[sempre de acordo com a antiga ortografia]

segunda-feira, 30 de junho de 2008

Antena Dois,
sinais dos tempos

(Continuação)


Não muito mais tarde, ao concluir que os destinatários das observações ou faziam ouvidos de mercador ou nem sequer tomavam conhecimento, passei a enviar mensagens por correio electrónico. Infelizmente, no entanto, o resultado não foi melhor. Resolvi contactar e recorrer ao amigo José Nuno Martins, meu contemporâneo da Faculdade de Letras e actual companheiro de outras lides que, até muito recentemente, desempenhou as funções de Provedor do Ouvinte.

Aqui, neste mesmo blogue, poderia convosco partilhar informações a partir de contactos particulares com outras fontes igualmente fidedignas, que me levam a acreditar que o maior número de reparos de sinal negativo à oferta da Antena Dois se reporta ao já citado Império dos Sentidos e a todos os programas em que, directamente, intervém o Sr. João Almeida, o próprio subdirector.

Porém, apenas me socorrerei daquilo a que todos os ouvintes puderam aceder, ou seja, ao trabalho do Provedor. Toda a gente conhece José Nuno Martins, nele apreciando o imenso profissionalismo, a coragem e desassombro, bem como a grande capacidade de comunicador de alguém que, caso raro, ainda é senhor de um Português absolutamente irrepreensível. Portanto, não recorro a uma qualquer e ordinária fancaria, antes a produto de primeira qualidade…

Por várias vezes, fazendo-se portador dos reparos de muitos ouvintes, confrontou o subdirector João Almeida com opiniões que lhe não eram nada favoráveis e até muito contundentes, concedendo-lhe oportunidade de defesa e tempo de antena para expor a pertinência das suas opções e opiniões que, tão radicalmente, desgostam ouvintes da estação, habituados a outros paradigma e gabarito.

Então, quando foi possível começar a ouvir o resultado da actividade do Provedor do Ouvinte, representando e fazendo eco de justíssimas críticas e de testemunhos que teve o cuidado de fazer gravar, para emitir em tempo precedente à defesa do atingido, apenas se confirmou a falta de categoria, a falta de preparação científica, académica e profissional, numa palavra, a sobranceria daquele radialista.

Já enquadrados pelo actual figurino ou pelos precedentes, por aquele programa da manhã passaram, por exemplo, Judith Lima, Luís Caetano, Gabriela Canavilhas, André Cunha Leal, Ana Paula Russo, apenas para citar pessoas que não podem confundir-se com o actual pivô, um tal Paulo Guerra que deve ter frequentado o mesmo curso que João Almeida, acabando por transformar o Império dos Sentidos - e por aqui me fico… - numa verdadeira ofensa ao bom senso.

É fundamentalmente este programa de três horas, entre as sete e as dez, que concita o maior número de críticas. Tornou-se um espaço palavroso, muito adjectivoso, onde se desfia e resgata imensa coisa, durante o qual o Sr. Guerra, ao apresentar qualquer tema musical – pelo meio das muitas, muitas, muitas notícias que repete até à exaustão – se limita à leitura das capas dos CD ou da página da Internet que deve consultar como muleta redentora no monitor à sua frente.

Por ali deixou de passar o filtro do verdadeiro melómano, pessoa culta e informada, eventualmente músico, com formação académica na área das Ciências Musicais, para residir e presidir a ignara vulgaridade de um locutor generalista que, tal como o seu subdirector, sem quaisquer anteriores créditos culturais, veio de um qualquer emissor, nada vocacionado para a Antena Dois, esta que é uma rádio outra, com a sua especificidade, exigindo uma mínima preparação que, desde o berço, de todo em todo lhes falta.


(continua)

6 comentários:

Anónimo disse...

Amigo João Cachado,

Você tira as palavras da boca a todos os ouvintes que não suportam mais essa cáfila de ignorantes que tomou a rádio clássica de assalto.
Recordo o modo como esse Almeida respondeu ao seu amigo Nuno Martins e admiro a paciência dele como provedor de encaixar as respostas.
Espero a conclusão para acrescentar mais algum comentário se for caso disso. Mas isto é um mal geral. Mesmo em Sintra, você já viu a qualidade das pessoas que dirigem as actividades culturais? Por exemplo, no Festival de Sintra em que você este ano deu uma «dentada» já viu como aquilo se transformou numa manta de retalhos onde qualquer dia até cabe o cabaré da coxa?
Claro que concordo com o maestro que ontem comentou a primeira parte. Há uma coisa que não percebo: porque será que o caso da RDP 2 e daquelas pessoas que são ignorantes oficiais não aparece por exemplo no Jornal de Letras?

