[sempre de acordo com a antiga ortografia]

quarta-feira, 30 de dezembro de 2009


Llansol,
homenagem que ainda falta

Além do patrocínio que tem concretizado em relação ao denominado Espaço Llansol, sedeado naquela que foi a sua última residência, resolveu a Câmara Municipal de Sintra homenagear a escritora através de uma discreta placa circular, implantada nas pedras do passeio de calçada à portuguesa, junto a um dos grandes plátanos da Volta do Duche que Gabriela Llansol imortalizou.

Quem acompanhou as minhas chamadas de atenção, tanto na Assembleia Municipal, como no saudoso Jornal de Sintra e nas páginas deste mesmo blogue,* facilmente entenderá que as referidas atitudes da autarquia muito me satisfazem. Todavia, se igualmente bem se lembram, sempre considerei que a devida celebração pública deveria assumir uma inequívoca forma de aproximar a sua memória do cidadão comum.

Ora bem, apesar de tão boa vontade, parece que, de facto, a Câmara ainda não terá acertado. Se quiserem continuar a partilhar as minhas impressões acerca do assunto, terão de lembrar como Gabriela Llansol estava e ficou indissociavelmente ligada à Volta do Duche. E, como todos sabemos, se tal aconteceu, não só foi porque nalguns momentos da sua obra refere o lugar mas também porque tal trecho de Sintra a levou a protagonizar um acto de intervenção cívica que nunca será demais recordar.

A força do civismo

O texto que vão (re)ler, foi publicado no Público em 8 de Dezembro de 2001. Antes de o enviar ao jornal, a Maria Gabriela quis ter a gentileza de mo ler. Para mim, o inesperado, duplo e comovido privilégio das palavras escritas, ditas na voz empenhada da primeira pessoa-autora. Concordarão, estou certo, que tratando-se de um dos mais veementes testemunhos em defesa de Sintra, consegue ultrapassar tal dimensão, para funcionar como labéu contra todos quantos se permitem ofender a dignidade, a memória e o espírito dos lugares.



"Não haverá diálogo entre mortos

(A propósito do projecto de “parking” subterrâneo na Volta do Duche de Sintra)

Começo pelos factos. Domingo à tarde fui ao encontro de informação organizado, no terreiro do Palácio de Sintra, por algumas associações ambientalistas. Estávamos umas 200 pessoas. Foi então que percebi o que o executivo camarário planeava, com o acordo do programa Polis II, para a Volta do Duche. Isto: construir, exactamente por baixo da estrada que serpenteia a colina, um parque de estacionamento subterrâneo. Vista do palácio a ideia é simplesmente aberrante. Que espécie de humanos foi capaz de sequer imaginar uma coisa daquelas? Foi-me então explicado que o projecto iria criar uns 300 lugares de estacionamento, iria custar (para começar!) mais de um milhão de contos, poria em risco as árvores que sobrevivessem, além das que seriam abatidas. Ouvi ler extractos de um relatório do Instituto Português do Património Arquitectónico emitindo críticas severas ao projecto. Ouvi dizer que não fora feito nenhum estudo geológico, nem de impacto ambiental. Ouvi dizer que não fora organizada nenhuma consulta pública. Ouvi dizer que os lugares de estacionamento, além de caríssimos, ainda seriam menos dos que actualmente existentes.

Ouvi dizer. Ouvi dizer. Projecto inútil, faraónico, destruidor. Praticamente infantil. Na realidade, a informação era escassa. Fora obtida à revelia da edilidade instituída. Que esta se recusava a colocar à disposição da população os elementos necessários a uma aprovação (ou desaprovação) informada. Não ouvi nenhum “slogan”. Nenhum partido político foi aplaudido, nem, aliás, apupado. Apenas foi pedido aos presentes (e ausentes) que assinassem um abaixo-assinado a exigir uma discussão pública sobre a questão. O que assinei.

Saí dali com o sentimento de que, na minha “cidade”, onde se desenrolam tantos dos meus livros, eleitos, estranhamente afastados do vivo e do belo, decidiam e devastavam. De que era prudentemente fundada a desconfiança generalizada pelos políticos. De que estes eram um perigo. Que não deixavam sangue nas ruas, mas ferida mortais nos lugares, nas paisagens, nas sensibilidades, na simples e antiquíssima boa-fé. Que interpretavam o voto que lhes fora transitoriamente concedido como um direito a desprezar a inteligência e a estima dos seus concidadãos.

