[sempre de acordo com a antiga ortografia]

sexta-feira, 9 de novembro de 2007

Sermão da sexagésima
fornada de Planos



Amigos!
Sintrenses!
Concidadãos!



Tudo leva a crer que, no início do próximo ano, seja revisto o actual Plano Director Municipal. Nestas circunstâncias nada surpreende que, para o efeito, devam ser tomados em consideração os relatórios de avaliação do actual PDM que determinados serviços camarários têm vindo a elaborar. E ainda bem que assim é porque ficais todos muito mais descansados. Na prática dos serviços se confirma aquilo que é do conhecimento de qualquer aprendiz de Planeamento, ou seja, que não há Plano digno de tal designação sem as respectivas instâncias de avaliação. E está tudo a funcionar...
Que regozijo vai em Sintra! Caramba! Ainda estas Notas Diárias vão no segundo parágrafo e tantos já são os motivos para festejar e assumir como estais todos de parabéns! Mas, não quero crer, ousais dizer-me que ainda vos não tinha passado pela cabeça a simples operação de imaginar o afã das centenas de pessoas, que estiveram e estão envolvidas nos meandros e entrefolhos dos milhares e milhares de páginas que alimentam o grande Plano e os subsequentes e complementares relatórios de avaliação?
É que, se assim tiver acontecido, não passais de desqualificados fregueses e munícipes, alheados do trabalho de tanta gente esforçada, que mal se alimenta e pouco goza, só para vos dar a satisfação de Planos bem concebidos e bem avaliados, os mesmos que vos dais ao luxo de não acompanhar e, sabe-se lá, inclusive, ao pecado de ignorar. Que ousadia! Brada aos céus tanta falta de civismo! É por essas e por outras atitudes de desinteresse da vossa parte que «isto» chegou a este ponto! Ou ainda não vos tinheis dado conta?
Todavia, caros concidadãos, tão alheados andais destes tão importantes documentos, que tantos e devotados trabalhadores, com tanto denodo, continuam a produzir para vossa própria felicidade e melhoria de qualidade de vida que, pelos vistos, redondamente desconhecereis a existência de mais três - contem bem, três! - outros determinantes instrumentos de Planeamento, cuja articulação com o aludido PDM é inequívoca, preliminar, já que se perfila a montante - reparem bem, a montante! - de qualquer decisão política local, seja qual for o sector do seu enquadramento.
Quando, de seguida, vos anunciar a que documentos me refiro, nem imagino a agonia em que ficareis de tão reles que sereis obrigados a vos considerardes... Parece impossível que a ignorância de que dais tão flagrante prova, tanto me obrigue a descer ao encontro do baixíssimo nível onde chegou o vosso desleixo e pouca vergonha. Pois então, desnaturados sintrenses, passai a considerar, nas vossas mais genuínas preocupações, tudo quanto se perfila - desta vez, a jusante, reparai bem, a jusante! - da tal magna tríade: em primeiro lugar, o Plano Estratégico, seguidamente, o Plano Verde e, finalmente, o Plano Energético!
Se a vossa agonia é a que agora sentis, perante a epifania de que fui intermediário, imaginai a minha, que não tenho quem me acompanhe, neste meu território da lucidez, que mais se assemelha ao vale de lágrimas em que me haveis colocado! Oh ingratos! Rendei-vos à necessidade de tanto Plano (com P grande) pois, sem tais instrumentos de trabalho, por exemplo,
- jamais se definirá a estratégia que presidirá às obras de benefício das fachadas e entranhas da maior parte dos prédios da Estefânea e Vila Velha;
- impossível se revelará decidir se o vosso quintal, se o lugradouro do prédio que habitais, pertence à Reserva Ecológica ou à Reserva Agrícola;
- nunca mais se decidirá se a linha de muito alta tensão vai passar entre o lavatório e a banheira da vossa casa de banho ou um pouco mais à esquerda, no corredor entre a porta do quarto e a cozinha.
E, para comemorar o ano Novo, já sabeis: saí à rua, na noite de São Silvestre, aclamando o PDM, mais os outros dois PE e ainda o PV! E todos os suplementares Relatórios, tanto os Provisórios como os Definitivos. Para ficardes mais descansados, sabei igualmente da minha disponibilidade para vos compor um refrão que, com a alegria que vos animará, inflamados, cantando e rindo, de rosto erguido, lançareis aos ouvidos dos descrentes!

1 comentário:

Anónimo disse...
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