[sempre de acordo com a antiga ortografia]

segunda-feira, 2 de março de 2015



2015, Salzburg, XXVII
Cappella Andrea Barca, dia 25 de Janeiro


[facebook, 31.01.2015]


O programa integrou o Concerto No. 1 em Dó maior para Piano e Orquestra, op. 15 de Beethoven, o Concerto em Mi Maior para Piano e Orquestra, KV. 482 de Mozart, e a Sinfonia No. 5 em Si Maior, D 485 de Schubert. Sir András Schiff interpretou os concertos e, nesses momentos, tendo dirigido a sua orquestra a partir do piano.

Cumpre esclarecer que as cadências e a entrada do terceiro andamento do Concerto de Mozart foram do próprio Sir András Schiff. Sala à cunha. Excelente ambiente, muito propício a uma leitura extraordinária do 'Allegro - Andante cantabile - Allegro' da obra de Mozart.

Para quem desconhece o detalhe, fique a saber que a Senhora Yuuko Shiokawa, integra o naipe dos primeiros violinos da Andrea Barca e é mulher do pianista e maestro. Uma ternura de pessoa e estupenda intérprete também de música de câmara.

É uma pena que o YouTube tenha cancelado a disponibilização de uma gravação, hoje já considerada histórica, em que András Schiff interpreta este concerto com a Orquestra Camerata Academica Salzburg sob a direcção do saudoso Sandor Vegh.Nessa ipossibilidade, deixo-vos com uma leitura do lendário Geza Anda, que está ao piano e dirige a mesma orquestra em 1962.


Boa Audição!

http://youtu.be/oGnYRAUOf1E
András Schiff & Capella Andrea Barca


2015, Salzburg, XXVI
 

[Concerto da manhã do dia 31 de Janeiro]

[facebook, 31.01.2015]

Pois, Emmanuel Pahud, que, na minha opinião, não haja a menor dúvida, é o maior flautista em actividade, já tem 45 anos e eu conheci-o quando era pouco mais do que adolescente… Curioso que o seu dia de aniversário é o de Mozart, também em 27 de Janeiro.

Hoje em dia, o menino de ontem, que, mesmo como solista principal e estrela da Orquestra Filarmónica de Berlin, nós conhecemos – lembra-se, minha amiga M Manuela Bravo Serra? – com uma certa e agaiatada irreverência, a esse menino, já começa a faltar algum cabelo…
Reparem no que ele afirma acerca da sua flauta actual:

“(…) This is the most flexible instrument I have tried so far. It enables me to transpose into music what I'm thinking and what I'm feeling. But, although the instrument is important, the player is the most important. All the work must be done before the mouth even makes contact with the instrument. It all happens by the way you hold your muscles, control your lungs, use the different cavities in the head and the upper body to let the sound resonate more or less."

Hoje de manhã, às 11,00, na Grosse Saal do Mozarteum, quem afirma a tal e íntima relação acabada de citar, veio fazer algo que o seu estatuto permite, ou seja, estrear na Áustria o “Concerto para Flauta” que Elliot Carter compôs, sublinhe-se a façanha, em 2008, quando completou 100 anos!
Se bem que o auditório principal do Mozarteum esteja habituado a primeiras audições nacionais, mundiais, de obras muito recentes, a verdade é que alguma parte do público ainda torce o nariz. Paciência, diremos tantos de nós que, graças a Deus, não fossilizámos na Primeira Escola de Viena e estamos despertos para todas as novidades.

Concerto difícil de executar. Concerto difícil de ouvir, a pedir mais e mais audições para o entendimento que é suposto extrair. Muito bem. Porém, a imediata avaliação de uma dávida total à obra que a Camerata Salzburg, sob a direcção de Pablo Heras-Casado também se entregou de alma e coração. Muitos e entusiásticos aplausos, em especial para Pahud que estava arrasado depois da prova de fogo a que estivera submetido. Isso mesmo o disse, cá fora, quando se dispôs a assinar algumas das suas gravações disponíveis para venda no hall.

