Segunda-feira, 27 de Outubro de 2008
Comparações?
Cuidado…
Ainda a propósito das abusivas comparações, em que tanto se comprazem os nossos políticos, aludidas no texto precedente, lembraria que na Grécia – país sempre à mão para buscar companhia na desgraça – já há cerca de vinte anos, a taxa de alfabetização rondava os 96%. E, também há cerca de duas décadas, os cidadãos gregos gastavam, em bens culturais, quatro vezes mais do que os portugueses…
Como é público e manifesto, a classe política portuguesa que recorre a manigâncias que tais, grosso modo, é de qualidade muito reles. Por enquanto, neste reino de mediocridade, os chicos espertos sabem muito bem como dar a volta à ignara gente que engrossa as estatísticas do analfabetismo e da iliteracia. Por isso se permitem fazer impossíveis e desonestas comparações. Por isso se permitem, cada vez mais, uma governação de recurso a atitudes de cacique, como a da distribuição do Magalhães, edição actualizada da oferta de televisores em Gondomar.
Entretanto, mesmo que, entre nós, nada fosse feito para remediar situações perfeitamente remediáveis, como a do analfabetismo absoluto, sabem como ele acabará? Pois, muito naturalmente, as estatísticas irão melhorando à medida que os analfabetos forem morrendo. Nem mais, é tão radical que só é pena levar tanto tempo e não saia nada barato ao país. Mas, em Portugal, com tão iluminadas cabeças governantes, a estratégia teem sido esta.
Não deixa de ser quase trágico que isto mesmo já se dissesse, no quadro de certo humor negro, no princípio da década de oitenta, entre Técnicos de Educação, no seio da equipa à qual eu próprio pertencia, na Direcção-Geral de Educação Permanente do Ministério da Educação. Contudo, passados quase trinta anos, jamais pensei que humor tão cáustico pudesse continuar a ser pertinente... De facto, com o povo em adormecida letargia, estupidificado por uma televisão que o entorpece, à compita com uma Educação à deriva, certamente não estará para breve o salto qualitativo a que há direito.
Analfabetismo? Iliteracia? Subdesenvolvimento? E em Sintra? Mas alguém tem dúvida? Provavelmente, o melhor é lembrar alguns números. Dos 5% de portugueses (cerca de meio milhão) que habitam no concelho de Sintra, 20% (cerca de cem mil) são pobres, daquela pobreza que Alfredo Bruto da Costa tem caracterizado como endémica, geracional, que nada ou muito pouco tem a ver com a pobreza que também existe em França, na Alemanha, na Holanda, etc.
Por favor, cuidado com as comparações. É que, naqueles países, até pode haver certa percentagem de iliteracia mas, praticamente, não há analfabetismo. De qualquer modo, também entre nós existe uma esclarecida élite que, em tempo oportuno - talvez dentro de uma geração!... - avançará a tomar o lugar que lhe compete. Até lá, importa estar atento aos sinais e, na medida do possível, não autorizar ou, enfim, suster o habitual regabofe.
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