Questão de assunção
Basta ter lido os comentários suscitados pelos textos publicados neste blogue, nos dias 17 e 18 de Dezembro do ano findo, para perceber que, para além da controvérsia em apreço, há pessoas que não sabem como assumir, sem desconfortáveis conotações, a sua condição de habitantes do subúrbio.
Basta ter lido os comentários suscitados pelos textos publicados neste blogue, nos dias 17 e 18 de Dezembro do ano findo, para perceber que, para além da controvérsia em apreço, há pessoas que não sabem como assumir, sem desconfortáveis conotações, a sua condição de habitantes do subúrbio.
Não será necessário que, a fim de que nos entendamos, nos internemos pelas iniciáticas veredas da sociolinguística, embora convenha que, a propósito, façamos as indispensáveis distinções terminológicas. Desde logo, em termos objectivos, e, de acordo com a etimologia latina, suburbano é o que está situado próximo da cidade, que fica nos arredores ou nos arrabaldes da cidade.
Se problema existe no entendimento desta noção e na assunção da condição que lhe subjaz, relativa àquilo ou àquele que está ou habita fora da cidade, tal acontece porque, como verificaremos, há uma extensão pejorativa do adjectivo. Estas considerações, parecendo mais afins do contexto didáctico, só aqui são chamadas para circunstanciar e circunscrever a substância de uma terminologia que confunde o cidadão vulgar, não obrigado ao domínio de minudências filológicas e, por isso mesmo, por vezes, vítima de erróneas interpretações.
Voltemos à extensão pejorativa, para lembrar como, ao adjectivo urbano, se ligam as ideias de afável, civilizado, cortês, do que vive na cidade, do que tem ocupação e hábitos típicos da vida da cidade. Por oposição, a condição daquele que está fora destes contornos e limites, é o suburbano, portanto, que ou aquele que é pouco refinado, que revela ou tem mau gosto, grosseiro, provinciano, rude.
Interessante será verificar como, de modo muito coincidente e afim, o mesmo se passa com saloio, de etimologia árabe - provém de çahrahuii e, do árabe vulgar, çahroi - significando habitante do deserto, que se aplica àquilo que é dos arredores de Lisboa, a norte do Tejo, dos seus habitantes, ou que lhes diz respeito. No entanto, uma conotação pejorativa, remete para indivíduo que revela falta de civilidade, de traquejo social ou de bom gosto.
Se, hoje em dia, por um lado, há quem se afirme saloio e com muita honra, de certeza que, por outro, só com enorme dificuldade, encontraríamos quem, com a mesma veemência, sentido de identidade e de pertença, reivindicasse a sua condição de suburbano…
Num concelho como o de Sintra, que comporta e compreende vastíssimas zonas de duplo subúrbio, ou seja, em relação a Lisboa e à própria Sintra, não surpreende que esta questão da assunção de um modo de estar em e de habitar determinado território, adquira inquestionável interesse.
Tenho-me arriscado aos maiores mal-entendidos e incompreensões se, como tantas vezes tem acontecido, ao argumentar quanto à necessidade de cindir o gigantesco e ingovernável concelho de Sintra, em duas ou tês coerentes unidades, para possibilitar as diferentes lógicas de governança, propuser o agrupamento de freguesias afins, separando o conjunto das sete - Colares, São João das Lampas, Terrugem, Almargem do Bispo, Santa Maria e São Miguel, São Pedro e São Martinho – das outras, indelevelmente marcadas pelos contornos do dormitório betonado, tantas vezes legalizado e humanizado, a partir de clandestinas origens.
É o escândalo, o sacrilégio, tem equivalido a detestar as pessoas, a não respeitar as suas lutas. Claro que é uma pena que assim seja entendida uma proposta como esta, que nada tendo de secessionista, de falta de solidariedade ou de elitista, tem deparado com a incompreensão de quem ainda não descobriu que tal solução permitiria, aos dois ou três conjuntos subsequentes, uma administração e gestão dos territórios consentânea com as suas características. E, de qualquer modo, nenhuma das unidades decorrentes jamais seria tão homogénea que não acolhesse a diversidade e diferença que, felizmente, está instalada por todo o lado.
Tenho a maior esperança de que venha a prevalecer esta que já tem sido apontada como a solução, a mais profícua para este concelho que não tem qualquer vantagem em bater recordes de população residente, ou de extensão territorial, aos quais se deveria juntar o mais incómodo dos índices estatísticos, ou seja, o que se conota com tudo quanto é falta de qualidade de vida.
3 comentários:
se me permite um comentário "saloio", faltam aí duas freguesias: Pêro Pinheiro e Montelavar, passando assim de sete para nove.
Cumprimentos e parabéns pelo seu blog.
Para Vladimir,
Estou totalmente de acordo consigo. Desconheço se será também o seu caso, mas quem tem acompanhado, ao longo de anos, a minha «cruzada» a favor da solução que advogo, para acabar com o gigantismo e a ingovernabilidade do concelho de Sintra, sabe que costumo incluir as freguesias de Pero Pinheiro e Montelavar no conjunto das que consdidero Sintra-Sintra.
Muito obrigado pela sua amável saudação. E fico muito, muito contente, por sentir como vai alargando, qual mancha de óleo já incontrolável, um especial modo de assumir esta ideia que, também, tantas e tão boas vontades vai gerando.
Faça o favor de continuar a aparecer! E traga notícias da sua militância a favor deste imparável movimento.
Até breve.
João Cachado
Caro Dr. João Cachado,
Porque não põe a funcionar um inquérito para ter uma amostra, por exemplo durante um mês, das pessoas que concordam com esta ideia de dividir o concelho de Sintra que eu considero tão boa?
Pense nisto. Um abraço do
Artur Sá
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