Na passada quarta-feira, dia 28, houve reunião pública mensal da Câmara Municipal de Sintra. Resolvi ir e intervir acerca de um problema de estacionamento que muito me tem ocupado. Quem acompanha estes textos já terá percebido que me refiro ao caso da Quinta da Regaleira. Depois de, acerca do assunto, tanto ter escrito na imprensa local e neste blogue, sem qualquer eco a nível da autarquia, considerei útil fazer mais esta diligência.
Entre outras razões, assim decidi actuar porque, de acordo com o regimento vigente, a minha participação na reunião do executivo foi devidamente registada em Acta, passando a constituir inequívoca prova da chamada de atenção para uma situação extremamente problemática, que já podia ter sido solucionada. Portanto, no lugar preciso onde coisas que tais devem ser expressas, limitei-me a fazer uma pública denúncia de incapacidade.
No momento em que intervim, portanto, na actualidade, a comunidade sintrense foi oficialmente informada acerca da incapacidade de intervenção do poder local num caso específico. No futuro, tal denúncia passará à qualidade de elemento de trabalho, um entre inúmeros manifestos de incapacidade, que o escrutínio da História não deixará de observar para os efeitos que tiver por convenientes.
Muitas vezes acontece que aquele tipo de participação cívica, decorrente da crença na efectiva operacionalidade dos mecanismos da democracia, não atinge os resultados esperados. É absolutamente natural num país como o nosso em que, tanto a administração central como local, apesar de tanto computador, não conseguem admitir que, em pleno século vinte e um, ainda permanecem no modelo napoleónico...
Um conhecido caso...
E volto ao caso da Regaleira. Mais tarde do que cedo, a situação vai resolver-se, inevitavelmente, de acordo com a solução que, há tanto tempo, tenho vindo a apontar, sem ponta de originalidade nem qualquer alternativa. Mesmo com uma perspectiva de análise sistémica e de acordo com uma estratégia integrada de resolução - avessa ao enquadramento de casos isolados - a questão da Regaleira já podia ter sido resolvida e bem resolvida.
Os carros serão estacionados, mais ou menos longe do complexo monumental, em local a partir do qual funcionarão transportes públicos, devidamente adequados ao trajecto que deverão percorrer, no âmbito de uma carreira regular, que por ali passará ou terminará, com uma tarifa que há-de incluir o preço do parque. E tanto, tanto tempo, para pôr a funcionar o que todos sabem ser inevitável! Mas convém adiar, sempre vão escorrendo mais uns cobres em consequência da cómoda insanidade do estacionamento em cima dos passeios...
Entretanto, o que não acredito é que, como deveria acontecer, por um lado, a autarquia e, por outro, a força policial, exerçam a autoridade democrática de que estão investidas. Ou seja, nem a Câmara Municipal de Sintra instalará imediatamente os pilares que será forçada a colocar, para impedir o acesso das viaturas aos passeios daquele segmento da Rua Barbosa du Bocage, nem a Guarda Nacional Republicana impedirá os prevaricadores de tão lesivo como ilegal comportamento.
Aquelas são competências inequívocas e inalienáveis, independentes da solução. Em qualquer lugar civilizado, nem o poder local nem a polícia se demitiriam mas, entre nós, com a instalada e institucionalizada cultura do desleixo, vamos ter de esperar e continuar a assistir ao caos do costume, porque somos uns tipos porreiros pá, condescendentes e tolerantes à brava...
10 comentários:
Amigo Dr. João Cachado,
Admiro a sua paciência e como continua a acreditar que as coisas mudem com estas pessoas e estes partidos no poder em Sintra.
O vereador do trânsito é o Luís Duque. O Dr. Cachado já viu esse homem fazer qualquer coisa por Sintra? Esta é a pessoa que podia resolver o assunto da Regaleira...
Com gente desta não vamos a parte nenhuma. A mudança deve ser outra, em que cada um cumpre o seu dever sem demissões nem medo. Mas, localmente os partidos estão todos comprometidos com verbas que certos empresários financiam todos, da direita à esquerda. Só um milagre. Um abraço,
Artur Sá
Leio esta denúncia feita pelo Dr. João Cachado e sinto-me na obrigação de o felicitar. Gostava de ter estado na sala da Nau * (penso que foi lá, não é verdade?) e var a cara dos responsáveis por esta terra que é nossa e pouco deles, de alguns deles pelo menos.
Como seria bom que o anterior participante - Artus Sá - não tivesse razão, mas fico com poucas esperanças e a ver vamos o que sucede: o problema dos acessos a Sintra e aos diversos monumentos históricos é vasto e ninguém tem notado qualquer interesse dos decisores para a sua resolução.
Terá sido bonita a eventual manifestação de apreço de quem dirigia a Sessão Camarária, o endosso das responsabilidades, mas o estacionamento na Regaleira não se resolverá tão simplesmente, tomando como referência tudo do nada que foi feito até agora nessa matéria, como noutras.