Não vou discutir com ninguém o que não pode ser objecto de discussão. Não vou aceitar a morte de árvores, em troco da precária sobrevivência de outras. Não aceito que se anule uma paisagem que não fez mal a ninguém, excepto o dom quotidiano que nos faz de uma beleza de que os paisagistas (assim chamados!) perderam o segredo. Não quero ouvir dizer que o homem pode destruir o que os outros edificaram, sobretudo quando os que assim falam são mentes sem lampejo. Não aceito promessas a troco de atentados irrecuperáveis. Discutir isso seria discutir entre mortos. Repito: só os mortos poderão ter imaginado que as suas ambições desvairadas não teriam consequências.

Quando me sentar na Volta do Duche, como tantas vezes faço, que vou dizer às árvores, aos arbustos, aos pássaros, às estações, à vida? Que vos vou dizer? Que não tive forças para respeitar um simples pacto de bondade? Que, mais uma vez, a minha espécie planificou friamente o desastre? Que, juntos, somos mais frágeis do que um punhado de edis, de paisagistas, de construtores civis, sem alma para sentir a santidade da paisagem?

E, desta vez, não me serve de consolo constatar o que sempre soube: onde os interesses materiais vingarem como fim, o homem não será. É aterrador pensar, mas é a realidade: sem o dom poético, sem a simples capacidade de sermos maravilhados pelo vivo, a liberdade de consciência está condenada a definhar. Por mim e por vós, foi essa liberdade que fui defender no terreiro do Palácio de Sintra.

Maria Gabriela Llansol"

::::::::::::::::::::::

In memoriam

Não é de poético espanto, a força destas palavras? Que assombro! E que desassombro!


Considero conveniente recordar em que enquadramento surgiu o texto supra, que terá constituído a machadada final e decisiva no propósito da recandidatura de Edite Estrela à presidência da Câmara Municipal de Sintra. As eleições locais realizaram-se uma semana depois da publicação do artigo de opinião de Maria Gabriela Llansol que teve um impacto enorme.

Como sabem, MGL é um dos mais notáveis nomes das Letras portuguesas, não só dos nossos dias mas também, ouso dizê-lo, de todos os tempos, e estou muito bem acompanhado, por exemplo, pelo Prof. João Barrento. Pois, como se verifica, através de um discurso do maior alcance, com toda a acutilância, sem qualquer eufemismo, acabou a escritora por desmascarar quem, apesar do escândalo do projecto, se perfilava para permanecer no poder.

Por exemplo, na Faculdade de Letras da Universidade Clássica de Lisboa, dezenas e dezenas de conhecidos académicos subscreveram o abaixo-assinado de que fala a autora do artigo que, com a sua pública tomada de posição –verdadeiro manifesto de Cultura contra a barbárie – induziu muita gente a segui-la, num dos mais interessantes movimentos de cidadãos que Sintra conheceu.

Não é muito frequente que intelectuais da craveira de Maria Gabriela Llansol se exponham desta maneira. Subscrever um abaixo-assinado, a favor de uma causa nobre e elevada, é uma coisa. Em idênticas circunstâncias, outra coisa é subscrever um texto com esta força.

Definitiva homenagem

Pois é, meus amigos, Maria Gabriela Llansol é, na realidade, para todos os efeitos e para sempre, a grande senhora da Volta do Duche. Como ela, ninguém se bateu para que aquele lugar permanecesse como ainda hoje se apresenta. Não era do género de pessoa receosa que se refugiasse atrás de atávicos e perenes medos para colher louros, já que não buscava a ribalta videirinha - Maria Gabriela denunciava e subscrevia.

É por tudo isto que me permito insistir. A homenagem pública que merece ainda não aconteceu. Na minha opinião, é a própria Volta do Duche que tem de ficar indissociavelmente ligada à escritora. Trata-se de uma questão de toponímia mas sem que tenha de se alterar seja o que for no sentido da substituição e, muito menos, da supressão de qualquer elemento. Muito pelo contrário e, em suma, proponho que, muito simplesmente, sejam acrescentadas duas palavras nas actuais placas que passariam a indicar:
Volta do Duche - Caminho Llansol.

Noutros lugares, certo é que em latitudes mais beneficiadas, coisas que tais merecem placas explicativas. Não percebo como, por cá, não afirmamos a história das pessoas e das coisas, das casas, por exemplo, que lhes ficaram presas à memória. A casa que habitou, a história da sua luta pela Volta do Duche, não podem, não devem estar escondidas. Por ali passa a dimensão da escritora e cidadã que soube intervir quando foi importante que interviesse.

Se e quando tal acontecer – provavelmente, na altura em que o pelouro da Cultura da Câmara Municipal de Sintra tiver sido atribuído a alguém que, efectivamente, mereça a distinção de tão especial serviço à comunidade – bom será que os estafados discursos de ocasião não metam tanto os pés pelas mãos nas excelências, a que Maria Gabriela tão pouco ligava.


