[sempre de acordo com a antiga ortografia]

terça-feira, 15 de abril de 2008

Av. Heliodoro Salgado,
paradigma de governação


Aí está, bem patente no estado desgraçado a que chegou a desditosa Heliodoro Salgado, bem no centro vital da sede do concelho, como é de evitar uma certa forma de gerir a urbe. Mesmo que muito fraca fosse a nossa memória, não teríamos hipótese de esquecer como tal modo de tomar decisões e de concretizar projectos a nível local, afectou tão negativamente a nossa qualidade de vida.

Na realidade, basta que circulemos por esta artéria, a pé ou de automóvel, para perceber como o actual estado de coisas é o natural corolário de uma governação muito controversa, ao longo de oito anos, do partido que espaldou o anterior executivo municipal ao qual a população de Sintra recusou a continuação do mandato em Dezembro de dois mil e um. Decisões precipitadas, processos mal orientados, falta de controlo de qualidade de execução, são alguns dos factores ali presentes.

Aliás, faz parte de um cenário cujo estilo poderia incluir o famigerado projecto para a instalação de um parque de estacionamento subterrâneo na Volta do Duche, para além do horror que se preparava no âmbito da defunta Sintralândia que, depois muita luta, não chegaram sequer a nascer. Infelizmente, tal quadro acabou por acolher, por exemplo, o novo tribunal – a cuja construção os cidadãos não souberam opor-se – o tal mamarracho mastodôntico que o Arquitecto Leon Krier, perito da Unesco, classificou como “guerra a Sintra” …

Voltemos ao caso também muito concreto da Heliodoro Salgado. Efectivamente, quer a zona pedonal, transformada num cinzento, incaracterístico e impermeabilizado sarcófago quer, mais abaixo, a parte da mesma via que, a partir da Desidério Cambournac, se dirige a Nunes Carvalho, constituem o que pode existir de mais ordinário em termos de qualidade de obra pública.

Recentemente, o sistemático abatimento da calçada de paralelepípedo, devido a deficiências de construção, deu origem a lombas espectaculares e perigosas para as viaturas circulantes cujos condutores, perante a ausência de sinalização adequada, não conseguem evitar que os chassis batam no pavimento, fazendo saltar faíscas e alimentando os comentários dos transeuntes.

Foi péssima a decisão que resultou na actual zona pedonal, tal como foi concretizada. Por outro lado, gerou um labirinto de circulação ente a Estefânia e a Portela que, ao fim de sete anos, se traduz por muitas centenas de milhar de horas perdidas, de stress e poluição acumulada, atingindo valores dificilmente contabilizáveis. Brada aos céus tanta incapacidade de previsão das consequências da iniciativa!

3 comentários:

José António Ribeiro e Cunha disse...

Prezado Dr. João Cachado:
Recordo-me das desditosas palavras ditas e escritas sobre a então obra que se anunciava. A má qualidade é patente desde o início...e já lá vão tantos anos! Também se conseguiu destruir um comércio local que era já difícil...e as construções em ruínas??? Nostalgicamente assinalo a "minha escola primária" como exemplo!
Embora o actual executivo pouco tenha a ver com tal opção estaria no momento de se discutir esta zona da estefânea, no Largo tb há obra a fazer, mas que tipo de fazer? O que se pretende para esta zona de Sntra? É o que chamo de "Síndroma turístico"... esta zona de Sintra não é para turistas só lá vão os pacatos Saloios que ainda sobrevivem e os recém chegados habitantes pois qualquer outro que desconheça o labirinto do trânsito desiste e "passa ao largo" seguindo para as praias!
Cumprimentos,
J. Cunha.

Anónimo disse...

Temos aqui, pelos menos, duas situações a ter em conta e que, na minha modesta opinião, são relevantes. A primeira relaciona-se com a zona pedonal, inequívocamente com reflexos no respeito pelos peões e seu bem-estar. Pena é não existirem mais espaços pedonais na Vila de Sintra, o que - do ponto de vista histórico - seria uma salvaguarda da boa qualidade a que milhares de visitantes deveriam ter acesso. Quem ande por esse mundo fora, facilmente se apercebe que as zonas históricas são cada vez mais interditas ao trânsito automóvel e as pessoas não reclamam por esse facto, apesar de darem voltas muito maiores.

A outra prende-se com o comércio local que, por sinal, até esteve ao lado das alterações feitas. A crise do comércio local não se justificará com o facto de a zona ser pedonal. Quanto a mim, o facto dos transportes públicos terem sido desviados para a Portela, esvaziou muitas ruas do conteúdo humano que as faziam pulsar. Por outro lado, as novas superfícies comerciais têm sido apelativas para os comsumidores.

A este propósito, permitam que refira o facto de, recentemente, ter estado em discussão pública um projecto para a construção de um grande centro comercial Jumbo na zona de S. Carlos (Mem Martins) mesmo ao lado do IC19, que virá a ter reflexos gravíssimos no que resta do comércio local. Alguém leu a posição da Associação de Comerciantes? Lamentavelmente, da Junta de Freguesia de S. Pedro até se soube que não tinha posição sobre o assunto.

Realmente estamos em crise, determinantemente das Instituições, o que corrobora as opiniões do nosso amigo João Cachado.

Por fim, retomando o tema, perante a experiência do que tem sido a zona pedonal da Estefânia, julgo que deveria já ser encontrada uma solução para se virar à esquerda na Heliodoro Salgado, para acesso directo ao Olga Cadaval, evitando o massacre de ir lá abaixo à Rotunda (que curiosamente não é redonda!!!) e voltar por aí a cima.

Do piso da zona pedonal só podemos sentir vergonha: pelo mau gosto e desenquadramento do local, pela sujidade militante (ontem até fotografei), pelo estado em que se encontra. Mas esta é outra história que faz parte das nossa desilusões.

Um abraço

Anónimo disse...

Dr. Cachado,
Se não soubesse que o senhor é uma pessoa de esquerda, este post de hoje dava para desconfiar de namoro ao actual presidente com quem o Dr Cachado tanto simpatiza.
Se a dra. Edite Estrela fez asneiras foi porque fez muita coisa. Deixou obra feita. O dr. Fernando Seara não pode gabar-se disso, como sabe. Está tudo parado. Estou de acordo, a Avenida Heliodoro Salgado é uma vergonha mas o actual executivo não fez nada para melhorar. Só lhe respondo que merecemos todos mais e melhor. Também sou dos que concordam com a divisão do concelho de Sintra. Os sintrenses são muito prejudicados por isto ser tão grande. Mas só em duas partes e não percebo como se pode pensar em três.
Cumprimentos
Paulo F. Graça