Ainda ouvimos a “Sinfonia No. 2 em Si Maior”, D 125 de Schubert e a “Sinfonia No. 39, em Mi Maior”, KV. 543 de Mozart. Deixem-me que vos confesse a emoção renovada com que assisti à interpretação desta que foi a primeira da tríade fabulosa que Amadé compôs no famoso Verão de 1788. Um assombro de execução! A Camerata Salzburg - herdeira da Camerata Academica Salzburg, fundada pelo lendário Bernhard Paumgartner e que o queridíssimo Maestro Sandor Vegh dirigiu até 1997 – fez-se ouvir honrando o célebre ‘klang’ de Salzburg, o selo das orquestras da cidade que celebram Mozart de modo tão especial.

Gostei muito deste meu fim de manhã. Vim almoçar, cansadíssimo, porque estes concertos, caldeados de emoções, deitam-me abaixo, no melhor sentido, e, por isso, vinha cheio de um apetite que satisfiz, ad libitum, pois importava preparar-me para um concerto da tarde em que, já sabia, novas emoções se sobreporiam para continuar o desgaste… Ah, que maravilha!

Não vos deixo sem a proposta de escutarem a Sinfonia No. 39. Interpretação paradigmática da Orquestra Filarmónica de Viena, sob a direcção de Harnoncourt


Boa audição!


http://youtu.be/9CpA7tlVqN4
 
 


2015, Salzburg, XXV

[facebook, 31.01.2015]


Um episódio que tem a ver com a minha actividade em Salzburg. Como se pode ler nas entrelinhas dos meus textos, é na medida das minhas limitadas possibilidades que também passo uma parte significativa do tempo tentando estabelecer pontes para o contacto entre os meus amigos e algumas instituições musicais desta cidade.

Um dia destes, estava eu em conversa por e-mail, com o querido Maestro Massimo Mazzeo e, naquele contexto, veio à baila a tal atitude de fazer pontes. Com a mania da etimologia, logo lembrei o termo ‘pontífice’ cujo significado aponta, precisamente, para esse domínio. Pontífice, ou seja, aquele que faz, que estabelece pontes.
 
Pois, não perdi pela demora já que a réplica logo apareceu. A partir do seu nome próprio, Massimo, logo propôs uma nova entidade que, passando a definir os nossos meandros, é mesmo uma identidade : “Massimo Pontífice”! Bem, eu acho o… máximo. E vocês? E tenho a certeza de que, Francisco, o actual MP, nada se importa com esta laica usurpação.
 
Aproveito a oportunidade para lembrar que, hoje mesmo, no Palácio da Pena, Massimo Mazzeo estará apresentando um dos Serões Musicais que ali têm lugar, desta vez com Elise Hensler, a Condessa d’Edla, como sugestiva personagem inspiradora do encontro. E, também, confirmaria como a intensa actividade deste meu amigo tanto tem beneficiado a vida cultural de Sintra. Sim, bom é não esquecer ser ele quem assegura a Direcção Artística da componente musical da Parques de Sintra , que tem averbado assinaláveis êxitos desde que iniciou e se comprometeu neste domínio da Música.

Tal é o caso dos dois ciclos, um de Carnaval e outro, de Outono, da iniciativa “Tempestade e Galanterie” que, em articulação com o Centro de Estudos Portugueses de Música do Século Dezassete, se concretizou no Palácio de Queluz, tendo ele sido capaz de ali concentrar alguns dos mais notáveis artistas, de gabarito mundial, tais como Kristian Bezuidenhout, Midori seiler, Jos van Immersel e outros que, por exemplo, costumam integrar a programação da Mozartwoche e cá estão a mostrar como são e porque são os melhores.

Finalmente, a constactar que uma das decisivas razões do sucesso da Parques de Sintra reside, em todas as instâncias da sua multiplicidade de domínios de actividade, na escolha dos seus colaboradores. Sempre os melhores! Assim pudessem e fizessem outras entidades locais para que os munícipes também lhes ficassem a dever na mesma moeda!... Sim, que estas são dívidas muito agradáveis e nem sequer são para se irem pagando já que estão saldadas por natureza.