* Neste mesmo blogue, ler: Llansol, palavra certa, 02.03.09; Uma questão de homenagem, 03.07.08; Maria Gabriela Llansol, voz contundente, 02.04.08.
.............................

Aproveito a oportunidade para desejar a todos um Bom Ano Novo.




terça-feira, 22 de dezembro de 2009

Fernando Castelo - Sintra

Por estas e noutras paragens


Meus caros amigos,

Regressado há dias da Alemanha, tenho evitado manifestar-me sobre a realidade cultural e de vivência naquele País de que sou tão amigo.

No entanto, duas situações me levam a escrever estas palavras.

A primeira, por ter recebido uma mensagem do Centro de Turismo Alemão, do seguinte teor:

2010: ALEMANHA CRIATIVA

2009 foi um ano de grandes acontecimentos na Alemanha. Comemorámos os 20 anos da Queda do Muro de Berlin e, com ele, o fim de tempos muito difíceis para o país.

Mas, até hoje, mesmo em tempos difíceis, temos motivos suficientes para continuarmos optimistas! Graças à sua parceria e ao seu apoio, 2009 termina com excelentes perspectivas para o próximo ano!

Em 2010 iremos falar muito da Alemanha criativa. A Alemanha criativa na moda, no design, na arquitectura e na arte.

Especialmente na arte! O Vale do Ruhr será a capital cultural da Europa em 2010, com as suas 53 cidades ansiosas por recebê-lo em alguns dos eventos programados para a região.

A Oktoberfest comemorará o seu 200º aniversário! Muito mais alegria na maior festa popular da Alemanha. Meissen festeja os 300 anos da mais fina porcelana ocidental. De Maio a Outubro, em Oberammergau, a famosa encenação da Paixão de Cristo, que se celebra de dez em dez anos, também acontecerá em 2010.

Não é à toa que um país que se reinventa sempre, em 2010 estará ainda mais criativo.

A Alemanha espera-vos em 2010!

Abraços


A segunda, prende-se com crianças portuguesas que, na sua actividade escolar em Munique, fizeram uma riquíssima pintura num túnel pedonal ao lado do rio Isar - do outro lado do Deutsches Museum - nela escrevendo: "O futuro é uma astronave que tentamos pilotar, não tem tempo, nem piedade, nem tem hora de chegar".


Esta é a garra de gente, de quem olha para a frente sem rodeios, sem tagarelices disformes.

Nós por cá parece que desenvolvemos o turismo do quarto alugado, a cultura serôdia, do deixa andar, reservando para os finais de mandatos (ou agora será a meio?) anúncios de acções que não se sabe quando surgirão.

Lá, vive-se! E nós por cá?



quinta-feira, 17 de dezembro de 2009


João Cachado - Sintra

A cultura cá no burgo

A reflexão que vos proponho parte de matéria recentemente tratada, cujo desenvolvimento subsequente pretendo não passe desapercebido. De qualquer modo, para enquadrar estas considerações, forçoso é que releiam o texto aqui publicado, no dia 30 do passado mês de Novembro, o qual, como terão oportunidade de verificar, se relacionava com um episódio de desrespeito do direito geral ao sossego durante o período nocturno, protegido pela lei vigente.

Através de um comentário, datado de 10 do corrente, sob o pseudónimo de Miss M, os promotores do desacato responderam, nos termos que, para conhecimento de todos os interessados, passo a transcrever:

"Boa tarde, quer-me cá parecer que estamos a exagerar um pouco nesta questão particular do Ginásio do Sintrense.A minha perspectiva, e não descorando do direito ao silêncio e do respeito pelo próximo, leva-me a ter a noção de que os ditos "prevaricadores" apenas pretenderam trazer cultura e arte a um local tão nobre de Sintra como a Estefânia e a um espaço lamentavelmente abandonado como o Ginásio Ernesto Neves.

As actividades culturais que ali decorreram durante 12 meses mensalmente deram a conhecer diversas artes e culturas, artesanato, produtos biológicos, teatro infantil e bandas locais, numa tentativa de repor alguma da vida cultural perdida neste canto de Sintra.

É de facto verdade que são inúmeros os casos de desrespeito, ultraje e manipulação dos direitos que assistem a eventos do género, mas parece-me importante sublinhar a sempre presente atenção e cuidado desta Associação em avisar os vizinhos e manter o diálogo com os mesmos.

