[sempre de acordo com a antiga ortografia]

sexta-feira, 28 de março de 2008

Educação e indisciplina,
que autoridade?

(continuação)


A autoridade e os modelos sociais de sucesso


A sociologia da Educação apenas veio reforçar a noção de que, hoje em dia, e de forma muito aguda, há um grave problema de exercício da autoridade perante os jovens, sejam eles encarados tanto individualmente como em grupo. Não há agente educativo que já não tenha experimentado a suja impotência. No entanto, no contexto destas considerações, apenas me interessa aflorar uma parte da questão relativa ao agente educativo que é o professor.

Repare-se como, em íntima articulação com este assunto, se coloca o problema dos modelos sociais de sucesso. Os professores dos ensinos básico e secundário, tal como outros profissionais detentores do saber, enquanto difusores e divulgadores de conhecimentos académicos, gozaram outrora de um reconhecimento social cujo estatuto só foi posto em causa a partir do momento em que, urbi et orbi, se instalaram e passaram a vigorar modelos de sucesso social que pouco ou nada têm a ver com a valorização do saber.

Ora bem, de uma vez por todas, é necessário ter em conta que, na realidade, tanto as crianças e jovens alunos como a maioria das suas famílias, não valorizam e, pior, em muitas circunstâncias, desvalorizam mesmo a aquisição de conhecimentos como condição indispensável ao enquadramento social e à felicidade dos cidadãos. Aliás, a própria ideia de felicidade, muito naturalmente, passou a obedecer ao paradigma do sucesso a qualquer custo, o mais depressa possível.

No entanto, praticamente até meados da década de setenta, a autoridade do professor – cuja profissão era apontada como modelo social de sucesso, paradigma da posse de bens e valores de carácter permanente e duradouro – foi suplantada pela autoridade de outros paradigmas de relevância tão sedutora quanto efémera. Mas isso é algo que nada ou muito pouco diz, a quem não adquiriu a mais-valia da prevalência e permanência dos valores, como factores de estabilidade emocional, no difícil caminho para a lucidez e para o bem-estar.

Se não incluirmos este factor de apreciação na análise do problema, deixaremos de, mais adequadamente, entender, em relação aos novos modelos de sucesso pessoal – grosso modo, indivíduos sempre muito belos e jovens, muito bem vestidos, muito bem acompanhados, com grande disponibilidade de dinheiro, com belíssimos automóveis, instalados em casas com piscina, etc – como os professores ficaram com uma imagem tão desguarnecida, tão desvalorizada, em suma, tão desautorizada.

Pede-se-lhes o exercício de um determinado tipo de autoridade que, aparentemente todos sabem o que seja, esquecendo que os professores já não detêm aquela que, basicamente, era uma autoridade natural, decorrente de um estatuto que suscitava as inerentes provas de respeito social, nomeadamente por parte de estudantes e respectivas famílias. Enfim, um cenário obsoleto.

Quadro tão problemático evidenciou-se com particular pertinência e, de modo especial, praticamente sem a contestação de qualquer quadrante, a partir do momento em que se concretizou a grande campanha de massificação, traduzida pelo acesso ao ensino de estratos sociais que, há muitas gerações, dele estiveram afastados. Todavia, a marcha para a democratização não foi acompanhada das medidas que se impunham, nomeadamente, de preparação dos agentes em domínios indispensáveis à condução de grupos com tais características.


(continua)

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