[sempre de acordo com a antiga ortografia]

terça-feira, 6 de maio de 2008

Argumento falacioso

Já a caminho do Verão, passou a ser tão frequente, que rara é a noite em que, no parque de estacionamento do Rio do Porto, não pernoitem turistas instalados nas suas auto-caravanas. Hoje de manhã, bem cedo, atestando a veracidade destas palavras, lá estavam cinco daqueles veículos.

Em pleno período estival é fácil ali encontrar número substancialmente mais elevado, transformando o recinto em parque de campismo improvisado, com todas as consequências decorrentes, de ordem sanitária e de segurança, por exemplo. O Jornal de Sintra tem acolhido as minhas denúncias, acompanhadas por fotografias bem ilustrativas da situação sem que as autoridades responsáveis, camarárias ou policiais, tenham feito algo de concreto que impeça tal prática ilegal.

Em conversas mais ou menos informais, deparo com uma opinião, sem pés nem cabeça, de alguns notáveis sintrenses que não hesitam em afirmar como compreendem e não podem condenar a atitude dos auto-caravanistas e das autoridades na medida em que Sintra não disponibiliza uma alternativa capaz.

Parece incrível mas, de facto, é isto o que, normalmente, ouço como resposta às minhas tentativas de busca de cúmplices para as análogas causas em que me empenho. Portanto, para todos os efeitos, na ausência da solução adequada, admitem que se acolha toda e qualquer ilegalidade, desde que, naturalmente, não vão estacionar tão volumosas viaturas nos seus quintais…

Consideram-se tais pessoas cidadãos correctos, convencidos de que lhes assiste inequívoca razão. E, na realidade, mesmo sem as nomear – era o que faltava!... – confirmo até algumas delas como estimáveis e amigas. Sempre que lhes replico, chamando a atenção para a incompatibilidade do factor da correcção cívica com o beneplácito de atitudes ilegais, sou invariavelmente contemplado com um desvio da conversa.

Tão enviesada perspectiva é resultante de uma evidente falha de lucidez. Por muito inconsequente, incoerente e incompatível com os propósitos que afirmam defender, é essa a mentalidade que prevalece, a que se adequa à permanência do statu quo, por mais desagradável que seja.

Veja-se os automóveis ocupando os passeios destinados a peões. Pois se não há alternativa!... Aqui d´el-rei que o pobre esfomeado roubou uma peça de fruta. Mas, então, porque não, pois se o desgraçado não tinha alternativa!… Ou o casal com uma filhinha bebé, que ocupou uma casa abandonada (embora com dono) e é levado a tribunal. Mas porquê, se não tinha alternativa?!...

Ah, não, não brinquemos, pedem, isso já é outra coisa… Porque será que tão lógicos argumentos já não são convenientes a essa gente bem alinhada, disposta a fechar os olhos a certas irregularidades, embora ferindo interesses afectos aos direitos gerais de cidadania, e acabam por dar cobertura a pequenas e grandes ilegalidades? E porque será que se mostram tão radicalmente intransigentes quando estão em jogo casos de ofensa à propriedade? Pois é, o primarismo tem muitos matizes…

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