Toda a burocracia necessária para a realização destes eventos foi condignamente concedida, sem meios caminhos ou corta matos, depois de detalhada análise por parte da direcção do Sport União Sintrense, da Junta de Freguesia local e da Câmara Municipal de Sintra.Os eventos desta Associação terminaram ali no passado mês de Novembro e é lamentável que fique esta má impressão depois de um esforço enorme dos responsáveis para que a cultura prevaleça e chegue a todos. 10/12/09 15:25"

Independentemente dos evidentes atropelos do discurso – certo é que nada adequados ao estatuto de quem se arroga a condição de agente cultural local – que logo me desmobilizaram quanto à necessidade de resposta subsequente, não havia dúvidas de que o texto previamente publicado no sintradoavesso, não atingira os objectivos que me propusera, razão pela qual me vi na circunstância de, mais e melhor, esclarecer para que não sobrassem quaisquer dúvidas.
Eis o que se me ofereceu sublinhar:

"Escrevi, confirmo e reafirmo: prevaricadores! Assim mesmo, com ponto de exclamação e tudo.

Aqueles que, ao longo de doze meses, se permitiram incomodar dezenas e dezenas de pacatos cidadãos, vizinhos de uma zona inequivocamente residencial, através de inusitados manifestos de barulheira - agora atrevidamente qualificados como eventos culturais - são inequívocos perturbadores da ordem, prevaricadores cujas atitudes, actividades e actuações, a autoridade democrática não poderá deixar de controlar e sancionar devidamente.

Ao remeterem-me [-nos] um comentário tão a despropósito, tais indivíduos ou não estão bons da cabeça ou pretendem atirar com areia para os olhos de quem, como eu, ainda tem o topete de se mostrar incomodado... Mas será que alguém, no seu perfeito juízo, admitirá que um facto ou artefacto cultural seja suposto ofender, sequer beliscar, os direitos e interesses de terceiros para se afirmar como tal?

Pode, isso sim, ferir a susceptibilidade estética, desafiar e abalar ícones estabelecidos, contribuir para rasgar preconceitos, mas sempre acrescentando conhecimento e, eventualmente, até transmitindo novas perspectivas de abordagem de mais ou menos conhecidos fenómenos.

Todavia, cai imediatamente pela base o argumentário do promotor de um evento dito cultural, se e quando alguma das iniciativas afins incorrer no prejuízo de potenciais destinatários. Tal é, manifestamente, o caso dos residentes nas imediações do velho ginásio da Heliodoro Salgado que, impotentes, nada mais puderam fazer, já que a própria autoridade policial local seria ultrapassada pela autarquia que concedeu licença ao despautério.

A situação vertente, que não deixa de ser paradigmática, é perfeitamente entendível se tivermos em consideração o baixo nível de quem, nos serviços respectivos, tem de analisar, avaliar, provavelmente subsidiar e, finalmente, autorizar a pública concretização de propostas que, afinal, acabam por colidir com a tranquilidade da comunidade, em horário que a Lei vigente considera vedado a práticas que tais.

De facto, em Sintra, o prevaricador foi ao encontro do autarca cujo gabarito cultural correspondia ao baixo nível em que tudo se enquadrou, pelo que, com a maior facilidade, se terá obtido autorização bastante para a prevaricação que, repetidamente, se processou.

Há muitos anos, toda a gente me conhece como grande consumidor de bens culturais de toda a ordem, de todas as origens, mais ou menos selectos, eruditos ou populares, sejam quais forem as vertentes e suportes, desde a música à literatura, às artes plásticas, ao cinema, ao teatro, ao artesanato, etc.

No entanto, a minha avidez cultural, aliás como a de qualquer normal cidadão,* tem os contornos e limites dos direitos dos outros, razão pela qual não frequento e desconsidero qualquer programa que desrespeite a mínima conveniência de alguém.Naturalmente, pessoas como eu - e, felizmente, vão sendo cada vez mais - jamais frequentaram ou se permitirão colaborar nas investidas culturais (?!?) nocturnas do Bairro Alto e quejandos, que transformaram num inferno absolutamente insuportável a vida dos desgraçados residentes.

Para todos os efeitos, apesar de me ver contemplado com escritos deste calibre e destempero, ainda não desisti de me considerar a viver num país civilizado, razão pela qual, ao longo do ano, fui recorrendo à intervenção da Guarda Nacional Republicana que, cumpre assinalar, sempre correspondeu como seria de esperar."