Um forte abraço

Carlos Luiz

Anónimo disse...

Caro Dr. Cachado,
Ninguém se tem ocupado deste sector cultural que é o da rádio cultural. Trazer o assunto à baila é quase um serviço cívico. Concordo com o João Cachado e com as pessoas que trouxeram comentários que me parecem muito justos. De facto, como a ignorância é geral, a rádio cultural (e só falamos da rádio cultural) tinha que ser afectada. Só quem nunca ouviu esse senhor João Almeida dizer os maiores lugares comuns como se descobrisse a pólvora é que não percebe a indignação que já se expressou nas palavras das pessoas que me antecederem e que concordo na totalidade.
Quanto ao programa da manhã também já deixei de ouvir. Ao pequeno almoço havia sempre discussões cá em casa com a minha mulher a proibir-me de ouvir porque ficava muito enervado com tanto disparate. Só tenho pena de não saber alemão pois faria como o Dr. João Cachado.
As melhores saudações do

Artur Sá

Anónimo disse...

Caro João Cachado e meus senhores,

Parece que os comentaristas deste blogue do João Cachado são todos ouvintes da Antena Dois. Se concordam e eu também concordo quanto à ignorância que por lá existe, porque não pensamos numa maneira de contestar a situação? Por mim não estou para alimentar muros das lamentações.
Cumprimentos,

Waldemar B. Sousa

Sintra do avesso disse...

Amigo Carlos Luíz,

Escreve o meu amigo que eu dei uma «dentada» no Festival de Sintra deste ano. Como terá verificado o que eu fiz, limitou-se a uma crítica à estrutura. Não concordo com as opções dos Contrapontos. Tenho a impressão, tanto quanto o conheço, que terá sido em relação a essa componente, que o Carlos Luíz se refere à inclusão do cabaret da coxa...

Quanto à qualidade, a verdade é que não baixou. No entanto, em função do actual financiamento, tão insignificante em relação aos festivais internacionais de nomeada, o Festival de Sintra deixou de poder apresentar as grandes estrelas que até há meia dúzia de anos apareciam nos nossos palácios. Este ano, por exemplo, só foi possível à organização trazer o Sokolov. Há quem o considere «o» pianista por excelência. Não diria tanto já que, enfim, pelo menos, tem de emparceirar com Brendel, Pollini, Kissin, Lupu... Por favor, não falte! Com a sua eventual (não quero acreditar...)ausência, poderia estar a contribuir para aquele lamentável quadro de uma sala do Olga Cadaval meio ocupada, parante um artista que, com a antecedência de muitos meses, esgota qualquer auditório por esse mundo fora.

Os melhores cuimprimentos à Maria Olímpia e, para si, abraço do

João Cachado

Sintra do avesso disse...

Caro Artur Sá,

Tem piada que, em minha casa, ao pequeno almoço, a cena era a mesma que o senhor descreve. A irritação não podia ser maior. E logo ao pequeno almoço que, para mim, é a melhor refeiçãso do dia...

Em relação à sintonia de rádios estrangeiras, em alternativa às horas em que já sabemos que nos aparecem os tais «artistas», o Artur Sá tem postos em todas as línguas, a começar pelos espanhóis, de belíssima qualidade.

Há muitos anos que me habituei à BR porque, tanto quando estou em Salzburg como em Bayreuth é a que, com toda a razão, sintonizam todos os meus conhecidos e amigos. Depois de várias experiências com outros postos, concluí que é a melhor opção. Aliás, posso garantir que, mesmo não dominando o alemão, o meu amigo não terá dificuldade em seguir o programa da manhã correspondente ao período entre as 7 e as 10.

É sempre bom recebê-lo. Abraço do

João Cachado

Sintra do avesso disse...

Caro Carlos Luíz,

Esqueci-me de o aconselhar a dirigir-se à SintrQuorum, especialmente à direcção do Festival de Sintra, à qual deve expor os seus reparos. Se assim não for como hão-de eles saber que o meu amigo discorda da programação. De qualquer modo, eu vou passar-lhes a sua mensagem.

Mais um abraço do

João Cachado