[sempre de acordo com a antiga ortografia]

quinta-feira, 10 de abril de 2008

(continuação do texto publicado em 09.04.08)

É manifesta a impossibilidade de gestão de um concelho de Sintra com as actuais características e dimensões. Reparem que não escrevi incapacidade ou incompetência. E podia tê-lo feito. Na realidade, ao longo dos anos, independentemente dos partidos que sustentam os executivos municipais, sobejam provas de incapacidade, de incompetência, de inoperacionalidade, ao fim e ao cabo, de tudo o que pode haver de mais negativo nos domínios da direcção, gestão e administração municipal.

No entanto, sem que se coloque a questão da desculpabilização de flagrantes erros e omissões de sucessivos executivos autárquicos, importa reconhecer, repito, a impossibilidade decorrente da magnitude e diversidade de casos em presença, todos de urgente ou urgentíssima necessidade de resolução, num território que merece a simples possibilidade de ser gerido.

Quantos e quantos autarcas, cuja qualidade de trabalho jamais seria posta em causa num concelho governável, foram e são perfeitamente engolidos, aniquilados, pelo vórtice de problemas que deviam ser repartidos, por outros autarcas de outros concelhos, que já deviam vigorar para adequada abordagem dos problemas em presença?

Na sequência do que venho afirmando e propondo há tantos anos, uma tal evidência só se tornará operacional a partir do momento em que, ao mais alto nível legislativo, os decisores políticos considerarem oportuno aquilo que, há muito tempo, se revelou de inequívoca pertinência. Ou seja, a governabilidade de um tal território terá de passar pela sua divisão em duas ou três unidades, aglutinando cada um conjuntos coerentes de freguesias.

Naturalmente, um tal exercício de lucidez não pode articular-se com desígnios eleitoralistas. Por outro lado, não há que temer que cada um dos concelhos resultantes não mantenha a enorme diversidade contida no todo actual. É que a diversidade das actividades económicas em presença, as características sócio-culturais das populações residentes, as culturas e micro culturas locais, são de tal modo ricas e estão de tal modo dispersas que não há o perigo de, ao cindir o todo, vir a criar um concelho de primeira e outro/s de segunda classe…

Neste mesmo blogue e no Jornal de Sintra tenho apresentado inúmeros textos acerca do assunto. Se, por um lado, há inequívocos adeptos da solução que advogo, também há detractores que, na minha posição, apenas vislumbram a prova acabada de um elitismo militante. Na realidade, nada ganhando com a confusão das minhas intenções, gostaria de tudo poder fazer no sentido de demonstrar a bondade e boa fé desta posição.

Por isso, e para já, cumpre reafirmar e assinalar que a minha luta, tão somente, radica na convicção de que os processos de decisão ganham eficácia, se e quando as unidades dirigidas, geridas e administradas tiverem uma escala e coerência bastante que justifiquem as inerentes e necessárias lógicas de direcção, gestão e administração. Dir-me-ão que tal poderá significar uma certa especialização. Sou capaz de aceitar a observação, de a acolher sem reservas e de considerar que não há qualquer incompatibilidade com a proposta cujos contornos vão sendo definidos.


NB: conclusão em 11.04.08

3 comentários:

Anónimo disse...

É minha convicção que a maior parte dos residentes no concelho de Sintra pouco se preocupam com os principais vectores do andamento desta carruagem.

Colocados perante as cada vez maiores dificuldades da vida, muitos desejam chegar às suas casas a tempo das telenovelas ou das eventuais transmissões de futebol.

A triste realidade que é a grave situação dos transportes públicos no nosso concelho, excepto para quem more perto das estações da CP, também dá uma ajudinha à desmobilização. Depois é o correr para casa, sem tempo para a família conviver e, quantas vezes, sem falarem uns com os outros.

Neste quadro, quem pensa que neste concelho as coisas se passam assim: É preciso uma deslocação a Casal de Cambra? Então lá se fazem 20 ou 25 quilómetros, se almoça pelo meio e se regressa a outros 25 quilómetros. O dia ficou "ganho", nós pagámos.

O exemplo serve para dizer que, apesar de alguns estudos (uma minha filha fez uma tese de licenciatura sobre o tema) ninguém quer abrir mãos da descentralização, o que permitiria elevados benefícios em termos de tempo e custos com deslocações e combustíveis.