Posteriormente, uma entidade cultural denominada Cyntia voando propôs-me um encontro pessoal para esclarecer ainda o que, em definitiva resposta, considerei não ter mais qualquer cabimento. Não previra eu que, finalmente, uma outra mensagem (cujo anonimato se justifica pelas considerações aduzidas pelo autor) ainda traria maior substância às minhas razões. Ora reparem:

"Eu também vivo com a poluição sonora provocada pelo dono do bar S'pontaneo - Diogo Pessoa Lopes, desde 1999, e que tem, sem dúvidas, boas relações na CMS (a começar pelo seu primo, o [ex-] Vereador Dr. João Lacerda Tavares) exactamente com o mesmo tipo de discurso de MissM a que João Cachado tão brilhantemente respondeu: - "(...)Alguém no seu perfeito juízo, admitirá que um facto ou artefacto cultural seja suposto ofender, sequer beliscar, os direitos e interesses de terceiros(...)"

Pois é! E acredito que muitos dos artistas participantes não tenham a menor ideia do prejuízo que provocaram a terceiros! (...) Escondo-me atrás do anonimato pois tenho medo, coisa que já percebi que João Cachado não tem. Houvesse mais como ele! Obrigada 11/12/09 16:02"

Conheço muito bem a situação até porque, infelizmente, tenho familiares que residem no local, também altamente prejudicados. Apesar da intervenção pessoal do próprio Presidente da Câmara, os moradores e comerciantes da Praceta Dr. Arnaldo Sampaio, nas traseiras do Centro Cultural Olga Cadaval, continuam a viver sem direito ao merecido sossego.

E tudo porque certos prevaricadores se arvoram em agentes culturais. Lamentável, isso sim, que os conceitos de Arte, Cultura e Beleza sejam conjugados nas linhas e entrelinhas de discursos argumentativos como os de Miss M e dos defensores do S’pontâneo. E ainda, tão ou mais lamentável é que, tal como lembra o comentário anterior, os intervenientes nos tais eventos culturais nem se apercebam das lesivas consequências do seu envolvimento.

E daqui não sairemos enquanto, na Câmara Municipal de Sintra, se persistir nos erros e enganos actuais. É que as licenças para a concretização de iniciativas como as de café-concerto ou atitudes de intervenção urbana citadas por Miss M têm diferente enquadramento mas sempre no respeito pelos direitos de terceiros.

* na acepção consagrada pelo dicionário Houaiss da língua portuguesa que, no verbete inerente ao conceito, propõe indivíduo que goza de direitos constitucionais e respeita as liberdades democráticas.

NB.
Os textos citados diferem, pontualmente, dos originais consultáveis no espaço destinado a comentários.


quarta-feira, 16 de dezembro de 2009

Fernando Castelo - Sintra

Cultura e dedicação total*

A nossa crise, tem dois patamares (continuo a gostar desta dos patamares...) determinantes: o da cada vez mais deficiente moral pública e outro relacionado com a facilidade com que se alcunham de culturais certos actos que lhe são ofensivos.

Incomoda-se o bem-estar de dezenas ou centenas de pessoas e...zás, passa a ser uma virtuosa peça cultural, aprovada por quem não mora lá e se exibe com poderes decisórios.

CONFESSO QUE, NESTES CASOS, OS RESPONSÁVEIS PELA ELABORAÇÃO DOS PARECERES E OS DECISORES, DEVIAM SER OBRIGADOS A ESTAR PRESENTES NOS LOCAIS ATÉ AO FINAL DESSES ACTOS "CULTURAIS".

Naturalmente que, quem aprova coisas deste tipo, não sabe o que é a cultura de um povo, os costumes e as suas raízes sociais. Nesta fase pós-DEDICAÇÃO TOTAL (desculpem mas é bom não esquecermos) as minhas esperanças culturais desvaneceram-se, tanto mais que actores militantes, não sei se comissários de qualquer coisas ou comissionistas, parecem ter desertado para o poscénio, por uns tempos, até terem mais uns livritos para distribuir às famintas crianças ou uns espectáculos bem remunerados para uns tantos privilegiados. Sintra não merecia disto.

* Embora o Fernando Castelo tivesse enviado esta mensagem enquadrada em comentários, considerei muito apropriada a sua publicação na primeira página. E os leitores, não concordam comigo? (João Cachado)


sexta-feira, 11 de dezembro de 2009

Fernando Castelo - Sintra


Funcionalidade?


Com a mais elevada preocupação, transcrevo uma informação que, há mais de 24 horas, consta do site da Câmara Municipal de Sintra: "A Reunião Pública de Câmara, a realizar no dia 16 de Dezembro, não terá lugar por razões de funcionalidade." (sic)

Que coisa tão estranha! As reuniões de Câmara, públicas e privadas, obedecem a um calendário estabelecido no ano anterior e, certamente, só motivos graves e de grande preocupação podem interferir com a sua realização.

Que terá sucedido, assim de tão grave, que "cortou" a palavra a quantos munícipes tivessem - eventualmente - a intenção de nela participar, nem que fosse para apresentarem votos de Bom Natal e desejarem muita democracia em 2010, com prestação alargada de informações?

