:

Se quiserem ter acesso aos vários textos publicados sobre o Festival de Sintra, no sintradoavesso, basta inserir as palavras «festival de sintra» no rectângulo ao canto superior esquerdo do painel do blogue.

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*No sintradoavesso, ler Dias da Música sem Festa da Música, 21.04.08



quinta-feira, 1 de abril de 2010

“Dedicação” entre aspas…

Desde o início, como sabem, o sintradoavesso tem pautado a sua actuação pela sistemática denúncia de situações tão frequentes e desagradáveis como ruas e estradas com pavimentos miseráveis, prédios de entranhas às escâncaras, lixeiras a céu aberto, construções inusitadas, estacionamento selvagem, património natural e edificado descuidado e ofendido que, a eito, por aí proliferam.

De algum modo, a designação do blogue evidencia a sua própria razão de ser. Como sintradoavesso foi baptizado. Percebe-se, sempre se percebeu porquê. Tantas horas de escrita e, quantas mais, da vossa leitura, constituem prova provada de que muita coisa causa, e continua a causar, espanto e escândalo neste periférico, amodorrado, neurasténico e desafortunado concelho de Sintra que será capital, não do romantismo, mas, isso sim, da designada cultura do desleixo.

Se demonstração necessária fosse para atestar o que venho afirmando, bastaria lembrar que, em poucos anos, Sintra passou de 5º para 42º lugar, perdendo trinta e sete lugares na graduação nacional de qualidade de vida. As situações afins da tão negativa imagem do concelho, objecto da preocupação do sintradoavesso, mais não são do que apenas um dos aspectos das causas que, a montante de tanto problema, explicam os nossos viveres menos qualificados, geradores de tanto descontentamento.

Ora bem, depois do recente advento da fotografia, o sintradoavesso vai apresentar o “Dedicação” entre aspas, passatempo que, não só visa a identificação e denúncia de casos repreensíveis e inaceitáveis, através da publicação de fotos relativas a tais situações que não podem nem deviam estar a acontecer, mas também dar oportunidade que os leitores dêem largas à imaginação.

Em princípio, a identificação da imagem não será tão óbvia como, à primeira vista, poderia parecer. Então, vão-se preparando. Contem ainda com a disponibilidade do sintradoavesso para receber e publicar fotos de casos semelhantes que existam em todas as freguesias porque, infelizmente, há imensas ocorrências que desconhecemos neste gigantesco concelho…

A título de exemplo, aqui têm a primeira imagem do passatempo “Dedicação” entre aspas, com as respectivas dicas.

Trata-se de:
a) Chegada do primeiro turista asiático
b) Peregrino decapitado
c) Painel em edifício municipal