Ora, perante tudo isto, tendo em conta as características e ausência de afinidades entre as grandes áreas urbanas e a zona à volta da Vila de Sintra, afigura-se-me que a criação de pelo menos um outro concelho seria positivo para as populações desses grandes núcleos habitacionais.

Ninguém faz estudos ou estatísticas junto dos residentes nos grandes núcleos, tal como não lhes perguntam como sentem Sintra, quantas vezes vão à Sede do Concelho e, até, se visitam ou frequentam os Parques da Serra, a que podem aceder gratuitamente aos domingos de manhã.

Ao pensar que as respostas seriam aterradoras sobre o conceito de "sintrense", admito que é precisamente por o sentirem que os responsáveis querem o poder de Sintra mas não se importam com a visão dos seus habitantes.

Em síntese, estou cada vez mais receptivo à idéia de um novo concelho, essencialmente por julgar que mais benéfico para quem mora em zonas urbanas que aguardam, há muito, soluções para os seus problemas e, em vez disso, os faz escutar as maravilhas de Sintra, em que, na maior parte dos casos, eles não são contemplados.

José António Ribeiro e Cunha disse...

Prezado Dr. João Cachado:
Como existe um colapso de comentários no dia anterior a este, mas o assunto é continuado passo para aqui.Assim:
Parabéns por ser elitista e ter a capacidade de entender que a Entidade Autarquica que está preocupada com os problemas do extremo Oeste do Concelho, muito próprios e específicos, não terá a possibilidade de resolver problemas distintos e diferenciados de freguesias como Algueirão-Mem Martins (se calhar o comentador anónimo desconhece que é a freguesia com maior densidade populacional do concelho!)e, bem assim, não será capaz de resolver um problema real que tenho a 300 mts de minha residência: UM EDIFÍCIO CONSTRUÍDO PELO ERÁRIO MUNICIPAL E COM CONDIÇÕES PARA FUNCIONAR COMO UNIDADE DE SAÚDE FECHADO HÁ MAIS DE UM ANO...ESPERANDO QUE NUMA ACALMIA SE RENTABILIZE O QUE JÁ SE GASTOU...Somos um Concelho e um País rico...Tenho a certeza que uma Câmara Municipal de Queluz, ou do Cacém, (quero lá saber...)já estaria em campo para avançar com a rentabilização de tal unidade! É uma questão de espaço e atenção...
Seja o Sr um elitista, mas creia que no dia em que o Concelho de Sintra for dividido em 2 ou 3 eu, que estou a meio caminho de Queluz e Cacém, também serei um elitista, mas de um Concelho que terá maior capacidade para lutar e corrigir o que existe em Sintra-não Sintra!
Caro anónimo/a (?) quando as ideias são ousadas e frontais, indiferente às colorações políticas, são de apoiar se lhes é reconhecido valor quali-quantitativo para melhoria urbano\social dos habitantes de áreas com interesses mais comuns, leia concentrados. Creia que me sentirei elitista no dia em possa pertencer ao Concelho de Queluz, local onde habita, pois certamente serão entendidos mais facilmente os problemas da freguesia onde habito e que nada têm a ver com algumas das actuais freguesias do Concelho de Sintra.
Vamos a isso. Lutemos por melhores condições na nossa área...Chame-se ela Sintra-Sintra ou Sintra-não Sintra e sem ideias pré-concebidas de elitismos que jamais senti ou sinto.
Melhores cumprimentos para si, Dr João Cachado, e para si caro "vizinho" anónimo,
J. Cunha

Sintra do avesso disse...

Fernando Castelo e
J. Cunha

Caros amigos,

Os vossos comentários, como calculam, dão-me um ânimo muito grande para, convosco, continuar este movimento ainda residual mas já não tão embrionário quanto possamos considerar.

Cada vez mais me convenço de que urge operacionalizar esta luta, isto é, traduzir em atitudes concretas aquilo que já é a nossa convicção.

Tenho ideias mas, naturalmente, gostaria muito de as partilhar convosco. Avancem com propostas, por exemplo, de reunião com mais interessados cúmplices.

Um abraço

João Cachado