Chegado a este ponto, acabo de receber uma nova informação. Por Edital datado de 10.12.09, o Presidente da Câmara marcou uma Reunião Privada Extraordinária de Câmara para o dia 14 do corrente. Até agora, o site da CMS não fez a divulgação. Isto é, de Pública, a sessão foi alterada para Privada, sendo fácil de concluir que, para a devida funcionalidade, a ausência de público será determinante!

Isto vivendo-se em dita democracia, e com o virtuosismo republicano.


quinta-feira, 10 de dezembro de 2009

João Cachado - Sintra


Ruas, Seara & Cª
(cont.)

Elegância e informalidade


Noutro dia, enquanto os maridos tinham ficado pelos civilizados Estoris e Cascais, em grandes manobras de gestão global ibero-americana, vieram as senhoras de visita a Sintra, para olharem o Atlântico a partir do Cabo da Roca, almoçarem em Seteais e darem uma volta pelo centro histórico. Naturalmente, o Presidente da Câmara teria de fazer as honras da casa. Mas o que me foi dado observar através da reportagem da SIC foi algo de inimaginável.

Pois o Presidente da Câmara Municipal de Sintra, ele que, importa não esquecer, também é Vereador da Cultura, a quem sempre fiz a justiça de reconhecer a elegância que, quando quer, sabe cultivar, desceu a uma vulgaridade tal que roçou a boçalidade, com diálogos pouco adequados para as circunstâncias, num suporte linguístico que não sei se era portinhol ou espanholês.


E chegou ao ponto de se assumir como o regularizador do trânsito (a televisão estava por perto...), pois outra conclusão não se pode tirar perante o "olha...olha...corta...corta" dirigido ao militar da GNR que, de imediato, fez parar o normal fluxo de carros para que a comitiva pudesse aceder comodamente.

Em casos que tais, tratando com Chefes de Estado ou suas mulheres, todos sabemos como a informalidade admissível não pode ultrapassar os limites de uma elegância que deve estar presente em todos os mais pequenos detalhes. É a altura em que fica bem ser majestático, demonstrando como se está bem inter pares. Pois, infelizmente, pelo menos no que a reportagem do canal televisivo mostrou, nada disso aconteceu.

Deixem que, a propósito, finalmente vos interpele com uma questão que me parece pertinente. Alguma vez vos passaria pela cabeça ver, em tais preparos, António Capucho, Presidente da Câmara Municipal de Cascais? Enfim, a cada um o seu estilo mas, nestas coisas de representação do poder, seja ele local ou nacional, há que estar total e inequivocamente à altura, sem quaisquer transigências.




terça-feira, 8 de dezembro de 2009

João Cachado - Sintra


Ruas, Seara & Cª


No texto antecedente, o Fernando Castelo pôs-nos ao corrente de uma iniciativa do maior alcance para o bem estar e melhoria da qualidade de vida dos munícipes e visitantes de Viseu, que bem atesta da capacidade do Presidente da Câmara Municipal daquela cidade, ao decidir instalar um estratégico funicular cujos benefícios já se confirmam e avaliam em diversos sectores.

Fernando Ruas, conhecido pela sua longevidade autárquica e pelo que tem feito no seu concelho, também tem os seus deslizes, bastando recordar aquela sessão em que sugeriu o famoso "corram-nos à pedrada" referindo-se aos Vigilantes da Natureza do Ministério do Ambiente.

Agora, no recente Congresso da Associação dos Municípios Portugueses, acabaria por mostrar pouca sensibilidade relativamente às questões ambientais, nomeadamente quanto à preservação de determinadas espécies animais. Deu a entender que quaisquer manobras de defesa de determinadas espécies animais, como pequenos roedores ou o lobo, não devem avançar se puserem em causa os interesses afins da preservação da espécie humana.

Dificilmente se poderá debitar maior disparate. Hoje em dia, graças a Deus, qualquer miúdo do primeiro ciclo do básico sabe que a ameaça de extinção de qualquer espécie animal ou vegetal põe em causa um equilíbrio global nos termos do qual o homem é apenas um elemento indissociável…

Enfim, o mínimo que poderia dizer-se é que se tratou de um incrível deslize, a manifestar uma falta de jeito que brada aos céus, numa altura em que não pode estar mais ao rubro a problemática do respeito pelo ambiente e todo o património com ele relacionado.

A colherada de Seara

Na reunião magna em apreço – ah! como resistir à presença da televisão… – o Presidente da Câmara Municipal de Sintra também interveio, certo é que sem grande destaque, chamando a atenção para o facto de a corrupção não ser um exclusivo dos municípios. Claro que não é, diremos nós que também o sabemos, bastando para o efeito abrir as páginas dos jornais e estar atento aos outros media.

