"Louvar Amar
(...)
Sintra é o único lugar do país em que a História se fez jardim. Porque toda a sua legenda converge para aí e os seus próprios monumentos falam menos do passado do que de um eterno presente de verdura. (...)
Mas é de pedir e de desejar que a cidade a não invada com o desembaraço expeditivo de quando expulsa dela o paraíso para o inferno entrar. Que esse inferno passe de largo com a perda da esperança, para que ela e o mais aqui continuem. Porque, como numa mesquita ou em certas salas reservadas, há que deixar à porta o que de impureza arrastamos com os pés. (...)
Um banco e uma sombra tranquiliza-nos do nosso excesso e é possível então ouvir em nós a voz que outras vozes ensurdeceram. Amar o seu silêncio, a frescura inicial da alma, a História e monumentos feitos elementos da Natureza. Amar a legenda sempre recente, a memória breve, a iniciação à alegria que não cansa.
Louvar Sintra. Amar Sintra"
Vergílio Ferreira
Fontanelas, 18 de Junho de 1994
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Esta a Sintra-Sintra tão genesíaca como agredida,
indefesa, cercada, afligida pela urbe.
Esta a Sintra-Sintra, altar conspurcado por pacóvios,
videirinhos e politiqueiros de pacotilha,
ignorantes e parasitas, que não consegue expulsar.
Vergílio Ferreira escreve
sobre uma esperança que não está perdida.
Perante muito concretos desafios,
é possível resistir. Se necessário,
lutar de chicote em riste,
como O Outro fez aos vendilhões do templo.
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