De qualquer maneira, caro Dr. João Cachado, enquanto não abotoarmos o colarinho nos atacadores dos sapatos, andaremos sempre direitos.
Um abraço,
* a propósito da Sala da Nau, talvez saibam que o nome se deve a ter sido previsto, no local, um restaurante que se chamaria NAU. Como parece que não funcionou, apesar disso a sala assumiu o nome do restaurante. É o que julgo saber.
O meu pedido de desculpa por não ter incluído este esclarecimento na intervenção anterior.
Saloio,
Caro amigo,
Pois é verdade, muito bem acolhido, cumprimentado, apreciado mas, concordo em absoluto consigo e com Artur Sá. O facto de lá ir não significa que tenha veleidades.Tento que a minha intervenção cívica seja digna de Sintra e de mim próprio. Apenas isto, apesar de algumas pessoas pensarem que é uma procura de protagonismo. Se fosse essa busca, certamente que a via não seria esta...
Um abraço do
João Cachado
Caro Artur Sá,
Como terá verificado pela resposta a Saloio, coincido com a sua opinião, ou seja, vou lá mas sem ilusões...
No que respeita ao Vereador Luís Duque, dentro de pouco tempo, até serei capaz de lhe dirigir uma carta aberta. Na realidade, este senhor não mostra folha de serviço.
Quanto aos compromissos em relação ao financiamento dos partidos e subsequente actuação dos eleitos, tenho a impressão de que está tudo dito. Só sentiremos alguma mudança com a eventual alteração da Lei Eleitoral mas, também neste domínio, não vale a pena alimentar expectativas. A venalidade impera, as tentações são muito fortes e há para aí muita gente a abotoar o colarinho com os atacadores dos sapatos, como lembra o Saloio...
Apareça mais vezes.
João Cachado
Não sendo mulher atida a premonições, ao ler hoje este texto (a minha vida profissional só me dispensa com calma aos domingos) não deixei de me sentir ainda mais triste e chocada com as (des)graças ou sorrisos do nosso gestor autárquico.
Acabada de ler o DN de ontem e a notícia sobre o que se passou na sexta-feira em Seteais para se chegar ao espectáculo de Rui Veloso e Marisa, bico de boca aberta como o presidente da Câmara Municipal de Sintra ainda teve jeito para sorrir com uma brincadeira de Rui Veloso.
A confusão nos acessos (li por aí qualquer coisa em que o autarca fala em prioridade para as acessibilidades) e o falhanço das alternativas, talvez justificasse uma cabeça baixa.
Aqui me surgiu a teoria das promenições, pois ainda não tinham decorrido 72 horas sobre a reunião camarária que refere no seu texto.
E assim vamos vivendo em Sintra.
Os meus mais sinceros cumprimentos,
Paula Corte-Real
Desculpem, por favor: é "fico" e não "bico" e "premonições" e não "promenições". Quantas vezes ficamos com os olhos tortos, meu Deus...
Paula Corte-Real
Cara Paula Corte Real,
Deve imaginar o desgosto que sinto ao saber destes desconchavos. É perfeitamente lamentável. E, também, perfeitamente evitável, como tenho tentado demonstrar ao longo de anos de luta que a nada tem conduzido.
No dia 28, na sequência da minha intervenção, o Senhor Presidente informou-me que, já para Janeiro do próximo ano, o Senhor Vereador Luís Duque tem perspectivada a solução do problema de acesso à Regaleira.
Se quer que lhe diga, não sei se devo acreditar. E duvido, muito mais em função da experiência, ou seja da actividade proverbialmente «frenética» (!?!)do Vereador, do que por outra coisa qualquer.
Não sei se reparou no comentário do Sr. Artur Sá, o primeiro que interveio após a publicação do meu escrito. Na realidade, se é ao Presidente que, em última instância, se devem pedir contas, depende muito da iniciativa dos Senhores Vereadores a possibilidade de satisfação das razões de queixa dos munícipes. Há um ou outro Vereador da Câmara Municipal de Sintra que não deixam os créditos por mãos alheias.
O caso de Luís Duque, com o pelouro do trânsito em suas mãos, é paradigmático do relaxe a que chegámos. Durante anos de gestão, nada melhorou na sede do concelho que pudesse ter dependido da sua intervenção.
Volto ao seu comentário para me referir ao caso das premonições. Olhe, Paula Corte Real, oxalá jamais se confirme uma das minhas, respeitante à possibilidade de não chegar a tempo o socorro médico de que careça alguém na Vila Roma ou no Hotel de Seteais, num dia de entupimento de trânsito... Até pode acontecer que o desesperado, de acordo com a minha premonição, seja um velhote muito VIP o que originaria um escândalo de todo o tamanho. Oxalá que não aconteça mas eu já presenciei um quadro muito semelhante.
As melhores saudações do
João Cachado
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