Infelizmente, tanto os exemplos que vão surgindo um pouco por todo o país como os referidos à boca pequena, têm emporcalhado o poder local, num imenso lodaçal, em consequência dum imparável vórtice corruptivo, avultando os loteamentos à trouxe-mouxe, uma gestão do território que é uma chaga insuportável.

De qualquer modo, ainda não constituem argumentos que bastem à mórbida avidez dos grandes promotores turísticos e imobiliários, que vão contando com a compreensão dos autarcas para a concretização de negociatas, mais PIN menos PIN, que comprometem a qualidade de vida no presente e no futuro.

Na realidade, o Dr. Fernando Seara podia não ter focado as suas palavras na desajeitada tentativa de branqueamento de tão nocivas actuações de autarcas que, implícita ou explicitamente, têm facilitado o alastramento pelo território nacional dessa horrorosa mancha. Ultimamente, de facto, o nosso Presidente ou não acerta ou desacerta mesmo, nas atitudes públicas de que vamos tendo conhecimento. Como poderão verificar nos próximos parágrafos.



(continua)




sexta-feira, 4 de dezembro de 2009


Fernando Castelo - Sintra

Viseu,
exemplo para Sintra

No passado dia 10 de Novembro, o Diário de Notícias dava à estampa uma notícia sobre o funcionamento do funicular de Viseu, com utilização gratuita e que, em cerca de três semanas, transportou à volta de sete (7) mil pessoas. Segundo a notícia, aumentou a afluência ao centro histórico, o comércio passou a contar com mais clientela e os visitantes permaneceram mais tempo, enquanto que as viaturas ficaram lá longe arrumadinhas.

Claro que por lá, tal como cá, também existiram resistências de pacotilha, com críticas que acabam de ser desmistificadas. Um alfarrabista com loja aberta no centro histórico (de seu nome Rui Macário) reconhece vantagens nas medidas tomadas pela Câmara Municipal de Viseu, pois “já se vêem mais pessoas”, dizendo que caberá aos viseenses “aproveitar e ganhar este hábito de vir à cidade velha”.

Antes de se sugerir a requisição do edil Fernando Ruas para Sintra, ou mesmo uma permuta ao mais alto nível, não vamos deixar cair no esquecimento (tão útil a certos políticos) as aventuras de um “teleférico” que foi noticiado para Sintra.Em Dezembro de 2007, por certo com a emoção natalícia, um dirigente desportivo anunciou a construção do “teleférico para a Pena”, cujo cais de embarque seria no seu clube, ocupação que justificaria uma “renda” a pagar pela Câmara Municipal.

Houve quem acreditasse que o Senhor Presidente da Câmara não deixaria de convocar a imprensa habitual, mostrando os Projectos e promovendo as celebrações protocolares. Reinou um silêncio pouco conforme com o ideário republicano.Passado um ano, o divulgador do “teleférico”, dessa vez como autarca, acabaria por dizer que o “projecto de ligar São Pedro de Sintra ao Palácio da Pena através de um teleférico” estava “enterrado”. Dessa forma, mais um grandioso Projecto se arquivou.

Viseu tem outro encanto

Claro está que Fernando Ruas não se deixa levar por balelas ou cantos de sereia que só levam os navegantes para o fundo. E as ninfas do imobilismo por lá não vingam, digam ou não que Viseu é “única” e que não há outra igual em toda a Terra.Vai daí, através do programa Polis, Ruas investiu pouco mais que cinco milhões de euros e resolveu uma situação que era sentida pela grande maioria da população.

Claro que não se comprometeu a enterrar linhas de alta tensão da REN... Por outro lado, em vez de embrulhar casas degradadas no Centro Histórico, passou a dedicar uma atenção muito especial aos casos em que os proprietários não têm posses para reabilitação, adquirindo os edifícios para a devida recuperação, com o posterior aluguer. Prevê-se, ainda, que alguns serviços camarários sejam transferidos para esta zona, como forma de incentivar o desenvolvimento.

Sendo Fernando Ruas credor de muito apreço pela sua vida de autarca, como seria sempre positiva uma passagem por Sintra, não para promover queijadas ou travesseiros mas para umas pinceladas de desenvolvimento estruturante.

quarta-feira, 2 de dezembro de 2009



João Cachado - Sintra


Honra e lealdade,
apesar de tudo…

Há uma instituição que funciona correcta e decentemente. Aquilo que, em qualquer país civilizado e razoavelmente decente seria coisa corrente, nada de extraordinário, em Portugal logo ganha foros de excepcionalidade. Certamente, outras haverá que não nos envergonhem mas hoje, inevitavelmente, teria de estar a pensar na actuação do Tribunal de Contas e, muito particularmente, em quem dá a cara pela instituição, o Dr. Guilherme de Oliveira Martins.*

Sistematicamente, como sabem, através do seu indispensável visto, o Tribunal de Contas tem chumbado os contratos de concessão entre a Estradas de Portugal e as empresas que se propuseram concretizar uma série de auto-estradas com que, tão controversamente, o anterior governo resolveu dotar o território nacional, já tão encharcado por auto-estradas muito pouco frequentadas ou quase desertas.

E, não há quem consiga contestar, tem-no feito, sem apelo nem agravo, na permanente defesa do interesse nacional, considerando os contratos não conformes com o bem comum. Apenas e tão somente o bem comum. Sejam quais forem as considerações aduzidas pelos juízes do Tribunal, não passa pela cabeça de ninguém que não seja aquela a razão fundamental sobre a qual ergueram todo o seu dispositivo de justificação dos sucessivos chumbos.

Naturalmente, o patrão de uma das tais empresas, a Mota-Engil, não está a gostar. Igualmente pouco satisfeito deverá andar Jorge Coelho, cujo recrutamento para a gestão da empresa terá passado pela presunção de que, à partida, acidentes de percurso como os do caso vertente, estariam ultrapassados porquanto a socialista afinidade, entre o dito administrador (ex número dois do Partido e do Governo) e o actual executivo seria argumento de peso bastante para atenuar eventuais desentendimentos.

Ao mesmo tempo que, por alguns, a actuação de Oliveira Martins é saudada com os maiores encómios, o patrão da Mota-Engil e o Presidente do Conselho de Administração da Estradas de Portugal permitem-se aproveitar a janela aberta da comunicação social para ameaçar que, a não vingarem os termos do que entre si contrataram, aí está à porta o cataclismo sem precedentes de milhares de postos de trabalho em risco. Se não me engano, a isto se chama chantagem…

Mas, afinal, para que julgam tão destacadas personagens desta comédia de enganos que serve o Tribunal de Contas? Até dão a entender que o seu visto seria apenas um pró-forma… O Estado Democrático de Direito que Portugal continua a afirmar não considera indispensável esta instância de avaliação e controlo da actividade económica e financeira? Alguma entidade contraente pode considerar como favas contadas o resultado da intervenção do TC?

Naturalmente, as interrogações que coloco não são mais do que a expressão da vox populi. E, com toda a razão, o povo mais atento também se interroga quanto à circunstância de o visto aparecer com um ano de dilação. Se não há condições para encurtar tal período, como se permitem as empresas iniciar as obras, sob risco tão manifesto?

Pois é. Não há dúvida de que saíram as contas furadas à Mota-Engil, não só nas auto-estradas mas também, ainda por exemplo, no vergonhoso contrato entre o Estado e a Liscont, empresa do grupo adjudicatária do terminal de contentores de Alcântara. Não terá contado com a verticalidade e dignidade de alguém que, de facto, leva a sério o juramento que presta quando toma posse das funções que a República o tem chamado a desempenhar.

Afirmo solenemente pela minha honra que cumprirei com lealdade as funções em que sou investido”. São estas as palavras. Palavra de honra, na afirmação de lealdade perante o povo, cuja vontade, expressa através do sufrágio universal, permite e sanciona que determinada pessoa assuma o exercício de determinadas funções durante um certo período.

Infelizmente, não há muitos, como Guilherme de Oliveira Martins, que se empenhem nas tarefas que o povo lhes comete, com a honra e lealdade que o animam. Aliás, e bem a propósito, nem é preciso invocar infelizes e tão recentes exemplos para ilustrar o modo vil, indecente e escandaloso com que, em altos patamares do poder económico e político, certos senhores se têm permitido mal tratar e desbaratar os mais nobres valores.

Não é por acaso que Oliveira Martins é um inequívoco homem de Cultura. E, na moldura deste substantivo que, bem à alemã, escrevo com maiúscula, vejo na personalidade do Presidente do Centro Nacional de Cultura, o cristão profundamente empenhado na resolução das difíceis questões de desigualdades que mais preocupam o país e o mundo.


É Oliveira Martins o socialista exemplar que, sem qualquer risco de incoerência, bem pode apregoar os princípios e os valores da Liberdade, Igualdade e Fraternidade, tão caros a uma doutrina que, diariamente, outros conspurcam com a face oculta ou bem a descoberto.

* Neste mesmo blogue, ler Que comparação!, 24.97.09 e O túnel adiado, 22.10.07.